Na Festa dos Tabernáculos
Introdução
Quando Jesus partiu para Jerusalém com os dez apóstolos,
decidiu viajar pela Samaria, que era o trajeto mais curto. Consequentemente,
eles passaram pela costa oriental do lago, e pelo caminho de Escitópolis
entraram nos limites da Samaria. Quase ao anoitecer, Jesus enviou Felipe e
Mateus até uma aldeia nas ladeiras orientais do Monte Gilboa, para assegurar o
alojamento para o grupo. E então aconteceu que aqueles aldeãos eram altamente
preconceituosos contra os judeus, inclusive mais ainda do que a maioria dos
samaritanos, e estes sentimentos estavam intensificados naquele preciso momento,
já que muitos judeus estavam a caminho da festa dos tabernáculos. Esta gente
sabia muito pouco sobre Jesus, e se negaram a alojá-lo porque ele e seus
associados eram judeus. Quando Mateus e Felipe manifestaram indignação e
informaram a estes samaritanos de que estavam se recusando a hospedar o Santo de
Israel, os enfurecidos aldeãos os enxotaram com paus e pedras de sua pequena
cidade.
p1788:2 162:0.2 Depois que Felipe e Mateus voltaram a seus
companheiros e contaram como haviam sido expulsos do povoado, Tiago e João se
aproximaram de Jesus e disseram: «Mestre, rogamo-te que nos dês permissão para
pedir que caia fogo do céu e destrua a esses samaritanos insolentes e
impenitentes.» Mas quando Jesus escutou estas palavras de vingança, virou-se
para os filhos de Zebedeu e lhes repreendeu severamente: «Não sabeis que tipo de
atitude manifestais. A vingança não se aprecia na perspectiva do reino dos céus.
Em lugar de disputar, vamos para a pequena aldeia perto do vau do Jordão.» E
assim, por causa de seus preconceitos sectários, estes samaritanos privaram-se
da honra de oferecer hospitalidade ao Filho Criador de um universo.
p1788:3 162:0.3 Jesus e os dez se hospedaram durante a noite no vilarejo
próximo ao vau do Jordão. No dia seguinte bem cedo, eles atravessaram o rio e
continuaram no seu caminho para Jerusalém pela estrada a leste do Jordão,
chegando a Betânia ao final da tarde de quarta-feira. Tomé e Natanael, chegaram
na quinta, tendo se atrasado devido às reuniões com Rodã.
p1788:4
162:0.4 Jesus e os doze permaneceram nas vizinhanças de Jerusalém até o final do
mês seguinte (outubro), aproximadamente quatro semanas e meia. Jesus mesmo só
entrou na cidade umas poucas vezes, e estas breves visitas foram feitas durante
os dias da festa dos tabernáculos. Uma grande parte de outubro ele passou em
Belém com Abner e seus associados.
Os Perigos da Visita a Jerusalém
p1788:5 162:1.1 Muito antes deles fugirem da Galiléia, os
seguidores de Jesus haviam lhe suplicado que fosse a Jerusalém para proclamar o
evangelho do reino, a fim de que sua mensagem tivesse o prestígio de haver sido
predicado no centro da cultura e da erudição judaicas; mas agora que havia vindo
de fato a Jerusalém para ensinar, eles estavam temerosos por sua vida. Sabendo
que o sanedrim havia tentado trazer Jesus a Jerusalém para julgá-lo, e ao
recordar as recentes declarações reiteradas do Mestre de que ele devia ser
submetido à morte, os apóstolos ficaram literalmente pasmados por sua repentina
decisão de assistir à festa dos tabernáculos. À todas as suas súplicas
anteriores para que fosse a Jerusalém, Jesus respondera: «Ainda não chegou a
hora.» Agora, ante seus protestos de medo, ele apenas respondia: «Mas chegou a
hora.»
p1789:1 162:1.2 Durante a festa dos tabernáculos, Jesus entrou
corajosamente em Jerusalém em várias ocasiões e ensinou publicamente no templo.
Fez isto apesar dos esforços de seus apóstolos por dissuadi-lo. Ainda que eles
haviam insistido durante muito tempo para que proclamasse sua mensagem em
Jerusalém, agora temiam vê-lo entrar na cidade naquele momento, ao saberem muito
bem que os escribas e os fariseus estavam dispostos a levá-lo à morte.
p1789:2 162:1.3 A audaz aparição de Jesus em Jerusalém confundiu mais do
que nunca a seus seguidores. Muitos de seus discípulos, e inclusive Judas
Iscariotes, o apóstolo, atreveram-se a pensar que Jesus havia fugido
precipitadamente para Fenícia porque temesse os dirigentes judeus e Herodes
Antipas. Não compreendiam o significado das manobras do Mestre. Sua presença em
Jerusalém na festa dos tabernáculos, inclusive contrário aos conselhos de seus
seguidores, bastou para pôr um fim definitivamente a todos os rumores sobre seu
medo e covardia.
p1789:3 162:1.4 Durante a festa dos tabernáculos,
milhares de crentes de todas as partes do império romano viram Jesus, ouviram-no
ensinar, e muitos deles foram inclusive até Betânia para conversar com ele sobre
o progresso do reino em suas terras natais.
