A Preparação dos Evangelistas em Betsáida
Introdução
De 3 de Maio até 3 de outubro do ano 28 d.C, Jesus e o corpo
apostólico ficaram residindo na casa de Zebedeu em Betsáida. Durante todo este
período de cinco meses da estação seca, um enorme acampamento foi mantido ao
lado do mar, perto da residência de Zebedeu, a qual havia sido consideravelmente
ampliada para alojar a família crescente de Jesus. Este acampamento junto à
praia, ocupado por uma população constantemente variável de buscadores da
verdade, pretendentes à cura, e devotos da curiosidade, contavam entre
quinhentas e mil quinhentas pessoas. Esta cidade coberta de tendas estava sob a
supervisão geral de Davi Zebedeu, assistido pelos gêmeos Alfeu. O acampamento
era um modelo de ordem e de higiene, assim como de sua administração geral. Os
enfermos de diversos tipos estavam separados e ficavam sob a supervisão de um
médico crente, um sírio chamado Elman.
p1657:2 148:0.2 Durante todo este
período, os apóstolos iam pescar ao menos um dia por semana, vendendo suas
capturas a Davi para o consumo no acampamento ao lado do mar. Os fundos que
recebiam assim eram entregues ao tesoureiro do grupo. Os doze estavam
autorizados a passar uma semana de cada mês com seus familiares ou amigos.
p1657:3 148:0.3 Ainda que André continuava com a responsabilidade geral
das atividades apostólicas, Pedro estava inteiramente encarregado da escola dos
evangelistas. A cada manhã, todos os apóstolos contribuíam no ensinamento dos
grupos de evangelistas, e pela tarde, tanto os instrutores como os alunos
ensinavam ao povo. Depois do jantar, cinco noites por semana, os apóstolos
dirigiam aulas de perguntas em benefício dos evangelistas. Uma vez por semana,
Jesus presidia esta hora de dúvidas, respondendo às perguntas pendentes das
sessões anteriores.
p1657:4 148:0.4 Em cinco meses, vários milhares de
pessoas foram e vieram por este acampamento. Pessoas interessadas de todas as
partes do Império Romano e dos países ao leste do Eufrates estava em freqüente
presença. Este foi o período estável e bem organizado mais prolongado de
ensinamento do Mestre. A família imediata de Jesus passou a maior parte deste
tempo em Nazaré ou em Caná.
p1657:5 148:0.5 O acampamento não era
dirigido como uma comunidade de interesses comuns, tal como era a família
apostólica. Davi Zebedeu gerenciou esta grande cidade de tendas de tal maneira
que se converteu em uma empresa auto-sustentável, entretanto ninguém jamais fora
mandado embora. Este acampamento sempre variável foi um aspecto indispensável da
escola de instrução evangélica de Pedro.
Uma Nova Escola de Profetas
p1657:6 148:1.1 Pedro, Tiago e André formavam o comitê
designado por Jesus para avaliar os aspirantes à admissão na escola de
evangelistas. Todas as raças e nacionalidades do mundo romano e do oriente,
inclusive a Índia, estavam representadas entre os estudantes desta nova escola
de profetas. Esta escola era conduzida sob o método da aprendizagem e da
prática. Aquilo que os estudantes aprendiam pela manhã, eles ensinavam à
assembléia pela tarde ao lado do mar. Após o jantar, discutiam informalmente
tanto da aprendizagem da manhã como do ensinamento da tarde.
p1658:1
148:1.2 Cada instrutor apostólico ensinava seu próprio ponto de vista sobre o
evangelho do reino. Não faziam nenhum esforço para ensinarem exatamente da mesma
maneira; não existia nenhuma formulação padronizada ou dogmática das doutrinas
teológicas. Ainda que todos ensinavam a mesma verdade, cada apóstolo apresentava
sua própria interpretação pessoal dos ensinamentos do Mestre. E Jesus apoiava
esta apresentação da diversidade de experiências pessoais nas coisas do reino,
harmonizando e coordenando infalivelmente estes muitos e diversos pontos de
vista do evangelho na sua semanal hora de perguntas. Apesar deste alto grau de
liberdade pessoal em matéria de ensinamento, Simão Pedro tendia a dominar a
teologia da escola evangelista. Depois de Pedro, Tiago Zebedeu exercia a maior
influência pessoal.
p1658:2 148:1.3 Os mais de cem evangelistas
instruídos durante estes cinco meses à beira-mar representaram o essencial do
qual foi extraído mais tarde (excetuando Abner e dois apóstolos de João) os
setenta instrutores e predicadores do evangelho. A escola de evangelistas não o
possuía tudo em comum no mesmo grau que os doze possuíam.
p1658:3
148:1.4 Estes evangelistas, apesar deles ensinarem e predicarem o evangelho, não
batizaram aos crentes até depois deles serem ordenados e encarregados por Jesus
como os setenta mensageiros do reino. Apenas sete do grande número de pessoas
curadas na cena do pôr-do-sol neste lugar, seriam encontradas entre estes
estudantes evangelistas. O filho do nobre de Cafarnaum foi um dos que foram
preparados para o serviço evangélico na escola de Pedro.
