A Estada em Roma
Introdução
Posto que Gonod trazia as saudações dos príncipes da Índia para
Tibério, o soberano romano, os dois indianos e Jesus apresentaram-se diante dele
no terceiro dia depois de sua chegada a Roma. O rabugento imperador estava
excepcionalmente jovial naquele dia e conversou um longo tempo com o trio. E
quando eles se retiraram de sua presença, o imperador, referindo-se a Jesus,
comentou com o ajudante que estava à sua direita: «Se eu tivesse o porte real e
as maneiras agradáveis desse rapaz, eu seria um verdadeiro imperador, hein?».
p1455:2 132:0.2 Enquanto estava em Roma, Ganid tinha horas regulares
para estudar e para visitar os lugares interessantes da cidade. Seu pai tinha
que tratar de muitos negócios, e como desejava que seu filho crescesse para se
tornar no seu digno sucessor na direção de seus vastos interesses comerciais,
achou que havia chegado o momento de introduzir ao rapaz no mundo dos negócios.
Em Roma havia muitos cidadãos da Índia, e freqüentemente um dos próprios
empregados de Gonod o acompanhava como intérprete, de maneira que Jesus teve
dias inteiros para ele; isto lhe proporcionou tempo para conhecer completamente
esta cidade de dois milhões de habitantes. Ele era freqüentemente encontrado no
foro, o centro da vida política, jurídica e comercial. Ele subia freqüentemente
ao Capitólio e enquanto contemplava este magnífico templo dedicado a Júpiter,
Juno e Minerva, refletia sobre a ignorância servil em que estavam submetidos
esses romanos. Ele também passava muito tempo no monte Palatino, onde era
situada a residência do imperador, o templo de Apolo e as bibliotecas grega e
latina.
p1455:3 132:0.3 Nesta época, o Império Romano englobava todo o
sul da Europa, Ásia Menor, Síria, Egito e o noroeste da África; e seus
habitantes abrangiam os cidadãos de todos os países do hemisfério oriental. Seu
desejo de estudar e de misturar-se com este conjunto cosmopolita de mortais de
Urantia, era a razão principal pela qual Jesus havia consentido em fazer esta
viagem.
p1455:4 132:0.4 Durante sua estada em Roma, Jesus aprendeu
muitas coisas sobre os homens, mas a mais valiosa de todas as múltiplas
experiências de seus seis meses de permanência nesta cidade foi seu contato com
os dirigentes religiosos da capital do império, e a influência que exerceu sobre
eles. Antes do final de sua primeira semana em Roma, Jesus procurara aos
principais dirigentes dos cínicos, os estóicos e os cultos de mistério, em
particular os do grupo mitríaco, e fizera contato com eles. Fosse ou não fosse
evidente para Jesus que os judeus iriam rechaçar sua missão, ele previa com toda
certeza que seus mensageiros viriam em breve a Roma para proclamar o reino dos
céus; e por isso ele se dedicou a preparar o caminho, da maneira mais
surpreendente, para que sua mensagem fosse melhor recebida e com mais segurança.
Ele selecionou a cinco dirigentes dos estóicos, a onze dos cínicos e a dezesseis
chefes do culto dos mistérios, e passou uma grande parte de seu tempo livre
durante quase seis meses, numa associação íntima com estes educadores
religiosos. E este foi o seu método de instrução: nunca, nem uma só vez ele
atacou seus erros nem mencionou os defeitos de seus ensinamentos. Em cada caso
selecionava a verdade que havia no que eles ensinavam, e logo procedia a
embelezar e a iluminar esta verdade em suas mentes de tal maneira que em muito
pouco tempo este aprimoramento da verdade excluía eficazmente o erro associado;
e assim estes homens e mulheres ensinados por Jesus foram preparados para
reconhecer posteriormente as verdades adicionais e similares nos ensinamentos
dos primeiros missionários cristãos. Esta pronta aceitação dos ensinamentos dos
predicadores do evangelho foi o que deu um impulso tão poderoso à rápida difusão
do cristianismo em Roma, e dali, a todo o império.
p1456:1 132:0.5
Pode-se compreender melhor o significado desta atividade extraordinária quando
observamos o fato de que, neste grupo de trinta e dois dirigentes religiosos de
Roma instruídos por Jesus, somente dois foram estéreis; os outros trinta
tornaram-se peças principais no estabelecimento do cristianismo em Roma, e
alguns deles ajudaram também na conversão do principal templo mitríaco na
primeira igreja cristã desta cidade. Nós, que contemplamos as atividades humanas
por trás dos bastidores e à luz dos dezenove séculos decorridos, reconhecemos
somente três fatores com valor fundamental que contribuíram a preparar muito
cedo o terreno para a rápida propagação do cristianismo por toda Europa, e são
eles:
1. A escolha e o mantenimento de Simão Pedro como apóstolo.
2. A conversa em Jerusalém com Estevão, cuja morte levou a ganhar o
coração de Saulo de Tarso.
3. A preparação preliminar destes trinta
romanos para que dirigissem posteriormente a nova religião em Roma e em todo o
império.
p1456:5 132:0.6 No decurso de todas as suas experiências, nem
Estevão nem os trinta escolhidos jamais se deram conta de que haviam falado
alguma vez com o homem cujo nome havia se convertido no tema de seus
ensinamentos religiosos. A obra de Jesus a favor destes primeiros trinta e dois
foi inteiramente pessoal. Em seus trabalhos com estas pessoas, o escriba de
Damasco jamais se reuniu com mais de três deles ao mesmo tempo, raramente com
mais de dois, e a maioria das vezes ensinava-os individualmente. E ele pôde
realizar esta grande obra de educação religiosa porque estes homens e mulheres
não estavam atados às tradições; não eram vítimas de idéias preconcebidas sobre
todos os desenvolvimentos religiosos do futuro.
p1456:6 132:0.7 Nos anos
que se seguiram depois, Pedro, Paulo e os outros cristãos predicadores em Roma
ouviram falar muitíssimas vezes deste escriba de Damasco que os havia precedido,
e que tão evidentemente havia preparado o caminho (conforme eles supunham
inconscientemente) para sua chegada com o novo evangelho. Ainda que Paulo nunca
adivinhara realmente a identidade deste escriba de Damasco, um pouco antes de
sua morte, ele chegou à conclusão de que o «fabricante de tendas de Antioquia»
era também o «escriba de Damasco» devido à analogia das descrições pessoais. Em
certa ocasião, enquanto predicava em Roma, Simão Pedro suspeitou, ao escutar uma
descrição do escriba de Damasco, que esta pessoa poderia ter sido Jesus, mas
rapidamente abandonou a idéia, sabendo muito bem (assim pensava ele) que o
Mestre nunca havia estado em Roma.
