Em Cesaréia de Felipe
Introdução
P 1743:1 157:0.1 Antes de Jesus levar os doze à uma curta
temporada nas cercanias de Cesaréia de Felipe, ele planejou por meio dos
mensageiros de Davi, em ir até Cafarnaum com o objetivo de se reunir com sua
família no domingo 7 de agosto. Conforme o pré-arranjado, esta visita
aconteceria no estaleiro de Zebedeu. Davi Zebedeu havia marcado com Judá, o
irmão de Jesus, do comparecimento de toda a família de Nazaré – Maria e todos os
irmãos e irmãs de Jesus – e Jesus foi com André e Pedro, para cumprir com este
compromisso. Certamente, era a intenção de Maria e seus filhos, cumprir com este
encontro, mas aconteceu também que, um grupo de fariseus, sabendo que Jesus
estava do outro lado do lago nos domínios de Felipe, decidiram visitar Maria
para se informarem o que pudessem sobre o seu paradeiro. A chegada destes
emissários de Jerusalém inquietou muito Maria, e ao notarem a tensão e o
nervosismo de toda a família, eles concluíram que Jesus devia estar sendo
esperado a visitá-los. Consequentemente, eles se instalaram na casa de Maria e,
depois de pedirem reforços, esperaram pacientemente pela chegada de Jesus. E
isto, é claro, impediu efetivamente que algum membro da família tentasse cumprir
o combinado com Jesus. Várias vezes durante todo o dia, tanto Judá como Rute,
tentaram iludir a vigilância dos fariseus, em seus esforços de enviar uma
mensagem a Jesus, mas foi em vão.
P 1743:2 157:0.2 No início da tarde,
os mensageiros de Davi trouxeram a Jesus, a notícia de que os fariseus estavam
acampados no umbral da casa de sua mãe, e por isso ele não tentou visitar sua
família. E assim, mais uma vez, sem que nenhuma das partes tivesse culpa, Jesus
e sua família terrestre não conseguiram entrar em contato.
O Cobrador de Impostos do Templo
P 1743:3 157:1.1 Enquanto Jesus se detinha com André e Pedro
perto do lago, junto ao estaleiro, um cobrador de impostos do templo veio até
eles e, reconhecendo Jesus, chamou Pedro à parte e disse: “O vosso Mestre não
paga o imposto do templo?” Pedro ficou tentado a mostrar sua indignação ante a
sugestão de que fosse esperado que Jesus contribuísse para a manutenção das
atividades religiosas de seus inimigos declarados, mas ao observar uma expressão
particular no rosto do cobrador de impostos, ele supôs corretamente, que a
intenção era o de envolvê-los no ato de se negarem a pagar o habitual meio siclo
para a sustentação dos serviços do templo em Jerusalém. Consequentemente, Pedro
respondeu: “Mas é claro que o Mestre paga o imposto do templo. Espere na porta
que eu volto logo com a taxa.”
P 1743:4 157:1.2 Mas Pedro havia falado
precipitadamente. Judas carregava os fundos deles, e estava do outro lado do
lago. Nem Pedro, nem seu irmão, nem Jesus haviam trazido consigo qualquer
dinheiro. E sabendo que os fariseus os estavam procurando, eles não podiam ir a
Betsáida para conseguir dinheiro. Quando Pedro contou a Jesus sobre o cobrador e
que havia lhe prometido o dinheiro, Jesus disse: “Se prometeste, então deves
pagar. Mas com o quê irás cumprir tua promessa? Tornar-te-ás novamente um
pescador para que possas honrar a tua palavra? Todavia, Pedro, nestas
circunstâncias, é conveniente que paguemos o imposto. Não vamos dar a estes
homens nenhum motivo para que se ofendam com a nossa atitude. Esperaremos aqui,
enquanto tu vai com o barco e atire o anzol para pescar, e quando os tenha
vendido naquele mercado ali, pague ao cobrador por nós três.”