O Hospital de Betsáida
p1658:4 148:2.1 Em conexão com o acampamento à beira-mar,
Elman, o médico sírio, com a ajuda de um grupo de vinte e cinco mulheres jovens
e doze homens, organizou e dirigiu durante quatro meses o que pode ser
considerado como o primeiro hospital do reino. Nesta enfermaria, situada à curta
distância ao sul da principal cidade de tendas, tratavam aos enfermos segundo
todos os métodos materiais conhecidos, bem como mediante as práticas espirituais
da oração e o estímulo da fé. Jesus visitava os enfermos deste acampamento não
menos que três vezes por semana, e fazia contato pessoal com cada sofredor. Até
onde nós sabemos, não ocorreu nenhum pretenso milagre de cura sobrenatural entre
as mil pessoas afligidas e machucadas que saíam melhores ou curadas desta
enfermaria. Entretanto, a grande maioria destas pessoas beneficiadas não cessou
de proclamar que Jesus as havia curado.
p1658:5 148:2.2 Muitas das curas
efetuadas por Jesus em conexão com seu ministério a favor dos pacientes de
Elman, em verdade, mostravam-se parecer obras milagrosas, mas nós fomos
instruídos de que isso foi justamente essas transformações da mente e do
espírito que podem ocorrer na experiência das pessoas expectantes e dominadas
pela fé, que estão sob a influência imediata e inspiradora de uma personalidade
forte, positiva e benéfica, cujo ministério desterra o medo e destrói a
ansiedade.
p1658:6 148:2.3 Elman e seus associados se esforçaram por
ensinar a verdade a estes enfermos, sobre a «possessão dos maus espíritos», mas
tiveram pouco êxito. A crença de que a enfermidade física e as desordens mentais
podiam ser causadas pela presença de um espírito, considerado impuro, na mente
ou no corpo da pessoa afligida, era quase universal.
p1659:1 148:2.4 Em
todos seus contatos com os enfermos e afligidos, quando se tratava da técnica de
tratamento ou de revelar as causas desconhecidas de uma enfermidade, Jesus não
negligenciava as instruções de seu irmão paradisíaco, Emanuel, dadas antes dele
embarcar na aventura da encarnação em Urantia. Apesar disto, os que cuidavam dos
enfermos aprenderam muitas lições úteis, ao observar a maneira em que Jesus
inspirava a fé e a confiança aos doentes e sofredores.
p1659:2 148:2.5 O
acampamento se dispersou um pouco antes da temporada do aumento da friagem e da
aproximação das febres.
Os Assuntos do Pai
p1659:3 148:3.1 Durante todo este período, Jesus dirigiu
cerimônias públicas no acampamento menos do que uma dúzia de vezes e falou uma
só vez na sinagoga de Cafarnaum, no segundo sábado antes da partida deles com os
evangelistas recém instruídos na sua segunda excursão de predicação pública da
Galiléia.
p1659:4 148:3.2 Desde seu batismo, o Mestre não havia estado
tanto tempo a sós como durante este período de instrução dos evangelistas no
acampamento de Betsáida. Cada vez que um dos apóstolos se aventurava a perguntar
a Jesus por quê ele se ausentava tanto do meio deles, ele respondia
invariavelmente que estava «às voltas com os assuntos do Pai.»
p1659:5
148:3.3 Durante estes períodos de ausência, Jesus era acompanhado somente de
dois apóstolos. Ele havia liberado temporariamente a Pedro, Tiago e João de suas
obrigações como companheiros pessoais, para que também pudessem participar na
tarefa de instruir os novos candidatos evangelistas, computados em mais de cem.
Quando o Mestre desejava ir às colinas cuidar dos assuntos do Pai, chamava a
dois apóstolos que estivessem livres para acompanhá-lo. Desta maneira, cada um
dos doze desfrutaram da oportunidade de uma associação estreita e de um contato
íntimo com Jesus.
1659:6 148:3.4 Não foi revelado para efeito desta
narração, mas nós fomos levados à conclusão de que o Mestre, durante muitos
destes períodos solitários nas colinas, permanecia em associação direta e
executiva com vários dos principais administradores dos assuntos de seu
universo. Desde a época de seu batismo, este Soberano encarnado de nosso
universo havia se tornado constante e conscientemente ativo na direção de certas
fases da administração universal. E nós sempre temos mantido a opinião que, de
alguma forma não revelada a seus associados imediatos, durante estas semanas de
menor participação nos assuntos terrestres, ele ficou engajado na direção
daquelas altas inteligências espirituais que estavam encarregadas do
funcionamento de um vasto universo, e que o Jesus humano escolheu por designar
estas atividades de sua parte como sendo «às voltas com os assuntos de seu Pai.»
p1659:7 148:3.5 Muitas vezes, em que Jesus ficava a sós durante horas,
mas quando dois de seus apóstolos estavam por perto, eles observaram que suas
feições experimentavam rápidas e numerosas mudanças, ainda que eles não lhe
escutaram dizer nenhuma palavra. Nem tampouco observaram nenhuma manifestação
visível de seres celestiais que pudessem ter estado em comunicação com seu
Mestre, tal como alguns deles testemunharam numa ocasião posterior.
