Quando as coisas vão mal

Por Harry McMullan, III

 

 

  1. Quando nos sentimos sós ou isolados
  2. Há momentos em que o mundo nos parece cruel e abandonado e que a vida não tem sentido; momentos em que amigos os amigos em quem confiamos não se importam com nossas enormes dificuldades; em que nos sentimos abandonados, sozinhos para solucionar nossos problemas, necessitando de instrumentos que não possuímos. Sem a escora da esperança, as paredes fracas e vulneráveis de nosso sustentáculo começam a oscilar.

    A solidão pode ser um poço sem fundo e sem ponto de apoio, que gela o sangue e afeta a razão. Pode nos enfraquecer, chegar a nos enfastiar e a paralisar qualquer iniciativa que nos beneficie. Somente a percepção espiritual, os olhos da fé, abre a cortina para nos mostrar que não estamos sozinhos, que toda nossa inquietação é por nada. A vidraça pela qual enxergávamos toldava multidões de anjos, propósitos elevados e vida eterna. Nosso isolamento resultava do medo de que nossos companheiros nos rejeitassem quando de fato eles precisavam tanto de nós quanto nós deles.

    Os vaivéns da vida freqüentemente nos fazem nos sentirmos sós. A solidão pode surgir das circunstâncias de trabalho ou de viagens, embora o mais freqüente é que seja proveniente da ruptura de relacionamentos de grande estima. A alma consagrada não é imune a tal dor mas nosso Pai celestial proporciona uma serenidade interior que concede paz e alegria no meio de todas essas circunstâncias caprichosas da vida.

    Outrora, as famílias tendiam a permanecer juntas, às vezes vivendo por gerações na mesma casa. Os vizinhos eram os filhos e filhas dos amigos de infância de seus pais. Havendo a coesão e a estabilidade social, todos sabiam qual era o seu lugar. A partir da liberdade e da mobilidade da vida moderna, tais situações não são mais comuns e muitos se sentem física e emocionalmente deslocados, desejando retornar às relações estáveis e seguras das quais seus pais ou avós falavam.

    Mas os dias que se foram não voltam mais; temos que encontrar a estabilidade através de relacionamentos mais elevados : o companheirismo com Deus e com a comunidade do reino espiritual. Na fraternidade, ligados ao Pai espiritual, os crentes podem encontrar apoio para compartilham ideais e devoções, no que a verdadeira cura para a solidão é encontrada.

    Os que apenas conhecem os prazeres deste mundo estão condenados a sentir a amargura da solidão. Atender às vazias atividades sociais ou sentar em bares esperando encontrar alguma pessoa nova não pode ser mais que uma distração temporária. Porém, na ausência de companhias espirituais, uma procissão de pessoas ou coisas novas têm de continuar a passar para substituir a fascinação fugaz que pela exposição perdeu seu brilho. Pode ser que temamos renunciar ao que conhecemos por medo do vazio que irá tomar o seu lugar. Mas perdendo o que conhecemos, encontramos o que até então estava perdido. Manter relacionamentos baseados na aspiração espiritual — e não em coisas materiais — por si só satisfaz o faminto coração humano.

    Uma vez que conhecemos o poder e o amor de Deus nos repletamos pois a infinita e magnânima provisão do Pai, ao pedirmos, torna-se nossa . O sentimento de isolamento torna-se um sonho ruim, uma ilusão, pois a Fonte de todo consolo esteve lá o tempo todo, pronta para reabastecer nossas almas exaustas com esperança abundante e para nos dar a fé em nossa capacidade de cumprir sua vontade perfeita.

     

     

    O amor do Pai nos acompanha agora e ao longo do interminável círculo da eternidade dos tempos. Quando se reflete sobre a natureza amorosa de Deus, existe uma única resposta lógica e natural do ser pessoal a isso : amar cada vez mais ao Fazedor; depositar em Deus um afeto semelhante ao que sente um menino por seu pai terreno pois, como um pai, um pai verdadeiro, um autêntico pai, ama aos seus filhos, assim nos ama o Pai Universal e continuamente procura o bem-estar dos filhos e filhas de sua criação. (2:5.9)

    É impossível para o homem mortal conhecer a infinitude do Pai celestial. A mente finita não pode conceber tal verdade ou fato absoluto. Mas este mesmo ser humano finito pode realmente sentir — literalmente experimentar — o efeito pleno e sem diminuição do AMOR desse Pai infinito. (3:4.6)

    O Pai deseja que todas as suas criaturas estejam em comunhão pessoal com ele. Ele tem um lugar no Paraíso para receber todos aqueles cuja condição de sobrevivência e cuja natureza espiritual lhes possibilite tal realização. Portanto, determinai de uma vez por todas o seguinte em vossa filosofia : para cada um de vós e para cada um de nós, Deus é acessível, o Pai é alcançável, o caminho está aberto; as forças do amor divino e os meios e modos da administração divina estão entrelaçados num esforço conjunto para facilitar o avanço à qualquer inteligência digna, de qualquer universo, até a presença no Paraíso do Pai Universal. (5:1.8)

    O amor do Pai distingue absolutamente cada ser pessoal como filho único do Pai Universal, um filho que não tem igual no infinito, uma criatura de vontade, insubstituível por toda a eternidade. O amor do Pai glorifica cada filho de Deus, iluminando cada membro da família celestial, perfilando nitidamente a natureza singular de cada ser pessoal frente aos níveis impessoais que se encontram fora da via fraterna do Pai de todos. O amor de Deus retrata vivamente o valor transcendente de cada criatura de vontade, revela inequivocamente o alto valor que o Pai Universal tem posto para todos e cada um de seus filhos ... (12:7.9)

    Não deixeis que a magnitude da infinitude, a imensidade da eternidade e a grandeza e glória do caráter incomparável de Deus vos intimide, vos faça vacilar ou que vos desalente pois o Pai não está muito distante de nenhum de vós; mora em vós, e nele todos nós literalmente nos movemos, realmente vivemos e verdadeiramente temos nosso ser. (12:7.12)

    E quando essa vida guiada pelo espírito é livre e inteligentemente aceita, desenvolve-se gradualmente na mente humana uma consciência inequívoca do divino contato e a certeza da comunhão espiritual; cedo ou tarde "o Espírito testemunha com teu espírito (o Modelador) que és filho de Deus". (34:6.12)

    A religião é efetivamente uma cura para o isolamento idealístico ou para a solidão espiritual; ela emancipa o crente como um filho de Deus, um cidadão de um universo novo e cheio de sentido. A religião assegura ao homem que, seguindo o rastro da retitude discernível em sua alma, está assim identificando-se com o plano do Infinito e com o propósito do Eterno. Uma alma assim liberada imediatamente começa a sentir-se em casa neste novo universo, em seu universo.

    Quando experimentares tal transformação de fé, não mais serás uma parte servil do cosmos matemático mas, antes, um filho do Pai Universal, livre e de vontade determinada. Tal filho não mais lutará contra a aniquilação do término da existência temporal; não mais combaterá sem esperanças contra a natureza; não mais hesitará pelo temor paralisante por ter, porventura, depositado sua confiança numa fantasmagórica esperança ou por ter firmado sua fé num erro extraordinário.

    Pelo contrário, agora os filhos de Deus se reúnem para lutar pelo triunfo da realidade sobre as sombras parciais da existência. Por fim, todas as criaturas tornam-se conscientes de que Deus e todas as hostes divinas do quase ilimitado universo estão ao seu lado no sublime afã de alcançar a vida eterna e a condição divina. Estes filhos da fé, feitos livres, certamente participam nas lutas temporais ao lado das forças supremas e dos divinos seres pessoais da eternidade; mesmo as estrelas, em seu curso, batalham por eles; por fim, contemplam o universo de dentro, da perspectiva de Deus, e toda a incerteza do isolamento material se transforma em certeza do eterno progresso espiritual. Inclusive o tempo mesmo se transforma meramente na sombra da eternidade projetada pelas realidades do Paraíso sobre a panóplia móvel do espaço. (101:10.7-9)

    De Deus, a mais inevitável de todas as presenças, o mais real de todos os fatos, a mais viva de todas as verdades, o mais amoroso de todos os amigos e o mais divino de todos os valores, temos o direito de estar mais certos que de qualquer outra vivência no universo. (102:7.10)

    Foste dotado com um guia perfeito; portanto, se sinceramente prosseguires em vossa caminhada temporal atingindo a meta final da fé, a recompensa dos tempos será tua; pela eternidade estarás unido com teu Modelador interior. Começarás, então, tua vida real, a vida de ascensão da qual teu presente estado mortal é meramente um vestíbulo. (112:0.1)

    Mas nunca nenhum mortal que conhece a Deus pode estar só em sua viagem através do cosmos pois sabe que o Pai caminha a seu lado a cada passo do caminho enquanto o mesmo caminho que está atravessando é a presença do Supremo. (117:6.27)

    Homens e mulheres marginalizados e em desespero concorriam para ouvir Jesus e ele jamais mandou embora nenhum deles. (139:7.7)

     

    "Quanto ao reino e à vossa certeza de que sereis aceitos pelo Pai celestial, permitam-me perguntar-vos que pai entre vós, digno de ser chamado pai e com coração terno, abandonaria seu filho na ansiedade ou no suspense sobre sua condição dentro da família ou sobre a garantia de lugar no afeto do coração de seu pai? Acaso vós, pais terrestres, vos comprazem torturando vossos filhos com incertezas sobre ocupar um lugar de amor em vosso coração humano? Tampouco vosso Pai no céu abandona seus filhos de fé do espírito na incerteza de não saber qual é sua posição no reino. Se recebeis a Deus como vosso Pai, então de fato e em verdade sereis filhos de Deus. E se sois filhos, vos encontrareis seguros de vossa posição em tudo quanto se refere à filiação eterna e divina." (142:5.2)

    "Não se vende dois pardais por um centavo? E contudo vos declaro que nenhum deles está esquecido aos olhos de Deus. Acaso não sabeis que até os cabelos de vossa cabeça estão contados? Portanto, não temais; vós tendes mais valor que muitos pardais." (150:4.3)

    "Não duvideis de nenhuma destas verdades mesmo que estejais dispersos pelo mundo devido às perseguições e abatidos por tantos pesares. Quando vos sentirdes sós no mundo saberei de vossa solidão assim como, quando cada um se debandar para o seu lugar deixando o Filho do Homem nas mãos de seus inimigos, sabereis de mim." (181:1.6)

    A experiência de separar-se de seus apóstolos foi um grande peso para o coração humano de Jesus; a dor pelo amor a eles o abateu e lhe tornou mais difícil enfrentar a morte que ele sabia muito bem que o aguardava. Ele dava-se conta de quão débeis e ignorantes eram seus apóstolos, e receava deixá-los. Sabia bem que havia chegado a hora de sua partida, mas seu coração humano ansiava encontrar uma saída legítima para escapar desta situação de sofrimento e consternação. E, ao buscar escapar e fracassar, se dispôs a beber a taça. A mente divina de Miguel sabia ter feito todo o possível pelos doze apóstolos; mas o coração humano de Jesus desejava ter podido fazer mais por eles antes de deixá-los sós no mundo. O coração de Jesus estava esmagado; na verdade, ele amava seus irmãos. Estava isolado de sua família na carne; um de seus parceiros eleitos estava traindo-o . O povo de seu pai José o havia rejeitado e, desse modo, cerrado seu destino como um povo com uma missão especial na terra. Sua alma estava torturada por frustrar-se seu amor e rejeitar-se sua misericórdia. Era um daqueles terríveis momentos humanos em que tudo parece desmoronar com esmagadora crueldade e uma tremenda agonia.

