Escrito 162

 

Na Festa dos Tabernáculos

[Comissão de Medianeiros]



Introdução

 

Quando Jesus partiu para Jerusalém com os dez apóstolos, decidiu viajar pela Samaria, que era o trajeto mais curto. Consequentemente, eles passaram pela costa oriental do lago, e pelo caminho de Escitópolis entraram nos limites da Samaria. Quase ao anoitecer, Jesus enviou Felipe e Mateus até uma aldeia nas ladeiras orientais do Monte Gilboa, para assegurar o alojamento para o grupo. E então aconteceu que aqueles aldeãos eram altamente preconceituosos contra os judeus, inclusive mais ainda do que a maioria dos samaritanos, e estes sentimentos estavam intensificados naquele preciso momento, já que muitos judeus estavam a caminho da festa dos tabernáculos. Esta gente sabia muito pouco sobre Jesus, e se negaram a alojá-lo porque ele e seus associados eram judeus. Quando Mateus e Felipe manifestaram indignação e informaram a estes samaritanos de que estavam se recusando a hospedar o Santo de Israel, os enfurecidos aldeãos os enxotaram com paus e pedras de sua pequena cidade.

p1788:2 162:0.2 Depois que Felipe e Mateus voltaram a seus companheiros e contaram como haviam sido expulsos do povoado, Tiago e João se aproximaram de Jesus e disseram: «Mestre, rogamo-te que nos dês permissão para pedir que caia fogo do céu e destrua a esses samaritanos insolentes e impenitentes.» Mas quando Jesus escutou estas palavras de vingança, virou-se para os filhos de Zebedeu e lhes repreendeu severamente: «Não sabeis que tipo de atitude manifestais. A vingança não se aprecia na perspectiva do reino dos céus. Em lugar de disputar, vamos para a pequena aldeia perto do vau do Jordão.» E assim, por causa de seus preconceitos sectários, estes samaritanos privaram-se da honra de oferecer hospitalidade ao Filho Criador de um universo.

p1788:3 162:0.3 Jesus e os dez se hospedaram durante a noite no vilarejo próximo ao vau do Jordão. No dia seguinte bem cedo, eles atravessaram o rio e continuaram no seu caminho para Jerusalém pela estrada a leste do Jordão, chegando a Betânia ao final da tarde de quarta-feira. Tomé e Natanael, chegaram na quinta, tendo se atrasado devido às reuniões com Rodã.

p1788:4 162:0.4 Jesus e os doze permaneceram nas vizinhanças de Jerusalém até o final do mês seguinte (outubro), aproximadamente quatro semanas e meia. Jesus mesmo só entrou na cidade umas poucas vezes, e estas breves visitas foram feitas durante os dias da festa dos tabernáculos. Uma grande parte de outubro ele passou em Belém com Abner e seus associados.

 

Os Perigos da Visita a Jerusalém

 

p1788:5 162:1.1 Muito antes deles fugirem da Galiléia, os seguidores de Jesus haviam lhe suplicado que fosse a Jerusalém para proclamar o evangelho do reino, a fim de que sua mensagem tivesse o prestígio de haver sido predicado no centro da cultura e da erudição judaicas; mas agora que havia vindo de fato a Jerusalém para ensinar, eles estavam temerosos por sua vida. Sabendo que o sanedrim havia tentado trazer Jesus a Jerusalém para julgá-lo, e ao recordar as recentes declarações reiteradas do Mestre de que ele devia ser submetido à morte, os apóstolos ficaram literalmente pasmados por sua repentina decisão de assistir à festa dos tabernáculos. À todas as suas súplicas anteriores para que fosse a Jerusalém, Jesus respondera: «Ainda não chegou a hora.» Agora, ante seus protestos de medo, ele apenas respondia: «Mas chegou a hora.»