O Mal, o Pecado e a Iniqüidade
p1659:8 148:4.1 Num certo canto isolado e protegido do jardim
de Zebedeu, era costume de Jesus manter conversas particulares, duas noites por
semana, com as pessoas que desejavam falar com ele. Em uma destas conversas
noturnas em privado, Tomé fez esta pergunta ao Mestre: «Por que é necessário que
os homens nasçam do espírito para entrar no reino? É necessário o renascimento
para escapar do controle do diabo? Mestre, o que é o mal?» Quando Jesus escutou
estas perguntas, disse a Tomé:
p1660:1 148:4.2 «Não cometas o erro de
confundir o mal com o diabo, mais corretamente o iníquo. Aquele que tu chamas de
diabo é o filho do amor próprio, o alto administrador que partiu conscientemente
para a rebelião deliberada contra o governo de meu Pai e de seus Filhos leais.
Mas eu já venci estes rebeldes pecaminosos. Esclareças em tua mente estas
atitudes diferentes para o Pai e seu universo. Nunca esqueças essas leis sobre a
relação com a vontade do Pai:
p1660:2 148:4.3 «O mal é a transgressão
inconsciente ou involuntária da lei divina, da vontade do Pai. O mal é
igualmente a medida da imperfeição da obediência à vontade do Pai.
p1660:3 148:4.4 «O pecado é a transgressão consciente, conhecida e
deliberada da lei divina, da vontade do Pai. O pecado é a medida da aversão por
ser divinamente conduzido e dirigido espiritualmente.
p1660:4 148:4.5 «A
iniquidade é a transgressão premeditada, determinada e persistente da lei
divina, da vontade do Pai. A iniquidade é a medida da recusa contínua do plano
amoroso do Pai para a sobrevivência da personalidade, e do ministério
misericordioso de salvação dos Filhos.
p1660:5 148:4.6 «Antes de
renascer do espírito, o homem mortal está sujeito às más tendências inerentes à
natureza, mas estas imperfeições naturais de conduta não são nem pecado nem
iniquidade. O homem mortal está apenas começando sua longa ascensão para a
perfeição do Pai no Paraíso. Ser imperfeito ou parcial por dotação natural não é
um pecado. O homem está em verdade sujeito ao mal, mas não ele é em nenhum
sentido o filho do diabo, a menos que haja escolhido consciente e
deliberadamente os caminhos do pecado e uma vida de iniquidade. O mal é inerente
à ordem natural deste mundo, mas o pecado é uma atitude de rebelião consciente
que foi trazida a este mundo por aqueles que caíram da luz espiritual nas densas
trevas.
p1660:6 148:4.7 «Tomé, estás confuso pelas doutrinas dos gregos
e os erros dos persas. Tu não compreendes as relações entre o mal e o pecado
porque consideras que a humanidade começou na Terra com um Adão perfeito e
degenerando rapidamente, através do pecado, até o deplorável estado atual do
homem. Mas, por que te negas a compreender o significado do relato que revela
como Caim, o filho de Adão, foi para a terra de Nod e ali conseguiu para si uma
esposa? E por que te negas a interpretar o significado do relato que descreve
como os filhos de Deus encontraram esposas para si próprios entre as filhas dos
homens?
p1660:7 148:4.8 «Os homens são, de fato, maus por natureza, mas
não necessariamente pecadores. O novo nascimento -o batismo do espírito- é
essencial para a libertação do mal e necessário para entrar no reino dos céus,
mas nada disto diminui o fato de que o homem é um filho de Deus. Nem esta
presença inerente do mal potencial significa que o homem esteja separado, de
alguma maneira misteriosa, do Pai que está nos céus, de tal forma que, como se
fosse um estranho, um estrangeiro ou um enteado, tenha que tentar de alguma
maneira a adoção legal do Pai. Todas estas idéias nascem, em primeiro lugar, de
vossa má compreensão do Pai, e em segundo lugar, de vossa ignorância sobre a
origem, natureza e o destino do homem.
p1660:8 148:4.9 «Os gregos e
outros vos ensinaram que o homem está descendo continuamente da perfeição divina
para o esquecimento ou a destruição; eu vim para mostrar que o homem, graças a
sua entrada no reino, está ascendendo de maneira certeira e segura para Deus e a
perfeição divina. Qualquer ser que, de alguma maneira, não alcança os ideais
divinos e espirituais da vontade do Pai eterno, é potencialmente mau, mas esse
ser não é em nenhum sentido um pecador, e muito menos iníquo.
p1661:1
148:4.10 «Tomé, tu não leste acerca disto nas Escrituras, onde está escrito:
`Vós sois os filhos do Senhor vosso Deus.' `Eu serei seu pai e ele será meu
filho.' `E o escolhi para que seja meu filho -eu serei seu Pai.' `Trazei meus
filhos de longe e as minhas filhas desde os confins da terra; e inclusive a
todos os que são chamados por meu nome, porque eu os criei para minha glória.'
