A Ordenação dos Doze
Introdução
Justamente Antes do meio-dia no domingo 12 de janeiro do ano 27
d.C, Jesus reuniu os apóstolos para sua ordenação como predicadores públicos do
evangelho do reino. Os doze estavam esperando ser chamados a qualquer dia; então
àquela manhã, eles não foram muito longe da costa para pescar. Alguns deles
ficaram perto da margem reparando suas redes e remendando seus instrumentos de
pesca.
p1568:2 140:0.2 À medida que Jesus começava a descer à praia para
convocar aos apóstolos, ele saudou primeiro a André e Pedro, que estavam
pescando perto da margem; depois sinalizou para Tiago e João, que estavam num
barco por perto, conversando com seu pai Zebedeu e reparando suas redes. De dois
em dois ele reuniu os outros apóstolos, e quando tinha juntado todos os doze,
viajou com eles para as terras montanhosas ao norte de Cafarnaum, onde procedeu
a instruí-los em preparação para sua ordenação formal.
p1568:3 140:0.3
Dessa vez, todos os doze apóstolos estavam silenciosos; até Pedro estava de
humor meditativo. Finalmente havia chegado a hora tanto tempo esperada! Eles
estavam indo à parte com o Mestre, para participar em algum tipo de cerimônia
solene de consagração pessoal e de dedicação coletiva ao trabalho sagrado de
representar a seu Mestre na proclamação da chegada do reino de seu Pai.
A Instrução Preliminar
p1568:4 140:1.1 Antes do serviço formal de ordenação, Jesus
falou aos doze que estavam sentados ao seu redor: «Meus irmãos, a hora do reino
chegou. Eu vos trouxe aqui à parte comigo, para apresentá-los ao Pai como
embaixadores do reino. Alguns de vós me ouviram falar deste reino na sinagoga
quando foram chamados pela primeira vez. Cada um de vós aprendeu mais sobre o
reino do Pai desde que foram trabalhar comigo nas cidades ao redor do Mar da
Galiléia. Mas neste momento, eu tenho algo mais para lhes dizer com respeito a
este reino.
p1568:5 140:1.2 «O novo reino que meu Pai está a ponto de
estabelecer no coração de seus filhos terrestres, será um domínio eterno. Este
governo de meu Pai no coração daqueles que desejam fazer sua vontade divina não
terá fim. Eu vos declaro que meu Pai não é o Deus dos judeus ou dos gentios.
Muitos virão do leste e do oeste para sentar-se conosco no reino do Pai,
enquanto que muitos filhos de Abraão se negarão a entrar nesta nova fraternidade
do reinado do espírito do Pai no coração dos filhos dos homens.
p1568:6
140:1.3 «O poder deste reino consistirá, não na força dos exércitos nem no poder
das riquezas, mas especialmente na glória do espírito divino que virá ensinar a
mente e dirigir o coração dos cidadãos renascidos deste reino celestial, os
filhos de Deus. Esta é a fraternidade do amor onde reina a retidão, e cujo grito
de guerra será: Paz na terra e boa vontade a todos os homens. Este reino, que
vós logo, logo saireis a proclamar, é o desejo dos homens de bem de todos os
tempos, a esperança de toda a Terra e o cumprimento das sábias promessas de
todos os profetas.
p1569:1 140:1.4 «Mas para vós, meus filhos, e para
todos os outros que vos seguirem neste reino, está posto um difícil teste. Só a
fé vos permitirá atravessar seus portais, mas vós devereis produzir os frutos do
espírito de meu Pai, se quiserdes continuar ascender na vida progressiva da
comunidade divina. Em verdade, em verdade eu vos digo, que nem todo o que diz
`Senhor, Senhor' entrará no reino dos céus; mas sim aquele que faz a vontade de
meu Pai que está nos céus.
p1569:2 140:1.5 «Vossa mensagem para o mundo
será: Buscai primeiro o reino de Deus e sua retidão, e encontrando estes, todas
as demais coisas essenciais para a sobrevivência eterna, com isso estarão
asseguradas. E agora, eu queria esclarecer para vós que este reino de meu Pai
não virá com uma exibição exterior de poder, nem com uma demonstração
inconveniente. Então, vós não saireis na proclamação do reino, dizendo: `está
aqui' ou `está ali', porque este reino do qual predicais é Deus dentro de vós.
p1569:3 140:1.6 «Quem quer ser grande no reino de meu Pai, deverá
tornar-se um ministro para todos; e se alguém quiser ser o primeiro entre vós,
que se converta no servidor de seus irmãos. Todavia, uma vez que forem recebidos
realmente como cidadãos do reino celestial, não sereis mais servidores, mas
filhos, filhos do Deus vivo. E então este reino progredirá no mundo, até que
destrua todas as barreiras e traga todos os homens para conhecer a meu Pai e a
crer na verdade salvadora que vim proclamar. Mesmo agora, o reino está próximo,
e alguns de vós não morrereis até que tenhais visto chegar o reino de Deus com
grande poder.
p1569:4 140:1.7 «E isto que vossos olhos contemplam agora,
este pequeno começo de doze homens comuns, se multiplicará e crescerá até que,
finalmente, a Terra inteira fique cheia com os louvores de meu Pai. E não será
tanto pelas palavras que vós falareis, mas sim pela vida que vivereis que os
homens saberão que estivestes comigo e que aprendestes sobre as realidades do
reino. E enquanto eu não colocar nenhuma carga pesada sobre vossa mente, estou
prestes a colocar sobre vossa alma a solene responsabilidade de me representar
no mundo quando eu deixá-los dentro em breve, assim como eu represento agora a
meu Pai nesta vida que estou vivendo na carne». E quando Jesus terminou de
falar, levantou-se.
A Ordenação
p1569:5 140:2.1 Jesus agora instruiu os doze mortais que neste
momento escutavam sua declaração sobre o reino, que se ajoelhassem num círculo
ao redor dele. Então o Mestre pôs suas mãos sobre a cabeça de cada apóstolo,
começando por Judas Iscariotes e terminando com André. Quando acabou de
abençoá-los, estendeu as mãos e orou:
p1569:6 140:2.2 «Meu Pai, eu agora
trago-te estes homens, meus mensageiros. Dentre nossos filhos da Terra, eu
escolhi estes doze para sair a representar-me como eu vim para representar-te.
Ame-os e fique com eles como tu tens me amado e estado comigo. E agora, meu Pai,
conceda sabedoria a estes homens, enquanto eu deposito todos os assuntos do
reino vindouro nas suas mãos. E eu permaneceria, se fosse tua vontade, algum
tempo na Terra para ajudá-los em seus trabalhos pelo reino. E de novo, meu Pai,
eu te agradeço por estes homens, e os entrego a teu cuidado enquanto eu continuo
para terminar a obra que me deste fazer.»
p1570:1 140:2.3 Quando Jesus
terminou de orar, cada um dos apóstolos permaneceu inclinado em seu lugar. E
decorreram muitos minutos antes mesmo que Pedro se atrevesse a levantar os
olhos, para observar o Mestre. Um por um eles abraçaram a Jesus, mas ninguém
disse nada. Um grande silêncio invadiu o lugar, enquanto que uma multidão de
seres celestiais contemplavam esta cena solene e sagrada -o Criador de um
universo pondo os assuntos da fraternidade divina dos homens sob a direção de
mentes humanas.
O Sermão de Ordenação
p1570:2 140:3.1 Então Jesus falou, dizendo: «Agora que sois
embaixadores do reino de meu Pai, vós vos tornastes através disso, uma classe de
homens diferenciada e distinta de todos os demais homens da Terra. Agora já não
sois como homens entre os homens, mas como cidadãos iluminados de outra nação
celestial entre as criaturas ignorantes deste mundo tenebroso. Não é suficiente
que vivais como éreis até aqui, mas que de agora em diante deveis viver como
aqueles que provaram as glórias de uma vida melhor, e que foram enviados de
volta à Terra como embaixadores do Soberano desse mundo novo e melhor. Espera-se
mais do professor que do aluno; é mais exigido do mestre que do criado. É mais
exigido dos cidadãos do reino celestial que dos cidadãos do governo terrestre.
Algumas das coisas que estou para vos dizer, podem parecer duras, mas vós
escolhestes me representar no mundo assim como eu agora represento ao Pai; e
como meus agentes na Terra, estareis obrigados a obedecer estes ensinamentos e
práticas que são refletivas de meus ideais de vida mortal nos mundos do espaço,
e que eu exemplifico em minha vida terrestre revelando ao Pai que está nos céus.
p1570:3 140:3.2 «Eu vos envio para proclamar a liberdade aos cativos
espirituais, a alegria aos escravos do medo, e a curar aos enfermos, de acordo
com a vontade de meu Pai que está nos céus. Quando encontreis a meus filhos na
aflição, faleis animosamente a eles, dizendo:
p1570:4
140:3.3«Bem-aventurados os pobres de espírito, os humildes, porque deles são os
tesouros do reino dos céus.
p1570:5 140:3.4«Bem-aventurados os que têm
fome e sede de retitude, porque eles serão saciados.
p1570:6
140:3.5«Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.
p1570:7
140:3.6«Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus.
p1570:8 140:3.7«E ainda assim dizeis a meus filhos estas palavras
adicionais de consolo espiritual e de promessa:
p1570:9
140:3.8«Bem-aventurados os que estão de luto, porque eles serão consolados.