P 1744:1
157:1.3 Tudo isso foi ouvido por acaso pelo mensageiro secreto de Davi que
estava por perto, e que então acenou para um companheiro, que pescava perto da
praia, para que viesse rapidamente. Quando Pedro se preparou para sair no barco
para pescar, este mensageiro e seu amigo pescador, lhe ofereceram várias cestas
grandes de peixes, e o ajudaram a levá-las até o comerciante de peixes perto
dali, o qual comprou o pescado, pagando o suficiente para que, com o que foi
acrescentado pelo mensageiro de Davi, saldasse o imposto do templo dos três. O
cobrador aceitou o tributo, abrindo mão da multa pelo atraso no pagamento, já
que eles haviam estado ausentes da Galiléia durante algum tempo.
P
1744:2 157:1.4 Não é de se estranhar que vós tenhais um relato de Pedro pegando
um peixe com um siclo na boca. Naquela época era comum muitas estórias sobre o
descobrimento de tesouros na boca de peixes; estas estórias quase milagrosas,
eram freqüentes. Por isso, quando Pedro os deixou para ir ao barco, Jesus
comentou, meio que graciosamente: “Estranho que os filhos do rei tenham que
pagar tributo; geralmente é o estrangeiro que é taxado para a manutenção da
corte, mas nos convém que não proporcionemos nenhum obstáculo às autoridades.
Vai pois! Talvez pegues o peixe com o siclo na boca.” Tendo Jesus falado assim,
e Pedro comparecendo tão rapidamente com o tributo do templo, não é de se
surpreender que mais tarde o episódio fosse aumentado para um milagre, tal como
contado pelo escritor do evangelho segundo Mateus.
P 1744:3 157:1.5
Jesus, junto com André e Pedro, esperou ao lado da praia, até quase o
pôr-do-sol. Uns mensageiros lhe trouxeram a noticia de que a casa de Maria ainda
estava sob vigilância; por conseguinte, quando escureceu, os três homens que
esperavam, entraram em seu barco e remaram lentamente para a costa oriental do
Mar da Galiléia.
Em betsáida - Julia
P 1744:4 157:2.1 Na segunda-feira, 8 de agosto, enquanto Jesus
e os doze apóstolos estavam acampados no parque de Magadã, perto de
Betsáida-Júlia, mais de cem crentes, os evangelistas, o corpo de mulheres e
outras pessoas interessadas no estabelecimento do reino, vieram de Cafarnaum
para uma conferência. E muitos fariseus, sabendo que Jesus estava ali, vieram
também. Nesta ocasião, alguns saduceus estavam unidos aos fariseus em seus
esforços para enredar Jesus. Antes de ir para a conferencia privada com os
crentes, Jesus manteve uma reunião pública a qual os fariseus estavam presentes,
e eles importunaram o Mestre e procuraram perturbar a assembléia de outras
maneiras. O chefe dos perturbadores disse: “Mestre, gostaríamos que nos desse um
sinal da tua autoridade para ensinar, e então, quando o mesmo acontecer, todos
os homens saberão que foste enviado por Deus.” E Jesus lhes respondeu: “Quando
está anoitecendo, vós dizeis que haverá tempo bom, porque o céu está vermelho;
no amanhecer dizeis que haverá mau tempo porque o céu está vermelho e sombrio.
Quando vedes uma nuvem se levantar no oeste, dizeis que a chuva virá; quando o
vento sopra do sul, dizeis que fará um calor abrasador. Como é que vós sabeis
discernir tão bem o aspecto do céu, e sejais totalmente incapazes de discernir
os sinais dos tempos? Aos que querem conhecer a verdade, um sinal já lhes foi
dado; mas à geração de mal-intencionados e hipócritas, nenhum sinal será dado.”
P 1745:1 157:2.2 Depois de Jesus ter falado dessa maneira, ele se
retirou e se preparou para a conferência noturna com seus seguidores. Nesta
conferência, foi decidido se empreender uma missão unida por todas as cidades e
vilarejos de Decápolis, tão logo Jesus e os doze regressassem de sua visita
planejada a Cesaréia de Felipe. O Mestre participou no planejamento da missão em
Decápolis e, ao dispersar a reunião, disse : “Vos digo, a que tomeis cuidado com
a influência dos fariseus e dos saduceus. Não sede enganados por suas grandes
demonstrações de erudição e sua profunda lealdade às cerimônias da religião.