`Vós sois os filhos do Deus vivo.' `Os que têm o espírito de Deus são em verdade
os filhos de Deus' Ao mesmo tempo que existe uma parte material do pai humano no
filho natural, existe uma parte espiritual do Pai celestial em todos os filhos
da fé do reino.»
p1661:2 148:4.11 Jesus disse tudo isto e muito mais a
Tomé, e o apóstolo compreendeu uma grande parte disso; entretanto, Jesus lhe
recomendou: «não fales com os demais sobre estas questões até depois de que eu
haja regressado ao Pai.» E Tomé não mencionou esta entrevista até depois de que
o Mestre partira deste mundo.
A Finalidade da Aflição
p1661:3 148:5.1 Numa outra destas entrevistas privadas no
jardim, Natanael perguntou a Jesus: «Mestre, embora eu esteja começando a
compreender por quê recusas praticar a cura indiscriminadamente, ainda estou
embaraçado para compreender por quê o Pai amoroso que está nos céus permite que
tantos de seus filhos na Terra sofram tantas aflições.» O Mestre respondeu a
Natanael, dizendo:
p1661:4 148:5.2 «Natanael, tu e outras muitas pessoas
ficais assim perplexos porque vós não compreendeis que a ordem natural deste
mundo foi perturbada muitas vezes pelas aventuras pecaminosas de certos
traidores rebeldes à vontade do Pai. E eu vim para começar a colocar essas
coisas em ordem. Mas muitas gerações serão necessárias para devolver esta parte
do universo a seu antigo caminho e libertar assim os filhos dos homens das
cargas extras do pecado e da rebelião. Só a presença do mal é um teste
suficiente para a ascensão do homem -o pecado não é essencial para a
sobrevivência.
p1661:5 148:5.3 «Mas, meu filho, tu deverias saber que o
Pai não aflige propositadamente a seus filhos. O homem atrai sobre si mesmo as
aflições desnecessárias como resultado de sua recusa persistente em caminhar nas
melhores sendas da vontade divina. A aflição é potencial no mal, mas uma grande
parte dela foi produzida pelo pecado e a iniquidade. Muitos acontecimentos
incomuns têm ocorrido neste mundo, e não é de se estranhar que todos os homens
pensantes fiquem perplexos com as cenas de sofrimento e aflição que contemplam.
Mas podes estar certo de uma coisa: o Pai não envia aflição como um castigo
arbitrário por erro. As imperfeições e os obstáculos do mal são inerentes; os
castigos do pecado são inevitáveis; as conseqüências destrutivas da iniquidade
são inexoráveis. O homem não deveria culpar a Deus por estas desgraças que são o
resultado natural da vida que ele escolhe viver; o homem tampouco deveria
queixar-se dessas experiências que são parte da vida, tal como ela é vivida
neste mundo. É a vontade do Pai que o homem mortal trabalhe perseverante e
consistentemente para o melhoramento de sua condição na Terra. A aplicação
inteligente deveria capacitar ao homem para superar uma grande parte de sua
miséria terrestre.
p1662:1 148:5.4 «Natanael, é a nossa missão ajudar os
homens a resolver seus problemas espirituais e, desta maneira, avivar sua mente
para que possam ficar melhores preparados e inspirados para tentar resolver seus
múltiplos problemas materiais. Eu sei de sua confusão após ter lido as
Escrituras. Tem prevalecido muito amiúde uma tendência de atribuir a Deus a
responsabilidade de tudo o que o homem ignorante não consegue compreender. O Pai
não é pessoalmente responsável por tudo que tu não possas compreender. Não
duvides do amor do Pai simplesmente porque alguma lei justa e sábia de sua
decretação acaso te aflijas porque tu transgrediste inocente ou deliberadamente
esse mandato divino.
p1662:2 148:5.5 «Mas Natanael, têm muitas coisas
nas Escrituras que poderiam ter te instruído se tu apenas lesse com
discernimento. Não recordas que está escrito: `Meu filho, não desprezes o
castigo do Senhor; nem fiques enfadados por sua reprimenda, porque quem o Senhor
ama, ele corrige, tal como o pai corrige ao filho em quem sente felicidade.' `O
Senhor não aflige de boa gana.' `Antes que eu ficasse afligido, extraviei-me,
mas agora eu cumpro a lei. A aflição foi boa para mim, para que eu pudesse dessa
forma aprender os estatutos divinos.' `Eu conheço vossos pesares. O Deus eterno
é vosso refúgio, enquanto que por debaixo estão os braços eternos.' `O Senhor é
também um refúgio para os oprimidos, um porto de descanso nos momentos de
inquietação.' `O Senhor o fortalecerá no leito da aflição; o Senhor não
esquecerá os enfermos.' `Como um pai mostra compaixão por seus filhos, assim é o
misericordioso Senhor para aqueles que o temem. Ele conhece vosso corpo; ele se
lembre de que sois pó.' `Ele cura os abatidos e ata suas feridas.' `Ele é a
esperança do pobre, a força do indigente em sua agonia, um refúgio contra a
tempestade e uma sombra contra o calor sufocante.' `Ele dá poder ao extenuado e
aos que não têm força ele aumenta a resistência.' `Não quebrará a cana
descascada, e não apagará o linho fumegante.' `Quando vós atravesseis as águas
da aflição, eu estarei convosco, e quando os rios da adversidade vos inundem, eu
não vos abandonarei.' `Ele me enviou para atar os corações partidos, para
proclamar a liberdade aos cativos e para consolar a todos os enlutados.' `Há a
correção no sofrimento; a aflição não brota do pó.'»
