A Formação dos Mensageiros do Reino
Introdução
Depois de predicar o sermão sobre «O Reino», Jesus reuniu os
seis apóstolos àquela tarde e começou a expor-lhes seus planos para visitar as
cidades situadas ao redor e nas proximidades do Mar da Galiléia. Seus irmãos
Tiago e Judá ficaram muito magoados porque não haviam sido chamados para
participar desta reunião. Até esse momento haviam se considerado como
pertencentes ao círculo íntimo dos associados de Jesus. Mas Jesus decidira não
ter parentes próximos entre os membros deste corpo de diretores apostólicos do
reino. O fato de não incluir Tiago e Judá entre os poucos escolhidos, assim como
seu aparente afastamento de sua mãe desde a experiência de Caná, foi o ponto de
partida de um abismo cada vez mais profundo entre Jesus e sua família. Esta
situação perdurou por todo seu ministério público -eles quase, quase o
rejeitaram- e estas diferenças não desapareceram completamente até depois de sua
morte e ressurreição. Sua mãe oscilava constantemente entre atitudes de fé e
esperança flutuantes, e emoções crescentes de decepção, humilhação e desespero.
Apenas Rute, a mais jovem, permaneceu inquebrantavelmente fiel a seu pai-irmão.
p1538:2 138:0.2 Até depois da ressurreição, toda a família de Jesus
participou muito pouco em seu ministério. Se um profeta não é honrado exceto em
sua própria terra, ele não tem uma apreciação compreensiva, salvo em sua própria
família.
As Instruções Finais
p1538:3 138:1.1 No dia seguinte, o domingo 23 de junho do ano
26 d.C, Jesus comunicou suas instruções finais aos seis. Ordenou-lhes que
saíssem de dois em dois para ensinar a boa nova do reino. Proibiu-lhes que
batizassem e aconselhou-lhes que não predicassem publicamente. Continuou
explicando-lhes que mais tarde lhes permitiria predicar em público, mas que por
algum tempo, e por muitas razões, desejava que adquirissem uma experiência
prática no trato pessoal com seus semelhantes. Jesus propunha-se fazer de sua
primeira excursão, uma excursão inteiramente de trabalho pessoal. Ainda que esta
declaração decepcionou um pouco aos apóstolos, entretanto eles perceberam, ao
menos em parte, a razão que Jesus tinha para começar assim a proclamação do
reino, e partiram com bom coração e um entusiasmo confiante. Enviou-os em
seguida por duplas: Tiago e João foram a Queresa, André e Pedro a Cafarnaum,
enquanto que Felipe e Natanael dirigiram-se a Tariquéia.
p1538:4 138:1.2
Antes que começassem estas duas primeiras semanas de serviço, Jesus
anunciou-lhes que desejava ordenar a doze apóstolos para que continuassem o
trabalho do reino depois de sua partida, e autorizou a cada um deles para que
escolhesse, entre seus primeiros conversos, a um homem para fazer parte do
planejado corpo apostólico. João tomou a palavra para perguntar: «Mas Mestre,
esses seis homens estarão entre nós e compartilharão de todas as coisas em
igualdade conosco, que temos estado contigo desde o Jordão e temos escutado
todas os teus ensinamentos de preparação para nosso primeiro trabalho a favor do
reino?» E Jesus replicou: «Sim, João, os homens que escolhais formarão um só
conosco, e vós lhes ensinareis tudo o relacionado com o reino, como eu vos tenho
ensinado.» Depois de dizer-lhes isto, Jesus os deixou.
p1539:1 138:1.3
Os seis não se separaram para cumprir sua missão até depois de ter discutido
longamente a ordem de Jesus de que cada um deles tinha que escolher a um novo
apóstolo. O conselho de André finalmente prevaleceu, e eles foram em seguida às
suas tarefas. André disse em resumo: «O Mestre está certo; somos demasiado
poucos para abraçar este trabalho. Existe a necessidade de mais instrutores, e o
Mestre tem demonstrado por nós uma grande confiança, posto que nos tem
encarregado da escolha destes seis novos apóstolos.» Àquela manhã, ao separar-se
para cumprir com seu trabalho, havia um pouco de depressão escondida no coração
de cada um deles. Sabiam que iam sentir saudades de Jesus, e ademais de seu medo
e de sua timidez, esta não era a maneira em que haviam imaginado que o reino dos
céus fosse inaugurado.
p1539:2 138:1.4 Foi disposto que os seis
trabalhariam duas semanas, depois do qual regressariam à casa de Zebedeu para
ter uma reunião. Nesse meio tempo, Jesus foi a Nazaré para conversar com José,
Simão e outros membros de sua família que viviam nas imediações. Para conservar
a confiança e o afeto de sua família, Jesus fez tudo o que era humanamente
possível, e compatível com sua dedicação de fazer a vontade de seu Pai. Nesta
assunto cumpriu completamente com seu dever, e algo mais.
p1539:3
138:1.5 Enquanto os apóstolos realizavam esta missão, Jesus pensava muito em
João, que agora estava no cárcere. Era uma grande tentação utilizar seus poderes
potenciais para libertá-lo, mas uma vez mais resignou-se em «servir a vontade do
Pai.»