Ficai preocupados somente com o espírito da verdade viva e pelo poder da
verdadeira religião. Não é o medo de uma religião morta que vos salvará, mas
antes, vossa fé em uma experiência viva nas realidades espirituais do reino. Não
vos deixeis ficardes cegados pelos pré-juízos nem paralisados pelo medo. Não
permitais tampouco, que a reverência pelas tradições deforme tanto vossa
compreensão, que vossos olhos não vejam e vossos ouvidos não ouçam. A finalidade
da verdadeira religião não é meramente trazer paz, mas primeiro assegurar o
progresso. E não pode haver paz no coração, nem progresso na mente, a menos que
vos apaixoneis de todo o coração pela verdade, os ideais das realidades eternas.
As conseqüências da vida e da morte estão sendo colocados diante de todos vós –
os prazeres pecaminosos do tempo contra as corretas realidades da eternidade.
Mesmo agora deveríeis começar a liberta-vos da escravidão do medo e da dúvida, à
medida que começais a viver a nova vida da fé e da esperança. E quando os
sentimentos do serviço por vossos semelhantes surjam dentro de vossa alma, não
os sufoqueis; quando as emoções do amor por vosso próximo brotem dentro de vosso
coração, dai expressão a estes impulsos afetivos no auxílio inteligente às
necessidades reais de vossos semelhantes.”
A Confissão de Pedro
P 1745:2 157:3.1 Cedo na manhã de terça-feira, Jesus e os doze
apóstolos saíram do parque de Magadã para Cesaréia de Felipe, a capital dos
domínios do tetrarca Felipe. Cesaréia de Felipe estava situada numa região de
uma beleza admirável. Acomodava-se em um vale encantador entre colinas
pitorescas, de onde o Jordão surgia de uma gruta subterrânea. O cume do Monte
Hermom era contemplado totalmente pelo norte, ao passo que das colinas do sul se
tinha uma vista esplêndida sobre o alto Jordão e o Mar da Galiléia.
P
1745:3 157:3.2 Jesus havia ido ao Monte Hermom durante suas primeiras
experiências nos assuntos do reino, e agora que estava entrando na fase final de
sua obra, desejava voltar a esta montanha de prova e triunfo, onde esperava que
os apóstolos pudessem ganhar uma nova visão de suas responsabilidades e adquirir
novas forças para os tempos difíceis logo adiante. Enquanto viajavam pelo
caminho, quase na hora de passar ao sul das Águas de Merom, os apóstolos se
puseram a conversar entre eles sobre suas recentes experiências na Fenícia e em
outros lugares, e a relatar como sua mensagem havia sido recebida, e a maneira
em que diferentes povos consideravam o Mestre.
P 1745:4 157:3.3 Quando
pararam para almoçar, Jesus confrontou repentinamente aos doze com a primeira
pergunta que nunca lhes havia feito sobre si mesmo. Ele fez esta surpreendente
pergunta, “Quem os homens dizem que eu sou?”
P 1746:1 157:3.4 Jesus
havia passado longos meses instruindo estes apóstolos sobre a natureza e o
caráter do reino dos céus, e ele sabia muito bem que havia chegado a hora em que
devia começar a ensinar-lhes mais coisas sobre a sua própria natureza e sua
relação pessoal com o reino. E agora, enquanto eles estavam sentados debaixo de
umas amoreiras, o Mestre se preparou para celebrar uma das reuniões mais
importantes de sua longa associação com os apóstolos escolhidos.
P
1746:2 157:3.5 Mais da metade dos apóstolos concorreram a responder à pergunta
de Jesus. Disseram-lhe que por pessoas que o conheciam, ele era considerado como
um profeta ou como um homem extraordinário; que mesmos os seus inimigos o temiam
bastante, responsabilizando seus poderes pela acusação de que estava aliado com
o príncipe dos demônios. Disseram-lhe que algumas pessoas da Judéia e Samaria,
que não o haviam conhecido pessoalmente, acreditavam que ele era João Batista
ressuscitado dos mortos. Pedro explicou que, em diversas ocasiões e por várias
pessoas, ele tinha sido comparado com Moisés, Elias, Isaías e Jeremias. Depois
de Jesus ter escutado estes comentários, se pôs de pé, e olhando os doze
sentados em semicírculo ao seu redor, com uma ênfase surpreendente, os apontou
com um gesto expressivo de sua mão e perguntou, “Mas quem dizeis vós que eu
sou?“ Houve um momento de tenso silêncio. Os doze não despregaram os olhos do
Mestre, e aí Simão Pedro, levantando-se de um salto, exclamou: “Tu és o
Libertador, o Filho do Deus vivo.” E os onze apóstolos sentados, se levantaram
em uníssono, indicando assim que Pedro havia falado por todos eles.