O Mal Entendido Sobre o Sofrimento - O Discurso Sobre Jó
p1662:3 148:6.1 Foi naquela mesma tarde, em Betsáida, que João
também perguntou a Jesus por quê tanta gente aparentemente inocente sofria de
tantas doenças e experimentava tantas aflições. Ao responder às perguntas de
João, entre muitas outras coisas, o Mestre disse:
p1662:4 148:6.2 «Meu
filho, tu não compreendes o significado da adversidade ou a missão do
sofrimento. Não leste aquela obra prima da literatura semita -a história das
Escrituras sobre as aflições de Jó? Não lembras que esta maravilhosa parábola
começa com a narração da prosperidade material do servidor do Senhor? Recordes
bem que Jó foi abençoado com filhos, riqueza, dignidade, posição, saúde e tudo o
mais que os homens valorizam nesta vida temporal. Segundo os ensinamentos
tradicionalmente aceitos pelos filhos de Abraão, esta prosperidade material era
uma prova mais que suficiente do favor divino. Entretanto, essas posses
materiais e a prosperidade temporal não indicam o favor de Deus. Meu Pai que
está nos céus ama aos pobres da mesma forma que aos ricos; ele não faz acepção
de pessoas.
p1663:1 148:6.3 «Embora a transgressão da lei divina é cedo
ou tarde seguida pela colheita do castigo, e ainda que os homens no final das
contas e certamente colhem aquilo que semearam, ainda assim tu deverias saber
que o sofrimento humano nem sempre é um castigo por um pecado anterior. Tanto Jó
como seus amigos não conseguiram encontrar a verdadeira resposta às suas
perplexidades. E com os conhecimentos que agora desfrutas, dificilmente
atribuirias a Satanás ou a Deus os papéis que eles interpretam nesta parábola
singular. Ainda que Jó não encontrou, através do sofrimento, a resolução de seus
problemas intelectuais ou a solução de suas dificuldades filosóficas, ele
alcançou grandes vitórias; inclusive na presença mesma do colapso de suas
defesas teológicas, ele se elevou às alturas espirituais onde pôde dizer com
sinceridade: `eu me detesto a mim mesmo'; então foi-lhe concedido a salvação de
uma visão de Deus. Assim pois, mesmo através de um sofrimento mal compreendido,
Jó se elevou aos planos supra-humanos de compreensão moral e de percepção
espiritual. Quando o servo sofredor obtém uma visão de Deus, aí se produz uma
paz na alma que ultrapassa toda compreensão humana.
p1663:2 148:6.4 «O
primeiro amigo de Jó, Elifaz, exortou ao sofredor a que exibisse em suas
aflições a mesma fortaleza que havia recomendado a outras pessoas durante os
dias de sua prosperidade. Este falso consolador disse: `Confie em tu religião,
Jó; recorda que são os perversos os que sofrem, e não os justos. Tu deves
merecer este castigo, ou senão não serias afligido. Tu sabes bem que nenhum
homem pode ser justo aos olhos de Deus. Sabes que os malvados nunca prosperam
realmente. De qualquer forma, o homem parece predestinado a conturbar-se, e
talvez o Senhor só está te castigando para o teu próprio bem.' Não se estranha
que o pobre Jó não obtivesse muito conforto desta interpretação do problema do
sofrimento humano.
p1663:3 148:6.5 «Mas o conselho de seu segundo amigo,
Baldad, foi ainda mais deprimente, apesar de sua validade, do ponto de vista da
teologia aceita naquela época. Baldad disse: `Deus não pode ser injusto. Teus
filhos devem ser pecadores, posto que pereceram; tu deves estar em erro, ou
senão não serias assim afligido. E se tu és realmente justo, Deus te libertará
seguramente de tuas aflições. Deverias aprender da história das relações de Deus
com o homem que o Todo-poderoso só destrói os perversos.'
p1663:4
148:6.6 «E em seguida tu lembras como Jó respondeu a seus amigos, dizendo: `Sei
bem que Deus não escuta meu clamor por auxílio. Como Deus pode ser justo e ao
mesmo tempo menosprezar totalmente minha inocência? Estou aprendendo que não
posso obter satisfação apelando ao Todo-poderoso. Vós não podeis perceber que
Deus tolera a perseguição dos bons pelos maus? E posto que o homem é tão débil,
qual a chance dele receber consideração das mãos de um Deus onipotente? Deus me
fez como eu sou, e quando ele volte assim sobre mim, eu fico sem defesa. E por
que Deus me criou, simplesmente para sofrer desta forma miserável?'
p1663:5 148:6.7 «E quem pode contestar a atitude de Jó, em vista dos
conselhos de seus amigos e das idéias errôneas sobre Deus que ocupavam sua
própria mente? Não vês que Jó ansiava por um Deus humano, que tinha sede em
comunicar-se com um Ser divino que conhece a condição mortal do homem e
compreende que os justos freqüentemente devem sofrer na inocência como parte
desta primeira vida na longa ascensão ao Paraíso? Por isso o Filho do Homem veio
do Pai para viver uma tal vida na carne, que será capaz de confortar e socorrer
a todos aqueles que daqui pra frente devem ser chamados a suportar as aflições
de Jó.