A Eleição dos Seis
p1539:4 138:2.1 Esta primeira excursão missionária dos seis foi
certamente bem sucedida. Todos eles descobriram o grande valor do contato direto
e pessoal com os homens. Voltaram a Jesus compreendendo muito melhor que, depois
de tudo, a religião é pura e totalmente um assunto de experiência pessoal.
Começaram a sentir até que ponto as pessoas do povo estavam ávidas a ouvir
palavras de consolo religioso e de alento espiritual. Quando se reuniram ao
redor de Jesus, todos quiseram falar ao mesmo tempo, mas André assumiu o
comando, e à medida que os chamava um a um, apresentaram seu informe oficial ao
Mestre e propuseram suas nomeações para os seis novos apóstolos.
p1539:5
138:2.2 Depois que cada um apresentou ao novo apóstolo de sua escolha, Jesus
pediu a todos os demais que votassem sua nomeação; e assim, todos os seis novos
apóstolos foram formalmente aceitos por todos os seis primeiros. Depois, Jesus
anunciou que todos iriam visitar estes candidatos para confirmar-lhes a chamada
ao serviço.
p1539:6 138:2.3 Os apóstolos recém escolhidos foram:
p1539:7 138:2.41.Mateus Levi, o arrecadador de impostos da aduana de
Cafarnaum, que tinha seu escritório exatamente ao leste da cidade, perto dos
limites de Batanéia. Ele foi escolhido por André.
p1539:8 138:2.52. Tomé
Dídimo, pescador de Tariquéia, e no passado, carpinteiro e pedreiro em Gadara.
Foi escolhido por Felipe.
p1539:9 138:2.63. Tiago Alfeu, pescador e
agricultor de Queresa, foi escolhido por Tiago Zebedeu.
p1539:10
138:2.74. Judas Alfeu, o irmão gêmeo de Tiago Alfeu, e também pescador, foi
escolhido por João Zebedeu.
p1540:1 138:2.85. Simão o Zelote era um alto
funcionário da organização patriótica dos zelotes, um posto que abandonou para
unir-se aos apóstolos de Jesus. Antes de unir-se aos zelotes, Simão havia sido
comerciante. Foi escolhido por Pedro.
p1540:2 138:2.96. Judas Iscariotes
era o filho único de pais judeus ricos que viviam em Jericó. Havia se ligado a
João Batista, e seus pais saduceus haviam-no repudiado. Estava buscando trabalho
por estas regiões quando os apóstolos de Jesus encontraram-no, e Natanael o
convidou a unir-se às suas fileiras, especialmente por causa de sua experiência
financeira. Judas Iscariotes era o único judeu entre os doze apóstolos.
p1540:3 138:2.10 Jesus passou um dia inteiro com os seis, respondendo às
suas perguntas e escutando os detalhes de seus informes, pois tinham muitas
experiências interessantes e proveitosas que contar. Agora percebiam a sabedoria
do plano do Mestre de enviá-los a trabalhar de uma maneira tranqüila e pessoal
antes de lançar-se a esforços públicos mais ambiciosos.
O Chamado de Mateus e de João
p1540:4 138:3.1 No dia seguinte, Jesus e os seis foram visitar
Mateus, o arrecadador de aduanas. Mateus os estava esperando, havendo saldado
seus livros e havia se preparado para passar os assuntos de seu escritório a seu
irmão. Ao aproximar-se da alfândega, André adiantou-se com Jesus, que, olhando
de frente a Mateus, disse: «Segue-me.» E Mateus levantou-se e foi à sua casa com
Jesus e os apóstolos.
p1540:5 138:3.2 Mateus disse a Jesus, se referindo
ao banquete que havia organizado para aquela noite, que desejava ao menos
oferecer este jantar à sua família e a seus amigos, se Jesus estivesse de acordo
e consentisse em ser o convidado de honra. E Jesus assentiu com a cabeça. Então
Pedro tomou Mateus à parte, e explicou-lhe que havia convidado a um tal Simão a
unir-se aos apóstolos, e assegurou o consentimento de Mateus para que Simão
também fosse convidado a esta festa.
p1540:6 138:3.3 Depois de almoçar
ao meio-dia na casa de Mateus, todos foram com Pedro visitar a Simão o Zelote, a
quem eles encontraram em seu antigo local de trabalho, que agora estava sendo
conduzido por seu sobrinho. Quando Pedro levou Jesus até Simão, o Mestre saudou
ao ardente patriota e apenas lhe disse: «Segue-me.»