Bem-aventurados os que choram, porque eles receberão o espírito do regozijo.
p1570:10 140:3.9«Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles obterão
misericórdia.
p1570:11 140:3.10«Bem-aventurados os pacificadores, porque
eles serão chamados filhos de Deus.
p1570:12 140:3.11«Bem-aventurados os
perseguidos por causa da retitude, porque deles é o reino dos céus.
Considerai-vos bem-aventurados quando os homens vos injuriarem e vos
perseguirem, e digam falsamente toda classe de mal contra vós. Regozijai-vos e
alegrai-vos extremamente, porque vossa recompensa será grande nos céus.
p1570:13 140:3.12 «Meus irmãos, visto que eu vos envio adiante, vós sois
o sal da terra, sal com sabor de salvação. Mas se este sal perdeu seu sabor, de
que forma salgará? De agora em diante não serve pra nada, mas para ser jogado
fora e pisado pelos pés dos homens.
p1570:14 140:3.13 «Vós sois a luz do
mundo. Uma cidade situada em uma colina não pode ser escondida. Nem tampouco os
homens acendem uma vela e a coloca debaixo de um galão, mas num candelabro; e
ilumina a todos os que estão na casa. Deixeis então, que vossa luz brilhe diante
dos homens para que eles possam ver vossas boas obras e sejam conduzidos a
glorificar a vosso Pai que está nos céus.
p1571:1 140:3.14 «Eu vos estou
enviando ao mundo para me representar e agir como embaixadores do reino de meu
Pai, e à medida que saiam a proclamar a boa nova, colocai vossa confiança no
Pai, de quem sois mensageiros. Não resistais à injustiça usando a força; não
ponhais vossa confiança nos braços da carne. Se vosso próximo vos golpeia na
face direita, ofereça a ele a outra também. Estejais dispostos a sofrer
injustiça em lugar de acudir à lei entre vós mesmos. Em bondade e com
misericórdia, ministrai a todos os que estão em angústia e em necessidades.
p1571:2 140:3.15 «Eu vos digo: amai a vossos inimigos, fazei o bem aos
que vos odeiem, abençoai aos que vos amaldiçoam, e orai pelos que vos usam com
malícia. E tudo aquilo que vós acrediteis que eu faria pelo homens, fazei também
a eles.
p1571:3 140:3.16 «Vosso Pai do céu faz brilhar o sol sobre os
maus assim como sobre os bons; da mesma forma, ele envia a chuva sobre os justos
e os injustos. Vós sois os filhos de Deus; e ainda mais, agora sois os
embaixadores do reino de meu Pai. Sede misericordiosos assim como Deus é
misericordioso, e no eterno futuro do reino, sereis perfeitos como vosso Pai
celestial é perfeito.
p1571:4 140:3.17 «Vós estais encarregados de
salvar os homens, não para julgá-los. Ao final de vossas vidas na Terra, vós
todos esperareis misericórdia; por isso eu vos peço que durante vossa vida
mortal, que vós mostreis misericórdia a todos vossos irmãos na carne. Não
cometais o erro de tentar tirar um cisco do olho de vosso irmão, quando há uma
viga em vosso próprio olho. Tendo primeiro arrancado a viga de vosso próprio
olho, vós podeis ver melhor para tirar o cisco do olho de vosso irmão.
p1571:5 140:3.18 «Discerni claramente a verdade; vivei a vida correta
corajosamente; e assim sereis meus apóstolos e os embaixadores de meu Pai. Vós
ouvíreis dizer: `Se o cego conduz o cego, os dois cairão num buraco'. Se vós
guiardes outras pessoas para o reino, vós mesmos deveis caminhar na luz
transparente da verdade viva. Em todos os assuntos do reino, eu vos exorto a
mostrar um juízo justo e uma sabedoria penetrante. Não apresentai o que é
sagrado aos cachorros, nem lanceis vossas pérolas ante os porcos, para que eles
não pisem em vossas jóias e se virem para despedaçá-los.
p1571:6
140:3.19 «Eu vos previno contra os falsos profetas que virão até vós vestidos em
pele de cordeiro, enquanto que por dentro são como lobos vorazes. Por seus
frutos vós os conhecereis. Os homens recolhem uvas das espinhas ou figos dos
cardos? Assim pois, toda boa árvore produz bons frutos, mas a árvore corrompida
produz frutos ruins. Uma boa árvore não pode produzir frutos ruins, nem pode uma
árvore corrompida produzir bons frutos. Toda árvore que não dê bons frutos, na
mesma hora é cortada e lançada ao fogo. Para conquistar uma entrada no reino dos
céus, o que conta é o motivo. Meu Pai olha dentro do coração dos homens e os
julga por seus desejos internos e suas intenções sinceras.
p1571:7
140:3.20 «No grande dia do juízo do reino, muitos me dirão: `Nós não
profetizamos em teu nome e fizemos muitas obras maravilhosas por teu nome?' Mas
eu serei forçado dizer a eles, `Eu nunca vos conheci; afastai-vos de mim, vós
que sois falsos educadores'. Mas todo aquele que escute esta instrução e execute
sinceramente seu encargo de representar-me diante dos homens assim como eu tenho
representado meu Pai para vós, encontrará uma entrada abundante a meu serviço e
no reino do Pai celestial.»
p1571:8 140:3.21 Nunca antes os apóstolos
haviam escutado Jesus falar desta maneira, pois ele havia lhes falado como
alguém que tem uma autoridade suprema. Eles desceram da montanha quase ao pôr do
sol, mas ninguém fez perguntas a Jesus.
Vós Sois o Sal da Terra
p1572:1 140:4.1 O chamado «Sermão da Montanha» não é o
evangelho de Jesus. Contém muita instrução proveitosa, mas apenas eram os
encargos de ordenação de Jesus aos doze apóstolos. Era o encargo pessoal do
Mestre para aqueles que continuariam predicando o evangelho e aspiravam
representá-lo no mundo dos homens, assim como ele era tão eloqüente e
perfeitamente representante de seu Pai.
p1572:2 140:4.2 «Vós sois o sal
da terra, sal com sabor de salvação. Mas se este sal perdeu o seu sabor, de que
forma salgará? De agora em diante não serve pra nada, mas para ser jogado fora e
pisado pelos pés dos homens.»
p1572:3 140:4.3 Nos tempos de Jesus, o sal
era precioso. Ele até era usado como moeda. A palavra moderna «salário» é
derivada de sal. O sal não somente condimenta os alimentos, mas é também um
conservante. Torna as outras coisas mais saborosas, e dessa forma serve para ser
gasto.
p1572:4 140:4.4 «Vós sois a luz do mundo. Uma cidade situada em
uma colina não pode ser escondida. Nem tampouco os homens acendem uma vela e a
coloca debaixo de um galão, mas num candelabro; e ilumina a todos os que estão
na casa. Deixeis então que vossa luz brilhe diante dos homens para que eles
possam ver vossas boas obras e sejam conduzidos a glorificar a vosso Pai que
está nos céus.»
p1572:5 140:4.5 Ainda que a luz dissipa as trevas, ela
também pode ser «cegadora» de forma a confundir e frustrar. Nós somos
admoestados a deixar brilhar nossa luz de tal maneira que nossos companheiros
serão guiados para o novo e piedoso caminho da vida aprimorada. Nossa luz deve
brilhar de forma que não atraia a atenção para nós mesmos. Mesmo os vocacionados
podem ser utilizados como um efetivo «refletor» para a disseminação desta luz da
vida.
p1572:6 140:4.6 Os caracteres fortes não são formados por não
fazerem o mal, mas especialmente por fazerem o realmente justo. O altruísmo é a
insígnia da grandeza humana. Os níveis mais altos de autorrealização são
alcançados mediante a adoração e o serviço. A pessoa feliz e eficaz é motivada
pelo amor de fazer o bem, e não pelo medo de fazer o mal.
p1572:7
140:4.7 «Por seus frutos vós os conhecereis.» A personalidade é basicamente
invariável; o que muda -cresce- é o caráter moral. O maior erro das religiões
modernas é o negativismo. A árvore que não produz frutos é «cortada e lançada ao
fogo». O valor moral não pode ser derivado da mera repreensão -obediência à
imposição «Não farás». O medo e a vergonha são motivações indignas para a vida
religiosa. A religião somente é válida quando revela a paternidade de Deus e
realça a fraternidade dos homens.
p1572:8 140:4.8 Uma efetiva filosofia
de vida é formada por uma combinação de discernimento cósmico e a totalidade das
reações emocionais da pessoa ao meio ambiente social e econômico. Recordai:
ainda que os impulsos herdados não podem ser modificados fundamentalmente, as
reações emocionais a tais impulsos podem ser mudadas; portanto a natureza moral
pode ser modificada, o caráter pode ser melhorado. Em um caráter forte, as
reações emocionais estão integradas e coordenadas, e assim é produzida uma
personalidade unificada. A deficiente unificação debilita a natureza moral e
engendra a infelicidade.
p1572:9 140:4.9 Sem uma meta que valha à pena,
a vida torna-se sem propósito e inútil, o que ocasiona muita infelicidade. O
discurso de Jesus na ordenação dos doze constitui uma filosofia magistral de
vida. Jesus exortou seus seguidores a exercitar uma fé experimental. Ele
advertiu-lhes a não depender do mero consentimento intelectual, da credulidade
ou da autoridade estabelecida.
p1573:1 140:4.10 A educação deveria ser
uma técnica para aprender (descobrir) os melhores métodos de satisfazer nossos
impulsos naturais e herdados, e a felicidade é o resultado final destas melhores
técnicas de satisfação emocional. A felicidade é um pouco dependente do meio
ambiente, embora a vizinhança agradável possa contribuir muito com ela.
p1573:2 140:4.11 Todo mortal deseja realmente ser uma pessoa completa,
ser perfeito como o Pai que está nos céus é perfeito, e tal conquista é possível
porque, em última análise o «universo é verdadeiramente paternal».