p1789:1 162:1.2 Durante a festa dos tabernáculos, Jesus entrou corajosamente em Jerusalém em várias ocasiões e ensinou publicamente no templo. Fez isto apesar dos esforços de seus apóstolos por dissuadi-lo. Ainda que eles haviam insistido durante muito tempo para que proclamasse sua mensagem em Jerusalém, agora temiam vê-lo entrar na cidade naquele momento, ao saberem muito bem que os escribas e os fariseus estavam dispostos a levá-lo à morte.

p1789:2 162:1.3 A audaz aparição de Jesus em Jerusalém confundiu mais do que nunca a seus seguidores. Muitos de seus discípulos, e inclusive Judas Iscariotes, o apóstolo, atreveram-se a pensar que Jesus havia fugido precipitadamente para Fenícia porque temesse os dirigentes judeus e Herodes Antipas. Não compreendiam o significado das manobras do Mestre. Sua presença em Jerusalém na festa dos tabernáculos, inclusive contrário aos conselhos de seus seguidores, bastou para pôr um fim definitivamente a todos os rumores sobre seu medo e covardia.

p1789:3 162:1.4 Durante a festa dos tabernáculos, milhares de crentes de todas as partes do império romano viram Jesus, ouviram-no ensinar, e muitos deles foram inclusive até Betânia para conversar com ele sobre o progresso do reino em suas terras natais.

p1789:4 162:1.5 Havia muitas razões para que Jesus pudesse predicar publicamente nos pátios do templo durante todos os dias da festa, e a principal destas era o medo que havia tomado os oficiais do sanedrim como resultado da secreta divisão de sentimentos em suas próprias fileiras. Era um fato que muitos membros do sanedrim ou acreditavam secretamente em Jesus ou então estavam decididamente contrários à prisão dele durante a festa, quando um grande número de pessoas estava presente em Jerusalém, muitos dos quais criam nele ou pelo menos eram simpáticos ao movimento espiritual que ele era responsável.

p1789:5 162:1.6 Os esforços de Abner e de seus companheiros através da Judéia também haviam contribuído muito por consolidar um sentimento favorável para o reino, de tal maneira que os inimigos de Jesus não se atreviam a ser demasiados sinceros em sua oposição. Esta foi uma das razões pelas quais Jesus pôde visitar publicamente Jerusalém e sair dali com vida. Um ou dois meses antes disso, ele seria levado à morte certamente.

p1789:6 162:1.7 O atrevimento audacioso de Jesus em aparecer publicamente em Jerusalém intimidou seus inimigos; eles não estavam preparados para um desafio tão atrevido. Várias vezes durante este mês, o sanedrim fez débeis tentativas para colocar o Mestre na prisão, mas estes esforços não levaram a nada. Seus inimigos ficaram tão surpresos pela inesperada aparição pública de Jesus em Jerusalém, que eles conjeturavam que as autoridades romanas haviam lhe prometido proteção. Sabendo que Felipe (o irmão de Herodes Antipas) era quase um discípulo de Jesus, os membros do sanedrim especularam que Felipe havia assegurado para Jesus umas promessas de proteção contra seus inimigos. Jesus partira de sua jurisdição antes deles despertarem para o fato de que haviam se equivocado ao acreditarem que sua aparição repentina e audaz em Jerusalém era por causa de um acordo secreto com os oficiais romanos.

p1789:7 162:1.8 Só os doze apóstolos sabiam que Jesus tencionava assistir à festa dos tabernáculos quando partiram de Magadã. Os outros seguidores do Mestre ficaram muito assombrados quando ele apareceu nos pátios do templo e começou a ensinar publicamente, e as autoridades judaicas ficaram inexprimivelmente surpresos quando foi relatado que ele estava ensinando no templo.

p1790:1 162:1.9 Embora os discípulos não esperassem que Jesus assistisse à festa, a grande maioria dos peregrinos procedentes de longe que haviam ouvido sobre ele, albergavam a esperança de que pudessem vê-lo em Jerusalém. E não ficaram decepcionados, porque ensinou em diversas ocasiões no Pórtico de Salomão e em outras partes dos pátios do templo. Em realidade, estes ensinamentos foram a proclamação oficial ou solene da divindade de Jesus ao povo judeu e ao mundo inteiro.