p1540:7 138:3.4
Todos regressaram à casa de Mateus, onde falaram muito sobre política e religião
até a hora do jantar. A família Levi dedicava-se desde há muito tempo aos
negócios e à arrecadação de impostos; por isso, muitos dos convidados por Mateus
a este banquete eram chamados de «publicanos e pecadores» pelos fariseus.
p1540:8 138:3.5 Naqueles tempos, quando um banquete-recepção deste tipo
era oferecido à uma pessoa proeminente, todas as pessoas interessadas tinham o
costume de permanecer pela sala do banquete para observar os convidados comer e
escutar a conversa e os discursos das pessoas de honra. Por conseguinte, a
maioria dos fariseus de Cafarnaum encontravam-se presentes nesta ocasião para
observar a conduta de Jesus nesta reunião social pouco comum.
p1540:9
138:3.6 À medida que o jantar avançava, a alegria dos comensais se elevou às
alturas da boa animação, e todos estavam tendo um momento tão esplêndido, que os
espectadores fariseus começaram a criticar Jesus, em seu foro íntimo, por sua
participação em um evento tão descontraído e despreocupado. Mais avançada à
noite, quando eles estavam discursando, um dos fariseus mais maliciosos chegou
ao ponto de criticar a conduta de Jesus para Pedro, dizendo: «Como te atreves a
ensinar que este homem é justo, quando come com publicanos e pecadores,
prestando assim sua presença a estas cenas de abandono aos prazeres.» Pedro
sussurrou esta crítica a Jesus antes que ele pronunciasse a benção de despedida
a todos os reunidos. Quando Jesus começou a falar, disse: «Ao vir aqui esta
noite para acolher Mateus e Simão em nossa irmandade, fico feliz ao presenciar
vossa alegria e vosso regozijo social, mas deverias regozijar-vos ainda mais
porque muitos de vós entrareis no reino vindouro do espírito, onde desfrutareis
mais abundantemente das boas coisas do reino dos céus. E aos que estão entre
nós, criticando-me em vossos corações porque vim aqui para divertir-me com estes
amigos, permita-me dizer que vim para proclamar a alegria aos oprimidos da
sociedade e a liberdade espiritual aos cativos morais. Preciso recordar-vos que
os que estão curados não necessitam do médico, mas sim os que estão enfermos? Eu
vim, não para chamar aos justos, mas aos pecadores.»
p1541:1 138:3.7 E
em verdade, aquilo era um estranho espetáculo para a sociedade judaica: ver um
homem de caráter reto e de sentimentos nobres, mesclar-se livre e alegremente
com o povo comum, e inclusive com uma multidão anti-religiosa e em busca de
prazeres, de publicanos e de supostos pecadores. Simão o Zelote desejava fazer
um discurso nesta reunião na casa de Mateus, mas André, sabendo que Jesus não
queria que o reino vindouro se confundisse com o movimento dos zelotes, o
persuadiu para que se abstivesse de fazer qualquer tipo de comentários em
público.
p1541:2 138:3.8 Jesus e os apóstolos passaram a noite na casa
de Mateus, e enquanto as pessoas regressavam a seus lares, só falavam de uma
coisa: da bondade e a amabilidade de Jesus.
O Chamado dos Gêmeos
p1541:3 138:4.1 Pela manhã todos os nove foram de barco até
Queresa para efetuar o chamado formal dos dois apóstolos seguintes, Tiago e
Judas, os filhos gêmeos de Alfeu, os candidatos de Tiago e João Zebedeu. Os
gêmeos pescadores estavam esperando a vinda de Jesus e seus apóstolos, e por
isso os estavam aguardando na margem. Tiago Zebedeu apresentou ao Mestre os
pescadores de Queresa, e Jesus, fitando-os, assentiu com a cabeça e disse:
«Segui-me.»
p1541:4 138:4.2 Aquela tarde, que passaram juntos, Jesus os
instruiu completamente a respeito da assistência às reuniões festivas,
concluindo seus comentários dizendo: «Todos os homens são meus irmãos. Meu Pai
celestial não despreza nenhuma das criaturas de nossa autoria. O reino dos céus
está aberto a todos os homens e a todas as mulheres. Ninguém pode fechar a porta
da misericórdia na cara de uma alma faminta que procura entrar nele. Nos
sentaremos a comer com todos os que desejem ouvir falar do reino. Quando nosso
Pai celestial contempla aos homens desde o alto, todos são iguais. Assim pois,
não vos negueis a partir o pão com um fariseu ou um pecador, com um saduceu ou
um publicano, com um romano ou um judeu, com um rico ou um pobre, com um homem
livre ou um escravo. A porta do reino está escancarada para todos os que desejem
conhecer a verdade e encontrar a Deus.»
p1541:5 138:4.3 Àquela noite,
num simples jantar na casa de Alfeu, os irmãos gêmeos foram recebidos na família
apostólica. Mais tarde da noite, Jesus deu a seus apóstolos sua primeira lição
sobre a origem, a natureza e o destino dos espíritos impuros, mas eles não
puderam compreender o significado do que lhes dizia. Resultava-lhes muito fácil
amar e admirar a Jesus, mas muito difícil compreender muitos de seus
ensinamentos.
p1542:1 138:4.4 Depois de uma noite de descanso, todo o
grupo, agora em número de onze, foi de barco até Tariquéia.