p1789:4 162:1.5 Havia muitas
razões para que Jesus pudesse predicar publicamente nos pátios do templo durante
todos os dias da festa, e a principal destas era o medo que havia tomado os
oficiais do sanedrim como resultado da secreta divisão de sentimentos em suas
próprias fileiras. Era um fato que muitos membros do sanedrim ou acreditavam
secretamente em Jesus ou então estavam decididamente contrários à prisão dele
durante a festa, quando um grande número de pessoas estava presente em
Jerusalém, muitos dos quais criam nele ou pelo menos eram simpáticos ao
movimento espiritual que ele era responsável.
p1789:5 162:1.6 Os
esforços de Abner e de seus companheiros através da Judéia também haviam
contribuído muito por consolidar um sentimento favorável para o reino, de tal
maneira que os inimigos de Jesus não se atreviam a ser demasiados sinceros em
sua oposição. Esta foi uma das razões pelas quais Jesus pôde visitar
publicamente Jerusalém e sair dali com vida. Um ou dois meses antes disso, ele
seria levado à morte certamente.
p1789:6 162:1.7 O atrevimento audacioso
de Jesus em aparecer publicamente em Jerusalém intimidou seus inimigos; eles não
estavam preparados para um desafio tão atrevido. Várias vezes durante este mês,
o sanedrim fez débeis tentativas para colocar o Mestre na prisão, mas estes
esforços não levaram a nada. Seus inimigos ficaram tão surpresos pela inesperada
aparição pública de Jesus em Jerusalém, que eles conjeturavam que as autoridades
romanas haviam lhe prometido proteção. Sabendo que Felipe (o irmão de Herodes
Antipas) era quase um discípulo de Jesus, os membros do sanedrim especularam que
Felipe havia assegurado para Jesus umas promessas de proteção contra seus
inimigos. Jesus partira de sua jurisdição antes deles despertarem para o fato de
que haviam se equivocado ao acreditarem que sua aparição repentina e audaz em
Jerusalém era por causa de um acordo secreto com os oficiais romanos.
p1789:7 162:1.8 Só os doze apóstolos sabiam que Jesus tencionava
assistir à festa dos tabernáculos quando partiram de Magadã. Os outros
seguidores do Mestre ficaram muito assombrados quando ele apareceu nos pátios do
templo e começou a ensinar publicamente, e as autoridades judaicas ficaram
inexprimivelmente surpresos quando foi relatado que ele estava ensinando no
templo.
p1790:1 162:1.9 Embora os discípulos não esperassem que Jesus
assistisse à festa, a grande maioria dos peregrinos procedentes de longe que
haviam ouvido sobre ele, albergavam a esperança de que pudessem vê-lo em
Jerusalém. E não ficaram decepcionados, porque ensinou em diversas ocasiões no
Pórtico de Salomão e em outras partes dos pátios do templo. Em realidade, estes
ensinamentos foram a proclamação oficial ou solene da divindade de Jesus ao povo
judeu e ao mundo inteiro.
p1790:2 162:1.10 As multidões que escutaram os
ensinamentos do Mestre estavam divididas em suas opiniões. Uns diziam que era um
bom homem; alguns, um profeta; outros, que era realmente o Messias; outros
diziam que era um intrometido perverso, que estava dominando o povo com suas
doutrinas estranhas. Seus inimigos hesitavam em denunciá-lo abertamente por medo
dos seus crentes simpatizantes, enquanto seus amigos temiam reconhecê-lo
abertamente com medo dos dirigentes judeus, sabendo que o sanedrim estava
determinado a levá-lo a morte. Mas inclusive seus inimigos maravilhavam-se por
seu ensinamento, sabedores que ele não fora instruído nas escolas dos rabinos.
p1790:3 162:1.11 Cada vez que Jesus ia a Jerusalém, seus apóstolos
ficavam cheios de medo. Dia após dia, eles ficavam mais temerosos quando
escutavam suas declarações cada vez mais audazes sobre a natureza de sua missão
na Terra. Eles não estavam acostumados a escutar Jesus fazer umas proclamações
tão rotundas e umas afirmações tão incríveis, nem sequer quando predicava entre
seus amigos.
O Primeiro Discurso no Templo
p1790:4 162:2.1 Na primeira tarde que Jesus ensinou no templo,
um grupo considerável sentou-se a escutar suas palavras descrevendo a liberdade
do novo evangelho e a alegria dos que crêem na boa nova, quando um ouvinte
curioso o interrompeu para perguntar: «Mestre, como é que tu podes citar as
Escrituras e ensinar ao povo tão facilmente, quando eu sei que tu és iletrado na
ciência dos rabinos?» Jesus respondeu: «Nenhum homem me ensinou as verdades que
vos proclamo. E este ensinamento não é meu, mas dAquele que me enviou. Se algum
homem deseja realmente fazer a vontade de meu Pai, saberá com certeza acerca de
meu ensinamento, se ele é de Deus ou se falo por mim mesmo. O que fala por si
mesmo busca sua própria glória, mas quando proclamo as palavras do Pai, busco
assim a glória dAquele que me enviou. Mas antes de tentar entrar na nova luz,
não deveríeis antes seguir a luz que já possuís? Moisés vos deu a lei, e
entretanto, quantos de vós tentam honestamente cumprir suas exigências? Nesta
lei, Moisés vos ordena, dizendo: `Não matarás'; apesar deste mandamento, alguns
de vós pretendem matar o Filho do Homem.»