Amor Paternal e Amor Fraternal
p1573:3 140:5.1 Do Sermão da Montanha até o discurso da Última
Ceia, Jesus ensinou a seus discípulos a manifestar um amor paternal em lugar de
um amor fraternal. O amor fraternal consiste em amar ao próximo como a si mesmo,
o que seria uma aplicação adequada da «regra de ouro». Mas o afeto paternal
requer que ameis a vossos companheiros mortais como Jesus vos ama.
p1573:4 140:5.2 Jesus ama à humanidade com um duplo afeto. Viveu na
Terra com uma dupla personalidade -humana e divina. Como Filho de Deus, ele ama
o homem com um amor paternal -ele é o Criador do homem, seu Pai no universo.
Como Filho do Homem, Jesus ama os mortais como um irmão -foi realmente um homem
entre os homens.
p1573:5 140:5.3 Jesus não esperava que seus discípulos
alcançassem uma impossível manifestação de amor fraternal, mas esperava que eles
desse modo aspirassem ser como Deus - ser perfeitos como o Pai do céu é
perfeito- que eles poderiam começar a considerar o homem, tal como Deus
considera às suas criaturas, e assim poderiam começar a amar aos homens como
Deus os ama -para manifestar o princípio de um afeto paternal. Durante estas
exortações aos doze apóstolos, Jesus procurou revelar este novo conceito de amor
paternal, tal como está relacionado com certas atitudes emocionais envolvidas em
numerosas formas de ajustamentos sociais do meio ambiente.
p1573:6
140:5.4 O Mestre introduziu este importante discurso chamando a atenção para
quatro atitudes de fé, como prelúdio à subseqüente atuação de suas quatro
transcendentais e supremas reações de amor paternal, em contraste com as
limitações do simples amor fraternal.
p1573:7 140:5.5 Ele primeiro falou
dos que eram pobres de espírito, dos que tinham fome de retitude, dos que
permanecem na mansidão e dos que eram puros de coração. Esses mortais de
espírito perspicaz poderiam ser esperados por alcançar tais níveis de
generosidade divina tal como serem capazes de empreender o extraordinário
exercício do afeto paternal; que, inclusive como as carpideiras, eles estariam
autorizados a mostrar misericórdia, promover a paz e suportar as perseguições, e
durante todas estas situações de prova, amar até a desgraciosa humanidade com um
amor paternal. O afeto de um pai pode alcançar níveis de devoção que transcendem
imensamente um afeto de irmão.
p1573:8 140:5.6 A fé e o amor destas
beatitudes fortalecem o caráter moral e criam a felicidade. O medo e a raiva
debilitam o caráter e destroem a felicidade. Este importante sermão se iniciou
sob a melodia da felicidade.
p1573:9 140:5.71.«Bem-aventurados os pobres
de espírito -os humildes .» Para uma criança, a felicidade é a satisfação do
imediato desejo de prazer. O adulto está disposto a semear as sementes da
abnegação, a fim de colher as colheitas posteriores de crescente felicidade. Nos
tempos de Jesus e desde então, a felicidade freqüentemente tem sido altamente
associada com a idéia da posse de riquezas. Na história do fariseu e do
publicano orando no templo, um sentia-se rico de espírito -egoísta; o outro
sentia-se «pobre de espírito» -humilde. Um era auto-suficiente; o outro era
educável e buscador da verdade. Os pobres de espírito buscam metas de riqueza
espiritual -por Deus. E tais buscadores da verdade não têm que esperar por
recompensas num futuro distante; são recompensados agora. Eles encontram o reino
dos céus em seu próprio coração, e eles experimentam tal felicidade agora.
p1574:1 140:5.82.«Bem-aventurados os que têm fome e sede de retitude,
porque eles serão saciados .» Só aqueles que se sentem pobres de espírito
desejam sempre ter fome de retitude. Só os humildes buscam a força divina e
anelam o poder espiritual. Porém é muitíssimo perigoso empregar conscientemente
o jejum espiritual com a finalidade de aumentar nosso apetite por dons
espirituais. O jejum físico torna-se perigoso depois de quatro ou cinco dias; o
sujeito está propenso a perder todo desejo por comida. O jejum prolongado, tanto
físico como espiritual, tende a destruir a fome.
p1574:2 140:5.9A
retitude experimental é um prazer, não um dever. A retitude de Jesus é um amor
dinâmico -afeto paternal-fraternal. Não é uma retitude negativa ou do tipo não
farás. Como alguém poderia ter fome de algo negativo -alguma coisa «não fazer»?
p1574:3 140:5.10Não é tão fácil ensinar a uma mente infantil estas duas
primeiras beatitudes, mas a mente madura deveria captar seu significado.
p1574:4 140:5.113.«Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a
Terra .» A mansidão autêntica não tem relação com o medo. É principalmente uma
atitude do homem cooperando com Deus -«Será feito tua vontade.» Abrange a
paciência e a indulgência, e é motivada por uma fé inabalável num lícito e
amigável universo. Domina todas as tentações de rebelar-se contra o governo
divino. Jesus foi o homem manso ideal de Urantia, e herdou um vasto universo.
p1574:5 140:5.124.«Bem-aventurados os puros de coração, porque eles
verão a Deus .» A pureza espiritual não é uma qualidade negativa, exceto que
carece de suspeição e de vingança. Ao discutir a pureza, Jesus não pretendia
tratar exclusivamente das atitudes sexuais humanas. Ele se referia mais a fé,
que o homem deveria ter em seus companheiros; essa fé que os pais têm em seus
filhos, e que lhes permite amar a seus companheiros assim como um pai os amaria.
O amor de um pai não tem necessidade de mimar, e não perdoa o mal, mas sempre é
ante-cínico. O amor paternal tem simplicidade de propósito, e sempre busca o
melhor no homem; esta é a atitude de um verdadeiro pai.
p1574:6 140:5.13
Ver a Deus -pela fé- significa adquirir o verdadeiro discernimento espiritual. E
o discernimento espiritual intensifica a guia do Modelador, e estes no final
aumentam a consciência de Deus. E quando vós conheceis o Pai, vós estais
confirmados na promessa de vossa filiação divina, e vós podeis amar cada vez
mais a vossos irmãos na carne, não só como um irmão -com um amor fraternal- mas
também como um pai -com um afeto paternal.
p1574:7 140:5.14 É fácil
ensinar esta admoestação inclusive para uma criança. As crianças são
naturalmente confiantes, e os pais deveriam cuidar para que elas não percam esta
fé simples. Ao lidar com crianças, evitai toda decepção e privai-se de sugerir a
desconfiança. Ajudai-os sabiamente a escolher a seus heróis e a selecionar o
trabalho de sua vida.
p1574:8 140:5.15 E então Jesus continuou
instruindo a seus discípulos na realização do principal objetivo de todos os
esforços humanos -a perfeição- e inclusive a realização divina. Ele sempre os
admoestava: «Sede perfeitos como vosso Pai que está nos céus é perfeito.» Ele
não exortava aos doze a amar o próximo como eles se amavam a si mesmos. Isto
teria sido um feito valioso; teria indicado a realização do amor fraternal. Ele
admoestava especialmente seus apóstolos a amar aos homens como ele os havia
amado -com um amor paternal assim como um afeto fraternal. E ele ilustrou isto
indicando quatro reações supremas de amor paternal:
p1575:1
140:5.161.«Bem-aventurados os que estão de luto, porque eles serão consolados .»
O assim chamado senso comum ou a melhor lógica jamais sugeririam que a
felicidade pode ser derivada do luto. Mas Jesus não se referia ao luto externo
ou ostentoso. Ele aludia a uma atitude emotiva de sensibilidade. É um grande
erro ensinar aos meninos e aos jovens que é covardia mostrar ternura ou, de
outra forma, dar mostras de sentimentos emotivos ou de sofrimentos físicos. A
simpatia é um valioso atributo tanto no homem como na mulher. Não é necessário
ser insensível para ser varonil. Esta é a maneira equivocada de criar homens
corajosos. Os grandes homens deste mundo não foram medrosos de lamentar-se.