O Chamado de Tomé e de Judas
p1542:2 138:5.1 Tomé o pescador e Judas o errante se
encontraram com Jesus e os apóstolos no desembarcadouro dos barcos de pesca de
Tariquéia, e Tomé levou o grupo para sua casa ali perto. Felipe apresentou então
a Tomé como seu candidato para o apostolado e Natanael apresentou a Judas
Iscariotes, o judeu, para uma honra similar. Jesus olhou a Tomé e disse-lhe:
«Tomé, te falta fé; entretanto, recebo-te. Segue-me.» A Judas Iscariotes, o
Mestre disse: «Judas, todos somos da mesma carne, e ao receber-te entre nós,
rogo para que sejas sempre leal com teus irmãos galileus. Segue-me.»
p1542:3 138:5.2 Quando eles se revigoraram, Jesus levou os doze à parte
durante um tempo, para orar com eles e para instruí-los sobre a natureza e o
trabalho do Espírito Santo; mas de novo não conseguiram compreender totalmente o
significado das maravilhosas verdades que o Mestre se esforçava por
ensinar-lhes. Um captava um ponto, um outro compreendia outro ponto, mas nenhum
deles conseguia alcançar o ensinamento integralmente. Sempre cometiam o erro de
tentar adaptar o novo evangelho de Jesus às suas velhas formas de crença
religiosa. Não podiam captar a idéia de que Jesus havia vindo para proclamar um
novo evangelho de salvação e para estabelecer uma nova maneira de encontrar a
Deus; não percebiam que ele era uma nova revelação do Pai celestial.
p1542:4 138:5.3 No dia seguinte, Jesus deixou completamente sós a seus
doze apóstolos; queria que se conhecessem e desejava que ficassem a sós para que
comentassem o que lhes havia ensinado. O Mestre regressou para o jantar, e
durante a sobremesa falou-lhes do ministério dos serafins, e alguns dos
apóstolos compreenderam seu ensinamento. Descansaram essa noite e no dia
seguinte partiram de barco para Cafarnaum.
p1542:5 138:5.4 Zebedeu e
Salomé tinham ido viver com seu filho Davi, para que sua ampla casa pudesse
estar à disposição de Jesus e de seus doze apóstolos. Neste lugar Jesus passou
um sábado tranqüilo com seus mensageiros escolhidos; descreveu-lhes
cuidadosamente os planos para proclamar o reino e explicou-lhes completamente a
importância de se evitar todo conflito com as autoridades civis, dizendo: «Se
for necessário censurar aos governantes civis, deixai comigo essa tarefa.
Procurai não fazer acusações contra o César nem a seus servidores.» Foi esta
mesma noite quando Judas Iscariotes levou Jesus à parte para perguntar-lhe por
que nada era feito para tirar João do cárcere. E Judas não ficou totalmente
satisfeito com a atitude de Jesus.
A Semana de Formação Intensiva
p1542:6 138:6.1 A semana seguinte foi consagrada a um programa
de intensa formação. Cada dia, os seis novos apóstolos eram confiados sob a
responsabilidade de seus respectivos nomeadores, para efetuar um exame profundo
de tudo o que haviam aprendido e experimentado na preparação para o trabalho do
reino. Os primeiros apóstolos analisavam cuidadosamente, em beneficio dos seis
mais novos, os ensinamentos dados por Jesus até esse momento. Pela noite, todos
se reuniam no jardim de Zebedeu para receber a instrução de Jesus.
p1542:7 138:6.2 Foi nesta época que Jesus estabeleceu um dia de recesso
no meio da semana para descanso e recreação. E continuaram com este programa de
relaxamento um dia por semana durante o resto de sua vida material. Como regra
geral, na quarta-feira nunca realizavam suas atividades regulares. Neste dia de
descanso semanal, Jesus tinha o costume de deixá-los sozinhos, dizendo: «Meus
filhos, ide para um dia de diversão. Descansai das árduas tarefas do reino e
desfrutai do alívio que faça lembrar a vossas antigas vocações ou a descobrir
novos tipos de atividades recreativas.» Apesar de Jesus não necessitar realmente
deste dia de descanso, neste período de sua vida terrestre, ele adequou-se a
este plano porque sabia que era melhor para seus associados humanos. Jesus era o
instrutor -o Mestre; seus companheiros eram seus alunos -seus discípulos.