Os Verdadeiros Valores
p1456:7 132:1.1 No principio de sua estada em Roma, Jesus teve
uma conversa de toda uma noite com Angamon, o chefe dos estóicos. Este homem
tornou-se posteriormente um grande amigo de Paulo e chegou a ser um dos
fervorosos seguidores da igreja cristã em Roma. Em essência, e dito novamente em
linguagem moderna, o que Jesus ensinou a Angamon:
p1457:1 132:1.2 O
modelo dos verdadeiros valores devem ser buscados no mundo espiritual e nos
níveis divinos da realidade eterna. Para um mortal ascendente, todos os padrões
mais baixos e materiais devem ser considerados como transitórios, parciais e
inferiores. O cientista, como tal, está limitado a descobrir a conexão entre os
fatos materiais. Tecnicamente, não tem direito a afirmar que é materialista ou
idealista, porque ao fazê-lo supõe-se que abandona a atitude de um verdadeiro
cientista, já que todas e cada uma destas declarações de postura são a essência
da filosofia.
p1457:2 132:1.3 A menos que a perspicácia moral e o logro
espiritual da humanidade aumentem proporcionalmente, o progresso ilimitado de
uma cultura puramente materialista pode acabar transformando-se em uma ameaça
para a civilização. Uma ciência puramente materialista abriga dentro de si a
semente potencial da destruição de todo esforço científico, porque este tipo de
conduta pressagia o colapso final de uma civilização que abandonou o seu senso
de valores morais e repudiou sua meta de realização espiritual.
p1457:3
132:1.4 O cientista materialista e o extremo idealista estão destinados sempre a
estar em desavença. Isto não é verdade para aqueles cientistas e idealistas que
possuem um modelo comum de valores morais elevados e níveis de prova
espirituais. Em todas as épocas, os cientistas e as pessoas religiosas devem
reconhecer que passam pelo juízo do tribunal das necessidades humanas. Devem
evitar todo tipo de luta entre eles, enquanto se esforçam valentemente por
justificar sua sobrevivência mediante uma maior devoção ao serviço do progresso
humano. Se a assim chamada ciência ou a suposta religião de uma época qualquer é
falsa, então ou purificam suas atividades ou desaparecerão diante do surgimento
de uma ciência material ou de uma religião espiritual de uma ordem mais
autêntica e mais digna.
O Bem e o Mal
p1457:4 132:2.1 Mardus era o reconhecido líder dos cínicos de
Roma, e fez-se muito amigo do escriba de Damasco. Dia após dia conversava com
Jesus, e noite após noite escutava seu ensinamento celestial. Entre as
discussões mais importantes com Mardus, houve uma destinada a responder à
pergunta deste cínico sincero sobre o bem e o mal. Na linguagem do século vinte,
Jesus disse-lhe em essência:
p1457:5 132:2.2 Meu irmão, o bem e o mal
são simplesmente palavras que simbolizam os níveis relativos da compreensão
humana do universo observável. Se és eticamente preguiçoso e socialmente
indiferente, podes tomar como modelo do bem os costumes sociais correntes. Se és
espiritualmente indolente e moralmente estático, podes tomar como modelo do bem
as práticas e tradições religiosas de teus contemporâneos. Porém, a alma que
sobrevive ao tempo e emerge na eternidade deve efetuar uma escolha viva e
pessoal entre o bem e o mal, tal como são determinados pelos verdadeiros valores
dos padrões espirituais estabelecidos pelo espírito divino que o Pai que está
nos céus enviou a residir no coração do homem. Este espírito interior é o modelo
da sobrevivência da personalidade.
p1457:6 132:2.3 A bondade, como a
verdade, sempre é relativa e contrasta infalivelmente com o mal. A percepção
destas qualidades de bondade e de verdade é o que permite às almas evolutivas
dos homens efetuar as decisões pessoais de escolha que são essenciais para a
sobrevivência eterna.
p1458:1 132:2.4 A pessoa espiritualmente cega que
segue logicamente os ditados da ciência, os costumes sociais e os dogmas
religiosos, encontra-se no grave perigo de sacrificar sua independência moral e
perder sua liberdade espiritual. Uma alma assim está destinada a converter-se em
um papagaio intelectual, em um autômato social e em um escravo da autoridade
religiosa.
p1458:2 132:2.5 A bondade está sempre crescendo para novos
níveis de liberdade crescente para autorrealizar-se moralmente e alcançar a
personalidade espiritual -o descobrimento do Modelador interior e a
identificação com ele. Uma experiência é boa quando eleva a apreciação da
beleza, aumenta a vontade moral, realça o discernimento da verdade, amplia a
capacidade para amar e servir a nossos semelhantes, exalta os ideais espirituais
e unifica os supremos motivos humanos do tempo com os planos eternos do
Modelador interior, tudo o que conduz diretamente a um maior desejo de fazer a
vontade do Pai, alimentando assim a paixão divina de encontrar a Deus e de
parecer-se mais a Ele.
p1458:3 132:2.6 A medida que ascendeis a escala
universal de desenvolvimento das criaturas, encontrareis uma bondade crescente e
uma diminuição do mal, em perfeita conformidade com vossa capacidade para
experimentar a bondade e discernir a verdade. A capacidade de entreter o erro ou
de experimentar o mal não será apagado completamente até que a alma humana
ascendente alcance os níveis espirituais finais.
p1458:4 132:2.7 A
bondade é viva, relativa, sempre em progresso; é invariavelmente uma experiência
pessoal e está perpetuamente correlacionada com o discernimento da verdade e da
beleza. A bondade é encontrada no reconhecimento dos valores positivos da
verdade do nível espiritual, que devem contrastar, na experiência humana, com
sua contrapartida negativa -as sombras do mal potencial.
p1458:5 132:2.8
Até que não alcanceis os níveis do Paraíso, a bondade sempre será mais uma busca
do que uma propriedade, mais uma meta do que uma experiência de realização.