p1790:2 162:1.10 As multidões que escutaram os ensinamentos do Mestre estavam divididas em suas opiniões. Uns diziam que era um bom homem; alguns, um profeta; outros, que era realmente o Messias; outros diziam que era um intrometido perverso, que estava dominando o povo com suas doutrinas estranhas. Seus inimigos hesitavam em denunciá-lo abertamente por medo dos seus crentes simpatizantes, enquanto seus amigos temiam reconhecê-lo abertamente com medo dos dirigentes judeus, sabendo que o sanedrim estava determinado a levá-lo a morte. Mas inclusive seus inimigos maravilhavam-se por seu ensinamento, sabedores que ele não fora instruído nas escolas dos rabinos.

p1790:3 162:1.11 Cada vez que Jesus ia a Jerusalém, seus apóstolos ficavam cheios de medo. Dia após dia, eles ficavam mais temerosos quando escutavam suas declarações cada vez mais audazes sobre a natureza de sua missão na Terra. Eles não estavam acostumados a escutar Jesus fazer umas proclamações tão rotundas e umas afirmações tão incríveis, nem sequer quando predicava entre seus amigos.

 

O Primeiro Discurso no Templo

 

p1790:4 162:2.1 Na primeira tarde que Jesus ensinou no templo, um grupo considerável sentou-se a escutar suas palavras descrevendo a liberdade do novo evangelho e a alegria dos que crêem na boa nova, quando um ouvinte curioso o interrompeu para perguntar: «Mestre, como é que tu podes citar as Escrituras e ensinar ao povo tão facilmente, quando eu sei que tu és iletrado na ciência dos rabinos?» Jesus respondeu: «Nenhum homem me ensinou as verdades que vos proclamo. E este ensinamento não é meu, mas dAquele que me enviou. Se algum homem deseja realmente fazer a vontade de meu Pai, saberá com certeza acerca de meu ensinamento, se ele é de Deus ou se falo por mim mesmo. O que fala por si mesmo busca sua própria glória, mas quando proclamo as palavras do Pai, busco assim a glória dAquele que me enviou. Mas antes de tentar entrar na nova luz, não deveríeis antes seguir a luz que já possuís? Moisés vos deu a lei, e entretanto, quantos de vós tentam honestamente cumprir suas exigências? Nesta lei, Moisés vos ordena, dizendo: `Não matarás'; apesar deste mandamento, alguns de vós pretendem matar o Filho do Homem.»

p1790:5 162:2.2 Quando a multidão escutou estas palavras, lançaram-se a discutir entre si. Alguns diziam que estava louco; uns que ele tinha um demônio. Outros diziam que este era na verdade o profeta da Galiléia que os escribas e fariseus tentavam matar há muito tempo. Alguns diziam que as autoridades religiosas estavam receosas em molestá-lo; outros pensavam que não colocavam as mãos nele porque haviam se convertido em seus crentes. Depois de uma discussão considerável, um membro da multidão se adiantou e perguntou a Jesus: «Por que os dirigentes tentam te matar?» E ele respondeu: «Os dirigentes pretendem me matar porque eles ressentem meu ensinamento sobre a boa nova do reino, um evangelho que libera os homens das pesadas tradições de uma religião formal de cerimônias, que esses educadores estão determinados a manter a toda custa. Eles circuncidam, de acordo com a lei, no dia do sábado, mas querem me matar porque uma vez, num dia de sábado, eu libertei um homem dominado pelo cativeiro da aflição. Eles me seguem no sábado para me espiar, mas querem me matar porque em outra ocasião escolhi curar completamente num dia de sábado, um homem gravemente ferido. Procuram me matar porque eles bem sabem que, se vós crerdes honestamente e vos atreverdes a aceitar meu ensinamento, o sistema de religião tradicional deles será derrocado, destruído para sempre. E assim ficarão privados de autoridade sobre aquilo que têm consagrado suas vidas, já que se negam firmemente a aceitar este evangelho novo e mais glorioso do reino de Deus. E agora eu vos clamo a cada um de vós: Não julgueis segundo as aparências exteriores, mas ao invés julgai pelo verdadeiro espírito destes ensinamentos; julgai com retitude.»