p1543:1 138:6.3 Jesus esforçou-se por esclarecer a seus apóstolos a
diferença entre seus ensinamentos e sua vida entre eles, e os ensinamentos que
poderiam surgir posteriormente acerca dele. Jesus lhes disse: «Meu reino e o
evangelho relacionado com ele deverão ser o essencial de vossa mensagem. Não vos
desvieis do tema, predicando sobre mim e sobre meus ensinamentos. Proclamai o
evangelho do reino e descrevei minha revelação do Pai celestial, mas não vos
extravieis pelos desvios de criar lendas e de construir um culto que tenham
relação com crenças e ensinamentos acerca de minhas crenças e meus
ensinamentos.» Mas de novo, eles não compreenderam porque falava assim, e
ninguém se atreveu a perguntar porque lhes ensinava desta maneira.
p1543:2 138:6.4 Nestes primeiros ensinamentos, Jesus tratou de evitar
até onde era possível as controvérsias com seus apóstolos, exceto aquelas que
implicavam conceitos errôneos sobre seu Pai que está no céu. Em todas estas
questões, nunca hesitava em corrigir as crenças errôneas. Havia uma só motivação
na vida de Jesus em Urantia depois de seu batismo, e esta era a de efetuar uma
revelação melhor e mais verdadeira de seu Pai Paradisíaco; ele era o pioneiro no
caminho novo e melhor para Deus, o caminho da fé e do amor. Sua exortação aos
apóstolos era sempre: «Ide a buscar os pecadores; encontrai aos abatidos e
confortai aos ansiosos.»
p1543:3 138:6.5 Jesus compreendia perfeitamente
a situação; possuía um poder ilimitado que podia ter sido utilizado em auxílio à
sua missão, mas estava inteiramente satisfeito com os recursos e as pessoas que
a maioria do povo teria qualificado como inadequados, e os haveria estimado como
insignificantes. Estava engajado numa missão com enormes possibilidades
dramáticas, mas insistiu em dedicar-se aos assuntos de seu Pai da maneira mais
discreta e menos espetacular; evitou cuidadosamente toda exibição de poder. E
agora propunha-se a trabalhar tranqüilamente com seus doze apóstolos, ao menos
durante vários meses, nas proximidades do Mar da Galiléia.
Uma Nova Desilução
p1543:4 138:7.1 Jesus havia planejado uma tranqüila campanha
missionária de cinco meses de trabalho pessoal. Não havia dito aos apóstolos
quanto tempo ia durar; trabalhavam de semana em semana. E no início deste
primeiro dia da semana, precisamente quando estava a ponto de anunciar este
plano a seus doze apóstolos, Simão Pedro, Tiago Zebedeu e Judas Iscariotes
vieram ter uma conversa em particular com Ele. Levando Jesus à parte, Pedro
atreveu-se a dizer: «Mestre, viemos a pedido de nossos companheiros para
perguntar se já não é o momento adequado para entrar no reino. Proclamarás o
reino em Cafarnaum ou nos mudaremos a Jerusalém? E quando saberemos, cada um de
nós, os postos que vamos ocupar contigo no estabelecimento do reino...» e Pedro
teria continuado fazendo outras perguntas, mas Jesus levantou uma mão
admonitória e o interrompeu. E acenando aos outros apóstolos, que estavam perto,
para que se juntassem a eles, Jesus lhes disse: «Meus filhos, quanto tempo serei
indulgente convosco! Não vos tenho explicado que meu reino não é deste mundo? Eu
vos tenho dito muitas vezes que não vim para sentar-me no trono de Davi, e como
é que então me perguntais qual é o lugar que cada um de vós ocupará no reino do
Pai? Não podeis perceber que vos chamei como embaixadores de um reino
espiritual? Não compreendeis que em breve, muito breve, vocês me representarão
no mundo e na proclamação do reino, assim como eu represento agora a meu Pai que
está nos céus? Pode ser que eu tenha vos escolhido e instruído como mensageiros
do reino, e que entretanto não compreendais a natureza e a transcendência deste
reino vindouro de supremacia divina no coração dos homens? Meus amigos,
escutai-me uma vez mais. Bani de vossa mente a idéia de que meu reino é um
governo de poder ou um reinado de glória. Em verdade, todos os poderes no céu e
na Terra em breve serão postos nas minhas mãos, mas não é a vontade do Pai que
utilizemos este dom divino para glorificar-nos durante esta era. Em outra era,
sentar-vos-eis verdadeiramente comigo em poder e glória, mas agora cabe a nós
submeter-nos à vontade do Pai, e sair em humilde obediência para executar seu
mandato na Terra.»