     

    A parte humana de Jesus não era insensível a esta situação de solidão pessoal, de vergonha pública e de aparente fracasso de sua causa. Todos estes sentimentos sobrevinham com indescritível peso sobre ele. Neste grande pesar, sua mente regressou aos dias de sua infância em Nazaré e ao seu trabalho precoce na Galiléia. Em meio a essa grande aflição, brotou de sua memória muitas daquelas cenas prazenteiras de seu ministério terreno. E foi com estas velhas recordações de Nazaré, Cafarnaun, do Monte Hermon e do nascer e por do sol da Galiléia que ele se serenou, fortalecendo e preparando seu coração humano para encontrar-se com quem tão logo o trairia.

    Antes que Judas e os soldados chegassem, o Mestre havia recobrado plenamente sua postura habitual; o espírito havia triunfado sobre a carne; a fé havia-se reafirmado sobre a tendência humana de temer ou abrigar dúvida. Havia-se dado a suprema prova da plena realização da natureza humana e fora transposta de forma digna de aprovação. Uma vez mais estava o Filho do Homem preparado para enfrentar seus inimigos com equanimidade e na plena certeza de sua invencibilidade como homem mortal dedicado a, sem reservas, fazer a vontade do Pai. (182:3.9-11)

     

  3. Quando nos sentimos em dúvida ou confusos
  4.  

    Tomar decisões importantes nunca é fácil pois a vida neste mundo é um contínuo comprometimento. Precisamos ganhar a vida para nos mantermos vivos e, ainda que relutantemente, servir a Mamon. Anelamos servir aos outros mas, ao mesmo tempo, buscamos o sucesso pessoal.

    "Mostra-nos o caminho, Pai!" suplica a nossa alma mas não recebemos nenhuma resposta concreta e tropeçamos, titubeantes e indecisos, por estarmos inseguros quanto ao caminho a seguir. Ficamos deslumbrados com aqueles que crêem ver um farol na vida, que marcham direto para ele praguejando contra todos os obstáculos, como um exército de formigas em sua busca devoradora enquanto nós, expectadores, nos debatemos no fútil desperdício de tempo, tentando uma coisa depois da outra e sempre fracassando. Passamos noites em claro, buscando orientação, enquanto um véu de desconhecimento nos separa deste senso de objetivo pessoal e destino que procuramos.

    Diz o provérbio : "O povo perece sem uma visão"; de fato, sem direção nossa motivação para realizar propósitos meritórios é instável como os brinquedos infantis de montagem. Necessitamos de metas para alimentar nosso espírito e nos prover naqueles momentos da vida em que, quando nos causarem vergões e cortes, os espinhos do caminho nos façam questionar se o objetivo distante vale a pena.

    Há grande diferença entre dúvida e confusão. A confusão ocasional não é nada mais que o produto da adoção de novas idéias e não nos causam nenhum dano desde que não nos desorientemos. A confusão nasce da imaturidade face à multiplicidade das filosofias humanas e a lógica superficial que aparentemente as justificam. A confusão é inevitável; porém, tão logo insistamos no relacionamento com nosso Pai, a contínua revelação espiritual dissipa o debilitamento passageiro.

    A dúvida é mais desastrosa pois ela racionaliza, faz com que tomemos nosso próprio caminho em vez do de Deus. Duvidar é, de forma deliberada, desviar do rumo natural o coração humano, que é em direção a Deus. Duvidar é negar a coisa mais real e verdadeira que há em nós : a presença de Deus em nossa mente; é o abandono dos nossos mais altos ideais de amor, verdade, serviço, esperança e fé. A dúvida nos leva ao nada, ao vácuo que existe na ausência do espírito. A dúvida é o maior dos inimigos e a combatemos voltando-nos para Deus, para o amor radiante do Pai que afasta tudo o que possa causar dano à nossa alma.

    A dúvida é uma anomalia; a condição normal é a fé. A fé é uma dádiva; para recebê-la é preciso apenas que abramos a mente e o coração para Deus. A fé leva nosso coração aos canais superiores do amor universal que o Pai concede a todos os que o amam e o seguem. É o modo de viver. Podemos perceber a diferença entre o nada da dúvida e a expansividade da fé e o júbilo e paz provenientes da comunhão espiritual são a evidência da presença do Pai em nossa alma.

    O conhecimento do poder do Pai, de sua bondade amorosa, de sua direção, torna-se nosso giroscópio espiritual nos tumultos e furacões da vida que escapam ao nosso débil controle, estabilizando nosso navio à medida que ele sulca a escuridão do mar desconhecido.

     

    Afinal, a maior evidência da bondade de Deus e a suprema razão para amá-lo é o dom do Pai que mora em vós : o Modelador, que com tanta paciência aguarda a hora em que ambos vos façais unos eternamente. Posto que não podeis encontrar a Deus por meio da investigação, se vos deixardes guiar pelo espírito interior sereis infalivelmente levados, passo a passo, vida após vida, universo após universo e era após era até finalmente vos encontrardes na presença pessoal do Pai Universal do Paraíso. (2:5.5)

    A vida religiosa é uma vida dedicada, e a vida dedicada é uma vida criativa, original e espontânea. Uma nova percepção religiosa desponta dos conflitos que dão princípio à troca de padrões de comportamento antigos e inferiores por novos e melhores hábitos. Novos sentidos surgem somente em meio a conflitos, que persistem apenas em face da recusa de adotar os valores superiores implícitos nestes sentidos superiores.

    A perplexidade ante a religião é inevitável; não pode haver nenhum crescimento sem conflito psíquico e agitação espiritual. A organização de um modelo de vida filosófico acarreta uma considerável comoção nos âmbitos filosóficos da mente. A lealdade não é exercida em favor do grande, do bom, do verdadeiro e do nobre sem empenho. O esforço acompanha o aclaramento da visão espiritual e o aumento da percepção espiritual. E o intelecto humano protesta contra ser privado de subsistir sob as energias não espirituais cuja existência é temporal. A indolente mente animal rebela-se ante o esforço requerido na luta pela solução do problema cósmico.

    Mas o grande problema da vida religiosa consiste na tarefa de unificar os poderes da alma da pessoa por meio do predomínio do AMOR. (100:4.1-3)

    A crença pode não resistir à dúvida ou pode não fazer frente ao temor mas a fé sempre triunfa sobre a dúvida pois é positiva e viva. O positivo sempre tem vantagem sobre o negativo, a verdade sobre o erro, a experiência sobre a teoria, as realidades espirituais sobre os fatos isolados do tempo e do espaço. (102:6.7)

    Vós, humanos, haveis começado um desdobrar sem fim de panorama quase infinito, uma expansão sem limites e sem fim, de esferas de oportunidade em constante ampliação para o serviço regozijante, a aventura ímpar, a sublime incerteza e o alcance ilimitado. Quando as nuvens se acumulam no alto, vossa fé deve aceitar o fato da presença do Modelador interior, e assim deverias poder contemplar, além das névoas da incerteza mortal, o brilho claro do sol da retitude eterna nas acolhedoras alturas dos mundos de morada ... (108:6.8)

    Sentirmo-nos confusos, atônitos e por vezes até desanimados e transtornados não significa necessariamente que resistamos à condução do Modelador interior. Às vezes estas atitudes podem indicar uma falta de cooperação ativa com o divino Monitor e pode, portanto, retardar um pouco o progresso espiritual, mas tais dificuldades emocionais e intelectuais não interferem nem no mínimo na indubitável sobrevivência da alma que conhece a Deus. Por si só, a ignorância jamais pode impedir a sobrevivência; nem as dúvidas confusionais ou a incerteza que infunde temor podem. Somente a resistência consciente à direção do Modelador pode impedir a sobrevivência da alma imortal em evolução. (110:3.5)

    "Confiarei no Senhor com todo o meu coração; não me apoiarei em meu próprio juízo. Em todas as minhas veredas eu o reconhecerei e ele dirigirá meus caminhos." (131:2.8)

    [Jesus] decidiu deixar a resolução final desta complicada situação ao remate da vontade do Pai. (137:5.3)

    E quando Jesus ouviu estas palavras, baixou os olhos ao semblante ansioso do pai, dizendo: "Não questione o poder do amor de meu Pai mas somente a sinceridade e o alcance de tua fé. Todas as coisas são possíveis para quem realmente crê. "Então Tiago de Safad pronunciou essas palavras inolvidáveis, de dúvida mesclada à fé : "Senhor, eu creio. Rogo-te para que me ajudes em minha incredulidade." (158:5.2)

    Jesus experimentou esses altos e baixos do sentimento que são comuns a toda experiência humana... (182:3.7)

    A teologia pode estabelecer, formular, definir e dogmatizar a fé, mas na vida humana de Jesus a fé foi pessoal, viva, primordial, espontânea e puramente espiritual. Esta fé não foi a reverência pela tradição nem a mera crença intelectual que ele conservava como credo sagrado mas, antes, uma sublime vivência e uma profunda convicção que seguramente o sustentava. Sua fé foi tão real e tão abrangente que afastou qualquer dúvida espiritual e efetivamente destruiu todo desejo contraditório. Nada podia arrancá-lo da âncora espiritual desta fé ardente, sublime e intrépida. Mesmo perante a derrota aparente ou nas dores da decepção e do desespero ameaçador, ele serenamente postava-se na presença divina, livre de temores e plenamente consciente da invencibilidade espiritual. Jesus desfrutou a revigorante certeza de possuir uma fé inabalável e em cada uma das penosas situações da vida infalivelmente exibia uma inquestionável lealdade à vontade do Pai. E esta magnífica fé permaneceu intrépida mesmo ante a ameaça cruel e esmagadora de uma morte ignominiosa. (196:0.5)

     

     

  5. Quando nos sentimos culpados
  6.  

    Quando nos comportamos mal, a culpa espelha a transgressão de nossa própria regra moral. Tal como a dor nos avisa que uma lasca penetrou profundamente em nossa carne, a culpa reclama uma pausa no que quer de errado que estejamos cometendo por criar uma terrível sensação de falta perante Deus e de separação dos nossos entes amados. A dor física diminui uma vez que a lasca tenha sido removida mas a culpa pode debilitar-nos até anos após o pensamento ou ato que lhe deram origem. Essa culpa traiçoeira deve ser simplesmente encerrada, abandonada, esquecida, proibida de entrar pelos portões de nossa mente. Tendo cumprido com seu objetivo, tendo entregue sua inoportuna mensagem relativa ao nosso comportamento inaceitável, se o mensageiro da culpa se recusa a desaparecer ante o raiar do perdão do Pai, ela deve ser energicamente expulsa por todos os que almejam a paz.