p1790:5 162:2.2 Quando a
multidão escutou estas palavras, lançaram-se a discutir entre si. Alguns diziam
que estava louco; uns que ele tinha um demônio. Outros diziam que este era na
verdade o profeta da Galiléia que os escribas e fariseus tentavam matar há muito
tempo. Alguns diziam que as autoridades religiosas estavam receosas em
molestá-lo; outros pensavam que não colocavam as mãos nele porque haviam se
convertido em seus crentes. Depois de uma discussão considerável, um membro da
multidão se adiantou e perguntou a Jesus: «Por que os dirigentes tentam te
matar?» E ele respondeu: «Os dirigentes pretendem me matar porque eles ressentem
meu ensinamento sobre a boa nova do reino, um evangelho que libera os homens das
pesadas tradições de uma religião formal de cerimônias, que esses educadores
estão determinados a manter a toda custa. Eles circuncidam, de acordo com a lei,
no dia do sábado, mas querem me matar porque uma vez, num dia de sábado, eu
libertei um homem dominado pelo cativeiro da aflição. Eles me seguem no sábado
para me espiar, mas querem me matar porque em outra ocasião escolhi curar
completamente num dia de sábado, um homem gravemente ferido. Procuram me matar
porque eles bem sabem que, se vós crerdes honestamente e vos atreverdes a
aceitar meu ensinamento, o sistema de religião tradicional deles será derrocado,
destruído para sempre. E assim ficarão privados de autoridade sobre aquilo que
têm consagrado suas vidas, já que se negam firmemente a aceitar este evangelho
novo e mais glorioso do reino de Deus. E agora eu vos clamo a cada um de vós:
Não julgueis segundo as aparências exteriores, mas ao invés julgai pelo
verdadeiro espírito destes ensinamentos; julgai com retitude.»
p1791:1
162:2.3 Então, outro inquiridor disse: «Sim, Mestre, nós buscamos o Messias, mas
sabemos que quando chegue, sua aparição será misteriosa. Sabemos de onde tu
vens. Tens estado entre teus irmãos desde o principio. O libertador virá com
poder para restaurar o trono do reino de Davi. Pretendes realmente ser o
Messias?» E Jesus respondeu: «Tu presumes conhecer-me e saber de onde sou.
Desejaria que tuas afirmações fossem verdadeiras, porque de fato então
encontrarias uma vida abundante nesse conhecimento. Mas eu vos declaro que não
vim até vós por mim mesmo; fui enviado pelo Pai, e aquele que me enviou é
verdadeiro e fiel. Ao recusarem-se a me escutar, vós estais negando receber
Àquele que me envia. Vós, se receberdes este evangelho, chegareis a conhecer
Àquele que me enviou. Eu conheço o Pai, porque vim do Pai para proclamá-lo e
revelá-lo a vós.»
p1791:2 162:2.4 Os agentes dos escribas queriam pôr as
mão sobre ele, mas temiam à multidão, porque muitos acreditavam nele. A obra de
Jesus desde seu batismo era bem conhecida em todo o mundo judeu, e quando várias
destas pessoas relatavam estas coisas, diziam entre si: «Ainda que este
instrutor seja da Galiléia, e embora não satisfaça todas as nossas expectativas
do Messias, nos perguntamos se quando o libertador chegue fará realmente algo
mais maravilhoso do que este Jesus de Nazaré já fizera.»
p1791:3 162:2.5
Quando os fariseus e seus agentes escutaram o povo falar desta maneira,
consultaram com seus dirigentes e decidiram que algo devia ser feito
imediatamente para pôr um fim a estas aparições públicas de Jesus nos pátios do
templo. Em geral, os dirigentes dos judeus estavam dispostos a evitar um
enfrentamento com Jesus, acreditando que as autoridades romanas haviam lhe
prometido imunidade. Eles não conseguiam explicar de outra maneira sua audácia
em vir nesta época a Jerusalém; mas os funcionários do sanedrim não acreditavam
totalmente neste rumor. Deduziam que os governantes romanos não teriam feito uma
coisa assim em segredo e sem o conhecimento das mais altas governantes da nação
judaica.
p1791:4 162:2.6 Consequentemente, Eber, o oficial apropriado do
sanedrim, foi enviado com dois assistentes para prender Jesus. Enquanto Eber
avançava em direção a Jesus, o Mestre disse: «Não temas em se aproximar de mim.
Chegue perto enquanto escutas meu ensinamento. Sei que foste enviado para me
prender, mas deverias compreender que nada sucederá ao Filho do Homem até que
chegue sua hora. Tu não estás revestido contra mim; apenas vens executar o
mandato de teus superiores, e inclusive esses dirigentes dos judeus crêem de
verdade que estão servindo a Deus quando buscam secretamente minha destruição.
p1792:1 162:2.7 «Não guardo comigo nenhuma de suas má intenções. O Pai
vos ama, e por isso desejo vossa libertação da escravidão dos preconceitos e das
trevas da tradição. E vos ofereço a liberdade da vida e o regozijo da salvação.