p1663:6 148:6.8 «O terceiro amigo de Jó, Sofar, pronunciou então
palavras ainda menos confortantes quando disse: `Tu és tolo ao sustentar que
sejas justo, visto que estás afligido dessa forma. Mas admito que é impossível
compreender os caminhos de Deus. Talvez haja algum objetivo oculto em todas as
tuas misérias.' E Jó depois de ter escutado a todos os seus três amigos, apelou
diretamente a Deus por socorro, alegando o fato de que `o homem, nascido de
mulher, vive poucos dias e está cheio de problemas.'
p1664:1 148:6.9
«Então começou a segunda sessão com seus amigos. Elifaz tornou-se mais severo,
acusador e sarcástico. Baldad ficou indignado pelo desprezo de Jó por seus
amigos. Sofar reiterou seus conselhos melancólicos. A estas alturas, Jó havia
ficado desgostoso com seus amigos e apelou de novo a Deus, e agora apelava a um
Deus justo, em oposição ao Deus de injustiça incorporado na filosofia de seus
amigos e cultivado inclusive em sua própria atitude religiosa. Em seguida, Jó
buscou refúgio na consolação de uma vida futura, em que as injustiças da
existência mortal pudessem ser retificadas mais justamente. O fracasso por
receber a ajuda dos homens, conduz Jó para Deus. Logo sobrevem em seu coração a
grande luta entre a fé e a dúvida. Finalmente, o humano sofredor começa a
enxergar a luz da vida; sua alma torturada ascende à novas alturas de esperança
e coragem; talvez ele continue sofrendo e até mesmo que morra, mas sua alma
iluminada pronuncia agora este grito de triunfo, `Meu Defensor vive!'
p1664:2 148:6.10 «Jó estava totalmente certo quando desafiou a doutrina
de que Deus aflige aos filhos para castigar seus pais. Jó estava preparado para
admitir que Deus é justo, mas anelava uma revelação satisfatória para alma do
caráter pessoal do Eterno. E essa é a nossa missão na Terra. Aos mortais
sofredores não mais lhes serão negados o conforto de conhecer o amor de Deus e
de compreender a misericórdia do Pai que está nos céus. Apesar de que o discurso
sobre Deus pronunciado desde o redemoinho era um conceito majestoso para a época
de sua declaração, tu já aprendeste que o Pai não se revela dessa maneira, mas
sim que ele fala dentro do coração humano como uma vozinha suave, dizendo: `Este
é o caminho; caminhe nele.' Tu não compreendes que Deus reside dentro de ti, que
ele tornou-se como tu és para poder fazer-te como ele é?»
p1664:3
148:6.11 Logo, Jesus fez sua declaração final: «O Pai que está nos céus não
aflige voluntariamente aos filhos dos homens. O homem sofre, primeiro, pelos
acidentes do tempo e as imperfeições do prejuízo de uma existência física
imatura. Em segundo lugar, sofre as conseqüências inexoráveis do pecado -da
transgressão das leis da vida e da luz. E finalmente, o homem colhe a colheita
de sua própria persistência iníqua na rebelião contra a justa soberania do céu
sobre a terra. Mas as misérias do homem não são uma provação pessoal do juízo
divino. O homem pode fazer, e fará, muitas coisas para diminuir seus sofrimentos
temporais. Mas de uma vez por todas será libertado da superstição de que Deus
aflige ao homem pelo ditame do diabo. Estude o Livro de Jó só para descobrir
quantas idéias errôneas sobre Deus até o bom homem pode honestamente entreter; e
logo observe como o mesmo Jó, dolorosamente afligido, encontrou o Deus do
consolo e da salvação, apesar destes ensinamentos errôneos. No final, sua fé
penetrou nas nuvens do sofrimento para discernir a luz da vida derramada pelo
Pai como misericórdia curativa e retitude eterna.»
p1664:4 148:6.12 João
meditou estas afirmações em seu coração durante muitos dias. Sua inteira vida
futura foi marcadamente modificada como resultado desta conversa com o Mestre no
jardim, e tempos mais tarde, ele fez muito para motivar os outros apóstolos a
que mudassem seu ponto de vista quanto à origem, natureza e finalidade das
aflições humanas comuns. Mas João jamais falou desta conversa até depois da
partida do Mestre.