    Todos conhecemos a escuridão espantosa que cerca a alma em culpa. Experimentamos a culpa quando sabemos que fizemos mal mas também nos sentimos como se tivéssemos culpa quando não aderimos aos costumes sociais que não têm apoio algum na lealdade espiritual. Por exemplo, freqüentar regularmente o serviço religioso, a missa ou a sinagoga não tem nada a ver com o pecado, independente das sanções que estas atividades podem ter dentro de suas respectivas comunidades. A culpa imposta com relação a tais assuntos deve ser simplesmente rejeitada. Jesus veio ao nosso mundo proclamando a liberdade espiritual e a retidão baseada exclusivamente na cooperação e confiança em Deus, a vontade de Deus, e isto deve ter primazia sobre a obediência à hábitos e observâncias humanas. Jesus demonstrou um Deus perdoador, um Deus que é incapaz de estimular a culpa numa relação Pai-filho.

    Colocar as coisas em perspectiva abranda a agonia da culpa. Quem é que de fato vive a luz de sua vida ideal? O pecado acidental é inevitável, o resultado natural de Deus ter-nos feito livres mas ainda imaturos; faz parte do ser humano. O importante é reparar rapidamente o erro que deu origem à culpa, aprender efetivamente com ele e vigiar mais para não repeti-lo no futuro.

    Em caso de desvio deliberado do que sabemos que é correto, a cura fácil é a confissão e o arrependimento somados ao desejo sincero de nunca mais errar assim. Buscar o perdão deste modo faz abrir as comportas de perdão do Pai, em ondas que saram nossa alma. Pecados ignorados ulceram no recesso de nossa mente mas, desde que sinceramente confrontados e confessados, Deus os elimina para sempre; portanto, devemos reunir coragem para perdoar a nós mesmos. Relembrar nossas faltas somente aumenta seu poder. De preferência, devemos repudiá-las pois o passado acabou-se. Deus nos fez inteiros, prontos para marchar desimpedidos rumo aos desafios da vida futura.

    Às vezes não podemos aceitar que o Pai nos perdoou e continuamos a nos chafurdar na auto-reprovação. Aqui, o problema pode não ser a falta de arrependimento mas sim a falta de conhecimento da compreensão e da natureza perdoadora de Deus. Os que vêem a Deus como um juiz severo têm grande dificuldade com a culpa. Todos nós cometemos faltas, cada um de nós, e à parte de nosso entendimento sobre a aceitação do Pai, que é própria de pai, a culpa se retarda como uma condição contínua, envenenando nossa vida espiritual e nos roubando a alegria.

    O sentimento de culpa por omissão é talvez a mais difícil variedade de se tratar pois nossos ideais expandem-se mais rápido que nossa habilidade de viver neles. Com respeito a essa culpa, devemos nos lembrar de que o Pai criou o homem mortal completamente imaturo e este fato nos impede de viver uma vida perfeita na terra. E não poderia ser de outra maneira. Sendo humanos, devemos perseguir o que é superior mas sem nos incomodarmos seriamente pelas faltas constantemente cometidas contra os objetivos que nossa percepção espiritual em expansão identifica com a perfeita vontade de Deus. Nosso Pai está tranqüilo com nosso passado e nós também deveríamos estar, confiantes em sua habilidade de construir sobre ele nossa estrada para a perfeição.

    Não é desejo do Pai que seus filhos vivam sentindo-se culpados. A culpa não é nada mais que um útil marcador para lembrar nossa alma de que é necessário melhorar o comportamento e atitudes. Contudo, entregar-se à ela nos incomoda e nos debilita, impedindo nossa jornada espiritual em direção àquele estado espiritual no qual o pecado se torna impossível — a fusão de nossa alma com a do Modelador interior proveniente do Pai.

    Tudo o que temos que fazer é nos esforçarmos sinceramente para viver conforme a luz de nosso entendimento espiritual, não permitindo que nenhum pecado consciente exista em nossa vida. Pecados irrefletidos são lapsos momentâneos que não têm nenhum impacto na vida espiritual, mas o pecado repetido é um veneno para a alma que deve ser erradicado se não desejamos regredir. Para estarmos limpos por dentro, evitamos todo pecado contínuo por meio do poder de nosso relacionamento com Deus, cujo júbilo faz com que seja cada mais improvável uma separação. O Pai cuidará de tudo o mais. Esse Pai nos ama supremamente, vê o que podemos vir a ser, e trabalha para nos ajudar a consumarmos o destino que ele estabeleceu para nós antes que os mundos tivessem origem.

     

     

    Deus é divinamente bondoso com os pecadores. Quando os rebeldes volvem à retitude, são misericordiosamente recebidos, "pois nosso Deus é rico em perdão". "Eu sou o que apaga as tuas transgressões por amor de mim, e já não me lembro dos teus pecados". "Vede que prova de amor nos deu o Pai : que sejamos chamados filhos de Deus". (2:5.4)

    Em todo mortal existe uma natureza dual : a herança da tendência animal e o impulso superior da dotação espiritual. Durante a curta vida que viveis em Urantia, estes dois impulsos distintos e opostos raramente podem ser completamente conciliados; dificilmente podem ser harmonizados e unificados; porém, ao longo de vossa vida, o Espírito combinado sempre ministra auxiliando a subjugar a carne cada vez mais à direção do Espírito. Mesmo que devas viver tua vida material do princípio ao fim, mesmo que não possas esquivar-te do corpo e suas necessidades, todavia, em propósito e ideais estás cada vez mais dotado para submeter a natureza animal ao comando do Espírito. Verdadeiramente existe em ti uma conspiração de forças espirituais, uma união de divinos poderes cujo propósito exclusivo é efetuar tua derradeira libertação da escravidão material e dos obstáculos finitos. (34:6.9)

    Os estímulos normais aos seres animais e os apetites e impulsos peculiares à natureza física não estão em conflito nem mesmo com as mais altas realizações espirituais, exceto na mente das pessoas ignorantes, mal instruídas ou, infelizmente, extremamente escrupulosas. (34:7.7)

    A sensação de culpa (não a consciência do pecado) vem de se interromper uma comunhão espiritual ou de se reduzir os ideais morais. A libertação de tal estado somente pode vir através de se perceber que os mais elevados ideais morais não são necessariamente sinônimos da vontade de Deus. O homem não pode esperar viver de acordo com seus mais elevados ideais, mas pode ser fiel ao seu propósito de encontrar a Deus e de vir a ser cada vez mais como ele. (103:4.3)

    Mas nem sempre podemos nos fiar na interpretação destes antigos conflitos entre a vontade-do-ego e a vontade-de-outro-que-não-o-ego. Tão só uma personalidade completamente unificada pode arbitrar as multiformes disputas entre os desejos do ego e a florescente consciência social. O ego tem direitos tal qual os do próximo. Nenhum dos dois irá reivindicar atenção e serviço exclusivo da pessoa. A falha em resolver este problema dá origem ao mais antigo tipo de sentimento humano de culpa. (103:5:4)

    Jesus disse : "Meu amigo, todos somos Jonas, com vidas para viver de acordo com a vontade de Deus e todas as vezes que buscamos escapar ao presente dever de viver, fugindo para atrações distantes, colocamo-nos desse modo sob o controle imediato de influências que não são dirigidas pelos poderes da verdade nem pelas forças da retitude. Fugir ao dever é sacrificar a verdade. Esquivar-se do serviço da luz e da vida só pode resultar nos penosos conflitos com os colossos de egoísmo que terminar por conduzir à escuridão e à morte a menos que estes Jonas que abandonaram a Deus, mesmo estando no mais profundo desespero, dirijam seu coração rumo à procura por Deus e sua bondade. E quando tais almas abatidas buscam sinceramente por Deus — famintas da verdade e sedentas da retitude — não há nada que possa retê-las mais no cativeiro. Não importa quão grandes sejam as profundezas em que tenham caído; quando buscam a luz com todo o coração, o Espírito do Senhor Deus do céu as liberta de seu cativeiro, as circunstâncias malignas da vida as lançarão à terra firme de novas oportunidades para o serviço renovado e uma vida mais judiciosa." (130:1.2)

    A mente humana não suporta bem o conflito da dupla lealdade. É extenuante para a alma passar pela experiência de esforçar-se para servir ao bem e ao mal. A mente supremamente feliz e eficientemente unificada é aquela completamente dedicada a fazer a vontade do Pai Celestial. Os conflitos não resolvidos destroem a unidade e podem findar na ruptura da mente. Mas não se fomenta o caráter de sobrevivência da alma tentando-se assegurar a paz mental a qualquer preço, abandonando aspirações nobres ou comprometendo ideais espirituais; mais propriamente, tal paz se alcança pela afirmação inquebrantável de triunfo do que é verdadeiro e esta vitória se consegue vencendo-se o mal com a poderosa força do bem. (133:7.12)

    Os três apóstolos ficaram comovidos aquela tarde quando perceberam que a religião de seu Mestre não prescrevia o auto-exame de consciência espiritual...Mas nada disse que condenasse a auto-análise como prevenção do egotismo jactancioso. (140:8.27)