Proclamo o novo caminho da vida, a libertação do mal e a ruptura da servidão do
pecado. Vim para que possais ter vida, e a tenhais eternamente. Tentais
livrar-se de mim e de meus ensinamentos inquietantes. Se apenas pudésseis
perceber que estarei pouco tempo convosco! Dentro em pouco irei para Aquele que
me enviou a este mundo. E então, muitos de vós me buscareis diligentemente, mas
não descobrireis minha presença, porque onde eu estou prestes a ir vós não
podeis vir. Mas todos os que tentem sinceramente me encontrar, alcançarão algum
dia a vida que conduz à presença de meu Pai.»
p1792:2 162:2.8 Alguns
zombadores disseram entre si: «Aonde irá este homem para que não possamos
encontrá-lo? Irá viver entre os gregos? Destruirá a si mesmo? O que ele quer
dizer quando afirma que em breve nos deixará, e que não podemos ir aonde ele
vai?»
p1792:3 162:2.9 Eber e seus ajudantes se negaram a deter Jesus;
voltaram sem ele a seu ponto de encontro. Por isso, quando os sacerdotes
principais e os fariseus repreenderam a Eber e a seus ajudantes por não terem
trazido Jesus consigo, Eber apenas respondeu: «Temíamos prendê-lo no meio da
multidão, porque muitos acreditam nele. Ademais, nunca ouvimos uma pessoa falar
como esse homem. Há algo fora do comum neste instrutor. Todos fariam bem em
passar a escutá-lo.» E quando os chefes principais escutaram estas palavras,
ficaram perplexos e disseram sarcasticamente a Eber: «Tu também estás seduzido?
Estás a ponto de crer nesse impostor? Ouviste que algum de nossos sábios ou de
nossos dirigentes haja crido nele? Algum escriba ou fariseu fora enganado por
seus hábeis ensinamentos? Como pode ser que foste influenciado pelo
comportamento dessa multidão ignorante que não conhece nem a lei nem os
profetas? Não sabes que esses iletrados são malditos?» E então, Eber respondeu:
«Mesmo assim, meus senhores, mas esse homem dirige palavras de misericórdia e de
esperança à multidão. Anima os abatidos, e suas palavras foram confortantes
inclusive para nossas almas. O que pode haver de errado nesses ensinamentos,
ainda que talvez não seja o Messias das Escrituras? E ainda assim, nossa lei não
exige a equidade? Condenamos um homem antes de escutá-lo?» E o chefe do sanedrim
ficou injuriado com Eber e, virando-se para ele, disse: «Ficaste louco? Por
acaso és também da Galiléia? Procura nas Escrituras, e descobrirás que não surge
nenhum profeta da Galiléia, e muito menos o Messias.»
p1792:4 162:2.10 O
sanedrim se dispersou na confusão, e Jesus retirou-se para Betânia para passar a
noite.
A Mulher Pêga em Adultério
p1792:5 162:3.1 Foi durante esta visita a Jerusalém que Jesus
interveio no caso de uma certa mulher de má reputação que fora trazida à sua
presença por seus inimigos e pelos acusadores dela. O relato destorcido que vós
possuís deste episódio insinua que esta mulher fora levada diante de Jesus pelos
escribas e fariseus, e que Jesus os tratou de tal maneira que pressupõe que
estes chefes religiosos dos judeus puderam ter se culpado a si mesmos por
imoralidade. Jesus bem sabia que, ainda que estes escribas e fariseus fossem
espiritualmente cegos e repletos de preconceitos intelectuais por sua lealdade à
tradição, eles eram contados entres os homens mais completamente morais daquela
época e geração.
p1793:1 162:3.2 Isto foi o que realmente aconteceu: Bem
cedo na terceira manhã da festa, quando Jesus se aproximava do templo, ele foi
achado por um grupo de agentes contratados pelo sanedrim que estavam arrastando
com eles uma mulher. Quando eles chegaram perto, o porta-voz disse: «Mestre,
esta mulher foi pega em adultério - em flagrante. Ora, a lei de Moisés ordena
que nós devemos apedrejar uma mulher assim. O que tu achas que deve ser feito
com ela?»
p1793:2 162:3.3 O plano dos inimigos de Jesus era, se ele
apoiasse a lei de Moisés, que exigia que a pecadora auto-confessa fosse
apedrejada, envolveriam-no em dificuldades com os dirigentes romanos, que haviam
negado aos judeus o direito de infligir a pena de morte sem a aprovação de um
tribunal romano. Se ele proibisse apedrejar à mulher, eles o acusariam perante o
sanedrim de colocar-se acima de Moisés e da lei judaica. Se permanecesse em
silêncio, acusariam-no de covardia. Mas o Mestre administrou a situação de tal
maneira que toda a trama se despedaçou pelo próprio peso de sua sordidez.
p1793:3 162:3.4 Esta mulher, bonita em outros tempos, era a esposa de um
cidadão inferior de Nazaré, um homem que foi um criador de caso para Jesus
durante toda sua juventude. O homem, tendo casado com esta mulher, forçou-a mais
que vergonhosamente a ganhar a vida deles ao vender seu corpo. Ele havia vindo à
festa de Jerusalém para que sua mulher pudesse prostituir assim seus encantos
físicos e obter um lucro financeiro. Ele travara um pacto com os mercenários dos
dirigentes judeus para trair assim a sua própria esposa em seu vício
comercializado. E por isso eles chegaram com a mulher e seu comparsa na
transgressão, a fim de que Jesus caísse numa cilada ao efetuar alguma declaração
que pudesse ser utilizada contra ele no caso de sua prisão.
p1793:4
162:3.5 Jesus, examinando à multidão, viu o marido dela de pé atrás dos outros.