Moisés, o enlutado, foi um homem maior do que Sansão ou Golias. Moisés foi um
líder extraordinário, mas ele também era um homem de mansidão. Ser sensível e
compreensivo para com as necessidades humanas cria uma felicidade autêntica e
duradoura, enquanto essas agradáveis atitudes protegem a alma das influências
destrutivas da raiva, do ódio e da desconfiança.
p1575:2
140:5.172.«Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles conseguirão
misericórdia .» A misericórdia denota aqui a altura, a profundidade e a largura
da amizade mais sincera -a bondade. Às vezes, a misericórdia pode ser passiva,
mas aqui ela é ativa e dinâmica -a paternidade suprema. Um pai amoroso
experimenta poucas dificuldades para perdoar a seu filho, inclusive muitas
vezes. E numa criança não mimada, o impulso de aliviar o sofrimento é natural.
As crianças são normalmente bondosas e simpáticas quando têm a idade suficiente
para apreciar as situações reais.
p1575:3 140:5.183.«Bem-aventurados os
pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus .» Os ouvintes de Jesus
estavam desejosos por uma libertação militar, não por pacificadores. Mas a paz
de Jesus não é do tipo pacífica e negativa. Na presença de provas e de
perseguições, ele dizia: «Minha paz eu deixo convosco.» «Não deixai vossos
corações ficarem perturbados, nem amedrontados.» Esta é a paz que impede os
conflitos ruinosos. A paz pessoal integra a personalidade. A paz social impede o
medo, a cobiça e a cólera. A paz política impede os antagonismos raciais, as
desconfianças nacionais e a guerra. A pacificação é a cura da desconfiança e da
suspeita.
p1575:4 140:5.19As crianças podem ser facilmente ensinadas
para trabalhar como pacificadores. Elas se divertem nas atividades em equipe;
elas gostam de brincar juntas. O Mestre disse em outra ocasião: «Quem quiser
salvar sua vida a perderá, mas quem perder sua vida, a encontrará.»
p1575:5 140:5.204.«Bem-aventurados os perseguidos por causa da retitude,
porque deles é o reino do céu. Bem-aventurados quando os homens vos injuriem e
vos persigam, e digam toda classe de maldades contra vós. Regozijai-vos e ficai
sumamente satisfeitos, porque grande é vossa recompensa nos céus .»
p1575:6 140:5.21Assim, freqüentemente a perseguição segue à paz. Mas os
jovens e os adultos valentes nunca fogem das dificuldades ou do perigo. «Não
existe um amor maior que o de dar a vida por seus amigos.» E um amor paternal
pode fazer livremente todas estas coisas -coisas que o amor fraternal
dificilmente pode abranger. E o progresso sempre tem sido a colheita final da
perseguição.
p1575:7 140:5.22As crianças sempre respondem ao desafio da
coragem. A juventude sempre está disposta a «aceitar um desafio». E todas as
crianças deveriam aprender desde cedo a sacrificarem-se.
p1575:8
140:5.23 E assim pois, é revelado que as bem-aventuranças do Sermão da Montanha
estão baseadas na fé e no amor, e não na lei -na ética e no dever.
p1575:9 140:5.24 O amor paternal deleita-se em devolver o bem pelo mal
-em fazer o bem em retaliação à injustiça.
A Noite da Ordenação
p1576:1 140:6.1 Domingo à noite, ao alcançar à casa de Zebedeu
pela região montanhosa do norte de Cafarnaum, Jesus e os doze compartilharam de
um jantar simples. Mais tarde, enquanto Jesus saiu para um passeio ao longo da
praia, os doze conversaram entre eles. Depois de uma breve conversa, enquanto os
gêmeos construíam uma pequena fogueira para aquecê-los e ter mais luz, André
saiu a procurar Jesus, e quando ele o alcançou, ele disse: «Mestre, meus irmãos
são incapazes de compreender o que tu tens dito sobre o reino. Não nos sentimos
em condições de começar este trabalho até que tu nos tenhas dado ensinamentos
adicionais. Eu tive que vir pedir-lhe para nos reunir no jardim e ajudar-nos a
compreender o significado de tuas palavras.» E Jesus foi com André para se
reunir com os apóstolos.
p1576:2 140:6.2 Quando ele entrou no jardim,
ele reuniu os apóstolos a seu redor e os ensinou mais um pouco, dizendo: «Vós
achais difícil receber minha mensagem porque quiséreis edificar o novo
ensinamento diretamente sobre o antigo, mas eu vos afirmo que vós deveis
renascer. Vós deveis começar de novo como crianças pequenas e estar dispostos a
confiar em meu ensinamento e a crer em Deus. O novo evangelho do reino não pode
ser adaptado a esse que existe. Vós tendes idéias equivocadas sobre o Filho do
Homem e sua missão na Terra. Mas não cometais o erro de pensar que eu vim para
desprezar a lei e os profetas; eu não vim para destruir, mas para completar,
ampliar e esclarecer. Eu não vim transgredir a lei, mas principalmente para
escrever estes novos mandamentos nas tábuas de vossos corações.
p1576:3
140:6.3 «Eu exijo de vós uma retitude que excederá a retitude daqueles que
tentam obter o favor do Pai com a esmola, a oração e o jejum. Se vós quiserdes
entrar no reino, vós deveis ter uma retitude que consiste no amor, na
misericórdia e na verdade -o desejo sincero de fazer a vontade de meu Pai que
está nos céus.»
p1576:4 140:6.4 Então, Simão Pedro disse: «Mestre, se tu
tens um novo mandamento, nós queríamos ouvi-lo. Revele o novo caminho para nós.»
Jesus respondeu a Pedro: «Vós ouvíreis o que disse os que ensinam a lei: `Não
matarás; que quem matar estará sujeito ao julgamento'. Mas eu olho mais além do
ato para descobrir o motivo. Eu vos declaro que todo aquele que está zangado com
seu irmão está sob o perigo da condenação. O que nutre ódio em seu coração e
planeja a vingança em sua mente, permanece no risco do julgamento. Vós deveis
julgar a seus companheiros por seus atos; o Pai que está nos céus julga pela
intenção.
p1576:5 140:6.5 «Vós tendes ouvido os mestres da lei dizer:
`Não cometerás adultério'. Mas eu vos digo que todo homem que olha uma mulher
com intenção de cobiça, já cometeu adultério com ela em seu coração. Vós apenas
podeis julgar aos homens por seus atos, mas meu Pai olha dentro do coração de
seus filhos e os julga com misericórdia de acordo com suas intenções e desejos
reais.»
p1576:6 140:6.6 Jesus estava disposto a continuar discutindo os
outros mandamentos, quando Tiago Zebedeu lhe interrompeu para perguntar:
«Mestre, o que iremos ensinar ao povo sobre o divórcio? Nós permitiremos que um
homem se divorcie de sua mulher como Moisés ordenou?» E quando Jesus escutou
esta pergunta, ele disse: «Eu não vim para legislar, mas para esclarecer. Não
vim para reformar os reinos deste mundo, mas sim para estabelecer o reino dos
céus. Não é vontade do Pai que eu deva ceder à tentação de vos ensinar regras de
governo, de comércio ou de conduta social, que, emboras eles possam ser bons por
hoje, estariam longe de ser apropriados para a sociedade de outra época. Eu
estou na Terra unicamente para confortar as mentes, libertar os espíritos e
salvar a alma dos homens. Mas eu direi, concernente a esta questão do divórcio,
que, embora Moisés considerasse favoravelmente sob tais coisas, não era assim
nos dias de Adão nem no Jardim.»
p1577:1 140:6.7 Depois que os apóstolos
conversaram entre si por uns poucos momentos, Jesus continuou a dizer: «Sempre
vós deveis reconhecer os dois pontos de vista de toda conduta dos mortais -o
humano e o divino; os caminhos da carne e a via do espírito; a avaliação do
tempo e o ponto de vista da eternidade.» E ainda que os doze não podiam
compreender tudo o que ele lhes ensinava, eles ficaram realmente amparados por
esta instrução.
p1577:2 140:6.8 E então Jesus disse: «Mas vós
tropeçareis sobre meus ensinamentos porque estais acostumados a interpretar
minha mensagem literalmente; vós sois lentos em discernir o espírito de meu
ensinamento. De novo deveis lembrar que sois meus mensageiros; vós estais
comprometidos a viver vossas vidas como eu tenho vivido a minha em espírito. Vós
sois meus representantes pessoais; mas não cometais o erro de esperar que todos
os homens vivam como vós em todos os detalhes. Vós deveis também recordar que eu
tenho ovelhas que não são deste rebanho, e que eu também estou comprometido com
elas, portanto eu devo prover para elas o modelo de fazer a vontade de Deus,
enquanto viver a vida da natureza mortal.»