P
1746:3 157:3.6 Quando Jesus sinalizou para que se sentassem de novo e, enquanto
permanecia de pé diante deles, disse: “Isto vos foi revelado por meu Pai. Chegou
a hora em que deveis conhecer a verdade sobre mim. Mas, por enquanto, eu vos
ordeno a que não conteis isto a ninguém. Saiamos daqui.”
P 1746:4
157:3.7 E assim pois, retomaram a sua viagem para Cesaréia de Felipe, chegando
tarde daquela noite, e se alojaram na casa de Celsus, que os estava esperando.
Os apóstolos dormiram pouco aquela noite; pareciam sentir que um grande
acontecimento havia transpirado em suas vidas e na obra do reino.
A Conversa Sobre o Reino
P 1746:5 157:4.1 Desde a ocasião do batismo de Jesus por João e
a transformação da água em vinho em Caná, os apóstolos o haviam aceito
virtualmente, em diversas ocasiões, como o Messias. Por curtos períodos, alguns
deles haviam realmente acreditado que ele era o Libertador esperado. Porém, mal
surgiam estas esperanças em seus corações e o Mestre as espatifava com alguma
palavra arrasadora ou um ato decepcionante. Durante muito tempo haviam ficado
num estado de agitação por causa do conflito entre os conceitos do Messias
esperado que conservavam em suas mentes, e a experiência de suas associações
extraordinárias com este homem extraordinário, que conservavam em seus corações.
P 1746:6 157:4.2 Era ao final da manhã de quarta-feira, quando os
apóstolos se congregaram no jardim de Celsus para almoçar. Durante a maior parte
da noite e desde que haviam se levantado naquela manhã, Simão Pedro e Simão o
Zelote haviam estado se esforçando ardentemente para que todos seus irmãos
aceitassem o Mestre de todo o coração, não somente como Messias, mas também como
o Filho divino do Deus vivo. Os dois Simões estavam quase de acordo em suas
apreciações de Jesus, e trabalharam diligentemente para persuadir a seus irmãos
a aceitarem plenamente os seus pontos de vista. Enquanto André continuava sendo
o diretor geral do corpo apostólico, o seu irmão Simão Pedro, estava se tornando
cada vez mais, e por consentimento geral, o porta voz dos doze.
P 1747:1
157:4.3 Ao meio-dia, todos estavam sentados no jardim, quando o Mestre apareceu.
Mostravam expressões de digna solenidade, e todos se levantaram quando se
aproximou deles. Jesus suavizou a tensão com aquele sorriso amigável e
fraternal, que era tão característico dele, quando seus seguidores levavam a si
próprios ou algum acontecimento relacionado a eles, demasiado seriamente. Com um
gesto imperativo, indicou que se sentassem. Nunca mais os doze receberam seu
Mestre se colocando de pé quando ele surgia na presença deles. Eles viram que
ele não aprovava esta mostra exterior de respeito.
P 1747:2 157:4.4
Depois de terem compartilhado o almoço e ficarem empenhados na discussão dos
planos de sua próxima viagem para Decápolis, Jesus olhou repentinamente seus
rostos e disse: “Agora que já passou um dia inteiro desde que aprovastes a
declaração de Simão Pedro sobre a identidade do Filho do Homem, desejo vos
perguntar se ainda mantendes vossa decisão?” Ao ouvir isto, os doze se puseram
de pé, e Simão Pedro, avançando uns passos em direção a Jesus, disse: “Sim
Mestre, a mantemos. Cremos que és o Filho do Deus vivo.” E Pedro sentou-se com
seus irmãos.