Sabia que tipo de homem era e percebeu que era um cúmplice nesta trama
desprezível. Primeiramente, Jesus caminhou em volta da multidão para se
aproximar donde estava este marido degenerado, e escreveu umas poucas palavras
na areia que lhe fizeram sair precipitadamente. Logo voltou diante da mulher e
escreveu de novo no chão em proveito dos pretensos acusadores dela; e quando
leram suas palavras, eles, também, foram embora, um por um. E quando o Mestre
escreveu pela terceira vez na areia, o parceiro de pecado da mulher tomou seu
caminho, de maneira que quando o Mestre se levantou depois de escrever, observou
que a mulher estava só diante dele. Jesus disse: «Mulher, aonde estão teus
acusadores? Ninguém ficou para apedrejar-te?» E a mulher, levantando seus olhos,
respondeu: «Ninguém, Senhor.» E então Jesus disse: «Conheço teu caso; eu
tampouco te condeno. Vai-te em paz.» E esta mulher, chamada Hildana, abandonou
seu perverso marido e se uniu aos discípulos do reino.
A Festa dos Tabernáculos
p1793:5 162:4.1 A presença de pessoas provenientes de todo o
mundo conhecido, desde a Espanha até a Índia, tornava a festa dos tabernáculos
uma ocasião ideal para que Jesus proclamasse publicamente, pela primeira vez em
Jerusalém, a totalidade de seu evangelho. Nesta festa, o povo vivia muito ao ar
livre, em cabanas de folhas. Era a festa da colheita, e acontecia, tal como
ocorria, no frescor dos meses de outono, ela era mais comumente assistida pelos
judeus do mundo do que era a Páscoa, no final do inverno, ou a de Pentecostes no
início do verão. Os apóstolos finalmente viam seu Mestre fazer uma arrojada
proclamação de sua missão na Terra diante o mundo inteiro, tal como fora.
p1794:1 162:4.2 Esta era a festa das festas, pois qualquer sacrifício
não efetuado nas outras festividades podia ser feito neste momento. Esta era a
ocasião do recebimento das oferendas do templo; era uma combinação dos prazeres
das férias e dos ritos solenes do culto religioso. Esse era um momento de
regozijo racial, misturado com os sacrifícios, os cantos levíticos e os toques
solenes das trombetas prateadas dos sacerdotes. À noite, o impressionante
espetáculo do templo e suas multidões de peregrinos estava intensamente
iluminado pelos grandes candelabros que ardiam radiantemente no pátio das
mulheres, bem como pelo resplendor de dezenas de tochas colocadas nos pátios do
templo. Toda a cidade estava decorada alegremente, exceto o castelo romano de
Antonia, que desprezava num amargo contraste esta cena festiva e de culto. E
como os judeus odiavam esta recordação sempre presente do jugo romano!
p1794:2 162:4.3 Durante a festa setenta bois eram sacrificados, o
símbolo das setenta nações do mundo pagão. A cerimônia do derramamento da água
simbolizava a efusão do espírito divino. Esta cerimônia da água acontecia depois
da procissão dos sacerdotes e levitas ao pôr-do-sol. Os fiéis desciam pelos
degraus de acesso ao pátio de Israel ao pátio das mulheres, enquanto sucessivos
toques de trombetas de prata eram soprados. E então, os fiéis avançavam na
direção do bonito portão, que se abria para o pátio dos gentios. Ali eles
viravam-se para ficarem de frente para oeste, repetir seus cânticos e continuar
sua caminhada para a água simbólica.
p1794:3 162:4.4 No último dia da
festa oficiavam cerca de quatrocentos e cinqüenta sacerdotes com um número
correspondente de levitas. Ao amanhecer os peregrinos provenientes de todas as
partes da cidade se congregavam , cada um trazendo na mão direita um feixe de
murta, de salgueiro e galhos de palmeiras, e na mão esquerda carregavam um galho
da macieira do paraíso -a cidra ou a «fruta proibida». Estes peregrinos
dividiam-se em três grupos para esta cerimônia matutina. Um grupo permanecia no
templo para assistir os sacrifícios da manhã; outro grupo descia de Jerusalém
até perto de Maza para cortar os ramos de salgueiro para o enfeite do altar dos
sacrifícios, enquanto um terceiro grupo formava uma procissão para desfilar
desde o templo atrás do sacerdote da água, que, ao som das trombetas de prata,
levava a jarra de ouro que era para conter a água simbólica, através do Ofel e a
Siloé, onde era localizado o portão da fonte. Após a jarra de ouro ter sido
enchida no tanque de Siloé, a procissão regressava ao templo, entrando pela
caminho do portão da água e indo diretamente ao pátio dos sacerdotes, onde o
sacerdote que levava a jarra de água se unia ao sacerdote que levava o vinho
para a oferenda da bebida. Estes dois sacerdotes encaminhavam-se depois aos
funis de prata que conduziam à base do altar, e vertiam neles o conteúdo das
jarras. A execução deste rito de verter o vinho e a água era o sinal que os
peregrinos reunidos esperavam para começar a cantar os salmos 113 ao 118
inclusive, alternando com os levitas. E à medida que repetiam estes versos,
abanavam seus ramos para o altar. Então se realizavam os sacrifícios do dia,
associados com a repetição do salmo do dia, o salmo para o último dia da festa
era octogésimo segundo, começando com o quinto versículo.