O Homem Com a Mão Seca
p1664:5 148:7.1 No segundo sábado antes da partida dos
apóstolos e do novo corpo de evangelistas para a segunda excursão de predicação
da Galiléia, Jesus falou na sinagoga de Cafarnaum sobre «As alegrias da vida
correta». Quando Jesus terminou de falar, um amplo grupo dos que eram mutilados,
coxos, enfermos e afligidos se amontoou a seu redor, buscando cura. Neste grupo
também estavam os apóstolos, muitos dos novos evangelistas e os espiões fariseus
de Jerusalém. A qualquer parte que Jesus fosse (exceto na hora das colinas com
os assuntos de seu Pai) os seis espiões de Jerusalém o seguia claramente.
p1665:1 148:7.2 Enquanto Jesus permanecia falando ao povo, o chefe dos
espiões fariseus induziu a um homem com uma mão seca a que se aproximasse dele e
perguntasse se seria legal ser curado no dia do sábado, ou se ele devia buscar
ajuda noutro dia. Quando Jesus viu o homem, escutou suas palavras e percebeu que
ele havia sido enviado pelos fariseus, disse: «Venha cá enquanto te faço uma
pergunta. Se tivesses uma ovelha e se ela caísse num buraco no dia do sábado, tu
descerias, agarraria ela e a alçaria dali? É lícito fazer estas coisas no dia do
sábado?» E o homem respondeu: «Sim, Mestre, seria lícito fazer esta boa ação no
dia do sábado.» Então, dirigindo-se a todos eles, Jesus disse: «Sei por que
enviastes este homem a minha presença. Vós quiséreis encontrar em mim um motivo
de ofensa se conseguísseis tentar-me a mostrar misericórdia no dia do sábado.
Todos concordastes em silêncio que era lícito retirar do buraco a infortunada
ovelha, mesmo no sábado, e eu vos chamo para dar testemunho que é lícito exibir
uma bondade afetuosa no dia do sábado não apenas aos animais, mas também aos
homens. Quão mais valioso é um homem do que uma ovelha! Proclamo que é legal
fazer o bem aos homens no dia do sábado.» E enquanto todos permaneciam diante
dele em silêncio, Jesus, dirigindo-se ao homem com a mão seca, disse: «Fique
aqui do meu lado para que todos possam vê-lo. E agora, para que vós possais
saber que é a vontade de meu Pai que façais o bem no dia do sábado, se tiveres
fé para ser curado, eu te ordeno que estendas sua mão.»
p1665:2 148:7.3
E à medida que este homem estirava sua mão seca, ela ficou curada. O povo ficou
disposto a voltar-se contra os fariseus, mas Jesus lhes pediu que ficassem
calmos, dizendo: «Acabo de vos dizer que é lícito fazer o bem no sábado, salvar
uma vida, mas não vos ensinei que façais o mal e que cedais ao desejo de matar.»
Os furiosos fariseus foram embora, e apesar de ser sábado, precipitaram-se logo
a Tiberíades e consultaram-se com Herodes, fazendo de tudo a seu alcance por
despertar seu preconceito para conseguir os herodianos como aliados contra
Jesus. Mas Herodes se negou a tomar medidas contra Jesus, aconselhando-lhes que
levassem suas queixas a Jerusalém.
p1665:3 148:7.4 Este é o primeiro
caso de um milagre realizado por Jesus em resposta ao desafio de seus inimigos.
E o Mestre executou este suposto milagre, não como uma demonstração de seu poder
curativo, mas sim como um protesto efetivo contra a transformação do descanso
religioso do sábado em uma verdadeira escravidão de restrições sem sentido para
toda humanidade. Este homem retornou a seu trabalho como pedreiro, demonstrando
ser uma das pessoas cuja cura foi seguida por uma vida de ação de graças e de
retitude.
A Última Semana em Betsáida
p1665:4 148:8.1 Na última semana da estada em Betsáida, os
espiões de Jerusalém ficaram muito divididos em sua atitude para com Jesus e
seus ensinamentos. Três destes fariseus ficaram tremendamente impressionados
pelo que haviam visto e ouvido. Enquanto tanto, em Jerusalém, Abraão, um jovem
membro influente do sanedrim, adotou publicamente os ensinamentos de Jesus e foi
batizado por Abner no tanque de Siloé. Toda Jerusalém estava excitada por este
acontecimento, e mensageiros foram despachados imediatamente a Betsáida para
trazer de volta os seis espiões fariseus.
p1666:1 148:8.2 O filósofo
grego que havia sido conquistado para o reino na excursão anterior da Galiléia,
retornou com alguns judeus ricos de Alexandria, e uma vez mais convidaram a
Jesus para que viesse a sua cidade com objetivo de estabelecer uma escola
conjunta de filosofia e religião, assim como um hospital para os enfermos. Mas
Jesus declinou cortesmente o convite.
p1666:2 148:8.3 Aproximadamente
nesta época, chegara ao acampamento de Betsáida um profeta em transe procedente
de Bagdá, um tal Quirmet. Este suposto profeta tinha visões peculiares quando em
transe e sonhava fantásticos sonhos quando seu sono fosse perturbado. Ele criou
um alvoroço considerável no acampamento, e Simão o Zelote era favorável
especialmente de tratar rudemente este farsante que se enganava a si mesmo, mas
Jesus interveio e deixou ele em total liberdade de ação durante alguns dias.