Porém quando se tem fome e sede de retitude, experimenta-se uma satisfação
crescente na obtenção parcial da bondade. A presença da bondade e da maldade no
mundo é, em si mesma, uma prova positiva da existência e da realidade da vontade
moral do homem, da personalidade, que identifica assim estes valores e também é
capaz de escolher entre eles.
p1458:6 132:2.9 Na época em que um mortal
ascendente alcança o Paraíso, sua capacidade para identificar seu eu com os
verdadeiros valores espirituais torna-se tão ampliado, que como resultado
consegue a posse perfeita da luz da vida. Uma personalidade espiritual assim
aperfeiçoada unifica-se tão completa, divina e espiritualmente com as qualidades
supremas e positivas da bondade, da beleza e da verdade, que não fica nenhuma
possibilidade de que esse espírito justo possa lançar alguma sombra negativa de
mal potencial quando é exposto à luminosidade penetrante da luz divina dos
Soberanos infinitos do Paraíso. Em todas estas personalidades espirituais, a
bondade não é mais parcial, contrastante e comparativa; torna-se divinamente
completa e espiritualmente repleta; aproxima-se à pureza e à perfeição do
Supremo.
p1458:7 132:2.10 A possibilidade do mal é necessária para a
escolha moral, porém sua atualidade não o é. Uma sombra só é relativamente real.
O mal atual não é necessário como experiência pessoal. O mal potencial funciona
igualmente bem para estimular a decisão nas áreas do progresso moral, nos níveis
inferiores do desenvolvimento espiritual. O mal só se torna uma realidade da
experiência pessoal quando uma mente moral faz sua escolha.
A Verdade e a Fé
p1459:1 132:3.1 Nabon era um judeu grego e o mais importante
entre os dirigentes do principal culto de mistério em Roma, o culto mitríaco.
Ainda que este sumo sacerdote do mitracismo manteve muitas conversas com o
escriba de Damasco, o que mais lhe influenciou permanentemente foi a discussão
que tiveram uma noite sobre a verdade e a fé. Nabon pensava converter a Jesus e
inclusive lhe havia sugerido que regressasse à Palestina como um educador
mitríaco. Ele pouco se dava conta que Jesus o estava preparando para tornar-se
um dos primeiros convertidos ao evangelho do reino. Transcrito novamente em uma
terminologia moderna, a essência das instruções de Jesus foi:
p1459:2
132:3.2 A verdade não pode ser definida com palavras, mas somente vivendo-a. A
verdade é sempre mais que o conhecimento. O conhecimento refere-se às coisas
observadas, mas a verdade transcende estes níveis puramente materiais no sentido
de que se associa com a sabedoria e engloba alguns imponderáveis, tais como a
experiência humana, inclusive as realidades espirituais e vivas. O conhecimento
origina-se na ciência; a sabedoria, na verdadeira filosofia; a verdade, na
experiência religiosa da vida espiritual. O conhecimento trata dos fatos; a
sabedoria, das relações; a verdade, dos valores da realidade.
p1459:3
132:3.3 O homem tende a cristalizar a ciência, a formular a filosofia e a
dogmatizar a verdade, porque é preguiçoso mentalmente em adaptar-se às lutas
progressivas da vida, e ao mesmo tempo tem também um medo terrível do
desconhecido. O homem normal é lento em introduzir mudanças em seus hábitos de
pensamento e em suas técnicas de vida.
p1459:4 132:3.4 A verdade
revelada, a verdade descoberta pessoalmente, é o deleite supremo da alma humana;
é a criação conjunta da mente material e do espírito interior. A salvação eterna
de uma alma que discerne a verdade e que ama a beleza, está assegurada por essa
fome e essa sede de bondade que conduzem a este mortal a desenvolver uma só
finalidade, a de fazer a vontade do Pai, encontrar a Deus e tornar-se como Ele.
Nunca existe conflito entre o verdadeiro conhecimento e a verdade. Pode haver
conflito entre o conhecimento e as crenças humanas, as crenças tingidas com o
preconceito, deformadas pelo medo e dominadas pelo terror de ter que enfrentar
os novos fatos dos descobrimentos materiais ou dos progressos espirituais.
p1459:5 132:3.5 Entretanto, a verdade nunca poderá tornar-se propriedade
do homem sem o exercício da fé. Isto é verdadeiro porque os pensamentos, a
sabedoria, a ética e os ideais do homem nunca se elevarão mais do que sua fé, do
que sua esperança sublime. E toda verdadeira fé deste tipo está baseada em uma
reflexão profunda, em uma autocrítica sincera e em uma consciência moral
intransigente. A fé é a inspiração da imaginação criativa impregnada de
espírito.
p1459:6 132:3.6 A fé atua para liberar as atividades
supra-humanas da chispa divina, o germe imortal que vive dentro da mente do
homem, e que é o potencial da sobrevivência eterna. As plantas e os animais
sobrevivem no tempo mediante a técnica de transmitir partículas idênticas de si
mesmos de uma geração à outra. A alma humana do homem (a personalidade)
sobrevive à morte física mediante a associação da identidade com esta chispa
interior da divindade, que é imortal, e que trabalha para perpetuar a
personalidade humana em um nível contínuo e mais elevado de existência
progressiva no universo. A semente oculta da alma humana é um espírito imortal.
A segunda geração da alma é a primeira de uma série de manifestações da
personalidade em existências espirituais e progressivas, que só terminam quando
esta entidade divina alcança a origem de sua existência, a origem pessoal de
toda existência, Deus, o Pai Universal.
p1459:7 132:3.7 A vida humana
continua -sobrevive- porque tem uma função no universo, a tarefa de encontrar a
Deus. A alma do homem, ativada pela fé, não pode deter-se antes de alcançar esta
meta de seu destino; e uma vez que consiga esta meta divina, já não pode ter fim
porque fez-se como Deus -eterna.
p1460:1 132:3.8 A evolução espiritual é
uma experiência da escolha crescente e voluntária da bondade, acompanhada de uma
diminuição igual e progressiva da possibilidade do mal. Quando se alcança a
finalidade da escolha pela bondade e a plena capacidade para apreciar a verdade,
surge à existência uma perfeição de beleza e de santidade cuja retitude inibe
eternamente a possibilidade de que floresça sequer o conceito do mal potencial.