    Mesmo o perdão dos pecados opera desta mesma forma infalível. O Pai no céu tem perdoado a ti antes mesmo de haveres pensado em pedi-lo, mas tal perdão não é acessível em tua experiência religiosa pessoal até o momento em que perdoardes aos teus semelhantes. De fato, o perdão de Deus não depende de perdoardes aos semelhantes mas, na vivência, depende exatamente disto. (146:2.4)

    Jesus compreendia plenamente quão difícil é para os homens romper com seu passado. Sabia como os seres humanos são influenciados pela eloqüência dos pregadores e como a consciência humana responde ao apelo emocional assim como a mente responde à razão e à lógica; mas ele também sabia quão mais difícil é convencer o homem a deixar o passado. (154:6.8)

    Não desanimeis ao descobrir que sois humanos. A natureza humana pode ter tendência ao mal, mas não é inerentemente pecaminosa. Não fiqueis deprimidos por vossa incapacidade de esquecer por completo algumas de vossas experiências mais lamentáveis. Os erros que não podeis esquecer no tempo serão esquecidos na eternidade. Aliviai a carga de vossa alma adquirindo depressa uma perspectiva mais ampla de vosso destino, uma expansão de vossa caminhada no universo. (156:5.8)

    Num entardecer em Hipos, em resposta à pergunta de um discípulo, ensinou Jesus a lição do perdão. Disse o Mestre :

    "Se um homem de bom coração tem cem ovelhas e uma delas se extravia, não deixa ele imediatamente as noventa e nove e sai em busca da que se extraviou? E se é um bom pastor, não insistirá na busca da ovelha perdida até encontrá-la? E então, ao encontrar sua ovelha perdida, coloca-a nos ombros e volta para casa rejubilante, chamando os amigos e vizinhos, "Regozijai-vos comigo pois encontrei minha ovelha que estava perdida." Declaro-vos que há mais alegria no céu por um pecador que se arrepende que por noventa e nove pessoas retas que não necessitam de arrependimento. Mesmo assim, não é desejo de Meu Pai no céu que se extravie um destes pequenos, muito menos que pereçam. É possível que em vossa religião Deus receba os pecadores; mas no evangelho do reino, o Pai sai a buscá-los mesmo antes que tenham pensado seriamente em se arrepender. (159:1.1-2)

    Nunca hesites em admitir o fracasso. Não tentes de esconder o fracasso sob sorrisos simulados e otimismo radiante. Sempre cai bem alegar sucesso, mas os resultados finais são sempre atrozes. Tal prática leva diretamente à criação de um mundo de irrealidade e ao impacto inevitável da extrema desilusão.

    "O perdão divino é inevitável; é inerente e inalienável à infinita compreensão de Deus, em seu perfeito conhecimento de tudo o que se relaciona com o juízo errôneo e a escolha equivocada do filho. A justiça divina é tão eternamente reta que infalivelmente inclui a misericórdia compreensiva" (174:1.3)

     

  7. Quando nos sentimos desanimados ou derrotados
  8.  

    No entusiasmo do sucesso é natural rir e contar piadas; entretanto, o mais difícil é procurar pelo bem no entulho do desmoronamento dos nossos mais caros sonhos. O desânimo e a derrota freqüentemente sucedem a uma circunstância triste, insinuando a inutilidade já que a batalha está mesmo perdida. Porém, se concordarmos, permitimos que nós mesmos nos entreguemos desamparados à ressaca de mal e dor neste mundo imperfeito; e se desfraldarmos nosso estandarte sem uma peleja para lutar, o desânimo já terá conquistado uma vitória em vão.

    O desânimo surge dos contínuos malogros que nos levam a querer saber se estamos à altura de nossas próprias regras ou das regras dos outros. Mas a única regra que importa aos olhos de Deus é se seguimos seu espírito em nossa vida. Não somos responsáveis por causa das falhas além de nosso controle tais como certas circunstâncias, falta de dons naturais na área de nossos esforços ou interferência de pessoas egoístas.

    Pelos padrões do mundo, a vida de Jesus terminou em fracasso, com seus apóstolos e discípulos dispersos e ele mesmo crucificado pelos inimigos. Não obstante, o Pai no céu aceitou o trabalho de sua vida e nós igualmente devemos julgar o sucesso a partir da perspectiva espiritual. A perseverança no cumprimento de nosso dever e nossa intenção amorosa para sabiamente servir podem ser as únicas medidas de sucesso em qualquer empreendimento. Somente a falta de esforço inteligente e de diligência são motivo para ficarmos portas adentro.

    A derrota não pode ser considerada à parte de uma avaliação das metas às quais os esforços foram dirigidos. Temos dentro de nós muito mais capacidade do que fazemos uso. Quando se adiciona a estes talentos humanos o reforço do Espírito de Verdade, do Espírito Santo, do espírito interior do Pai e ainda o auxílio dos anjos, nossa capacidade humana de realização aumenta de modo imensurável. O acréscimo de poder provém de alinharmos nosso ser com o poder de Deus. Quando sinceramente tentamos fazer a vontade de Deus, todas as coisas se tornam possíveis — todas as coisas — pois Deus não pode ser limitado.

    Experimentar a derrota é um aspecto normal e valioso da vida. Ela nos move a reexaminarmos toda a situação na qual nos encontramos, visando uma útil correção do curso. Contudo, atolados nela, a derrota paralisa a vontade e cria um contínuo contentamento neste fracasso do qual se busca a libertação. Não há nada de extraordinário em fracassar ou em ser derrotado. As muralhas da cidade não cedem ao primeiro ataque; é necessário persistir. Enquanto há vida, só pode vir o bem de se enfrentar as dificuldades dela pois todas as coisas trabalham para o bem para aqueles que amam a Deus e que se dedicam a fazer a sua vontade. Da perspectiva de Deus, o desmoronamento dos planos de nossa vida, as pesadas nuvens do fracasso, a escuridão e a dor dão origem a uma sabedoria mais profunda e à oportunidades maiores de crescimento e serviço.

    Portanto, usemos o fracasso e a derrota para reavaliar a validade do que buscamos, indagando ao Pai se nossas metas e meios estão de acordo com seu plano. Se não estão, o fracasso acontece mais cedo ou mais tarde pois nos encontraremos dispostos em sentido contrário ao do curso da própria Realidade. Todavia, quando sentimos a segurança de que nossas metas e meios são aceitáveis aos seus olhos, não devemos permitir que nada nos desvie; devemos rejeitar o que humanamente se descreve como fracasso no esforço por encontrar a aprovação divina; devemos prosseguir com firmeza, a despeito de todas as indicações em contrário, não permitindo que nada nos desanime a continuar. Comungar com a natureza amorosa do Pai diminui nossa luta e nos dá forças para realizar sua vontade amorosa.

    A consciência de uma vida humana vitoriosa na terra nasce da fé da criatura que ousa enfrentar cada fato que se repete na existência, defrontando o impressionante espetáculo das limitações humanas mediante a infalível declaração : Mesmo que eu não possa fazer isto, em mim vive quem possa fazê-lo, uma parte do Pai-Absoluto do universo dos universos. E essa é "a vitória que venceu o mundo, vossa própria fé." (4:4.9)

    Porém, muito antes de chegar à Havona, esses filhos que ascendem do tempo têm aprendido a banquetear incertezas, a se fartar de desilusão, a se encher de entusiasmo frente à derrota aparente, a revigorar-se na presença de dificuldades, a exibir coragem indomável ante a imensidão e a exercer uma fé inquebrantável ao se defrontarem com os desafios do inexplicável. Por muito tempo, o grito de batalha destes peregrinos tem sido : "Com Deus, nada — absolutamente nada — é impossível." (26:5.3)

    Deles [destes anjos] aprenderás a deixar que a tensão se transforme em estabilidade e certeza, a ser fiel e determinado e, ademais, alegre; a aceitar os desafios sem queixas e a enfrentar as dificuldades e incertezas sem medo. Eles perguntarão : se fracassares, levantarás insubjugável para tentar de novo? Se triunfares, manterás o equilíbrio — uma atitude estável e espiritualizada — do começo ao fim de cada esforço no longo empenho por quebrar as cadeias da inércia material, por alcançar a liberdade da existência espiritual?

    Assim como os mortais, estes anjos tiveram muitas decepções e eles te apontarão que, às vezes, tuas mais decepcionantes decepções se transformam em tuas maiores bênçãos. Algumas vezes, o plantio da semente requer sua morte, a morte de suas mais caras esperanças, antes que possa renascer para dar os frutos de uma nova vida e de uma nova oportunidade. (48:6.24-25)

    Jesus ilustrou a profunda segurança do mortal que conhece a Deus quando disse: "Para um crente do reino, que conhece a Deus, que importa se todas as coisas mundanas sucumbem?" A segurança temporal é vulnerável, mas a certeza espiritual é inabalável. Quando as marés da adversidade humana, do egoísmo, da crueldade, do ódio, da maldade e da inveja golpeiam a alma mortal, podeis descansar na segurança de que existe um bastião interior, a cidadela do espírito, que é absolutamente inatacável; isso, ao menos, é verdade acerca de cada ser humano que dedicou a guarda de sua alma ao espírito do Deus eterno que mora em seu interior.

    Depois de tal realização espiritual, quer obtido pelo crescimento gradual ou por alguma crise, ocorre tanto uma nova orientação da personalidade como o desenvolvimento de um novo critério de valores. Estes indivíduos nascidos do espírito se renovam de tal maneira em motivação na vida que podem conservar a serenidade enquanto suas mais caras aspirações são assoladas e suas mais vivas esperanças desmoronam; eles positivamente sabem que tais catástrofes não são senão cataclismos que redirecionam, que deitam abaixo nossas criações temporais, previamente ao erigir de realidades mais nobres e duradouras, de um novo e mais sublime nível de realização universal. (100:2.7-8)

    O que és hoje não é tão importante como o que vens a ser, dia a dia e na eternidade. (111:1.5)

    "O Senhor está próximo de todos aqueles que o invocam com sinceridade e verdade. O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem com a manhã" (131:2.9)

    E quando estes seres humanos transtornados contavam a Jesus seus problemas, ele sempre sabia oferecer sugestões práticas e imediatamente úteis, visando corrigir suas reais dificuldades embora não deixasse de falar naquele momento palavras de conforto e de imediata consolação. E ele invariavelmente contava a estes mortais aflitos sobre o amor de Deus e lhes transmitia a mensagem, por vários e diferentes métodos, de que eles eram filhos deste amoroso Pai no céu. (132:4.2)

    Os discípulos logo aprenderam que o Mestre tinha um profundo respeito e uma consideração solidária por todo ser humano com quem se encontrava e muito lhes comovia esta consideração invariável e constante com que ele tão sistematicamente brindava toda classe de homens, mulheres e crianças. Às vezes, interrompia-se no meio de um profundo discurso para sair ao caminho e oferecer palavras de bom ânimo à uma mulher que passava, sobrecarregada pelo fardo de seu corpo e de sua alma. Interrompia uma conversação intensa com seus apóstolos para fraternizar com uma criança intrusa. Para Jesus, não havia nada mais importante que o indivíduo humano que por acaso estivesse em sua presença imediata. (138:8.9)

    Novamente vos digo : pedi e vos será dado; buscai e achareis; batei à porta e ela vos será aberta. Pois o que pede, recebe; o que busca, acha e ao que bate à porta da salvação, esta lhe será aberta." 144:2.3

    "Muito do sofrimento do homem provém da decepção de suas aspirações e das feridas de seu orgulho. Embora os homens tenham um dever consigo mesmos de fazer o melhor de suas vidas na terra, tendo assim se aplicado sinceramente deveriam alegremente aceitar seu destino, praticando a ingenuidade ao fazer o máximo daquilo que caiu em sua mãos. Muitíssimos dos problemas do homem têm origem no temor que albergam em seu próprio coração ...