p1544:1 138:7.2 Uma vez mais, seus companheiros
ficaram chocados, abalados. Jesus os enviou de dois em dois para orar,
pedindo-lhes que voltassem ao meio-dia. Nesta manhã decisiva, cada um deles
tratou de encontrar a Deus, e cada um se esforçou por animar e fortalecer ao
outro, e eles retornaram a Jesus tal como ele havia ordenado.
p1544:2
138:7.3 Jesus contou-lhes então da vinda de João, do batismo no Jordão, da festa
nupcial de Caná, da recente escolha dos seis e da separação de seus próprios
irmãos carnais, e advertiu-lhes que o inimigo do reino trataria também de
separá-los. Depois desta conversa breve porém séria, todos os apóstolos
levantaram-se, sob a liderança de Pedro, para declarar sua devoção eterna a seu
Mestre e prometer sua lealdade inabalável ao reino, conforme expressou Tomé, «A
esse reino por vir, não importa o que seja, e mesmo se eu não o compreenda
completamente.» Todos eles acreditavam em Jesus sinceramente, ainda que não
compreendessem completamente seu ensinamento.
p1544:3 138:7.4 Jesus
perguntou-lhes então quanto dinheiro tinham entre eles; também interessou-se
pelas medidas que haviam tomado para manter suas famílias. Quando revelaram que
apenas tinham fundos suficientes para manter-se durante duas semanas, Jesus
disse: «Não é a vontade de meu Pai que comecemos a trabalhar nestas condições.
Nós ficaremos aqui duas semanas junto ao mar para pescar ou fazer qualquer coisa
que encontremos; e nesse meio tempo, sob a direção de André, o primeiro apóstolo
escolhido, organizar-vos-eis de tal maneira que possais dispor de tudo o
necessário para vosso futuro trabalho, tanto no ministério pessoal atual, e
também quando vos ordene posteriormente a predicar o evangelho e instruir aos
crentes.» Todos ficaram grandemente entusiasmados com estas palavras; esta era a
primeira indicação clara e positiva de que Jesus planejava empreender no futuro,
esforços públicos mais vigorosos e pretensiosos.
p1544:4 138:7.5 Os
apóstolos passaram o resto do dia aperfeiçoando sua organização e preparando os
barcos e as redes para sair pescar na manhã seguinte, pois todos haviam decidido
que se dedicariam à pesca; a maioria deles havia sido pescadores, e inclusive
Jesus era um barqueiro e um pescador experiente. Muitas dos barcos que
utilizaram nos poucos anos seguintes haviam sido construídos por Jesus com suas
próprias mãos. E eram barcos bons e dignos de confiança.
p1544:5 138:7.6
Jesus recomendou-lhes que se consagrassem à pesca durante duas semanas,
acrescentando: «E então partireis para converter-vos em pescadores de homens.»
Pescaram em três grupos, e Jesus saía cada noite com um grupo diferente. E como
eles todos desfrutavam com a companhia de Jesus! Ele era um bom pescador, um
companheiro alegre e um amigo inspirador; quanto mais trabalhavam com ele, mais
o amavam. Mateus disse um dia: «Quanto mais você compreende a alguma pessoa,
tanto menos você a admira; mas com este homem, quanto menos o compreendo, mais o
amo.»
p1545:1 138:7.7 Este plano de pescar duas semanas e de sair outras
duas semanas para fazer um trabalho pessoal a favor do reino prosseguiu por mais
de cinco meses, até o final deste ano 26 d.C, até depois da trégua nas
perseguições especialmente dirigidas contra os discípulos de João, depois da
prisão dele.
O Primeiro Trabalho dos Doze
p1545:2 138:8.1 Depois de vender o pescado de duas semanas,
Judas Iscariotes, o escolhido para atuar como o tesoureiro dos doze, dividiu os
fundos apostólicos em seis partes iguais, tendo os fundos para o cuidado das
famílias dependentes já sido providenciadas. E então a meados de agosto do ano
26 d.C, eles saíram de dois em dois para campanhas de trabalho designadas por
André. As duas primeiras semanas Jesus saiu com André e Pedro, as duas próximas
semanas com Tiago e João, e assim sucessivamente com as outras duplas na ordem
em que haviam sido escolhidos. Desta maneira, ele pôde sair ao menos uma vez com
cada dupla, antes de reuni-los para começar seu ministério público.
p1545:3 138:8.2 Jesus ensinou-lhes a predicar o perdão dos pecados
mediante a fé em Deus, sem penitências nem sacrifícios, e que o Pai que está nos
céus ama a todos seus filhos com o mesmo amor eterno. Ordenou a seus apóstolos
que se abstivessem de discutir sobre:
p1545:4 138:8.31.O trabalho e o
encarceramento de João Batista.
p1545:5 138:8.42.A voz em seu batismo.