P 1747:3 157:4.5 Jesus, ainda de pé, disse então aos doze:
“Sois os meus embaixadores escolhidos, mas sei que, nestas circunstâncias, não
poderíeis ter esta crença como resultado de um simples conhecimento humano. Esta
é uma revelação do espírito de meu Pai ao mais profundo de vossas almas. E assim
pois, quando fazeis esta confissão pela perspicácia do espírito de meu Pai que
reside em vós, sou induzido a declarar que sobre esta fundação construirei a
fraternidade do reino dos céus. Sobre esta rocha de realidade espiritual,
construirei o templo vivo da irmandade espiritual nas realidades eternas do
reino de meu Pai. Todas as forças do mal e os exércitos do pecado, não
prevalecerão contra esta fraternidade humana do espírito divino. E ao mesmo
tempo o espírito de meu Pai será sempre o guia e mentor divino de todos os que
se vinculem a esta irmandade espiritual, a vós e a vossos sucessores, entrego
agora as chaves do reino exterior—a autoridade sobre as coisas temporais – os
aspectos sociais e econômicos desta associação de homens e mulheres, como
membros do reino.” E novamente os encarregou de que, por enquanto, não dissessem
a ninguém que era o Filho de Deus.
P 1747:4 157:4.6 Jesus estava
começando a ter fé na lealdade e integridade de seus apóstolos. O Mestre
concebia que uma fé que podia resistir ao que seus representantes escolhidos
haviam passado recentemente, suportaria sem dúvida, as duras provas que estavam
logo adiante e emergir do naufrágio aparente de todas as suas esperanças para a
nova luz de uma nova dispensação, e assim, ser capaz de sair para iluminar o
mundo sentado em trevas. Neste dia, o Mestre começou a crer na fé de seus
apóstolos, menos um.
P 1747:5 157:4.7 E sempre desde aquele dia, este
mesmo Jesus tem estado construindo aquele templo vivo sobre essa mesma fundação
eterna de sua filiação divina, e aqueles que se tornam auto-conscientes filhos
de Deus, são as pedras humanas que compõem este templo vivo de filiação que se
levanta para a glória e honra da sabedoria e amor do Pai eterno dos espíritos.
P 1747:6 157:4.8 E Jesus, depois de assim ter falado, ordenou aos doze
que se retirassem à sós nas colinas até a hora da ceia, para buscarem a
sabedoria, força e orientação espiritual. E fizeram como o Mestre os havia
recomendado.
O Novo Conceito
P 1748:1 157:5.1 A característica nova e essencial da confissão
de Pedro foi o reconhecimento bem claro de que Jesus era o Filho de Deus, de sua
divindade inquestionável. Desde o seu batismo e das bodas de Caná, estes
apóstolos o haviam considerado de diversas maneiras como o Messias, mas não
fazia parte do conceito judeu do libertador nacional, de que deveria ser divino.
Os judeus não haviam ensinado que o Messias procederia da divindade; ele deveria
ser “o ungido“, mas dificilmente o haviam contemplado como sendo “o Filho de
Deus”. Na segunda confissão foi colocada mais ênfase na natureza combinada de
Jesus, no fato excelso de que era o Filho do Homem e o Filho de Deus, foi sobre
essa grande verdade da união da natureza humana com a natureza divina que Jesus
declarou que construiria o reino dos céus.
P 17748:2 157:5.2 Jesus havia
procurado viver sua vida na Terra e completar sua missão de efusão, como o Filho
do Homem. Os seus seguidores estavam dispostos a considerá-lo como o Messias
esperado. Sabendo que nunca poderia realizar estas expectativas messiânicas, ele
se esforçou por modificar o conceito deles sobre o Messias, de tal maneira que
lhe permitiria satisfazer parcialmente as suas expectativas. Mas agora ele
reconheceu que este plano dificilmente poderia ser levado a cabo com êxito. Por
conseguinte, escolheu ousadamente revelar o seu terceiro plano – anunciar
abertamente a sua divindade, reconhecer a veracidade da confirmação de Pedro, e
proclamar diretamente aos doze que ele era um Filho de Deus.
P 1748:3
157:5.3 Durante três anos, Jesus havia estado proclamando que era o “Filho do
Homem”, enquanto que durante estes mesmos três anos, os apóstolos haviam sido
cada vez mais insistentes de que ele era o Messias judeu esperado. Ele agora
revelou que era o Filho de Deus, e decidiu construir o reino dos céus sobre o
conceito da natureza combinada de Filho do Homem e de Filho de Deus. Havia
decidido abster-se de fazer novos esforços para convencê-los de que não era o
Messias. Ele agora se propôs audazmente a revelá-los o que ele é, e portanto
ignorar a determinação deles em persistirem em considerá-lo como o Messias.