    Portanto, não busqueis a falsa paz e o gozo passageiro mas, antes, a segurança da fé e a certeza da filiação divina que dão serenidade, contentamento e o supremo gozo no espírito. (149:5.3-4)

    A medida da capacidade espiritual da alma evolutiva é tua fé na verdade e teu amor pelo próximo; porém, a medida de tua força humana de caráter é tua capacidade de resistir ao apego do rancor e de se opor a ficar remoendo diante a mais profunda tristeza. A derrota é o verdadeiro espelho no qual podes honestamente ver teu autêntico eu. (156:5.17)

    Não olvideis que nada me deterá em meus esforços por restaurar o auto-respeito daqueles que o perderam e que realmente desejam recuperá-lo. (159:3.3)

    O fracasso é simplesmente um episódio — um experimento cultural na aquisição de sabedoria — na vivência do homem que busca a Deus e que embarcou na eterna aventura da exploração do universo. Para este homem, a derrota não é senão um novo utensílio para alcançar níveis mais altos da realidade universal. (160:4.9)

    Ensinou os homens a terem a si mesmos em grande estima, no tempo e na eternidade. Por causa da grande estima que Jesus tinha pelo homem, estava disposto a investir no serviço incansável à humanidade...Que mortal pode deixar de sentir-se elevado pela fé extraordinária que Jesus tem nele? (196:2.10)

     

     

  9. Quando nos sentimos impacientes ou paralisados
  10.  

    A pessoa impaciente sente raiva porque a árvore se recusa a dar frutos antes da devida estação. Sentir impaciência é assumir que Deus não está agindo rápido bastante — que nós, criaturas, compreendemos os eventos melhor que o Criador, em quem vivemos, no movemos e existimos.

    Aqueles que fazem as coisas antes da hora falham em seus esforços porque as condições que levariam ao sucesso ainda não estavam preparadas. Contudo, agindo na fé cooperamos com o programa do Pai onisapiente e experimentamos a paz em abrir mão dos acontecimentos além de nosso controle. Não mais carregamos tantos fardos mundanos e, assim libertados, estamos livres para trabalhar arduamente nas tarefas que unicamente nos pertencem. Paramos de fazer planos pessoais para a vida dos outros já que fomos chamados para amar nossos irmãos e não para pressioná-los a agirem contrário à sua própria livre vontade.

    A impaciência evidencia falta de submissão à vontade do Pai. A pessoa impaciente tem seu próprio plano, que lhe parece superior ao do Pai. O mais letal é que a impaciência o tenta a buscar os atalhos para fazer as coisas à sua maneira em vez da de Deus. Mas tais esforços apressados dão em nada pois as múltiplas circunstâncias necessárias ao seu sucesso ainda não se deram. O programa de nosso Pai é supremo e nada de valor autêntico acontece à parte dele. Deus proporciona o poder e o modelo que torna possível a realização duradoura.

    Enquanto a impaciência consome muita ação, a paralisia — o medo de viver — não consome o bastante. A paralisia traz consigo o sentimento de se estar preso a uma maneira improdutiva de viver. Retardamo-nos em tal experiência monótona e de desperdício, sentindo o medo de que mesmo que tentássemos, falharíamos em nos desembaraçar e, se tal por acaso acontecesse, a vida fora da rotina seria provavelmente pior. A cura para a paralisia é a prece com a finalidade de conhecer a vontade de Deus, e então a AÇÃO corajosa, comprometida, confiante e fundamentada na fé na capacidade de Deus de manifestar sua vontade perfeita em nós, mediante nós e por nós.

    A água se estagna quando não se move. Da mesma forma, a atrofia espiritual se instala quando deixamos de ousar agir de acordo com nossos mais elevados conceitos a respeito do plano de Deus para nossa vida. A paralisia e a impaciência são polos opostos de um problema comum : a falta de submissão ao plano do Pai. Há tempo de esperar e tempo de agir e aqueles que seguem o espírito de Deus são, no tempo próprio, guiados em todas as suas ações. A adoração e o serviço nos ligam ao coração de Deus, provêem a energia espiritual para a ação decidida e nos tornam cada vez mais eficientes nos campos de serviço aos quais fomos chamados.

    A paralisia espiritual resulta de faltarmos com a busca da verdade espiritual e de não passarmos adiante o que recebemos dos outros. Os que servem não podem jamais chegar a se paralisar pois o Pai os conduz a caminhos sempre mais desafiantes e frutíferos, nos quais seu amor pode se revelar. Aqueles empanturrados dos bens deste mundo podem protelar a paralisia por um frenético cortejo de brinquedos constantemente substituídos mas, servindo a Deus, mesmo a labuta corriqueira é santa e sagrada.

    A paralisia indica ausência de desafios o que, por sua vez, evidencia a falta de uma ligação espiritual viva com Deus, que continuamente nos leva aos mais elevados reinos de serviço. Logo, devemos nos submeter à vontade do Pai e fazer de seus planos os nossos, em cada pormenor, confiando em sua sabedoria e em sua amorosa bondade pois à parte dele não somos nada.

    Devemos esperar e ascender enquanto esperamos pois verdadeiramente, "nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem entrou no coração do homem mortal o que Deus preparou para aqueles que sobrevivem à vida na carne nos mundos do tempo e do espaço." (11:4.5)

    O amor à aventura, a curiosidade e o horror à monotonia — traços estes inerentes à natureza evolutiva humana — não foram colocados lá apenas para te exasperar e te perturbar durante tua curta permanência na terra mas, antes, para te sugerir que a morte é apenas o começo de um infindável caminho de aventura, uma vida perpétua de expectativas, uma eterna viagem de descobertas.

    A curiosidade — o espírito de investigação, o impulso ao descobrimento, o estímulo à pesquisa — é parte da dotação inata e divina das criaturas evolutivas do espaço. Estes impulsos naturais não vos foram dados para serem simplesmente frustrados ou reprimidos. Na verdade, durante sua curta vida na terra estes impulsos ambiciosos freqüentemente devem ser restringidos e, muitas vezes, o desapontamento é experimentado; porém, eles serão plenamente realizados e gloriosamente gratificados durante as longas eras que estão por vir. (14:5.10-11)

    Existe um propósito grande e glorioso na marcha dos universos através do espaço. Todas as vossas lutas mortais não são em vão. Somos todos parte de um imenso plano, uma gigantesca empresa e é a vastidão desta empresa o que converte em impossível poder ver muito dela num determinado tempo, durante uma vida qualquer. Todos formamos parte de um projeto eterno que os Deuses estão supervisionando e efetuando. Majestosamente, a totalidade do mecanismo universal segue sua marcha através do espaço ao compasso da música do pensamento infinito e do eterno propósito da Primeira Grande Fonte e Centro.

     

    O eterno propósito do Deus eterno é um ideal altamente espiritual. Os acontecimentos do tempo e as lutas da existência material não são senão o andaime transitório que faz uma ponte com o outro lado, com a terra prometida da realidade espiritual e da existência celestial....

    No que diz respeito a uma vida individual, a duração de um mundo ou a cronologia de qualquer evento ou série de eventos interligados, pareceria que estamos lidando com um período isolado de tempo; tudo parece ter um começo e um fim. E pareceria que, quando sucessivamente arranjadas, uma série destas experiências, vidas, eras ou épocas constitui um percurso direto, um evento isolado do tempo lampejando momentaneamente através da face infinita da eternidade. Mas quando olhamos tudo isto por detrás do palco, uma visão mais abrangente e um entendimento mais completo sugerem que tal explicação é inadequada, desconexa e completamente imprópria para explicar corretamente, e por outro lado correlatar, os relatos do tempo com os propósitos implícitos e as reações básicas da eternidade.

    Para mim parece mais adequado ... conceber a eternidade como um ciclo e o propósito eterno como um círculo sem fim, um ciclo de eternidade de alguma maneira sincronizado com os transitórios ciclos materiais do tempo. (32:5.1-4)

    Na mente de Deus há um plano que envolve cada criatura de todos os seus vastos domínios e este plano consiste num eterno propósito de amplas oportunidades, de progresso ilimitado e vida sem fim. E os tesouros infinitos dessa caminhada incomparável são vossos apenas por lutar!