Jesus disse: «Só aqueles que ouviram a voz podem referir-se a ela. Proclamai
somente as coisas que haveis me ouvido dizer; não faleis por rumores.»
p1545:6 138:8.53.A transformação da água em vinho, em Caná. Jesus
ordenou-lhes seriamente, dizendo: «Não conteis a ninguém sobre a água e o
vinho.»
p1545:7 138:8.6 Eles tiveram momentos maravilhosos ao longo
destes cinco ou seis meses, durante os quais trabalharam como pescadores a cada
duas semanas alternadas, ganhando desse modo o dinheiro suficiente para
manter-se em campanha nas duas semanas seguintes de trabalho missionário para o
reino.
p1545:8 138:8.7 O povo comum maravilhava-se com os ensinamentos e
o ministério de Jesus e seus apóstolos. Os rabinos haviam ensinado durante muito
tempo aos judeus que os ignorantes não podiam ser nem piedosos nem justos. Mas
os apóstolos de Jesus eram piedosos e justos; e todavia ignoravam alegremente
uma grande parte da erudição dos rabinos e da sabedoria do mundo.
p1545:9 138:8.8 Jesus explicou a seus apóstolos a diferença entre o
arrependimento mediante as supostas boas obras, tal como ensinavam os judeus, e
a mudança mental pela fé -o novo nascimento- que ele exigia como preço de
admissão no reino. Ensinou a seus apóstolos que a fé era o único requisito para
entrar no reino do Pai. João havia lhes ensinado o «arrependimento -para fugir
da ira vindoura.» Jesus ensinava que «a fé é a porta aberta para entrar no
presente, perfeito e eterno amor de Deus.» Jesus não falava como um profeta,
como alguém que vem proclamar a palavra de Deus. Parecia falar de si mesmo como
alguém que tem autoridade. Jesus tentava desviar suas mentes da busca de
milagres para o descobrimento de uma experiência autêntica e pessoal na
satisfação e segurança de que o espírito de amor e de graça salvadora de Deus
residia neles.
p1545:10 138:8.9 Os discípulos logo aprenderam que o
Mestre tinha um profundo respeito e uma consideração compassiva por cada ser
humano com quem se encontrava, e estavam enormemente impressionados por esta
consideração uniforme e invariável que ele dava tão consistentemente a toda
classe de homens, mulheres e crianças. Ele se interrompia no meio de um profundo
discurso para que pudesse sair à estrada e dizer palavras de bom ânimo a uma
mulher passante carregada com o peso de seu corpo e de sua alma. Interrompia uma
importante reunião com seus apóstolos para fraternizar com uma criança
intrometida. Nada jamais parecia tão importante para Jesus como o ser humano
individual que tivesse a chance de estar na sua presença imediata. Ele era
mestre e instrutor, mas era ainda mais -era também um amigo e um vizinho, um
companheiro compreensivo.
p1546:1 138:8.10 Ainda que o ensinamento
público de Jesus consistia principalmente em parábolas e em discursos breves,
ele instruía invariavelmente a seus apóstolos através de perguntas e respostas.
Ele sempre parava para responder perguntas sinceras durante seus discursos
públicos posteriores.
p1546:2 138:8.11 No principio os apóstolos ficavam
escandalizados com a maneira em que Jesus tratava às mulheres, mas logo se
acostumaram; ele deixava muito claro para eles que no reino, as mulheres seriam
consideradas com os mesmos direitos que os homens.
Cinco Meses de Prova
p1546:3 138:9.1 Este período um pouco monótono de pesca
alternada e trabalho pessoal demonstrou ser uma experiência cansativa para os
doze apóstolos, mas suportaram a prova. Com todas as suas queixas, dúvidas e
descontentamentos passageiros, permaneceram fiéis à sua promessa de devoção e de
lealdade ao Mestre. Foram suas associações pessoais com Jesus durante estes
meses de prova, que tanto fizeram-no amar, que todos eles (salvo Judas
Iscariotes) permaneceram leais e fiéis a ele, inclusive nas horas sombrias do
juízo e da crucifixão. Homens de verdade simplesmente não podiam abandonar
realmente a um educador venerado que havia vivido tão perto deles e que tanto
havia se consagrado a eles como fez Jesus. Durante as horas sombrias da morte do
Mestre, toda razão, todo juízo e toda lógica no coração destes apóstolos, foram
desprezadas em deferência a apenas uma extraordinária emoção humana -o
sentimento supremo de amizade e de fidelidade. Estes cinco meses de trabalho com
Jesus levaram estes apóstolos, a cada um deles, a considerá-lo como o melhor
amigo que tinham no mundo. E foi este sentimento humano, e não seus ensinamentos
grandiosos ou seus atos maravilhosos, o que os manteve unidos até depois da
ressurreição e da retomada da proclamação do evangelho do reino.