p1577:3 140:6.9 Então
Natanael perguntou: «Mestre, nós não temos que dar lugar à justiça? A lei de
Moisés diz: `olho por olho e dente por dente'. O que nós iremos dizer?» E Jesus
respondeu: «Vós devolvereis o bem pelo mal. Meus mensageiros não devem rivalizar
com os homens, mas ser gentis para com todos. Confrontar por confrontar não será
vossa regra. Os governantes dos homens podem ter tais leis, mas não é assim no
reino; a misericórdia sempre determinará vosso juízo, e o amor, vossa conduta. E
se estas são afirmações duras, vós podeis mesmo agora, voltar atrás. Se vós
achais os requisitos do apostolado duros demais, podeis retornar ao caminho
menos rigoroso do discipulado.»
p1577:4 140:6.10 Ao escutar estas
impressionantes palavras, os apóstolos se apartaram por um momento, mas eles
voltaram logo, e Pedro disse: «Mestre, nós queremos continuar contigo; nenhum de
nós quer voltar atrás. Nós estamos completamente preparados para pagar o preço
extra; nós beberemos o cálice. Nós queremos ser apóstolos, não simplesmente
discípulos.»
p1577:5 140:6.11 Quando Jesus escutou isto, ele disse:
«Estai dispostos então, a assumir vossas responsabilidades e a seguir-me. Fazei
vossas boas ações em segredo; quando derdes uma esmola, não deixai que a mão
esquerda saiba o que faz a mão direita. E quando vós orardes, ide à parte
sozinhos e não useis vãs repetições e frases sem sentido. Sempre recordai que o
Pai sabe o que vós necessitais, inclusive antes que vós O peçais. E não sejais
dados a jejuar com um semblante triste para serdes vistos pelos homens. Como
meus apóstolos escolhidos, agora reservados para o serviço do reino, não
acumuleis seus próprios tesouros na Terra, mas por vossos serviços altruístas,
acumulai seus próprios tesouros no céu, porque onde estão vossos tesouros,
também estará vosso coração.
p1577:6 140:6.12 «A lâmpada do corpo é o
olho; se, portanto, vosso olho é generoso, todo vosso corpo estará repleto de
luz. Mas se vosso olho é egoísta, todo vosso corpo estará recheado de trevas. Se
a levíssima luz que está em vós é dirigida para as trevas, quão profundas são
essas trevas!»
p1577:7 140:6.13 E então Tomé perguntou a Jesus se eles
deviam «continuar tendo tudo em comum.» Disse o Mestre: «Sim, meus irmãos, eu
queria que nós pudéssemos viver juntos como uma família compreensiva. Vós estais
encarregados com uma grande obra, e eu desejo vosso serviço indiviso. Vós sabeis
que se tem dito muito bem: `Nenhum homem pode servir a dois senhores'. Vós não
podeis adorar sinceramente a Deus, e ao mesmo tempo servir ao dinheiro de todo o
coração. Tendo agora se alistado incondicionalmente no trabalho do reino, não
fiqueis impacientes por vossas vidas; muito menos fiqueis preocupados com o que
ireis comer ou beber; nem mesmo com vossos corpos, que roupas ireis vestir. Vós
já aprendêreis que mãos dispostas e corações sinceros não passarão fome. E
agora, quando vós se preparais para dedicar todas vossas energias ao trabalho do
reino, estai seguros de que o Pai não se esquecerá de vossas necessidades.
Buscai primeiro o reino de Deus, e quando vós tiverdes encontrado a entrada
desse reino, todas as coisas necessárias vos serão acrescentadas. Não ficai,
portanto, desnecessariamente preocupados pelo dia de amanhã. Suficiente para o
dia é a sua preocupação.»
p1578:1 140:6.14 Quando Jesus viu que eles
estavam dispostos a permanecer acordados toda a noite para fazer perguntas, ele
lhes disse: «Meus irmãos, vós sois vasilhas de barro; é melhor para vós que
vades descansar para que estejais dispostos para o trabalho de amanhã.» Mas o
sono tinha ido embora dos olhos deles. Pedro se atreveu a pedir a seu Mestre que
«eu tenha apenas uma breve conversa privada contigo. Não é que eu queira ter
segredos de meus irmãos, mas eu tenho um distúrbio espiritual, e se, por acaso,
eu deva merecer uma reprimenda de meu Mestre, eu poderia suportá-la melhor à sós
contigo.» E Jesus disse: «Vem comigo, Pedro» -indicando o caminho para dentro da
casa. Quando Pedro retornou do encontro com seu Mestre, muito animado e bastante
encorajado, Tiago decidiu entrar para falar com Jesus. E assim sucessivamente,
até as primeiras horas da manhã, os demais apóstolos entraram de um em um para
conversar com o Mestre. Quando todos eles tiveram reuniões pessoais com ele,
salvo os gêmeos, que caíram no sono, André entrou para ver Jesus e disse:
«Mestre, os gêmeos caíram no sono perto da fogueira no jardim; eu devo
acordá-los para perguntar-lhes se eles querem falar também contigo?» E com um
sorriso, Jesus disse a André: «Eles fazem bem -não os molestes.» E então a noite
foi passando; a luz de um outro dia estava amanhecendo.
A Semana Depois da Ordenação
p1578:2 140:7.1 Depois de umas poucas horas de sono, quando os
doze estavam reunidos para um tardio café da manhã com Jesus, ele disse: «Agora
vós deveis começar vosso trabalho de predicação da boa nova e de instrução dos
crentes. Aprontem-se para ir a Jerusalém.» Depois que Jesus falou, Tomé reuniu
coragem para dizer: «Eu sei, Mestre, que nós deveríamos estar preparados para
ingressar no trabalho, mas eu temo que nós ainda não estamos aptos para executar
esta grande tarefa. Tu consentirias, para nós ficarmos por aqui apenas mais uns
poucos dias, antes de nós começarmos o trabalho do reino?» E quando Jesus viu
que todos os seus apóstolos estavam dominados pelo mesmo medo, ele disse: «Será
como pedíreis; nós permaneceremos aqui até depois do sábado.»
p1578:3
140:7.2 Por semanas e semanas, pequenos grupos de ardentes buscadores da
verdade, junto com espectadores curiosos, vieram a Betsáida para ver Jesus. As
notícias sobre ele já haviam se difundido por toda a região; os grupos de
investigadores vieram de cidades tão distantes como Tiro, Sidon, Damasco,
Cesaréia e Jerusalém. Até esse momento, Jesus recebia essas pessoas e lhes
ensinavam sobre o reino, mas o Mestre deixava agora este trabalho para os doze.
André escolheria um dos apóstolos e lhe designaria um grupo de visitantes, e às
vezes todos os doze ficavam ocupados.
p1578:4 140:7.3 Eles trabalharam
por dois dias, ensinando de dia e mantendo reuniões privadas até tarde da noite.
No terceiro dia, Jesus conversou com Zebedeu e Salomé enquanto enviou seus
apóstolos afora para «ide pescar, procurai mudanças despreocupadas, ou visitai
talvez a vossas famílias.» Na quinta-feira eles regressaram para mais três dias
de ensinamento.
p1578:5 140:7.4 Durante esta semana de treinamento,
Jesus repetiu muitas vezes a seus apóstolos os dois grandes motivos de sua
missão pós-batismal na Terra :
p1578:61.Revelar o Pai aos homens.
p1578:72. Conduzir os homens a tornarem-se conscientes de sua filiação
-à fé-entendimento que eles são os filhos do Altíssimo.
p1579:1 140:7.5
Uma semana com estas variadas experiências, fizeram muito bem aos doze; alguns
inclusive tornaram-se mais auto-confiantes. Na última reunião, a noite depois do
sábado, Pedro e Tiago vieram até Jesus, dizendo: «Nós estamos prontos --vamos
sair agora para conquistar o reino.» Ao qual Jesus replicou: «Talvez vossa
sabedoria se iguale a vosso entusiasmo e vossa valentia compense vossa
ignorância.»
p1579:2 140:7.6 Ainda que os apóstolos fracassaram em
compreender muitos de seus ensinamentos, eles não fracassaram em captar o
significado da encantadoramente bela vida que ele viveu com eles.