    O objetivo da eternidade vos aguarda! A aventura do alcance da divindade encontra-se diante de vós! A caminhada pela perfeição prossegue! Quem quer que deseje pode participar e a vitória certeira coroará os esforços de cada ser humano que participa da caminhada de fé e esperança , a cada passo contando com a orientação do Modelador interior e com a direção desse bom espírito do Filho do Universo, que prodigamente tem se derramado por toda a carne. (32:5.7-8)

    A consciência da dominação do espírito numa vida humana em breve acompanha-se de demonstrações cada vez maiores das características do Espírito nas reações da vida de tais mortais guiados pelo espírito, "porque os frutos do espírito são o amor, a alegria, a paz, a resignação, a doçura, a bondade, a fé, a humildade, a temperança". Estes mortais, guiados pelo espírito e divinamente iluminados, mesmo quando caminham pelas sendas humildes do trabalho penoso, cumprindo com lealdade humana as obrigações de seus deveres terrenos, já começaram a discernir as luzes da vida eterna que centelham nas orlas distantes de outro mundo; já começaram a compreender a realidade desta verdade inspiradora e reconfortante, "o reino de Deus não é comida nem bebida mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo". Através de cada prova, frente a cada penúria, as almas nascidas do espírito são sustentadas pela esperança que transcende todos os temores, porque o amor de Deus se espalha por todos os corações através da presença do Espírito divino. (34:6.13)

    Para o mortal que se fundiu com Modelador, o caminho do serviço universal está aberto de par em par. Que grandeza de destino e que glória de realização espera por cada um de vós! Apreciais plenamente o que foi feito para vós? Compreendeis a grandeza das alturas de eterno alcance que se estendem diante de vós? Mesmo vós, que agora caminhais penosamente nas modestas veredas da vida, através do assim chamado "vale de lágrimas"? (40:7.5)

    O universo dos universos, incluindo este pequeno mundo chamado Urantia, não está sendo administrado meramente de acordo com nosso beneplácito nem com nossa conveniência, muito menos conforme nossos caprichos ou para a satisfação de nossa curiosidade. Os seres sábios e todo-poderosos que têm a responsabilidade da administração do universo indubitavelmente sabem bem o que têm de fazer; e assim, condiz aos Portadores da Vida e cabe à mente mortal abraçar a causa em paciente espera e entusiástica cooperação com as regras da sabedoria, o reino do poder e a marcha do progresso. (65:5.3)

    Jamais, em tua ascensão ao Paraíso, ganharás algo tentando impacientemente iludir o desígnio divino estabelecido mediante atalhos, invenções pessoais ou outros artifícios para facilitar o avanço no caminho da perfeição, para a perfeição e com o intuito da perfeição eterna. (75:8.5)

    Não importa quanto possais crescer em compreensão do Pai, vossa mente sempre ficará perplexa com a infinitude irrevelada do Pai-EU SOU, cuja vastidão inexplorada sempre permanecerá insondável e incompreensível por todos os ciclos da eternidade. Não importa quanto de Deus possais alcançar, haverá sempre muito mais dele, cuja existência nem mesmo se suspeita ... A busca por Deus não tem fim! (106:7.5)

    Podeis perceber a verdadeira importância do Modelador interior? Chegais a perceber o que significa ter uma fração absoluta da Deidade absoluta e infinita, o Pai Universal, morando e fundindo-se com vossa natureza finita e mortal? Quando o homem mortal se funde com uma fração real da Causa existencial do cosmos total, já não se pode pôr limite algum ao destino de tal parceria, inimaginável e sem precedentes. (107:4.7)

    A mente é vossa nave, o Modelador é vosso piloto, a vontade humana é o capitão. O dono da nave mortal deve ter a sabedoria de confiar no divino piloto para guiar a alma ascendente aos portos morontiais da eterna sobrevivência. A vontade humana só pode rejeitar a orientação de um piloto tão amoroso por egoísmo, indolência e pecado, terminando por naufragar sua caminhada mortal nos funestos baixios da misericórdia que recusou e nas rochas do pecado que abraçou. Com seu consentimento, este piloto fiel vos levará com segurança através das barreiras do tempo e dos obstáculos do espaço à fonte mesma da mente divina e, mais além, ao Pai dos Modeladores e do Paraíso. (111.1.9)

    Quando o homem consagra sua vontade a fazer a vontade do Pai, quando o homem dá a Deus tudo o que tem, Deus faz com que esse homem seja mais do que é. (117:4.14)

    A unidade de tempo da maturidade concentra o significado-valor no momento presente de uma maneira tal como para divorciar o presente de sua autêntica relação com o não presente, o passado-futuro. A unidade de tempo da maturidade está dimensionada para assim revelar a relação coordenada do passado-presente-futuro em que o eu começa a adquirir discernimento na totalidade dos acontecimentos, começa a visualizar a paisagem do tempo a partir de uma perspectiva panorâmica de horizontes ampliados, começa talvez a pressentir o contínuo eterno, sem começo nem fim, cujos fragmentos se chamam tempo. (118:1.8)

    O carpinteiro de Nazaré agora compreendia plenamente o trabalho diante dele, mas escolheu viver sua vida humana seguindo seu curso natural... (128:1.6)

    Certo dia, ao perguntar Ganid a Jesus por que não se dedicava a ensinar publicamente, respondeu-lhe : "Filho meu, tudo tem de aguardar sua hora. Nasces no mundo, mas não há ansiedade nem manifestação de impaciência capazes de te fazer crescer. Em todos estes assuntos, há que se dar tempo ao tempo. Somente o tempo amadurecerá a fruta verde na árvore. Uma estação sucede à outra e o pôr do sol segue ao nascer do sol apenas com o passar do tempo. Agora estou a caminho de Roma contigo e com teu pai e isso é o suficiente por hoje. Meu amanhã está totalmente nas mãos de meu Pai no céu." E então contou a Ganid a história de Moisés e de seus quarenta anos de espera vigilante e contínua preparação. (130:5.3)

    Assim foi e assim é, sempre. O que uma imaginação humana esclarecida e reflexiva, que recebeu o ensinamento e a direção espirituais e que deseja sincera e altruisticamente ser e fazer torna-se de forma comensurável criativa segundo o grau de dedicação do mortal à execução divina da vontade do Pai. Quando o homem vai em parceria com Deus podem ocorrer, e ocorrem realmente, coisas grandiosas. (132:7.9)

    Nessa mesma noite Jesus fez aos apóstolos o inolvidável discurso sobre o valor relativo de nossa condição perante Deus e do progresso na ascensão eterna ao Paraíso. Disse Jesus : "Filhinhos meus, se existe uma ligação viva e verdadeira entre o filho e o Pai, com certeza o filho progredirá continuamente em direção aos ideais do Pai. É verdade que, no princípio, o filho poderá progredir lentamente mas esse progresso será, todavia, seguro. O importante não é a rapidez de vosso progresso mas sim sua certeza. Vossa realização atual não é tão importante quanto o fato de que vosso progresso é em direção a Deus. O que chegais a ser dia após dia é infinitamente mais importante que o que sois hoje. (147:5.7)

    Necessita-se tempo para que homens e mulheres modifiquem, de forma ampla e radical, seus conceitos básicos e fundamentais de conduta social, atitudes filosóficas e convicções religiosas. (152:6.1)

    E o Mestre, dirigindo-se a todos eles, disse : "Não desanimeis por não conseguir alcançar o pleno significado do evangelho. Não sois senão finitos, homens mortais, e o que vos ensinei é infinito, divino e eterno. Sede pacientes e tende bom ânimo já que tendes os tempos eternos diante de vós, nos quais continuareis a realização progressiva da experiência de vos tornardes perfeitos, como vosso Pai no Paraíso é perfeito." (181:2.25)

    Não tenteis satisfazer a curiosidade nem comprazer toda aventura latente que surge dentro da alma numa curta vida na carne. Sede pacientes! Que não vos seduza a entrega ao mergulho nas aventuras reles e sórdidas. Sujeitai vossas energias e refreai vossas paixões; tende serenidade enquanto aguardais o desdobrar majestoso de uma caminhada sem fim, de aventura progressiva e emocionante descoberta. (195:5.10)

     

  11. Quando sentimos medo
  12. O medo é o terror avassalador que sentimos quando, indefesos, ouvimos os tambores dos inimigos avançando. A razão e o senso comum são espadas sem fio para cortar o nó que nos prende à espiral descendente do medo, de sofrimento e destruição. O medo enfraquece nossos valores morais e paralisa nossa vontade, deixando-nos encurralados e indefesos ante nossos adversários imaginários; ou pode volver em pânico descontrolado, que nos faz atacar selvagemente como animais acuados. O medo corrói a fé da relação dos filhos com Deus. O medo promove distúrbios em seu ciclo destrutivo, impedindo toda boa intenção e devorando em primeiro lugar aquele que o sente. O medo é o vácuo deixado pelo amor e pela confiança, quando estes se vão.

    O poder do medo fundamenta-se na ignorância e confirma-se no isolamento. Porém, quando encaramos o medo na convicção do amor do Pai, ele some como um pesadelo ante o sol da manhã. Os medos que nos controlavam desaparecem como se nunca houvessem existido. Os demônios do passado tornam-se personagens de quadrinhos, esquecidos assim que se vira a página.

    Quando nos sentimos presos na armadilha do horror, atacados por todos os lados, precisamos apenas nos refugiar em nosso bastião interior de segurança e paz, o reino espiritual interior, a esfera da ordem e do amor, para ali encontrar consolo e forças maiores que aquelas de qualquer adversário. A fé é a chave dos portões seguros do reino e ela provém da nossa boa vontade em confiar nos cuidados e proteção do Pai. Dentro de suas muralhas maciças, vivemos no poder e na presença do Pai, sabendo de nosso indubitável lugar em sua afeição. Lá dentro, o Pai serena nossa mente e nos diz que nosso medo é desnecessário, que seus braços amorosos nos envolvem e nos mantém a salvo.

    O medo alimenta-se de si mesmo e devasta a alma humana. Porém, a libertação do terror resulta apenas do caminhar na fé e a fé é uma dádiva de Deus. Para dominar o medo necessitamos somente sintonizar nossa mente em Deus e por meio desta relação, dos canais do reservatório infinito de amor do Pai, a força que vem do alto verte para curar nossa sensação de pânico.

    Não se submete o medo com um "ataque frontal" pois a força emocional já demonstrou que não serve para vencê-lo ou, caso contrário, o medo não teria surgido. Antes, o medo é vencido por percebermos um amor todo-poderoso diante do qual o medo não pode permanecer. O poder da tormenta, a virulência do mal ou das pessoas insensíveis, a indiferença numa conjuntura, tudo diminui ante a avalanche de ajuda que vem do alto.

    O medo é o pânico desnecessário, da criança sozinha na noite, quando seus pais estão no cômodo ao lado. Torna-nos vulneráveis quando nos sentimos frágeis e arrogantes quando nos sentimos fortes. Ambos nascem quando nossa ligação com Deus está debilitada pela imaturidade, pela indiferença ou pela maldade deliberada. Sob qualquer destas circunstâncias a vida é penosa pois está desalinhada do curso dos planos do Pai, o qual nos provê a saúde do corpo, da mente, dos sentimentos, da alma, da personalidade e do espírito. O Pai deseja que seus filhos estejam livres do medo e dispõe os meios pelos quais isso é possível.