p1546:4
138:9.2 Estes meses de trabalho tranqüilo não somente foram uma grande prova
para os apóstolos, um teste a qual sobreviveram, senão que esta temporada de
inatividade pública foi uma grande prova para a família de Jesus. Na época em
que Jesus estava preparado para começar sua obra pública, toda sua família
(exceto Rute) praticamente o havia abandonado. Somente em poucas ocasiões,
tentaram fazer um subsequente contato com ele, e então foi para persuadi-lo de
que regressasse com eles ao lar, pois quase haviam chegado a crer que estava
fora de si. Eram simplesmente incapazes de sondar sua filosofia ou de captar seu
ensinamento; tudo isto era demasiado para aqueles de sua própria carne e sangue.
p1546:5 138:9.3 Os apóstolos continuaram seu trabalho pessoal em
Cafarnaum, Betsáida-Júlia, Corazin, Gerasa, Hipos, Magdala, Caná, Belém da
Galiléia, Jotapata, Rama, Safed, Giscala, Gadara e Abilina. Além destas cidades,
trabalharam em muitos povoados assim como no campo. No final deste período, os
doze haviam elaborado planos bastante satisfatórios para cuidar de suas
respectivas famílias. A maioria dos apóstolos eram casados, e alguns tinham
vários filhos, mas haviam tomado tais medidas para o sustento de seus familiares
que, com um pouco de ajuda dos fundos apostólicos, podiam consagrar todas suas
energias à obra do Mestre, sem ter que se preocupar pelo bem-estar financeiro de
suas famílias.
A Organização dos Doze
p1547:1 138:10.1 Os apóstolos logo organizaram-se da seguinte
maneira:
p1547:2 138:10.21.André, o primeiro apóstolo escolhido, foi
nomeado presidente e diretor geral dos doze.
p1547:3 138:10.32. Pedro,
Tiago e João foram nomeados companheiros pessoais de Jesus. Tinham que atendê-lo
dia e noite, cuidar de suas necessidades materiais e diversas, e acompanhá-lo
nas vigílias noturnas de oração e de comunhão misteriosa com o Pai celestial.
p1547:4 138:10.43.Felipe foi constituído o administrador do grupo. Tinha
o dever de proporcionar os alimentos e de vigiar que os visitantes tivessem algo
que comer, e às vezes inclusive as multidões de ouvintes.
p1547:5
138:10.54.Natanael velava pelas necessidades das famílias dos doze. Recebia
informes regulares sobre as demandas das famílias de cada apóstolo, e fazendo
requisição a Judas, o tesoureiro, enviava cada semana fundos àquelas que
necessitavam.
p1547:6 138:10.65.Mateus era o agente fiscal do corpo
apostólico. Tinha o dever de vigiar que o orçamento estivesse equilibrado e a
tesouraria abastecida. Se não havia fundos disponíveis para o sustento mútuo, se
não se recebiam doações suficientes para manter ao grupo, Mateus estava
autorizado a ordenar aos doze que regressassem às suas redes durante certo
tempo. Mas isto nunca foi necessário depois que começaram seu trabalho público;
sempre tinha fundos suficientes na tesouraria para financiar suas atividades.
p1547:7 138:10.76. Tomé era o encarregado do itinerário. Incumbiram-no
em arranjar alojamento e, de uma maneira geral, selecionar os lugares para o
ensinamento e a pregação, assegurando assim um programa de viagens tranqüilas e
diligentes.
p1547:8 138:10.87. Tiago e Judas, os filhos gêmeos de Alfeu,
foram designados para controlar às multidões. Tinham a tarefa de delegar um
número suficiente de assistentes introdutores, para lhes permitir manter a ordem
entre as massas durante a pregação.
p1547:9 138:10.98. Simão o Zelote
ficou encarregado dos entretenimentos e da diversão. Preparava os programas das
quartas-feiras e também tratava de conceder algumas horas de distração e
diversão a cada dia.
p1547:10 138:10.109. Judas Iscariotes foi nomeado
tesoureiro. Carregava a bolsa, pagava todos os gastos e levava os livros da
contabilidade. De semana em semana fazia uma estimativa do orçamento para Mateus
e também apresentava seus informes semanais a André. Judas desembolsava os
fundos com a autorização de André.
p1547:11 138:10.11 Os doze atuaram
desta forma, desde sua organização primitiva até o momento em que tiveram
necessidade de se reorganizar devido à deserção de Judas, o traidor. O Mestre e
seus discípulos-apóstolos continuaram vivendo desta maneira simples até o
domingo 12 de janeiro do ano 27 d.C, quando os reuniu e os ordenou formalmente
como embaixadores do reino e predicadores de sua boa nova. E imediatamente
depois disto, eles prepararam-se para sair a Jerusalém e à Judéia em sua
primeira excursão de predicação pública.
Tradução Voluntária Por : Heitor Carestiato Neto