A alma que conhece assim a Deus não projeta nenhuma sombra de mal que ocasione
dúvidas, quando funciona em um nível espiritual tão elevado de divina bondade.
p1460:2 132:3.9 A presença do espírito do Paraíso na mente do homem
constitui a promessa da revelação e a garantia da fé de uma existência eterna de
progressão divina para todas as almas que procuram alcançar a identidade com
este fragmento espiritual interior e imortal do Pai Universal.
p1460:3
132:3.10 O progresso no universo está caraterizado por uma liberdade crescente
da personalidade, porque está associado ao alcance progressivo de níveis cada
vez mais elevados de autocompreensão e do conseqüente autodomínio voluntário. O
logro da perfeição do autodomínio espiritual eqüivale a integridade da
independência no universo e a liberdade pessoal. A fé alimenta e mantém à alma
do homem em meio a confusão de sua orientação inicial em um universo tão vasto,
enquanto a oração converte-se no grande unificador das diversas inspirações da
imaginação criativa e dos impulsos da fé de uma alma que tenta identificar-se
com os ideais espirituais da divina presença interior e associada.
p1460:4 132:3.11 Nabon ficou muito impressionado com estas palavras, tal
como sucedia com cada uma de suas conversas com Jesus. Estas verdades
continuaram ardendo dentro de seu coração, e ele foi de grande ajuda aos
predicadores do evangelho de Jesus que chegaram mais tarde.
Ministério Pessoal
p1460:5 132:4.1 Enquanto esteve em Roma, Jesus não dedicou todo
seu tempo livre a esta tarefa de preparar a homens e mulheres para que se
convertessem em futuros discípulos do reino vindouro. Ele passou muito tempo
adquirindo um conhecimento íntimo de todas as raças e classes de homens que
viviam nesta cidade, a maior e mais cosmopolita do mundo. Em cada um destes
numerosos contatos humanos, Jesus tinha uma dupla finalidade: desejava conhecer
a reação deles ante a vida que estavam vivendo na carne, e também estava
propenso a dizer ou a fazer algo que fizesse esta vida mais rica e mais digna de
ser vivida. Durante estas semanas, seus ensinamentos religiosos não foram
diferentes dos que caraterizaram sua vida posterior como educador dos doze e
predicador de multidões.
p1460:6 132:4.2 A missão de sua mensagem sempre
foi: o fato do amor do Pai celestial e a verdade de sua misericórdia, unido à
boa nova de que o homem é um filho pela fé deste mesmo Deus de amor. A técnica
habitual dos contatos sociais de Jesus era puxar as pessoas pela língua e em
conversar com ele fazendo-lhes perguntas. A entrevista começava habitualmente
com ele fazendo perguntas, e ao final eram eles que lhe interrogavam. Tinha a
mesma habilidade para ensinar tanto fazendo as perguntas como respondendo-as.
Como regra geral, a quem mais ensinava era a quem menos dizia. Os que obtiveram
o maior benefício de seu ministério pessoal foram os mortais sobrecarregados,
ansiosos e deprimidos, que encontraram muito alívio nesta possibilidade de
desafogar suas almas com um ouvinte simpático e compreensivo, e ele era tudo
isto e muito mais. E quando estes seres humanos desajustados contavam seus
problemas a Jesus, ele sempre estava em condições de oferecer-lhes sugestões
práticas e imediatamente úteis para corrigir suas verdadeiras dificuldades, e
nunca deixava de dizer-lhes palavras de conforto para o presente e de consolo
imediato. A estes mortais aflitos, falava-lhes invariavelmente do amor de Deus,
e através de diversos e variados métodos, transmitia-lhes a mensagem de que eram
os filhos deste afetuoso Pai que está nos céus.
p1461:1 132:4.3 Desta
maneira, durante sua estada em Roma, Jesus teve pessoalmente um contato afetuoso
e edificante com mais de quinhentos mortais do mundo. Adquiriu assim um
conhecimento das diferentes raças da humanidade que nunca teria podido adquirir
em Jerusalém e talvez tampouco em Alexandria. Sempre considerou estes seis meses
como um dos períodos mais ricos e instrutivos de sua vida terrestre.
p1461:2 132:4.4 Como era de se esperar, um homem tão hábil e dinâmico
não podia viver assim durante seis meses na metrópole do mundo sem ser abordado
por numerosas pessoas que desejavam obter seus serviços para algum negócio ou,
mais freqüentemente , para algum projeto de ensino, de reforma social ou de
movimento religioso. Mais de uma dúzia de ofertas deste tipo lhe foram feitas, e
ele aproveitou cada uma delas como uma oportunidade para transmitir algum
pensamento de enobrecimento espiritual mediante palavras bem escolhidas ou por
meio de algum serviço prestativo. Jesus encantava-se em fazer coisas -inclusive
pequenas coisas- por toda classe de pessoas.
p1461:3 132:4.5 Ele
conversou com um senador romano sobre política e a arte de governar, e este
único contato com Jesus causou tamanha impressão neste legislador, que ele
passou o resto de sua vida tratando em vão de persuadir a seus colegas para que
mudassem o curso da política em vigor, substituindo a idéia de um governo que
mantinha e alimentava ao povo, pela de um povo que mantivesse ao governo. Jesus
passou uma noite com um rico proprietário de escravos e falou-lhe do homem como
filho de Deus, e no dia seguinte, este homem chamado Cláudio concedeu a
liberdade a cento e dezessete escravos. Jesus foi jantar com um médico grego,
disse-lhe que seus pacientes tinham mentes e almas além dos corpos, e induziu
assim a este capaz médico a esforçar-se por ajudar mais amplamente a seus
semelhantes. Ele conversou com todo tipo de pessoas de todos os estilos de vida.