Quinta-Feira à Tarde no Lago
p1579:3 140:8.1 Jesus sabia muito bem que seus apóstolos não
estavam assimilando completamente seus ensinamentos. Ele decidiu dar algumas
instruções especiais a Pedro, Tiago e João, esperando que eles fossem capazes de
esclarecer os pensamentos de seus companheiros. Ele via que, enquanto alguns
aspectos da idéia de um reino espiritual estavam sendo captadas pelos doze, eles
persistiam firmemente em relacionar diretamente estes novos ensinamentos
espirituais com seus antigos e entrincheirados conceitos literais do reino dos
céus como uma restauração do trono de Davi e o restabelecimento de Israel como
potência temporal na Terra. Consequentemente, na quinta-feira pela tarde, Jesus
saiu da praia em um barco com Pedro, Tiago e João, para lhes falar dos assuntos
do reino. Aquela foi uma conversa educativa de quatro horas, abrangendo grande
quantidade de perguntas e respostas, e pode ser incluído mais proveitosamente
neste relato, tal como foi dado por Simão Pedro a seu irmão André na manhã
seguinte ao reorganizar o resumo de esta importante tarde:
p1579:4
140:8.21.Fazer a vontade do Pai. O ensinamento de Jesus sobre confiar nos
cuidados do Pai celestial não era um fatalismo cego e passivo. Ele lembrou em
confirmação, naquela tarde, um antigo provérbio judeu: «O que não trabalha não
comerá.» Ele apontou a sua própria experiência como exemplificação suficiente de
seus ensinamentos. Seus preceitos sobre a confiança no Pai não devem ser
julgados pelas condições sociais ou econômicas dos tempos modernos ou de
qualquer outra época. Sua instrução abrange os princípios ideais de viver
próximo a Deus, em todas as épocas e em todos os mundos.
p1579:5
140:8.3Jesus esclareceu aos três a diferença entre as exigências do apostolado e
do discipulado. E ainda assim não proibiu aos doze o exercício da prudência e da
previsão. O que ele pregava, não era contra a premeditação mas a ansiedade, a
preocupação. Ele ensinava a ativa e alerta submissão à vontade de Deus. Em
resposta às numerosas perguntas sobre a frugalidade e a economia, ele
simplesmente chamava atenção sobre sua vida de carpinteiro, de fabricante de
barcos e de pescador, e sobre sua cuidadosa organização dos doze. Ele procurou
esclarecer que o mundo não é considerado como um inimigo; que as circunstâncias
da vida constituem uma divina revelação trabalhando junto com os filhos de Deus.
p1579:6 140:8.4Jesus teve grandes dificuldades em fazê-los entender sua
prática pessoal da não resistência. Ele negava absolutamente a se defender, e
isto parecia evidente aos apóstolos que ele ficaria satisfeito se eles seguissem
a mesma política. Ele ensinou-lhes a não resistir ao mal, a não combater as
injustiças ou as injúrias, mas ele não ensinou a tolerância passiva das más
ações. E ele explicou àquela tarde que ele aprovava o castigo social para os
malfeitores e os criminosos, e que o governo civil deve às vezes empregar a
força para manutenção da ordem social e na aplicação da justiça.
p1579:7
140:8.5Ele nunca cessou em prevenir a seus discípulos contra a prática
perniciosa das represálias; ele não fazia concessão à vingança, à intenção de
vingar-se. Ele deplorava que se guardasse rancor. Ele rejeitava a idéia de olho
por olho e dente por dente. Ele discordava de todo o conceito de vingança
particular e pessoal, deixando estas questões ao governo civil, por um lado, e
ao juízo de Deus, pelo outro. Ele esclareceu aos três que seus ensinamentos se
aplicavam ao indivíduo, e não ao estado. E resumiu suas instruções até aquele
momento, observando esses assuntos, como:
p1580:1 140:8.6Amai vossos
inimigos -recordai as declarações morais da fraternidade humana.
p1580:2
140:8.7A futilidade do mal: um erro não é corrigido com a vingança. Não cometais
o erro de combater o mal com suas próprias armas.
p1580:3 140:8.8Tendes
fé -a confiança no triunfo final da justiça divina e da bondade eterna.
p1580:4 140:8.92.Atitude política. Ele advertiu seus apóstolos que
fossem discretos em seus comentários sobre as tensas relações então existentes
entre o povo judeu e o governo romano; ele lhes proibiu a que se tornassem
envolvidos de alguma forma nestes problemas. Ele sempre era cauteloso em evitar
as armadilhas políticas de seus inimigos, respondendo sempre, «Dai a César o que
é de César, e a Deus o que é de Deus.» Ele se negava a ter sua atenção desviada
de sua missão de estabelecer um novo caminho de salvação; ele não se permitia
ficar preocupado com outra coisa. Em sua vida pessoal, ele sempre foi um
observador pontual de todas as leis e regulamentos civis; em todos os seus
ensinamentos públicos, ele ignorava as esferas do civil, social e econômica. Ele
disse aos três apóstolos que só estava preocupado com os princípios da vida
espiritual interior e pessoal do homem.
p1580:5 140:8.10Jesus não era,
pois, um reformador político. Ele não veio para reorganizar o mundo; mesmo se
tivesse feito isso, só seria aplicável àquela época e geração. Entretanto, ele
mostrou ao homem o melhor caminho de vida, e nenhuma geração está isenta da
tarefa de descobrir como melhor adaptar a vida de Jesus a seus próprios
problemas. Mas nunca cometais o erro de identificar os ensinamentos de Jesus com
alguma teoria política ou econômica, com algum sistema social ou industrial.
p1580:6 140:8.113.Atitude social. Os rabinos judeus debateram a questão
durante muito tempo: Quem é meu próximo? Jesus veio apresentar a idéia de uma
ativa e espontânea bondade, um amor tão genuíno pelos semelhantes, que expandia
a vizinhança para incluir o mundo inteiro, fazendo desse modo próximos a todos
os homens. Mas apesar de tudo isto, Jesus estava interessado unicamente no
indivíduo, não pela massa. Jesus não era um sociólogo, mas ele trabalhou para
destruir todas as formas de isolamento egoísta. Ele ensinava a simpatia pura, a
compaixão. Miguel de Nebadon é um Filho dominado pela misericórdia; a compaixão
é sua verdadeira natureza.
p1580:7 140:8.12O Mestre não disse que os
homens nunca deviam recepcionar seus amigos para uma refeição, mas ele disse que
seus discípulos deveriam organizar banquetes para os pobres e os desafortunados.
Jesus tinha um sólido senso de justiça, mas sempre era moderada com
misericórdia. Ele não ensinou seus apóstolos a que fossem coagidos pelos
parasitas sociais ou pelos caça-esmolas profissionais. O mais perto que ele
chegou a fazer de um pronunciamento sociológico, foi ao dizer, «Não julgueis,
para que não sejais julgados.»
p1580:8 140:8.13Ele esclareceu que a
bondade indiscriminada pode ser culpada por muitos males sociais. No dia
seguinte, Jesus instruiu definitivamente a Judas que nenhum fundo apostólico
seria distribuído como esmolas, exceto a seu pedido ou sob o pedido conjunto de
dois dos apóstolos. Em todos estes assuntos, era prática de Jesus sempre dizer,
«Sede tão prudentes como as serpentes, mas tão inofensivos como as pombas.»
Parecia ser seu propósito em todas as situações sociais, ensinar a paciência, a
tolerância e o perdão.
p1581:1 140:8.14A família ocupava o centro da
filosofia da vida -aqui e no mundo vindouro. Ele baseava seus ensinamentos de
Deus sob a família, enquanto procurava corrigir a tendência dos judeus de
superestimar os ancestrais. Ele exaltava a vida familiar como a mais alta
responsabilidade humana, mas explicava que os relacionamentos familiares não
devem interferir com as obrigações religiosas. Ele chamava atenção para o fato
de que a família é uma instituição temporal; que não sobrevive à morte. Jesus
não hesitou em abandonar à sua família, quando a família ficou contra à vontade
do Pai. Ele ensinou a nova e mais ampla fraternidade dos homens -os filhos de
Deus. Na época de Jesus, os costumes do divórcio eram indulgentes na Palestina e
em todo o império romano. Ele recusou-se repetidas vezes em estabelecer leis
sobre o matrimônio e o divórcio, mas muitos dos primeiros seguidores de Jesus
tinham opiniões firmes sobre o divórcio, e não hesitavam em atribuí-las a ele.
Todos os escritores do Novo Testamento, mantiveram àquelas idéias mais severas e
avançadas sobre o divórcio, exceto João Marcos.
p1581:2
140:8.154.Atitude econômica. Jesus trabalhou, viveu e negociou no mundo tal como
ele o encontrou. Ele não era um reformador econômico, ainda que chamava
freqüentemente a atenção sobre a injustiça da distribuição desigual da riqueza.
Mas ele não ofereceu nenhuma sugestão como forma de remédio. Ele explicou aos
três que, apesar de seus apóstolos não deverem ser possuidores de propriedades,
ele não estava pregando contra a riqueza e a propriedade, simplesmente contra
sua distribuição desigual e injusta. Ele reconhecia a necessidade por justiça
social e da equidade industrial, mas ele não ofereceu nenhuma regra para
alcançá-las.
p1581:3 140:8.16Ele nunca ensinou seus discípulos a evitar
as possessões terrenais, só a seus doze apóstolos. Lucas, o médico, era um firme
crente na igualdade social, e ele fez muito para interpretar as palavras de
Jesus em consonância com suas crenças pessoais. Jesus nunca ordenou pessoalmente
a seus seguidores a adotarem um modo de vida comunal; ele não fez nenhum
pronunciamento de qualquer tipo sobre essas questões.
p1581:4
140:8.17Jesus alertava freqüentemente seus ouvintes contra a cobiça, declarando
que «a felicidade de um homem não consiste na abundância de suas possessões
materiais.» Ele reiterava constantemente: «O que lucrará um homem se ele ganha o
mundo inteiro e perde sua própria alma?» Ele não fez ataques diretos contra a
posse de propriedades, mas ele insistiu que é eternamente essencial que o valor
espiritual venha primeiro. Em seus ensinamentos posteriores ele procurou
corrigir muitas incorretas visões urantianas sobre a vida, ao narrar numerosas
parábolas que ele apresentou no decurso de seu ministério público. Jesus nunca
tentou formular teorias econômicas; ele sabia muito bem que cada época deve
desenvolver seus próprios remédios para os problemas existentes. E se Jesus
estivesse hoje na Terra, vivendo sua vida na carne, ele seria uma grande
decepção à maioria dos homens e mulheres de bem, pela simples razão de que ele
não tomaria partido nas disputas políticas, sociais ou econômicos de hoje em
dia. Ele permaneceria grandiosamente à margem, enquanto que vos ensinaria como
aperfeiçoar vossa vida espiritual interior, de modo a fazer-lhes muito mais
competentes para atacar a solução de vossos problemas puramente humanos.
p1581:5 140:8.18Jesus queria tornar a todos os homens divinos e portanto
ficar atento simpaticamente enquanto estes filhos de Deus resolvem seus próprios
problemas políticos, sociais e econômicos. Não era a riqueza o que ele
denunciava, mas o que a riqueza faz à maioria de seus devotos. Nesta
quinta-feira pela tarde, Jesus disse pela primeira vez a seus discípulos que «é
mais abençoado dar do que receber.»
p1581:6 140:8.195.Religião pessoal.