A Tarde Seguinte
P 1748:4 157:6.1 Jesus e os apóstolos permaneceram mais um dia
na casa de Celsus, esperando que os mensageiros de Davi Zebedeu chegassem com o
dinheiro. Depois do colapso da popularidade de Jesus com as massas, houve uma
grande diminuição nos rendimentos. Quando atingiram Cesaréia de Felipe, a
tesouraria estava vazia. Mateus estava relutante em deixar Jesus e seus irmãos
naquele momento, e não tinha fundos próprios disponíveis para entregar a Judas,
como tantas vezes havia feito anteriormente. Contudo, Davi Zebedeu havia
previsto esta provável diminuição de recursos, e consequentemente, havia
instruído a seus mensageiros que, enquanto atravessavam Judéia, Samaria e
Galiléia, deviam atuar como cobradores de dinheiro para ser enviado aos
apóstolos desterrados e a seu Mestre. E assim, pelo anoitecer deste dia, estes
mensageiros chegaram de Betsáida trazendo fundos suficientes para sustentar os
apóstolos até sua volta para empreender o giro por Decápolis. Por aquela época,
Mateus esperava ter o dinheiro da venda de sua última propriedade de Cafarnaum,
havendo arranjado para que estes fundos fossem entregues a Judas anonimamente.
P 1749:1 157:6.2 Nem Pedro nem os demais apóstolos tinham um conceito
muito adequado da divindade de Jesus. Eles pouco percebiam que este era o
princípio de uma nova época na carreira terrestre de seu Mestre, a época em que
o instrutor-curador estava se tornando o Messias recentemente concebido – o
Filho de Deus. A partir desse momento, uma nova nota aparecia na mensagem do
Mestre. Daqui em diante, seu único ideal na vida foi a revelação do Pai,
enquanto que a única idéia de seu ensinamento, foi a de apresentar para o seu
universo, a personificação dessa sabedoria suprema que somente pode ser
compreendida, ao vivê-la . Ele veio para que todos pudéssemos ter vida e a tê-la
mais abundantemente.
P 1749:2 157:6.3 Jesus entrava agora no quarto e
último estágio de sua vida humana na carne. O primeiro estágio foi a de sua
infância, os anos em que tinha somente uma consciência nebulosa de sua origem,
natureza e destino como ser humano. O segundo estágio foi a da crescente
autoconsciência dos anos de sua juventude e de sua idade adulta progressiva,
durante os quais, veio a compreender mais claramente a sua natureza divina e a
sua missão humana. Este segundo estágio terminou com as experiências e
revelações associadas ao seu batismo. O terceiro estágio da experiência
terrestre do Mestre se estendeu desde o seu batismo, através dos anos de seu
ministério como educador e curador, até o importante momento da confirmação de
Pedro em Cesaréia de Felipe. Este terceiro período de sua vida terrestre,
abarcou a época em que seus apóstolos e os seus seguidores imediatos o
conheceram como o Filho do Homem e o consideravam como o Messias. O quarto e
último período de sua carreira terrestre começou aqui, em Cesaréia de Felipe, e
se prolongou até à crucificação. Esta etapa de seu ministério esteve
caracterizada pelo reconhecimento de sua divindade e abarcou as obras de seu
ultimo ano na carne. Durante este quarto período, enquanto a maioria de seus
seguidores ainda continuavam o considerando como o Messias, ele se fez conhecido
para os apóstolos como o Filho de Deus. A confirmação de Pedro marcou o
princípio do novo período de uma compreensão mais completa da verdade de seu
ministério supremo como um Filho efundido em Urantia e para um universo inteiro,
e o reconhecimento deste fato, ao menos vagamente, por parte de seus
embaixadores escolhidos.
P 1749:3 157:6.4 Desta maneira Jesus deu
exemplo em sua vida do que ensinava em sua religião: o crescimento da natureza
espiritual mediante a técnica do progresso vivo. Não colocou ênfase, como
fizeram os seus seguidores posteriores, na luta incessante entre a alma e o
corpo. Ele ensinou ao invés, que o espírito era tranqüilamente o vencedor de
ambos e era eficaz na reconciliação benéfica de um grande número destas lutas
intelectuais e instintivas.