Todos os que escutaram sua predicação logo reconheceram que seu ensinamento não
era válido quando avaliado através do evangelho do reino. Ele voltou
imediatamente a Bagdá, levando consigo somente uma meia dúzia de almas instáveis
e erráticas. Mas antes de que Jesus intercedesse pelo profeta de Bagdá, Davi
Zebedeu, com a ajuda de um comitê auto-nomeado, havia levado Quirmet ao lago e,
depois de mergulhá-lo repetidamente na água, aconselharam-no que partisse dali
-que organizasse e construísse seu próprio acampamento.
p1666:3 148:8.4
Naquele mesmo dia, Bet-Marion, uma mulher fenícia, ficara tão fanática que saiu
de si e, depois de quase afogar-se ao tentar caminhar sobre a água, foi mandada
embora por seus amigos.
p1666:4 148:8.5 Abraão o fariseu, o novo
converso de Jerusalém, doou todos seus bens mundanos à tesouraria apostólica, e
esta contribuição contribuiu muito para tornar possível o envio imediato dos cem
evangelistas recém instruídos. André já havia anunciado o fechamento do
acampamento, e todos se prepararam para irem às suas casas ou então para
acompanhar os evangelistas na Galiléia.
A Cura do Paralítico
p1666:5 148:9.1 Na quinta-feira à tarde, 1º de outubro, quando
Jesus estava tendo sua última reunião com os apóstolos, evangelistas e outros
líderes do acampamento dissolvente, e com os seis fariseus de Jerusalém sentados
na primeira fila desta assembléia, na espaçosa e ampliada sala da frente da casa
de Zebedeu, ocorreu ali um dos episódios mais estranhos e mais singulares de
toda vida terrestre de Jesus. Naquele momento, o Mestre estava falando de pé
nesta grande sala, que havia sido construída para acomodar estas reuniões
durante a estação das chuvas. A casa estava totalmente cercada por uma grande
afluência de pessoas que estavam espichando seus ouvidos para captarem alguma
parte do discurso de Jesus.
p1666:6 148:9.2 Enquanto a casa estava
abarrotada de gente e totalmente cercada de ouvintes entusiastas, um homem
afligido por muito tempo de paralisia foi trazido de Cafarnaum por seus amigos
em uma pequena liteira. Este paralítico havia escutado que Jesus estava a ponto
de deixar Betsáida, e tendo falado com Aarão o pedreiro, que havia sido curado
tão recentemente, decidiu ser levado à presença de Jesus, onde poderia buscar a
cura. Seus amigos tentaram entrar na casa de Zebedeu pela porta da frente e pela
de trás, mas o gentio era demasiado apertado. Entretanto, o paralítico negou-se
a aceitar a derrota; pediu a seus amigos que conseguissem escadas, pelas quais
subissem ao telhado da sala em que Jesus estava falando, e depois de soltar as
telhas, eles desceram o enfermo ousadamente em sua liteira com cordas até que o
afligido ficou no chão diretamente na frente do Mestre. Quando Jesus viu o que
eles haviam feito, parou de falar, enquanto os que estavam com ele na sala se
maravilharam ante a perseverança do enfermo e seus amigos. O paralítico disse:
«Mestre, não queria interromper teu ensinamento, mas estou decidido a ser
curado. Não sou como aqueles que receberam a cura e se esqueceram imediatamente
de teu ensinamento. Eu queria ser curado para poder servir no reino dos céus.»
Ora, apesar de que a aflição deste homem havia sido causada por sua própria vida
desperdiçada, Jesus, ao ver sua fé, disse ao paralítico: «Filho, não temas; teus
pecados estão perdoados. Tua fé te salvará.»
p1667:1 148:9.3 Quando os
fariseus de Jerusalém, junto com outros escribas e juristas que estavam sentados
com eles, escutaram esta declaração de Jesus, começaram a comentar entre si:
«Como este homem se atreve a falar assim? Ele não compreende que essas palavras
são uma blasfêmia? Quem pode perdoar os pecados senão Deus?» Jesus, ao perceber
em seu espírito que eles raciocinavam desta maneira em suas próprias mentes e
entre si, falou-lhes, dizendo: «Por que raciocinais assim em vosso coração? Quem
sois vós para julgar-me? Qual é a diferença se eu digo a este paralítico, teus
pecados estão perdoados, ou então, levanta-te, pegue a tua liteira e ande? Mas
para que vós, que presenciais tudo isto possais saber definitivamente que o
Filho do Homem tem autoridade e poder na Terra para perdoar os pecados, eu direi
a este homem afligido, Levanta-te, recolhe tua liteira e vai-te para tua própria
casa.» E quando Jesus falou assim, o paralítico se levantou, e conforme eles
abriam caminho para ele, ele saiu de repente diante de todos eles. E aqueles que
viram estas coisas ficaram assombrados. Pedro dissolveu a assembléia, enquanto
que muitos oravam e glorificavam a Deus, confessando que nunca haviam visto
antes tais acontecimentos extraordinários.
p1667:2 148:9.4 E foi quase
nesse momento que os mensageiros do sanedrim chegaram para ordenar aos seis
espiões que regressassem a Jerusalém. Quando eles escutaram esta mensagem,
lançaram-se num sério debate entre si; e uma vez que eles terminaram sua
discussão, o chefe e dois de seus associados regressaram com os mensageiros a
Jerusalém, enquanto que três dos espiões fariseus confessaram a fé em Jesus e,
dirigindo-se imediatamente ao lago, foram batizados por Pedro e irmanados pelos
apóstolos como filhos do reino.
Tradução Voluntária Por : Heitor Carestiato Neto