Vós, assim como fizeram seus apóstolos, deveríeis entender melhor os
ensinamentos de Jesus através de sua vida. Ele viveu uma vida perfeita em
Urantia, e seus exclusivos ensinamentos só podem ser compreendido quando esta
vida é visualizada, em seu imediato pano de fundo. É a sua vida, e não suas
lições aos doze ou seus sermões às multidões, o que mais ajudará a revelar o
caráter divino e a personalidade amante do Pai.
p1582:1 140:8.20Jesus
não atacou os ensinamentos dos profetas hebreus ou dos moralistas gregos. O
Mestre reconhecia as numerosas coisas boas que estes grandes pensadores
defendiam, mas ele havia vindo à Terra para ensinar algo adicional, «a
conformidade voluntária da vontade do homem à vontade de Deus». Jesus não queria
simplesmente produzir um homem religioso, um mortal inteiramente ocupado com os
sentimentos religiosos e ativados unicamente por impulsos espirituais. Vós
poderíeis ter dado apenas uma olhada sobre ele, e vós saberíeis que Jesus era
realmente um homem de grande experiência nas coisas deste mundo. Os ensinamentos
de Jesus a este respeito foram grosseiramente pervertidos e muito deturpados
através dos séculos da era cristã; vós tendes tido também, idéias distorcidas
sobre a mansidão e a humildade do Mestre. O que ele objetivava em sua vida
mostrou ter sido um magnífico respeito próprio. Ele só aconselhava ao homem a se
humilhar para que pudesse ser verdadeiramente exaltado; o que realmente ele
pretendia era uma humildade verdadeira voltada para Deus. Ele dava um grande
valor à sinceridade -ao coração puro. A fidelidade era uma virtude cardinal em
sua avaliação de caráter, enquanto que a coragem era o coração de seus
ensinamentos. «Não temais» era seu lema, e a paciente tolerância era seu ideal
de força de caráter. Os ensinamentos de Jesus constituem uma religião de valor,
de coragem e de heroísmo. E isto é justamente o porquê ele escolheu como seus
representantes pessoais, doze homens comuns, que eram na maioria rudes, viris e
pescadores másculos.
p1582:2 140:8.21Jesus tinha pouco a dizer sobre os
vícios sociais de sua época; raramente ele fez referências à delinqüência moral.
Ele era um educador positivo da verdadeira virtude. Ele evitava intencionalmente
o método negativo de transmitir o ensinamento; ele recusava anunciar o mal. Ele
não era sequer um reformador moral. Ele sabia muito bem, e assim ensinou a seus
apóstolos, que os impulsos sensuais da humanidade não são reprimidos nem por
repreensões religiosas nem pelas proibições legais. Suas poucas denúncias eram
largamente dirigidas contra o orgulho, a crueldade, a opressão e a hipocrisia.
p1582:3 140:8.22Jesus não denunciava veementemente nem mesmo aos
fariseus, como João fazia. Ele sabia que muitos dos escribas e fariseus eram de
coração honesto; ele compreendia seus cativeiros escravizantes das tradições
religiosas. Jesus colocava grande ênfase em «primeiro tornar boa a árvore». Ele
enfatizou aos três, que ele valorizava a vida em sua totalidade, e não apenas
certas pequenas virtudes especiais.
p1582:4 140:8.23 A única coisa que
João adquiriu deste dia de ensinamento foi que o principal da religião de Jesus
consistia na aquisição de um caráter compassivo, acoplado com uma personalidade
motivada para fazer a vontade do Pai que está nos céus.
p1582:5 140:8.24
Pedro captou a idéia de que o evangelho que eles estavam prestes a proclamar,
era realmente um novo começo para toda raça humana. Ele transmitiu
subseqüentemente esta impressão a Paulo, que formulou a partir daí sua doutrina
de Cristo como «o segundo Adão».
p1582:6 140:8.25 Tiago captou a
emocionante verdade de que Jesus desejava que seus filhos da Terra vivessem como
se eles já fossem cidadãos do reino celestial perfeito.
p1582:7 140:8.26
Jesus sabia que os homens eram diferentes, e assim ele ensinou a seus apóstolos.
Ele constantemente os exortava a abster-se de tentar moldar os discípulos e os
crentes, de acordo com algum modelo predeterminado. Ele procurava deixar cada
alma se desenvolver a seu próprio modo, um indivíduo distinto e em
aperfeiçoamento ante Deus. Em resposta à uma das numerosas perguntas de Pedro, o
Mestre disse: «Eu quero libertar os homens de forma que eles possam recomeçar
como crianças pequenas em uma vida nova e melhor.» Jesus insistia sempre que a
verdadeira bondade deve ser inconsciente, em fazer caridade não deixando que a
mão esquerda saiba que faz a mão direita.
p1583:1 140:8.27 Os três
apóstolos ficaram chocados esta tarde quando perceberam que a religião de seu
Mestre não fazia provisão do auto-exame espiritual. Todas as religiões, antes e
depois dos tempos de Jesus, inclusive o cristianismo, previnem-se cuidadosamente
para um auto-exame consciencioso. Mas não é assim com a religião de Jesus de
Nazaré. A filosofia de vida de Jesus é sem introspecção religiosa. O filho do
carpinteiro nunca ensinou a formação do caráter; ele ensinou o crescimento do
caráter, declarando que o reino dos céus é como um grão de mostarda. Mas Jesus
não disse nada que proibisse a auto-análise como uma prevenção do egoísmo
presunçoso.
p1583:2 140:8.28 O direito para entrar no reino é
condicionado pela fé, pela crença pessoal. O custo de permanecer na ascensão
progressiva do reino é a pérola de grande valor, e a fim de possuí-la que um
homem vende tudo o que tem.
p1583:3 140:8.29 O ensinamento de Jesus é
uma religião para todos, não somente para os débeis e escravos. Sua religião
nunca tornou-se cristalizada (em sua época) em credos e em leis teológicas; ele
não deixou nem uma linha escrita em seu rastro. Sua vida e seus ensinamentos
foram legadas ao universo como uma herança inspiradora e idealista, adequada
para a orientação espiritual e a instrução moral de todas as épocas em todos os
mundos. E inclusive hoje, os ensinamentos de Jesus mantém-se à parte de todas as
religiões, como tais, embora sejam a esperança viva de cada uma delas.
p1583:4 140:8.30 Jesus não ensinou a seus apóstolos que a religião é a
única ocupação terrestre do homem; esta era a idéia dos judeus de servir a Deus.
Mas ele insistia que a religião era o assunto exclusivo dos doze. Jesus não
ensinou nada para dissuadir seus crentes da busca de uma genuína cultura; ele só
detratava às escolas religiosas de Jerusalém, atadas à tradição. Ele era
liberal, generoso, sábio e tolerante. A piedade autoconsciente não tinha lugar
em sua filosofia de vida correta.
p1583:5 140:8.31 O Mestre não ofereceu
soluções para os problemas não religiosos de sua própria época, nem para nenhuma
época subsequente. Jesus desejava desenvolver a percepção espiritual das
realidades eternas e para estimular a iniciativa na originalidade da maneira de
viver; ele preocupou-se exclusivamente com as subjacentes e permanentes
necessidades espirituais da raça humana. Ele revelou uma bondade igual à de
Deus. Ele exaltou o amor -a verdade, a beleza e a bondade- como o ideal divino e
a realidade eterna.
p1583:6 140:8.32 O Mestre veio para criar um novo
espírito no homem, uma nova vontade -para transmitir uma nova capacidade para
conhecer a verdade, experimentar a compaixão e escolher a bondade- a vontade de
estar em harmonia com a vontade de Deus, unida ao impulso eterno de tornar-se
perfeito, assim como o Pai que está nos céus é perfeito.