O único lugar de Roma que não visitou foram os banhos públicos. Recusou
acompanhar a seus amigos aos banhos por causa da promiscuidade sexual que
predominava ali.
p1461:4 132:4.6 Enquanto caminhava com um soldado
romano ao longo do Tiber, ele disse: «Sejas valente de coração assim como é com
as mãos. Ousa-te a fazer justiça e seja grande o bastante em mostrar
misericórdia. Obrigue a tua natureza inferior a obedecer a tua natureza
superior, como tu obedeces a teus superiores. Venere a bondade e exalte a
verdade. Escolha o belo em lugar do feio. Ame a teus semelhantes e busca a Deus
com todo teu coração, porque Deus é teu Pai que está nos céus».
p1461:5
132:4.7 Ao orador do foro ele disse: «Tua eloquência é encantadora, tua lógica é
admirável, tua voz é agradável, mas teu ensinamento quase não é verdade. Se
apenas pudesses desfrutar da satisfação inspiradora de conhecer a Deus como teu
Pai espiritual, então poderias empregar tua capacidade de orador para libertar a
teus semelhantes da servidão das trevas e da escravidão da ignorância». Este foi
o mesmo Marcos que escutou Pedro predicar em Roma e se converteu em seu
sucessor. Quando crucificaram a Simão Pedro, este homem foi o que desafiou aos
perseguidores romanos e continuou predicando audazmente o novo evangelho.
p1462:1 132:4.8 Ao encontrar um pobre homem que havia sido acusado
deslealmente, Jesus foi com ele diante do magistrado e, tendo garantido
autorização especial de comparecer em seu nome, pronunciou um magnífico discurso
no qual disse: «A justiça engrandece a uma nação, e maior é uma nação, quanto
mais solícita será em preocupar-se que a injustiça não suceda nem ao mais
humilde de seus cidadãos. Pobre da nação em que só os que possuem dinheiro e
influência podem assegurar uma pronta justiça diante de seus tribunais! É o
dever sagrado de um magistrado absolver ao inocente assim como de castigar ao
culpado. A continuidade de uma nação depende da imparcialidade, da equidade e da
integridade de seus tribunais. O governo civil está baseado na justiça, assim
como a verdadeira religião está baseada na misericórdia». O juiz reconsiderou o
caso e depois de examinar as provas, absolveu o acusado. De todas as atividades
de Jesus durante este período de ministério pessoal, esta foi a que esteve mais
perto de ser uma aparição pública.
Conselhos Para o Homem Rico
p1462:2 132:5.1 Um certo homem rico, cidadão romano e estóico,
ficou muito interessado pelos ensinamentos de Jesus, tendo sido apresentado por
Angamon. Depois de muitas conversas íntimas, este rico cidadão perguntou a Jesus
o que faria com a riqueza se a tivesse, e Jesus respondeu-lhe: «Dedicaria a
riqueza material a melhorar a vida material, da mesma maneira que utilizaria o
conhecimento, a sabedoria e o serviço espiritual para o enriquecimento da vida
intelectual, enobrecimento da vida social e progresso da vida espiritual.
Administraria a riqueza material como um depositário prudente e eficaz dos
recursos de uma geração, para o benefício e o enobrecimento das próximas e
sucessivas gerações ».
p1462:3 132:5.2 Mas o homem rico não ficou
completamente satisfeito com a resposta de Jesus, e atreveu-se a perguntar
novamente: «Mas o que tu achas que um homem na minha posição deveria fazer com
sua riqueza? Deveria guardá-la ou reparti-la?» E quando Jesus percebeu que este
homem desejava realmente conhecer melhor a verdade sobre sua lealdade a Deus e
seu dever para com os homens, ele respondeu além disso: «Meu bom amigo, percebo
que tu és um buscador sincero atrás de sabedoria e que és um honesto amante da
verdade; por isso eu estou proposto a expor-te meu ponto de vista sobre a
solução de teus problemas relacionados com as responsabilidades da riqueza. Faço
isto porque pediste meu conselho, e ao oferecer-te esta reflexão, não estou
preocupado com a riqueza de nenhum outro homem rico; estou oferecendo meu
conselho só para ti e para tua conduta pessoal. Se desejas honestamente
considerar tua riqueza como um depósito, se quiser realmente converter-te em um
administrador prudente e eficaz de tua riqueza acumulada, então te aconselharia
que fizesses a seguinte análise das origens de tuas riquezas. Pergunta-te, e faz
tudo o possível por encontrar a resposta honesta, de onde procede esta riqueza?
E para ajudar-te a analisar as origens de tua grande fortuna, sugerir-te-ia que
recordasses os seguintes dez métodos diferentes de acumular bens materiais:
p1462:4«1. A riqueza herdada -os bens recebidos dos pais e de outros
antepassados.
p1462:5«2. A riqueza descoberta -os bens que procedem dos
recursos não explorados da Mãe Terra.
p1462:6«3. A riqueza comercial -os
bens obtidos como um benefício justo no intercâmbio e a troca de mercadorias
materiais.
p1462:7«4. A riqueza injusta -os bens procedentes da
exploração injusta ou da escravidão de nossos semelhantes.
p1463:1«5. A
riqueza dos juros -rendimentos derivados das possibilidades de ganhos justos e
eqüitativos pelos capitais investidos.
p1463:2«6. A riqueza devida à
genialidade -riquezas resultantes das recompensas pelos dons criativos e
inventivos da mente humana.
p1463:3«7. A riqueza acidental -os bens
procedentes da generosidade de nossos semelhantes ou os que têm sua origem nas
circunstâncias da vida.
p1463:4«8. A riqueza roubada -os bens obtidos
mediante a falsidade, a desonestidade, o roubo ou a fraude.
p1463:5«9.