O Sermão Sobre a Luz do Mundo
p1794:4 162:5.1 Ao anoitecer do penúltimo dia da festa, quando
a cena estava intensamente iluminada pelas luzes dos candelabros e das tochas,
Jesus se levantou no meio da multidão reunida e disse:
p1795:1 162:5.2
«Eu sou a luz do mundo. Aquele que me segue não caminhará nas trevas, mas terá a
luz da vida. Ousando colocar-me sob juízo e pretendendo posar como meus juízes,
vós declarais que, se dou testemunho de mim mesmo, meu testemunho não pode ser
verdadeiro. Mas a criatura nunca pode pôr o Criador em julgamento. Mesmo que eu
dê testemunho de mim mesmo, meu testemunho é eternamente verdadeiro, porque sei
de onde vim, quem sou e aonde vou. Vós, que quereis matar o Filho do Homem, não
sabeis de onde vim, quem sou, nem aonde vou. Apenas julgais pelas aparências da
carne; não percebeis as realidades do espírito. Eu não julgo a ninguém, nem
sequer a meu maior inimigo. Mas se decidisse julgar, meu julgamento seria exato
e correto, porque eu não julgaria sozinho, mas em associação com meu Pai que me
enviou ao mundo, e que é a origem de todo julgamento verdadeiro. Vós admitis
inclusive que o testemunho de duas pessoas confiáveis pode ser aceito -pois bem,
eu dou testemunho dessas verdades; e assim meu Pai que está nos céus também faz.
E ontem, quando vos disse isto, vós me perguntastes em vossa ignorância: `Onde
está teu Pai?' Em verdade, não me conheceis nem a mim nem a meu Pai, porque se
me conhecêsseis, conheceríeis também ao Pai.
p1795:2 162:5.3 «Já vos
disse que estou partindo, e que me buscareis e não me encontrareis, porque onde
estou indo vós não podeis vir. Vós, que quiséreis rejeitar esta luz, sois de
baixo; eu sou de cima. Vós, que preferis permanecer nas trevas, sois deste
mundo; eu não sou deste mundo, e vivo na luz eterna do Pai das luzes. Todos vós
tivéreis abundantes oportunidades para saber quem eu sou, mas tereis ainda
outras evidências confirmando a identidade do Filho do Homem. Eu sou a luz da
vida, e todo aquele que rejeita deliberadamente e conscientemente esta luz
salvadora, morrerá em seus pecados. Tenho muitas coisas que vos dizer, mas vós
sois incapazes de receber minhas palavras. Entretanto, aquele que me enviou é
verdadeiro e fiel; meu Pai ama inclusive a seus filhos desviados. E tudo o que
meu Pai tem dito, eu também proclamo ao mundo.
p1795:3 162:5.4 «Quando o
Filho do Homem seja elevado, então todos vós sabereis que eu sou ele, e que não
fiz nada por mim mesmo, mas apenas o que o Pai me ensinou. Eu falo estas
palavras a vós e a vossos filhos. E aquele que me enviou está inclusive agora
comigo; ele não me deixou só, porque sempre faço o que é agradável a seus
olhos.»
p1795:4 162:5.5 Enquanto Jesus ensinava assim aos peregrinos nos
pátios do templo, muitos creram. E ninguém se atreveu a prendê-lo.
O Discurso Sobre a Água da Vida
p1795:5 162:6.1 No último dia, o grande dia da festa, à medida
que a procissão do tanque de Siloé passava pelos pátios do templo, e
imediatamente depois da água e o vinho serem derramados pelos sacerdotes no
altar, Jesus, estando entre os peregrinos, disse: «Se alguém tem sede, que venha
a mim e beba. Trago a este mundo a água da vida procedente do Pai lá de cima. O
que crê em mim será tomado pelo espírito que esta água representa, porque
inclusive as Escrituras têm dito: `Dele manarão rios de água viva'. Quando o
Filho do Homem haja terminado sua obra na Terra, o Espírito vivo da Verdade será
derramado sobre toda a carne. Os que recebam este espírito não conhecerão nunca
a sede espiritual.»
p1795:6 162:6.2 Jesus não interrompeu o serviço para
pronunciar estas palavras. Dirigiu-se aos fiéis imediatamente após o canto do
Aleluia, a leitura correspondente dos salmos acompanhada pelo agitar dos ramos
diante do altar. Nesse instante havia uma pausa enquanto os sacrifícios estavam
sendo preparados, e foi nesse momento que os peregrinos escutaram a voz
fascinante do Mestre proclamar que ele era o doador da água viva para todas as
almas sedentas de espírito.
p1796:1 162:6.3 Na conclusão deste ofício
matutino, Jesus continuou ensinando à multidão, dizendo: «Não lestes nas
Escrituras: `Olhai, assim como as águas são despejadas sobre a terra seca e
cobrem o solo árido, assim eu vos darei o espírito de santidade para que seja
derramado sobre vossos filhos e abençoe inclusive aos filhos de vossos filhos?'
Por que tendes sede do ministério do espírito, enquanto tentais regar vossas
almas com as tradições dos homens, que emanam das jarras quebradas dos ofícios
cerimoniais? Isso que vós vedes circulando neste templo é a maneira na qual
vossos pais tentaram simbolizar a efusão do espírito divino sobre os filhos da
fé, e tendes feito bem em perpetuar estes símbolos até o dia de hoje. Mas agora,
a revelação do Pai dos espíritos chegara a esta geração através da efusão de seu
Filho, e tudo isto será certamente acompanhado pela efusão do espírito do Pai e
do Filho sobre os filhos dos homens. Para todo o que tem fé, esta efusão do
espírito se tornará o verdadeiro instrutor do caminho que conduz à vida eterna,
às verdadeiras águas da vida no reino do céu da Terra e no Paraíso do Pai do
outro lado.»
p1796:2 162:6.4 E Jesus continuou respondendo às perguntas
da multidão e dos fariseus. Alguns pensavam que ele era um profeta; uns
acreditavam que era o Messias; outros diziam que ele não podia ser o Cristo, já
que vinha da Galiléia, e que o Messias devia restaurar o trono de Davi.