    "Eu guardarei em completa paz aquele cujo pensamento persevera em mim". "Em quietude e confiança será vossa fortaleza". "Tranqüilizai-vos e conhecei que eu sou Deus". "Dele correrão rios de água viva para alimento de muitas almas". "Vinde a mim vós que estais sobrecarregados e eu darei descanso a vossas almas temerosas".

     

     

    Mesmo em Urantia [estes anjos] exortam os mestres humanos da verdade e da retitude a aderirem à pregação da "bondade de Deus, que convida ao arrependimento", a proclamarem "o amor de Deus, que lança fora todo temor". Mesmo assim estas verdades têm sido declaradas em vosso mundo :

    Os Deuses são meus protetores; não me perderei;

    Lado a lado eles me conduzem pelas belas e gloriosas veredas de vida eterna.

    Nesta Divina Presença não sentirei falta de alimento nem sede de água.

    Ainda que desça pelo vale da incerteza ou ascenda aos mundos da dúvida,

    Ainda que caminhe na solidão ou com meus semelhantes,

    Ainda que triunfe nos coros de luz ou titubeie nos locais solitários das esferas,

    Vosso bom espírito me assistirá e vosso anjo glorioso me consolará.

    Ainda que desça nas profundezas da escuridão e da própria morte,

    Não duvidarei de ti nem o temerei,

    Pois sei que na plenitude do tempo e na glória de vosso nome

    Levantar-me-ás para sentar contigo nas ameias do alto. (48:6.8)

     

    Mesmo em Urantia, estes serafins ensinam a verdade sempiterna : se tua própria mente não te serve bem, podes permutá-la pela de Jesus de Nazaré, que é quem sempre te serve bem. (48:6.15)

    Nesta ocasião, o rapaz desejava muitíssimo falar com Jesus; e ajoelhou-se aos seus pés implorando a Jesus que o ajudasse, que lhe mostrasse o caminho para escapar de seu mundo de mágoas e derrotas pessoais. Disse Jesus : "Meu amigo, levanta-te! Ponha-te de pé como um homem! Podes estar rodeado de pequenos inimigos e atrasar-se por muitos obstáculos, mas as grandes coisas e as coisas verdadeiras deste mundo e do universo estão do teu lado. O sol nasce a cada manhã para te saudar da mesma forma como o faz ao mais poderoso e próspero homem na terra. Vê : tens um corpo robusto e músculos fortes; teu aparelho físico é melhor que o do homem comum. Naturalmente, quase não te aproveita nada enquanto sentas aqui nas montanhas e te preocupas com teus infortúnios, reais e imaginados. Mas poderias fazer grandes coisas com teu corpo se te apressasses a ir onde as grandes coisas esperam para serem feitas. Estás tentando fugir de teu lado infeliz, mas isto não se pode fazer. Tu e teus problemas da vida são reais; não podes escapar deles enquanto viveres. Porém, olha de novo : tua mente está clara e capaz. Teu corpo robusto tem uma mente inteligente para dirigi-lo. Fixa tua mente no trabalho para resolver teus problemas; ensina teu intelecto a trabalhar por ti; não mais permitas ser dominado pelo medo tal como um animal irracional. Tua mente deve ser tua corajosa aliada na solução de teus problemas na vida em vez de seres dela, com tens sido, o abjeto escravo medroso e o servo cativo da depressão e da derrota. Porém, o mais valioso de tudo, teu potencial de verdadeira realização é o espírito que vive em ti, que te encorajará e inspirará tua mente a controlar a si própria e a ativar o corpo caso o libertes das cadeias do medo e, por conseguinte, possibilite tua natureza espiritual a iniciar tua libertação dos males da inércia pelo poder-presença da fé viva. E então, sem detença, esta fé vencerá o medo dos homens pela estimulante presença daquele novo e todo-dominante amor por teus semelhantes que logo preencherá tua alma até o transbordamento, devido a consciência que nasceu em teu coração, de que és filho de Deus.

    "Neste dia, meu filho, terás renascido, restabelecido como um homem de fé, de coragem e de serviço dedicado ao homem, para a glória de Deus. E assim, quando te readaptares à vida dentro de ti, da mesma forma estarás readaptado ao universo; nasceste de novo — nasceste do espírito — e doravante toda tua vida será de realização vitoriosa. Os aborrecimentos te revigorarão; o desapontamento te estimulará; as dificuldades te serão um desafio e os obstáculos te encorajarão. Levanta-te, rapaz! Despeça-se da vida retraída no medo e da pusilanimidade esquiva. Apressa-te a voltar ao dever e viva tua vida na carne como um filho de Deus, um mortal dedicado ao enobrecedor serviço ao homem na terra e destinado ao majestoso e eterno serviço a Deus, na eternidade. (130:6.3-4)

     

    "Ganid, tenho absoluta confiança na proteção de meu Pai celestial. Estou consagrado a fazer a vontade de meu Pai, que está no céu. Não creio que possa acontecer-me algum dano real; não creio que a obra de minha vida possa realmente estar em perigo sob o mando opressor de meus inimigos e certamente não temos violência alguma a temer por parte de nossos amigos. Estou absolutamente convencido de que o universo inteiro é cordial para comigo — insisto em crer nesta verdade toda-poderosa com a mais sincera confiança, em que pese as aparências em contrário." (133:1.4)

    Ao jovem desertor, Jesus disse : "Lembra-te, há duas coisas das quais não podeis escapar : de Deus e de ti mesmo. Onde quer que vás, levas contigo a ti mesmo e ao espírito do Pai celeste que vive em teu coração. Meu filho, para de tentar iludir a ti mesmo; firma-te na prática corajosa de enfrentar os fatos da vida; aferra-te na segurança da filiação com Deus e na certeza da vida eterna, como te instruí. Deste dia em diante, proponha-te a ser um verdadeiro homem, um homem determinado a enfrentar a vida, corajosa e inteligentemente." (133:4.11)

     

    Ele buscava deixar claro que o mundo não deve ser considerado como um inimigo; que as circunstâncias da vida constituem uma dispensação divina, trabalhando junto com os filhos de Deus. (140:8.3)

    "Não temais aqueles que, embora possam matar o corpo, após isso já não têm nenhum poder sobre vós. Eu vos aconselho a não temer nada, no céu ou na terra, mas sim a regozijar-vos no conhecimento daquele que tem o poder de vos libertar de toda injustiça e de vos apresentar sem culpa ante os tribunais de um universo.

    "Não se vende cinco pardais por dois centavos? Contudo, quando estes pássaros voam em busca de alimento, nenhum deles existe sem o conhecimento do Pai, a fonte de toda vida. Para os guardiões seráficos, até os cabelos de vossa cabeça estão contados. E se tudo isso é verdade, por que viver com medo das bagatelas que surgem em vossa vida diária? Digo-vos: Não temais; valeis muito mais que muitos pardais." (165:3.3-4)

    "Tendes dedicado vossas vidas ao ministério do reino; portanto, não vos preocupeis nem vos aflijais pelas coisas da vida temporal, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. O bem-estar da alma é mais que comida e bebida; o progresso no espírito está muito acima da necessidade de vestuário. Quando estiverdes tentados a duvidar da certeza do vosso pão, contemplai os corvos; não semeiam nem colhem, não têm armazéns nem celeiros e contudo o Pai provê comida a todos que a buscam. E valeis muito mais que muitos pássaros! Além disso, toda vossa ansiedade ou vossas dúvidas corrosivas nada podem fazer para suprir vossas necessidades materiais. Qual de vós, pela ansiedade, pode acrescentar um palmo à vossa estatura ou um dia à vossa vida? Visto que tais assuntos não estão em vossas mãos, porque vos afligis por estes problemas?

    "Contemplai os lírios, como crescem; não labutam nem fiam; contudo eu vos digo, mesmo Salomão em toda sua glória não se vestia como um deles. Se Deus veste assim a relva do campo, que hoje vive e amanhã é cortada e lançada ao fogo, quanto mais vos vestirá, embaixadores do reino celeste. Ó vós, de pouca fé! Quando vos dedicais sinceramente à proclamação do evangelho do reino, não deverias albergar dúvidas em vossa mente acerca do sustento de si mesmo ou da família que deixastes. Se verdadeiramente dedicardes vossa vida ao evangelho, deveis viver pelo evangelho. Se sois apenas discípulos crentes, deveis ganhar vosso próprio pão e contribuir para o sustento de todos os que ensinam, pregam e curam. Se estiverdes aflitos por vosso pão e água, em que sois diferentes das nações do mundo que tão diligentemente buscam tais necessidades? Dedicai-vos ao vosso trabalho, acreditando que tanto eu como o Pai sabemos que necessitais de todas estas coisas. Permiti que, de uma vez por todas, vos assevere que se dedicardes vossa vida à obra do reino, todas as vossas necessidades serão supridas. Buscai as coisas maiores e as pequenas serão achadas. É certo que a sombra segue o corpo.

    "Sois apenas um pequeno grupo, mas se tiverdes fé, se não pisardes em falso por medo, eu vos declaro que com imensa satisfação meu Pai vos dá este reino. Colocastes vossos tesouros onde a bolsa não envelhece, onde nenhum ladrão pode saquear e onde nenhuma traça pode destruir. E, como disse ao povo, onde estiver vosso tesouro, ali também estará vosso coração." (165:5:2.4)

     

    "Que mais devo dizer? A queda das nações, a decadência dos impérios, a destruição dos judeus incrédulos, o fim de uma era e mesmo o fim do mundo, o que tem estas coisas a ver com aquele que crê neste evangelho e que resguardou sua vida na certeza do reino eterno? Vós que sois conhecedores de Deus e crentes no evangelho já receberam a certeza da vida eterna. Desde que vossa vida tenha sido vivida no espírito e pelo Pai, nada pode preocupar-vos seriamente. Os construtores do reino, os cidadãos autorizados dos mundos celestes não devem se transtornar por revoltas efêmeras nem se perturbar por cataclismos terrestres. Que importância tem para vós que credes neste evangelho do reino que as nações se subvertam, que terminem as eras ou que todas as coisa visíveis se destruam já que sabeis que vossa vida é uma dádiva do Filho, e que ela está eternamente protegida no Pai? Tendo vivido a vida transitória pela fé e tendo produzido os frutos do espírito na retitude manifesta no serviço amoroso aos vossos semelhantes, podeis esperar confiantemente o próximo passo na caminhada eterna com a mesma fé na sobrevivência que vos levou através da vossa primeira aventura terrena, na filiação com Deus." (176:3.2)

     

    "Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus; continuai crendo também em mim. Ainda que eu deva deixá-los, não estarei longe de vós. Já vos disse que no universo de meu Pai há vários locais de estada. Se isto não fosse verdade, não vos teria repetidamente dito sobre eles. Vou retornar a estes mundos de luz, estâncias no céu do Pai ao qual algum dia ascendereis. Destes locais vim para este mundo, e é chegada a hora de retornar ao trabalho de meu Pai nas esferas do alto.