Os fundos em depósito -a riqueza colocada em tuas mãos por teus semelhantes para
uma utilidade específica, presente ou futura.
p1463:6«10. A riqueza
ganha -os bens que procedem diretamente de teu próprio trabalho pessoal, a
recompensa justa e eqüitativa por teus próprios esforços diários, mentais ou
físicos.
p1463:7 132:5.3 «E assim, meu amigo, se quiseres ser um
administrador fiel e justo de tua grande fortuna, diante de Deus e ao serviço
dos homens, deves encaixá-la aproximadamente nestes dez grandes grupos, e logo
administrar cada porção de acordo com a interpretação sábia e honrada das leis
da justiça, da equidade, da honradez e da verdadeira eficácia; não obstante, o
Deus do céu não te condenará se, em situações duvidosas, às vezes te equivocas a
favor de uma consideração misericordiosa e altruísta pela aflição das vítimas
que sofrem as desgraçadas circunstâncias da vida mortal. Quando tenhas dúvidas
honradas sobre a equidade e a justiça de uma situação material, deixai que tuas
decisões favoreçam aos que estão necessitados e ajudem aos que sofrem a
infelicidade de penalidades desmerecidas».
p1463:8 132:5.4 Depois de
discutir estas questões durante várias horas, o homem rico solicitou instruções
mais completas e detalhadas, e Jesus ampliou seu conselho dizendo em substância:
«Ao oferecer-te novas sugestões relativas a tua atitude para com a riqueza,
exortar-te-ia a que recebesses meu conselho como destinado exclusivamente para
ti e para tua conduta pessoal. Só falo por conta própria e para ti como a um
amigo que busca informação. Rogo-te que não dites a outros homens ricos como
devem estimar sua riqueza. Aconselhar-te-ia que:
p1463:9 132:5.5«1.Como
administrador de uma riqueza herdada, deverias considerar suas origens. Tens a
obrigação moral de representar à geração anterior na transmissão honesta de uma
riqueza legítima às gerações seguintes, depois de deduzir uma taxa justa para o
benefício da geração presente. Porém não estás obrigado a perpetuar qualquer
desonestidade ou injustiça implicados na acumulação injusta de riquezas por
parte de teus antepassados. Qualquer porção de tua riqueza herdada que venha ser
derivada da fraude ou da injustiça, podes desembolsá-la de acordo com tuas
convicções de justiça, de generosidade e de restituição. Quanto ao resto de tua
riqueza legitimamente herdada, podes utilizá-la com equidade e transmiti-la com
segurança como depositário de uma geração para a outra. A sábia discriminação e
um julgamento legítimo, devem ditar tuas decisões quanto ao legado das riquezas
a teus sucessores.
p1463:10 132:5.6«2.Todo aquele que desfruta da
riqueza como resultado de um descobrimento, deveria recordar que uma pessoa só
pode viver na Terra um curto período de tempo, por conseguinte, deveria tomar as
disposições adequadas para compartilhar estes descobrimentos de maneira
proveitosa com o maior número possível de seus semelhantes. Ainda que ao
descobridor não há que negar-lhe toda recompensa por seus esforços de
descobrimento, tampouco deveria atrever-se de forma egoísta a reclamar todas as
vantagens e benções por serem derivadas da descoberta dos recursos entesourados
da natureza.
p1464:1 132:5.7«3.Contanto que os homens escolham conduzir
os negócios do mundo mediante o comércio e a troca, têm direito a um benefício
justo e legítimo. Todo comerciante merece uma remuneração por seus serviços; o
negociante tem direito a seu salário. A equidade comercial e o trato honesto
conferido aos semelhantes nos negócios organizados do mundo, criam muitos tipos
diferentes de riquezas vantajosas, e todas estas fontes de riqueza devem ser
julgadas segundo os princípios mais elevados de justiça, de honestidade e
equidade. O comerciante honesto não deveria duvidar em perceber o mesmo
benefício que concederia prazerosamente a um colega seu numa operação similar.
Ainda que este tipo de riqueza não seja idêntico aos ingressos ganhos
individualmente quando os negócios são conduzidos em grande escala, ao mesmo
tempo, uma riqueza acumulada assim honestamente dota a seu possuidor com uma
considerável equidade ao optar na sua posterior distribuição.
p1464:2
132:5.8«4.Nenhum mortal que conhece a Deus e procura fazer a vontade divina pode
rebaixar-se para comprometer-se com as opressões da riqueza. Nenhum homem nobre
se esforçará por acumular riquezas e reunir um poder financeiro mediante a
escravização ou a exploração injusta de seus irmãos na carne. Quando procedem do
suor dos mortais oprimidos, as riquezas são uma maldição moral e uma infâmia
espiritual. Toda riqueza deste tipo deveria ser restituída a quem foi assim
roubado, ou a seus filhos e aos filhos de seus filhos. Não se pode construir uma
civilização duradoura sobre a prática de enganar ao trabalhador em seu salário.
p1464:3 132:5.9«5.A riqueza honrada tem direito ao lucro. Conquanto os
homens peçam emprestado e concedam empréstimos, aquilo que for um lucro justo
pode ser recolhido desde que o capital emprestado proceda de riquezas legítimas.
Purifica primeiro teu capital antes de reclamar os juros. Não te tornes tão
desprezível e avarento como para rebaixar-te a praticar a usura. Nunca te
permitas ser tão egoísta como para empregar o poder do dinheiro para obter uma
vantagem injusta sobre teus semelhantes que lutam. Não cedas à tentação de
cobrar juros exacerbados de teu irmão em apuros financeiros.
p1464:4
132:5.10«6.Se acaso obtenhas a riqueza mediante o vôo da genialidade, se tuas
riquezas são derivadas das recompensas dos dotes inventivos, não reclames uma
porção injusta de tais recompensas. O gênio deve alguma coisa tanto a seus
antepassados como a seus descendentes; da mesma forma ele tem obrigações para
com a raça, à nação e às circunstâncias de seus descobrimentos engenhosos;
deveria recordar também que foi como um homem entre os homens que ele trabalhou
e elaborou suas invenções. Seria igualmente injusto impedir que um gênio possa
incrementar sua riqueza. E sempre será impossível aos homens estabelecer leis e
regras que se apliquem por igual a todos estes problemas da distribuição
eqüitativa da riqueza. Primeiro deves reconhecer o homem como teu irmão, e se
desejas honestamente fazer por ele o que quisésseis que fizesse por ti, os
ditados elementares da justiça, da honradez e da equidade te guiarão para
liquidar de maneira justa e imparcial todos os problemas recorrentes das
remunerações econômicas e da justiça social.