Entretanto, não se atreveram a prendê-lo.
O Discurso Sobre a Liberdade Espiritual
p1796:3 162:7.1 Na tarde do último dia da festa, e depois de os
apóstolos terem fracassado em seus esforços por persuadi-lo a que fugisse de
Jerusalém, Jesus entrou de novo no templo para ensinar. Ao encontrar um grande
grupo de crentes reunidos no Pórtico de Salomão, falou-lhes, dizendo:
p1796:4 162:7.2 «Se minhas palavras permanecem em vós e ficai dispostos
a fazer a vontade de meu Pai, então sois realmente meus discípulos. Conhecereis
a verdade, e a verdade vos fará livres. Eu sei como me respondereis: Somos os
filhos de Abraão, e não somos escravos de ninguém; como seremos pois libertados?
Mesmo assim, eu não falo de uma sujeição exterior ao domínio de um outro;
refiro-me às liberdades da alma. Em verdade, em verdade vos digo, que todo
aquele que comete pecado é escravo do pecado. E vós sabeis que não é provável
que o escravo resida para sempre na casa do amo. Também sabeis que o filho
permanece na casa de seu pai. Portanto, se o Filho vos liberta, vos torna
filhos, sereis verdadeiramente livres.
p1796:5 162:7.3 «Sei que sois a
semente de Abraão, entretanto vossos dirigentes tentam me matar porque minha
palavra não foi autorizada a ter sua influência transformadora em seus corações.
As almas deles estão seladas pelos preconceitos e cegadas pelo orgulho da
vingança. Eu vos declaro a verdade que o Pai eterno me mostra, enquanto esses
educadores iludidos procuram fazer as coisas que aprenderam apenas de seus pais
temporais. E quando respondais que Abraão é vosso pai, então vos digo que, se
fosseis os filhos de Abraão, executaríeis as obras de Abraão. Alguns de vós
credes em meu ensinamento, mas outros tentam me destruir porque vos tenho dito a
verdade que recebi de Deus. Mas Abraão não tratou assim a verdade de Deus.
Percebo que alguns dentre vós estais decididos a realizar as obras do maligno.
Se Deus fosse vosso Pai, me conheceríeis e amaríeis a verdade que vos revelo.
Não quereis ver que venho do Pai, que sou enviado por Deus, que não estou
fazendo esta obra por mim mesmo? Por que não compreendeis minhas palavras? É
porque escolhêreis ser os filhos do mal? Se sois os filhos das trevas,
dificilmente caminhareis na luz da verdade que vos revelo. Os filhos do maligno
só seguem os caminhos de seu pai, que era um farsante e não defendia a verdade,
porque não chegou a existir nenhuma verdade nele. Mas agora vem o Filho do
Homem, proclamando e vivendo a verdade, e muitos de vós se recusam a crer.
p1797:1 162:7.4 «Qual de vós me acusa de pecado? Se, pois, proclamo e
vivo a verdade mostrada pelo Pai, por que não credes? Aquele que é de Deus
escuta com prazer as palavras de Deus; por causa disso, muitos de vós não
escutais minhas palavras, porque não sois de Deus. Vossos instrutores se
atreveram inclusive a dizer que eu realizo minhas obras pelo poder do príncipe
dos demônios. Um que está aqui perto acaba de dizer que possuo um demônio, que
sou um filho do diabo. Mas todos aqueles de vós que vos comportais honestamente
com vossa própria alma, sabeis muito bem que não sou um diabo. Sabeis que honro
ao Pai, ainda que vós quiséreis desonrar-me. Não busco minha própria glória, mas
unicamente a glória de meu Pai do Paraíso. E eu não vos julgo, porque há alguém
que julga por mim.
p1797:2 162:7.5 «Em verdade, em verdade eu digo a vós
que credes no evangelho, que se um homem conserva viva em seu coração esta
palavra de verdade, ele nunca conhecerá a morte. E justo neste momento, um
escriba a meu lado diz que esta declaração é a prova de que possuo um demônio,
já que Abraão está morto e os profetas também. E pergunta: `És tu muito maior
que Abraão e os profetas para que te atreva a estar aqui e dizer que qualquer um
que conserva tua palavra não provará da morte? Quem pretendes ser para
atrever-te a dizer tais blasfêmias?' E a todos esses eu digo que, se me
glorifico a mim mesmo, minha glória é nenhuma. Mas é o Pai o que me glorificará,
inclusive o mesmo Pai que chamais de Deus. Mas vós não conseguíreis conhecer
este Deus, vosso Deus e meu Pai, e eu vim para vos unir, para vos mostrar como
chegar a ser de verdade os filhos de Deus. Ainda que não conheceis o Pai, eu o
conheço realmente. Inclusive Abraão regozijou-se ao ver meu dia, e viu pela fé e
ficou satisfeito.»
p1797:3 162:7.6 Quando os judeus incrédulos e os
agentes do sanedrim que haviam se reunido neste momento escutaram estas
palavras, provocaram um alvoroço, gritando: «Não tens cinqüenta anos de idade, e
entretanto falas em ter visto Abraão; tu és um filho do diabo!» Jesus ficou
impossibilitado de continuar seu discurso. Apenas disse ao partir: «Em verdade,
em verdade vos digo, antes de que Abraão fosso, eu sou.» Muitos incrédulos
correram em busca de pedras para jogar nele, e os agentes do sanedrim tentaram
colocá-lo na prisão, mas o Mestre rapidamente abriu caminho pelos corredores do
templo, e escapou para um lugar secreto de reunião, perto de Betânia, onde
Marta, Maria e Lázaro o esperavam.