O Dia da Consagração
p1583:7 140:9.1 Jesus dedicou o sábado seguinte a seus
apóstolos, regressando às terras altas onde ele os havia ordenado; e ali, depois
de uma longa, bela e emocionante mensagem pessoal de estímulo, ele engajou-se no
solene ato da consagração dos doze. Aquele sábado à tarde, Jesus reuniu aos
apóstolos a seu redor, na ladeira da colina, e lhes impôs as mãos de seu Pai
celestial em preparação para o dia em que seria obrigado a deixá-los sós no
mundo. Não houve nenhum ensinamento novo nesta ocasião, apenas conversa e
comunhão.
p1584:1 140:9.2 Jesus examinou muitos aspectos do sermão de
ordenação, pronunciado neste mesmo lugar; e então, chamando-os diante dele um a
um, encarregou-lhes a sair ao mundo como seus representantes. A incumbência de
consagração do Mestre foi: «Ide por todo o mundo e predicai a boa nova do reino.
Libertai aos cativos espirituais, confortai aos oprimidos e ajudai aos
afligidos. Livremente vós recebestes, livremente dai.»
p1584:2 140:9.3
Jesus lhes aconselhou a não levar dinheiro nem roupas extra, dizendo: «O
operário é merecedor de seu salário.» E no final ele disse: «Observai, eu vos
envio como ovelhas no meio dos lobos; sede pois tão prudentes como as serpentes
e tão inofensivos como as pombas. Mas tomai cuidado, porque vossos inimigos vos
levarão ante seus conselhos, enquanto nas sinagogas eles vos castigarão. Vós
sereis levados diante dos governadores e imperadores, porque credes neste
evangelho, e seus testemunhos deverão ser minha testemunha a eles. E quando eles
vos conduzirem ao julgamento, não fiqueis ansiosos sobre o que vós direis,
porque o espírito de meu Pai habita em vós e nesses momentos falará por vós.
Alguns de vós sereis executados, e antes que estabeleçais o reino na Terra, vós
sereis odiados por muitos povos por causa deste evangelho; mas não temais, eu
estarei convosco, e meu espírito irá diante de vós pelo mundo inteiro. E a
presença de meu Pai permanecerá convosco enquanto eu vou primeiro aos judeus, e
depois para os gentios.»
p1584:3 140:9.4 E quando eles desceram da
montanha, eles regressaram a seu lar na casa de Zebedeu.
A Noite Depois da Consagração
p1584:4 140:10.1 Aquela noite enquanto ensinava em casa, porque
havia começado a chover, Jesus conversou minuciosamente, tentando mostrar aos
doze o que eles deviam ser, e não o que eles deviam fazer. Eles só conheciam uma
religião que impunha o fazer certas coisas como meio de alcançar a retitude -a
salvação. Mas Jesus reiterava, «No reino, vós deveis ser retos para fazer o
trabalho.» Muitas vezes ele repetiu, «Sede pois perfeitos, assim como vosso Pai
que está nos céus é perfeito.» Todo o tempo o Mestre estava explicando a seus
confusos apóstolos, que a salvação na qual ele veio trazer ao mundo, devia ser
conquistada somente pela fé, pela simples e sincera fé. Jesus disse: «João
predicou um batismo de arrependimento, de pesar pela antiga maneira de viver.
Vós proclamareis o batismo da parceria com Deus. Predicai o arrependimento
àqueles que têm a necessidade de tal ensinamento, mas àqueles que já buscam
entrar sinceramente no reino, escancarai-lhes as portas e convidai-os a entrar
na jubilosa irmandade dos filhos de Deus.» Mas era uma tarefa difícil a de
persuadir estes pescadores galileus que, no reino, sendo justo, pela fé, deve-se
primeiro mostrar retitude na vida diária dos mortais da Terra.
p1584:5
140:10.2 Outro grande obstáculo neste trabalho de ensinar aos doze era sua
tendência a aceitar os princípios altamente idealistas e espirituais da verdade
religiosa, e transformá-los em regras concretas de conduta pessoal. Jesus queria
apresentá-los o belo espírito da atitude da alma, mas eles insistiam em traduzir
tais ensinamentos em regras de comportamento pessoal. Muitas vezes, quando eles
tinham certeza de lembrar o que o Mestre disse, eles ficavam quase certos em
esquecer o que ele não disse. Mas eles assimilaram lentamente seu ensinamento,
porque Jesus era tudo o que ele ensinava. O que eles não podiam obter com suas
instruções verbais, ele adquiriram gradualmente por viver com ele.
p1585:1 140:10.3 Não era evidente aos apóstolos que seu Mestre estivesse
ocupado em viver uma vida de inspiração espiritual para todas as pessoas de
todas as épocas, em todos os mundos de um vasto universo. No entanto, o que
Jesus lhes dizia de vez em quando, os apóstolos não captavam a idéia que ele
estava efetuando um trabalho neste mundo, mas para todos os outros mundos de sua
imensa criação. Jesus viveu sua vida terrestre em Urantia, não para estabelecer
um exemplo pessoal de vida mortal para os homens e mulheres deste mundo, mas
principalmente para criar um ideal altamente espiritual e inspirador para todos
os seres mortais em todos os mundos.
p1585:2 140:10.4 Esta mesma noite,
Tomé perguntou a Jesus: «Mestre, você diz que nós devemos nos fazer como
crianças pequenas antes de nós podermos conquistar uma entrada no reino do Pai,
e entretanto tu nos advertes a não sermos enganados por falsos profetas, nem que
nos tornemos culpados de lançar nossas pérolas aos porcos. Ora, eu estou
francamente desconcertado. Eu não consigo compreender teu ensinamento.» Jesus
respondeu a Tomé: «Quanto tempo eu vos tolerarei! Sempre vós insistis em tornar
literal tudo o que ensino. Quando eu pedi que vos fizessem como crianças
pequenas como preço de entrada no reino, eu não me referia à facilidade do
engano, à mera aceitação em crer, nem à rapidez para confiar nos estranhos
agradáveis. O que eu desejava que vós pudésseis colher desta ilustração, era a
relação entre um filho e seu pai. Vós sois o filho, e é no reino de vosso Pai
que vós buscais entrar. Entre todo filho normal e seu pai existe esse afeto
natural que assegura uma relação compreensiva e amorosa, e que exclui para
sempre toda tendência à barganha para obter o amor e a misericórdia do Pai. E o
evangelho que vós estais saindo a predicar, tem a ver com uma salvação crescente
da fé-realização desta completa e eterna relação filho-pai.»
p1585:3
140:10.5 A caraterística principal do ensinamento de Jesus era que a moralidade
de sua filosofia se originava na relação pessoal do indivíduo com Deus -esta
mesma relação filho-pai. Jesus pôs ênfase no indivíduo, e não na raça ou na
nação. Enquanto jantavam, Jesus teve uma conversa com Mateus na qual ele
explicou que a moralidade de qualquer ato é determinada pelo motivo do
indivíduo. A moralidade de Jesus era sempre positiva. A regra de ouro, como
recontado por Jesus, exige um contato social ativo; a antiga regra negativa
podia ser obedecida no isolamento. Jesus despojou a moralidade de todas as
regras e cerimônias, e a elevou aos níveis majestosos do pensamento espiritual e
da vida verdadeiramente reta.
p1585:4 140:10.6 Esta nova religião de
Jesus não estava desprovida de suas implicações práticas, mas qualquer das
práticas políticas, sociais ou valores econômicos, que são encontrados em seus
ensinamentos é a conseqüência natural desta experiência interior da alma, como
manifesta os frutos do espírito no ministério diário espontâneo de uma genuína
experiência religiosa pessoal.
p1585:5 140:10.7 Depois que Jesus e
Mateus terminaram de conversar, Simão o Zelote perguntou: «Mas, Mestre, todos os
homens são filhos de Deus?» E Jesus respondeu: «Sim, Simão, todos os homens são
filhos de Deus, e esta é a boa nova que vós ireis a proclamar.» Mas os apóstolos
não conseguiam captar tal doutrina; era uma nova, estranha e impressionante
declaração. E foi por causa de seu desejo em lhes imprimir esta verdade, que
Jesus ensinou a seus seguidores a tratar todos os homens como seus irmãos.
p1585:6 140:10.8 Em resposta a uma pergunta feita por André, o Mestre
esclareceu que a moralidade de seu ensinamento era inseparável da religião de
seu viver. Ele ensinava a moralidade, não da natureza do homem, mas da relação
do homem com Deus.
p1585:7 140:10.9 João perguntou a Jesus, «Mestre, o
que é o reino dos céus?» E Jesus respondeu: «O reino dos céus consiste nestas
três coisas essenciais: primeiro, o reconhecimento do fato da soberania de Deus;
segundo, a crença na verdade da filiação com Deus; e terceiro, a fé na
efetividade do desejo supremo humano de fazer a vontade de Deus -de ser como
Deus. E esta é a boa nova do evangelho: que pela fé, todo mortal pode possuir
todas estas coisas essenciais de salvação.»
p1586:1 140:10.10 E agora a
semana de espera terminava, e eles se prepararam para partir na manhã seguinte
para Jerusalém.
Tradução Voluntária Por : Heitor Carestiato Neto