p1464:5 132:5.11«7.Nenhum
homem deveria reclamar para si uma riqueza que o tempo e a sorte podem haver
depositado entre suas mãos, exceto os honorários justos e legítimos obtidos por
administrá-la. As riquezas acidentais deveriam ser consideradas algo como um
depósito para ser empregado em benefício de seu grupo econômico ou social. Os
possuidores destas riquezas deveriam ter o voto principal na hora de determinar
a distribuição sábia e eficaz destes recursos não merecidos. O homem civilizado
nem sempre considerará tudo o que controla como sua propriedade pessoal e
privada.
p1465:1 132:5.12«8.Se alguma porção determinada de tua fortuna
foi obtida propositadamente por meio da fraude; se uma fração de teus bens foi
acumulado mediante práticas fraudulentas ou métodos não eqüitativos; se tuas
riquezas são o produto de negócios tratados injustamente com teus semelhantes,
apressa-te a restituir todas esses lucros mal adquiridos a seus legítimos donos.
Faça todas as indenizações necessárias e purifique assim tua fortuna de toda
riqueza desonesta.
p1465:2 132:5.13«9.A administração dos bens de uma
pessoa para o lucro de outras é uma responsabilidade solene e sagrada. Não
arrisques nem ponhas em perigo esse depósito. Tome para si, de qualquer
depósito, somente aquilo que todo homem honesto aprovaria.
p1465:3
132:5.14«10.Aquela parte de tua fortuna que representa os ganhos de teus
próprios esforços físicos e mentais -se teu trabalho foi feito com justiça e
equidade- é verdadeiramente tua. Ninguém pode negar-te o direito de ter e
utilizar essa riqueza como possas parecer-te conveniente, desde que o exercício
desse direito não prejudique a teus semelhantes».
p1465:4 132:5.15
Quando Jesus terminou de aconselhá-lo, o rico romano levantou-se de sua poltrona
e, ao desejar-lhe as boas noites, fez-lhe esta promessa: «Meu bom amigo, percebo
que és um homem de grande sabedoria e bondade, e amanhã mesmo começarei a
administrar todos os meus bens de acordo com teu conselho».
Ministério Social
p1465:5 132:6.1 Aqui em Roma também ocorreu aquele incidente
emocionante em que o Criador de um universo passou várias horas devolvendo um
menino perdido à sua mãe angustiada. Este garotinho havia se extraviado ao
afastar-se de sua casa, e Jesus o encontrou chorando desconsoladamente. Jesus e
Ganid estavam em seu caminho das bibliotecas, mas se dedicaram a levar o menino
à sua casa. Ganid nunca esqueceu o comentário de Jesus: «Sabes, Ganid, a maioria
dos seres humanos são como este menino perdido. Passam muito de seu tempo
chorando com medo e sofrendo de aflição, quando em verdade estão à curta
distância do amparo e da segurança, da mesma maneira que este menino estava
somente à pouca distância de sua casa. E todo aquele que conhece o caminho da
verdade e goza da segurança de conhecer a Deus, deveria considerar um
privilégio, e não um dever, o de oferecer sua orientação a seus semelhantes em
seus esforços por encontrar as satisfações da vida. Não temos desfrutado
supremamente com este ministério de devolver o menino à sua mãe ? Da mesma
forma, os que conduzem os homens a Deus experimentam a satisfação suprema do
serviço humano». E daquele dia em diante, e pelo resto de sua vida na Terra,
Ganid esteve continuamente em busca de crianças perdidas que ele pudesse
devolver a seus lares.
p1465:6 132:6.2 Havia uma viúva com cinco filhos
cujo marido havia morrido acidentalmente. Jesus contou a Ganid como ele mesmo
havia perdido a seu pai em um acidente, e foram muitas vezes consolar a esta mãe
e a seus filhos, enquanto que Ganid solicitou dinheiro a seu pai para
proporcionar-lhes alimento e roupa. Eles não cessaram seus esforços até que
encontraram um emprego para o filho mais velho de maneira que ele pudesse ajudar
a manter à família.
p1465:7 132:6.3 Aquela noite, enquanto Gonod
escutava o relato destas experiências, ele disse carinhosamente a Jesus:
«Proponho-me a fazer de meu filho um erudito ou um homem de negócios, e agora
começas a fazer dele um filósofo ou um filantropo». E Jesus replicou sorrindo:
«Talvez façamos dele as quatro coisas; ele poderá gozar então de uma quádrupla
satisfação na vida, porque seu ouvido feito para reconhecer a melodia humana
poderá apreciar quatro tons em vez de um». Então disse Gonod: «Percebo que és
realmente um filósofo. Deves escrever um livro para as gerações futuras». E
Jesus respondeu: «Não um livro -minha missão é viver uma vida nesta geração e
para todas as gerações. Eu...». Porém deteve-se e disse a Ganid: «Meu filho, é
hora de deitar-se».
Viagens Fora de Roma
p1466:1 132:7.1 Jesus, Gonod e Ganid fizeram cinco viagens
afora de Roma para pontos interessantes do território circundante. Durante sua
visita aos lagos do norte de Itália, Jesus teve uma longa conversa com Ganid
sobre a impossibilidade de ensinar a um homem coisas sobre Deus, se esse homem
não deseja conhecer a Deus. Enquanto viajavam para os lagos, haviam se
encontrado casualmente com um pagão irrefletido, e Ganid ficou espantado de que
Jesus não utilizara sua técnica habitual de entabular uma conversa com aquele
homem, que teria conduzido naturalmente à uma discussão sobre questões
espirituais. Quando Ganid perguntou a seu mestre por que mostrava tão pouco
interesse por este pagão, Jesus respondeu:
p1466:2 132:7.2 «Ganid, este
homem não tinha fome da verdade. Não estava descontente de si mesmo. Não estava
preparado para pedir ajuda, e os olhos de sua mente não estavam abertos para
receber a luz destinada à alma. Aquele homem não estava maduro para a colheita
da salvação; há que conceder-lhe mais tempo para que as provas e as dificuldades
da vida preparem-no para receber a sabedoria e o conhecimento superior. Ou, se
nós pudéssemos viver com ele, poderíamos mostrar-lhe ao Pai que está nos céus
com nossa maneira de viver, e assim ele ficaria tão atraído por nossas vidas
como filhos de Deus, que se sentiria compelido a perguntar sobre nosso Pai. Não
se pode revelar a Deus aos que não O buscam; não podes conduzir uma alma sem
vontade para as alegrias da salvação. O homem tem que tornar-se faminto pela
verdade como resultado das experiências da vida, ou deve desejar conhecer a Deus
como conseqüência do contato com a vida daqueles que conhecem ao Pai divino,
antes de que outro ser humano possa agir como intermediário para conduzir esse
companheiro mortal para o Pai que está nos céus. Se nós conhecemos a Deus, nossa
verdadeira tarefa na Terra consiste em viver de tal maneira que permitamos ao
Pai revelar-se em nossa vida, e assim todas as pessoas que buscam a Deus verão
ao Pai e solicitarão nossa ajuda para descobrir mais coisas sobre o Deus que se
expressa deste modo em nossas vidas».