A Conversa Com Marta e Maria
p1797:4 162:8.1 Fora combinado que Jesus se alojaria com Lázaro
e suas irmãs na casa de um amigo, enquanto os apóstolos ficariam dispersos aqui
e ali em pequenos grupos; estas precauções foram tomadas porque as autoridades
judaicas estavam novamente ficando encorajadas com seus planos de prendê-lo.
p1797:5 162:8.2 Durante anos, foi costume dos três jovens largar tudo e
escutar o ensinamento de Jesus cada vez que ele tinha a oportunidade de
visitá-los. Com a perda de seus pais, Marta havia assumido a responsabilidade
das atividades da casa, e por isso nesta ocasião, enquanto Lázaro e Maria
sentavam-se aos pés de Jesus bebendo de seus ensinamentos vivificantes, Marta se
dispôs a servir a ceia. Deve ser explicado que Marta ficava desnecessariamente
distraída com numerosas tarefas supérfluas, e que ficava incomodada com muitas
inquietações insignificantes; essa era sua maneira de ser.
p1798:1
162:8.3 Enquanto Marta ocupava-se com todos estes supostos deveres, ela ficava
perturbada porque Maria não fazia nada para ajudar. Por isso ela se aproximou de
Jesus e disse: «Mestre, não te importas que minha irmã me deixe fazer todo o
serviço sozinha? Não quererias pedi-la que venha a me ajudar?» Jesus respondeu:
«Marta, Marta, por que estás sempre ansiosa por tantas coisas e preocupada por
tantas bagatelas? Só há uma coisa que vale realmente a pena, e visto que Maria
escolhera esta parte boa e necessária, eu não vou tirar dela. Mas, quando vocês
duas aprenderão a viver como as tenho ensinado: servir tanto em cooperação e
refrescar vossas almas em uníssono? Não conseguis aprender que há um tempo para
cada coisa -que as questões secundárias da vida devem dar passagem às coisas
mais importantes do reino celestial?»
Em Belém com Abner
p1798:2 162:9.1 Durante toda a semana que seguiu à festa dos
tabernáculos, dezenas de crentes se reuniram em Betânia e receberam instruções
dos doze apóstolos. O sanedrim não fez nenhum esforço por importunar estas
reuniões, já que Jesus não estava presente; durante todo este período, ele
esteve trabalhando em Belém com Abner e seus companheiros. No dia seguinte ao
término da festa, Jesus havia partido para Betânia e não ensinou novamente no
templo durante esta visita a Jerusalém.
p1798:3 162:9.2 Nesta época,
Abner estava estabelecendo seu quartel general em Belém, e a partir desse centro
muitos operários foram enviados às cidades da Judéia e do sul da Samaria, e
inclusive a Alexandria. Com poucos dias de sua chegada, Jesus e Abner
completaram os acordos para a consolidação da obra dos dois grupos de apóstolos.
p1798:4 162:9.3 Durante toda sua visita à festa dos tabernáculos, Jesus
dividira seu tempo quase que igualmente entre Betânia e Belém. Em Betânia,
passou muito tempo com seus apóstolos; em Belém, deu muitas instruções a Abner e
aos outros antigos apóstolos de João. E este contato íntimo foi o que os levou
finalmente a crerem nele. Estes antigos apóstolos de João Batista foram muito
influenciados pela coragem que ele demonstrara em seu ensinamento público em
Jerusalém, bem como pela amável compreensão que eles experimentaram em seu
ensinamento particular em Belém. Estas influências conquistaram completa e
finalmente a cada um dos companheiros de Abner a aceitarem de todo coração o
reino e tudo o que uma medida dessa implicava.
p1798:5 162:9.4 Antes de
deixar Belém pela última vez, o Mestre tomou medidas para que todos eles se
associassem a ele no esforço unido que precederia o final de sua carreira
terrestre na carne. Foi combinado que Abner e seus companheiros se reuniriam num
futuro próximo com Jesus e os doze no Parque de Magadã.
p1798:6 162:9.5
De acordo com esta disposição, a princípios de novembro Abner e seus onze
companheiros lançariam suas sortes com Jesus e os doze, e trabalharam com eles
como uma só organização até a crucificação.
p1798:7 162:9.6 Na segunda
parte de outubro, Jesus e os doze retiraram-se das cercanias imediatas de
Jerusalém. No domingo, 30 de outubro, Jesus e seus associados deixaram a cidade
de Efraim, onde ele havia descansado em isolamento durante uns poucos dias, e,
indo diretamente pela estrada a oeste do Jordão, chegaram ao Parque de Magadã no
final da tarde da quarta-feira 2 de novembro.
p1799:1 162:9.7 Os
apóstolos ficaram grandemente aliviados por ter o Mestre de volta em um solo
amigável; nunca mais insistiram com ele para que fosse até Jerusalém proclamar o
evangelho do reino.
Tradução Voluntária Por : Heitor Carestiato Neto