P 1749:4 157:6.5 A partir deste momento,
todos os ensinamentos de Jesus adquirem um novo significado. Antes de Cesaréia
de Felipe, ele apresentou o evangelho do reino como seu instrutor principal.
Depois de Cesaréia de Felipe, ele apareceu não somente como instrutor mas como o
divino representante do Pai eterno, que é o centro e a circunferência deste
reino espiritual, e era necessário que fizesse tudo isso como um ser humano,
como o Filho do Homem.
P 1749:5 157:6.6 Jesus havia se esforçado
sinceramente em conduzir seus seguidores para o reino espiritual como um
instrutor, depois como um instrutor-curador, mas eles não aceitaram dessa forma.
Ele sabia muito bem que sua missão terrestre talvez não poderia alcançar as
expectativas messiânicas do povo judeu; os antigos profetas haviam descrito um
Messias que ele nunca poderia ser. Tentou estabelecer o reino do Pai como Filho
do Homem, mas seus seguidores não quiseram segui-lo nesta aventura. Ao ver isto,
Jesus escolheu então enfrentar seus crentes até certo ponto, e ao fazê-lo assim,
se preparou para assumir abertamente o papel do Filho de Deus efundido.
P 1750:1 157:66.7 Em conseqüência, os apóstolos ouviram muitas coisas
que eram novas, à medida que Jesus lhes falava neste dia no jardim. E alguns
destes pronunciamentos soaram estranhos até mesmo para eles. Entre outras
afirmações surpreendentes, escutaram como por exemplo, as seguintes:
P
1750:2 157:6.8 “De agora em diante, se qualquer homem quiser associar-se
conosco, que assuma as obrigações da filiação e que me siga. E quando eu não
estiver mais convosco, não pensai que o mundo vá tratá-los melhor do que tratou
ao vosso Mestre. Se me amais, preparai-vos para provar esta afeição mediante
vossa boa vontade de fazer o supremo sacrifício.”
P 1750:3 157:6.9 “E
anotai bem as minhas palavras: eu não vim para chamar os justos, mas os
pecadores. O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e para
doar a sua vida como uma dádiva para todos. Eu vos declaro que vim para buscar e
para salvar aqueles que estão perdidos.”
P 1750:4 157:6.10 “Nenhum homem
neste mundo vê agora o Pai, exceto o Filho que veio do Pai. Mas se o Filho for
elevado, atrairá a todos os homens para si, e qualquer um que creia nesta
verdade da natureza combinada do Filho, será favorecido com uma vida que é mais
duradoura que uma era.”
P 1750:5 157:6.11 “Ainda não podemos proclamar
abertamente que o Filho do Homem é o Filho de Deus, mas isto já vos foi
revelado; por isso vos falo ousadamente sobre esses mistérios. Ainda que eu
esteja diante de vós nesta presença física, eu vim de Deus, o Pai. Antes de
Abraão ter sido, eu sou. Eu vim desde o Pai para este mundo tal como me haveis
conhecido, e vos declaro que logo terei que deixar este mundo e regressar ao
trabalho de meu Pai.”
P 1750:6 157:6.12 “E agora, vossa fé pode
compreender a verdade destas declarações perante a minha advertência de que o
Filho do Homem não satisfará as expectativas de vossos pais, tal como eles
concebiam o Messias? Meu reino não é deste mundo. Podeis acreditar na verdade
sobre mim em face do fato que, ainda que as raposas tenham tocas e os pássaros
do céu tenham ninhos, eu não tenho onde repousar a minha cabeça?”
P
1750:7 157:6.13 “Contudo, vos digo que o Pai e eu somos um. Aquele que me viu,
viu o Pai. Meu Pai está trabalhando comigo em todas estas coisas, e ele nunca me
deixará sozinho nesta missão, assim como eu nunca vos abandonarei quando dentro
em pouco saiais a proclamar o evangelho por todo o mundo.