p1466:3 132:7.3 Foi na visita à
Suíça, no alto das montanhas, que Jesus teve uma conversa de um dia inteiro com
o pai e o filho sobre o budismo. Muitas vezes Ganid havia feito perguntas
diretas a Jesus sobre Buda, mas sempre recebera respostas mais ou menos
evasivas. Naquele momento, na presença de seu filho, o pai fez a Jesus uma
pergunta direta acerca de Buda, e recebeu uma resposta direta. Gonod disse: «Eu
gostaria de saber realmente o que pensas de Buda». E Jesus respondeu:
p1466:4 132:7.4 «Vosso Buda foi muito melhor que vosso budismo. Buda foi
um grande homem e inclusive um profeta para seu povo, todavia foi um profeta
órfão; eu quero dizer com isto que ele perdeu de vista muito cedo a seu Pai
espiritual, o Pai que está nos céus. Sua experiência foi trágica. Tentou viver e
ensinar como um mensageiro de Deus, contudo sem Deus. Buda dirigiu seu navio de
salvação diretamente para o porto seguro, até a entrada da enseada da salvação
dos mortais, mas ali, por causa de cartas de navegação equivocadas, o bom navio
encalhou. E ali tem descansado por muitas gerações, imóvel e quase
desesperadamente encalhado. E neste barco têm permanecido muitos de vossos
compatriotas todos estes anos. Eles não estão muito longe das águas seguras do
descanso, mas negam-se a entrar porque a nobre embarcação do bom Buda teve o
infortúnio de encalhar quase à entrada do porto. E os povos budistas nunca
entrarão nesta enseada a menos que abandonem a embarcação filosófica de seu
profeta e se agarrem a seu nobre espírito. Se vosso povo tivesse permanecido
fiel ao espírito de Buda, há muito tempo que teriam entrado em vosso porto da
tranqüilidade de espírito, do descanso da alma e da segurança da salvação.
p1467:1 132:7.5 «Veja você, Gonod, Buda conhecia a Deus em espírito, mas
não conseguiu descobri-lo claramente em sua mente; os judeus descobriram a Deus
na mente, mas falharam amplamente em conhecê-lo em espírito. Hoje, os budistas
patinam em uma filosofia sem Deus, enquanto que meu povo está lastimosamente
encadeado ao temor de um Deus sem uma filosofia salvadora de vida e de
liberdade. Vós tendes uma filosofia sem Deus; os judeus têm um Deus, mas carecem
amplamente de uma filosofia de vida que esteja em relação com ele. Ao não ter
uma visão de Deus como espírito e como Pai, Buda não conseguiu proporcionar em
seu ensinamento a energia moral e a força motriz espiritual que uma religião
deve possuir para mudar uma raça e elevar uma nação».
p1467:2 132:7.6
Então Ganid exclamou: «Mestre, elaboremos tu e eu uma nova religião, uma que
seja boa o bastante para a Índia e o suficiente grande para Roma, e talvez nós
possamos mudar aos judeus para Javé». E Jesus replicou: «Ganid, as religiões não
são elaboradas. As religiões dos homens desenvolvem-se durante longos períodos
de tempo, enquanto que as revelações de Deus brilham sobre a Terra na vida dos
homens que revelam Deus a seus semelhantes». Mas Gonod e Ganid não compreenderam
o significado destas palavras proféticas.
p1467:3 132:7.7 Naquela noite,
depois de ter ido se deitar, Ganid não conseguiu dormir. Conversou muito tempo
com seu pai e finalmente lhe disse, «Sabes, pai, às vezes penso que Josué é um
profeta». E seu pai somente respondeu-lhe, com tom sonolento: «Meu filho,
existem outros...».
p1467:4 132:7.8 A partir deste dia, e pelo resto de
sua vida natural, Ganid continuou desenvolvendo uma religião própria. Ele estava
poderosamente comovido em sua própria mente pela visão ampla, pela equidade e a
tolerância de Jesus. Em todas suas conversas sobre filosofia e religião, este
jovem nunca experimentou ressentimentos nem reações de antagonismo.
p1467:5 132:7.9 Que cena para ser contemplada pelas inteligências
celestiais, a deste espetáculo do jovem indiano propondo ao Criador de um
universo que elaborassem uma nova religião! E ainda que o jovem não o soubesse,
naquele momento e lugar eles estavam elaborando uma religião nova e eterna -este
novo caminho de salvação, a revelação de Deus ao homem através de Jesus e em
Jesus. O que o jovem mais desejava fazer no mundo, o estava fazendo
inconscientemente nesse momento. E sempre foi e sempre é assim. Aquele que uma
imaginação humana iluminada e refletiva, instruída e guiada pelo espírito,
deseja ser e fazer altruisticamente e de todo coração, torna-se sensivelmente
criativo segundo o grau em que o mortal esteja consagrado a fazer divinamente a
vontade do Pai. Quando o homem entra em sociedade com Deus, grandes coisas podem
suceder, e de fato sucedem.
Tradução Voluntária Por : Heitor Carestiato Neto