    "Assim, se eu vou antes de vós ao reino celestial do Pai, do mesmo modo com certeza vos buscarei para que possais estar comigo nos lugares que, antes que esse mundo fosse feito, foram preparados para os filhos mortais de Deus. Mesmo que deva deixá-los, estarei presente convosco em espírito e finalmente estareis comigo em pessoa, quando houverdes ascendido a mim em meu universo como igualmente estou para ascender ao meu Pai em seu universo maior." (180:3.4-5)

    "O Pai me enviou a este mundo, mas apenas alguns poucos de vós escolheram me receber plenamente. Derramarei meu espírito por toda carne mas nem todos os homens escolherão receber este novo mestre como um guia e conselheiro da alma. Porém, todos os que o receberem serão iluminados, purificados e consolados. E este Espírito de Verdade virá a ser neles uma nascente de água viva brotando em vida eterna.

    "E agora, estando para deixá-los, direi palavras de consolo. Deixo-vos a paz; eu vos dou a minha paz. Eu a dou não como o mundo a dá — limitada — mas dou a cada um de vós tudo o que recebereis. Não se turbe o vosso coração nem sinta medo. Eu venci o mundo e em mim todos vós triunfareis através da fé." (181:1.4-5)

    Por isto, a paz de Jesus é a paz e a certeza de um filho que crê plenamente que sua caminhada no tempo e na eternidade está segura e inteiramente sob os cuidados e a vigilância do Pai espiritual onisciente, todo-amoroso e onipotente. E isto é, de fato, a paz que ultrapassa o entendimento na mente mortal mas que pode ser desfrutada em plenitude pelo coração humano e crente. (181:1.10)

     

     

  13. O que fazer sobre tudo isto

 

"Há um rio cuja corrente alegra a cidade de Deus." Este rio é a vontade de Deus e ele flui para todos aqueles que desejam receber a água da vida. A vida não tem sentido à parte de um relacionamento com Deus. Os bens e as emoções de uma geração vangloriosa são espiritualmente fúteis, falhando em satisfazer a mais profunda e verdadeira realidade no coração humano. O Pai anela que seus filhos estejam consigo, vivendo em seu amor. Para viver assim somente se requer que o procuremos de todo coração e que abandonemos as coisas que se interpõem entre nós e o reino da vida, da saúde e da felicidade.

Os problemas tratados neste pequeno livro são como uma série de perguntas, todas tendo sempre as mesmas duas respostas. Não há problema espiritual ou emocional que não possa ser resolvido por um íntimo compartilhamento de nossas vidas com Deus, desfrutando da significativa companhia de nossos semelhantes. O sentimento de solidão, o isolamento, a dúvida, a confusão, a culpa, o desânimo, a derrota, a impaciência, a estagnação e o medo são prontamente vencidos por aquele Poder que criou o mundo.

Exceto pela ação de leis superiores, os fatos da existência material devem simplesmente ser aceitos. A oração sozinha não pode curar mas pode abrir uma perspectiva de cura espiritual ligada à fé ilimitada, na qual aceitamos a solução que o Pai dá para cada um de nossos problemas, grandes e pequenos, e na qual mesmo as tragédias trabalham para o bem.

Quando vamos ao nosso Pai, experimentamos a paz que ultrapassa o entendimento. As dificuldades e tragédias da vida não cessam de ocorrer mas aprendemos que ele passa por todas elas conosco. Em parceira com Deus, adquirimos uma nova coragem; ganhamos percepção em tudo o que acontece; começamos a ver as coisas por meio de seus olhos. Ficamos contentes por experimentar a vida em todas as suas vicissitudes, sabendo que o Pai nos colocou aqui para este teste, curto mas intenso, e que a vida eterna nos aguarda no outro lado, onde as dificuldades materiais não mais nos assomarão tanto. Somos revigorados pela perspectiva de sermos parte de um todo maior, onde reinam a retitude e a beleza. Vemos esta esfera enegrecida pelo pecado como um terreno para treino, que Deus fez santo e sagrado. Vemos o Pai no reflexo de um amigo que passa e aprendemos a amar aos outros como ele nos ama.

À medida que encontramos o Pai e que com ele partilhamos nossa vida, suas energias nos renovam a cada hora. Ele nos leva a uma planície alta, da qual contemplamos a dimensão dos problemas da vida e aí, distantes, enxergamos a resplandecente cidade dos nossos sonhos. Seu poder amalgama-se dentro de nós e vemos a nós mesmos como parte de um esforço maior, no qual todos os filhos e filhas de Deus trabalham juntos para o avanço do grande todo, ajudando a apressar o dia no qual este mundo se tornará o lugar que aspira a ser.

Havendo iniciado no caminho da vida eterna, havendo aceito a tarefa e recebido ordens para avançar não temais os perigos do esquecimento humano e da inconstância mortal, não vos preocupeis com receio do fracasso ou com a confusão desconcertante, não hesiteis nem questioneis vossa condição e posição pois nas horas sombrias, em cada encruzilhada da luta para seguir adiante, o Espírito de Verdade sempre falará, dizendo : "Este é o caminho." (34:7.8)

Aprendas a sofrer menos tristeza e desilusão, primeiro, fazendo menos planos pessoais com respeito a outras pessoas e, em seguida, aceitando teu destino quando houveres cumprido fielmente teu dever. (48:6.25)

Não sejas indolente a ponto de pedir a Deus para que resolva tuas dificuldades, mas jamais hesiteis em pedir a ele por sabedoria e força espiritual para guiá-lo e sustentá-lo enquanto tu mesmo, corajosa e resolutamente, atacas os problemas imediatos. (91:6.5)

Se queres que tua oração seja eficaz, deves ter em mente as leis das petições que prevalecem :

1.Deves qualificar-te como um orador poderoso, que enfrenta sincera e valentemente os problemas da realidade do universo. Deves possuir vigor cósmico.

2.Deves honestamente haver esgotado a capacidade humana de adaptação. Deves ser esforçado.

3.Deves entregar todo desejo da mente e todo anseio da alma ao abraço transformador do crescimento espiritual. Deves haver experimentado um enaltecimento dos significados e uma elevação dos valores.

4.Deves, de todo coração, escolher a vontade divina. Deves evitar o ponto morto da indecisão.

5.Não somente reconheces a vontade do Pai e escolheste faze-la, mas fizeste uma consagração incondicional e uma dedicação dinâmica ao efetivo fazer a vontade do Pai.

6.Tua oração será guiada exclusivamente pela sabedoria divina para solucionar os problemas humanos específicos encontrados na ascensão ao Paraíso — o alcance da perfeição divina.

7.E deves ter fé : fé viva. (91:9.1-8)

Sempre foi costume de Jesus, quando enfrentando qualquer decisão nova ou importante, retirar-se para estar em comunhão com seu próprio espírito para buscar saber a vontade de Deus. (136:4.8)

"No reino vindouro, não cuideis daquelas coisas que fomentem vossa ansiedade mas, antes, a todo momento preocupai-vos somente em fazer a vontade do Pai que está no céu." (137:1.6)

Quando Jesus ouviu o chefe apostólico relatar seus problemas, disse : "André, não podeis dissuadir os homens de suas perplexidades quando chegaram a tal estágio de envolvimento, tratando-se de tantas pessoas com sentimentos tão fortes. Não posso fazer o que me pedes — não participarei destas dificuldades sociais e pessoais — mas me juntarei a vós na satisfação de um período de três dias de descanso e relaxamento. Vá a teus irmãos e anuncia que todos vós irão comigo ao Monte Sartaba, onde desejo descansar por um ou dois dias...

Esta foi uma ocasião maravilhosa na experiência de cada um deles; nunca mais se esqueceram do dia em que subiram a montanha. Do começo ao fim de toda a excursão mal se disse uma palavra sobre seus problemas. Ao alcançar o topo da montanha, Jesus os fez sentarem à sua volta enquanto dizia : "Meus irmãos, deveis todos aprender o valor do descanso e a eficácia do relaxamento. Deveis perceber que o melhor método para resolver um emaranhado de problemas é alijá-los por um tempo. Então, ao voltardes renovados de vosso descanso ou adoração, podeis enfrentar vossos problemas com a cabeça fria e pulso firme, sem mencionar o coração mais determinado. Novamente, muitas vezes vosso problema parece encolher em tamanho e proporções enquanto descansais vossa mente e vosso corpo."...

No terceiro dia, ao começarem a descer a montanha e voltar ao acampamento, uma grande mudança tinha ocorrido neles. Eles haviam feito a importante descoberta que muitas das perplexidades humanas são, na realidade, inexistentes; que muitos dos problemas urgentes são criações do medo exagerado e resultado da apreensão exacerbada. Haviam aprendido que lida-se melhor com todas estas perplexidades alijando-as; que ausentando-se, haviam deixado que estes problemas se solucionassem por si mesmos. (143:3.1-6)

"Porém, quando orais, exerceis tão pouca fé. A fé genuína é capaz de mover montanhas de dificuldades materiais encontradas no caminho da expansão da alma e do progresso espiritual". 144:2.6

Pai Nosso que estás no céu,

Santificado seja o teu nome.

Venha a nós o teu reino; seja feita a tua vontade

Assim na terra como no céu.

Dá-nos neste dia o pão para amanhã;

Reanima nossa alma com a água da vida.

E perdoa-nos cada um dos nossos débitos

Assim como perdoamos aos nossos devedores.

Guarda-nos da tentação, livra-nos do mal,

E faze-nos cada vez mais perfeitos como tu mesmo és. (144:3.3)

 

"A vós e a todos os que irão seguir vossos passos através dos tempos, permita-me dizer : Eu sempre estou perto e meu convite-chamada é, e sempre será, Vinde a mim todos vós que labutais e que estais sobrecarregados e lhes darei descanso. Tomai sobre vós meu jugo e aprendei de mim, pois sou verdadeiro e fiel, e achareis descanso espiritual para vossas almas."

E eles comprovaram a verdade das palavras do Mestre quando puseram à prova suas promessas. E desde aquele dia milhares e milhares também provaram e comprovaram a veracidade das mesmas promessas. (163:6.7-8)