P 1750:8
157:6.14 “E agora vos trouxe à parte e a sós comigo durante um curto período,
para que possais compreender a glória, e captar a grandeza da vida para a qual
vos chamei: a aventura pela fé, do estabelecimento do reino de meu Pai no
coração dos homens, a edificação de minha irmandade de associação viva com as
almas de todos os que crêem neste evangelho.”
P 1750:9 157:6.15 Os
apóstolos escutaram em silêncio estas declarações audazes e surpreendentes;
estavam atônitos. E eles se dispersaram em pequenos grupos para discutir e
refletir as palavras do Mestre. Haviam confessado que Jesus era o Filho de Deus,
mas não podiam alcançar o total significado do que haviam sido induzidos a
fazer.
A Reunião de André
P 1750:10 157:7.1 Naquela noite, André se encarregou de manter
uma reunião pessoal e investigadora com cada um de seus irmãos, e teve conversas
proveitosas e alentadoras com todos os seus companheiros, exceto Judas
Iscariotes. André nunca havia desfrutado de uma associação pessoal tão íntima
com Judas como com os outros apóstolos, e por esta razão, não considerava de
muita importância que Judas nunca tivesse se relacionado de maneira espontânea e
confidencial com o chefe do corpo apostólico. Mas André estava agora tão
preocupado com a atitude de Judas que, mais tarde naquela noite, depois que
todos os apóstolos estavam dormindo profundamente, procurou Jesus e expôs a ele
a causa de sua ansiedade. Jesus disse: “André, não é errado que tenhas vindo a
mim com este assunto, mas não há nada mais que possamos fazer; somente continuar
a conceder a máxima confiança a este apóstolo. E não diga nada a seus irmãos
desta conversa comigo.”
P 1751:1 157:7.2 E isto foi tudo que André
conseguiu extrair de Jesus. Sempre houve algumas diferenças entre este judeu e
seus irmãos galileus. Judas havia ficado chocado com a morte de João Batista,
gravemente ofendido com as reprimendas do Mestre em várias ocasiões, desapontado
quando Jesus se negou a ser proclamado rei, humilhado quando fugiu dos fariseus,
desgostoso quando se negou a aceitar o desafio dos fariseus que lhe pediam um
sinal, desconcertado com a negativa do seu Mestre em recorrer à manifestações de
poder e, agora, mais recentemente, deprimido e às vezes abatido porque a
tesouraria estava vazia. E Judas sentia falta do estímulo das multidões.
P 1751:2 157:7.3 Cada um dos outros apóstolos estava igualmente afetado,
em maior ou menor grau, por estas mesmas provas e tribulações, mas eles amavam
Jesus. Ao menos devem ter amado o Mestre mais do que Judas, porque continuaram
com ele até o amargo final.
P 1751:3 157:7.4 Sendo da Judéia, Judas
tomou como ofensa pessoal a recente advertência de Jesus aos apóstolos: “tende
cuidado com a influência dos fariseus”; ele estava disposto a considerar esta
declaração como uma alusão velada a ele mesmo. Mas o grande erro de Judas foi:
repetidas vezes, quando Jesus enviava seus apóstolos a orarem sozinhos, Judas,
em lugar de se empenhar numa comunhão sincera com as forças espirituais do
universo, entregava-se a pensamentos de temor humano enquanto persistia em
entreter dúvidas sutis sobre a missão de Jesus, bem como se entregar à sua
tendência desafortunada de abrigar sentimentos de vingança.
P 1751:4
157:7.5 E agora, Jesus iria levar consigo os seus apóstolos ao Monte Hermom,
onde havia decidido inaugurar a sua quarta fase de seu ministério terrestre como
o Filho de Deus. Alguns deles estiveram presentes em seu batismo no Jordão e
haviam presenciado o começo de sua carreira como o Filho do Homem, e ele
desejava que alguns deles estivessem presentes para ouvirem sua autoridade para
assumir o novo papel público de Filho de Deus. Consequentemente, na manhã de
sexta-feira, 12 de agosto, Jesus disse aos doze: “Comprai provisões e
preparai-vos para viajardes para aquela montanha, onde o espírito me pede que eu
vá receber os dons para terminar minha obra na Terra. E desejo levar comigo os
meus irmãos para que também possam ser fortalecidos para os tempos difíceis de
passarem comigo por esta experiência.”
Tradução Voluntária Por : Donato Donati Canfora