p1791:1 162:2.3 Então, outro inquiridor disse: «Sim, Mestre, nós buscamos o Messias, mas sabemos que quando chegue, sua aparição será misteriosa. Sabemos de onde tu vens. Tens estado entre teus irmãos desde o principio. O libertador virá com poder para restaurar o trono do reino de Davi. Pretendes realmente ser o Messias?» E Jesus respondeu: «Tu presumes conhecer-me e saber de onde sou. Desejaria que tuas afirmações fossem verdadeiras, porque de fato então encontrarias uma vida abundante nesse conhecimento. Mas eu vos declaro que não vim até vós por mim mesmo; fui enviado pelo Pai, e aquele que me enviou é verdadeiro e fiel. Ao recusarem-se a me escutar, vós estais negando receber Àquele que me envia. Vós, se receberdes este evangelho, chegareis a conhecer Àquele que me enviou. Eu conheço o Pai, porque vim do Pai para proclamá-lo e revelá-lo a vós.»

p1791:2 162:2.4 Os agentes dos escribas queriam pôr as mão sobre ele, mas temiam à multidão, porque muitos acreditavam nele. A obra de Jesus desde seu batismo era bem conhecida em todo o mundo judeu, e quando várias destas pessoas relatavam estas coisas, diziam entre si: «Ainda que este instrutor seja da Galiléia, e embora não satisfaça todas as nossas expectativas do Messias, nos perguntamos se quando o libertador chegue fará realmente algo mais maravilhoso do que este Jesus de Nazaré já fizera.»

p1791:3 162:2.5 Quando os fariseus e seus agentes escutaram o povo falar desta maneira, consultaram com seus dirigentes e decidiram que algo devia ser feito imediatamente para pôr um fim a estas aparições públicas de Jesus nos pátios do templo. Em geral, os dirigentes dos judeus estavam dispostos a evitar um enfrentamento com Jesus, acreditando que as autoridades romanas haviam lhe prometido imunidade. Eles não conseguiam explicar de outra maneira sua audácia em vir nesta época a Jerusalém; mas os funcionários do sanedrim não acreditavam totalmente neste rumor. Deduziam que os governantes romanos não teriam feito uma coisa assim em segredo e sem o conhecimento das mais altas governantes da nação judaica.

p1791:4 162:2.6 Consequentemente, Eber, o oficial apropriado do sanedrim, foi enviado com dois assistentes para prender Jesus. Enquanto Eber avançava em direção a Jesus, o Mestre disse: «Não temas em se aproximar de mim. Chegue perto enquanto escutas meu ensinamento. Sei que foste enviado para me prender, mas deverias compreender que nada sucederá ao Filho do Homem até que chegue sua hora. Tu não estás revestido contra mim; apenas vens executar o mandato de teus superiores, e inclusive esses dirigentes dos judeus crêem de verdade que estão servindo a Deus quando buscam secretamente minha destruição.

p1792:1 162:2.7 «Não guardo comigo nenhuma de suas má intenções. O Pai vos ama, e por isso desejo vossa libertação da escravidão dos preconceitos e das trevas da tradição. E vos ofereço a liberdade da vida e o regozijo da salvação. Proclamo o novo caminho da vida, a libertação do mal e a ruptura da servidão do pecado. Vim para que possais ter vida, e a tenhais eternamente. Tentais livrar-se de mim e de meus ensinamentos inquietantes. Se apenas pudésseis perceber que estarei pouco tempo convosco! Dentro em pouco irei para Aquele que me enviou a este mundo. E então, muitos de vós me buscareis diligentemente, mas não descobrireis minha presença, porque onde eu estou prestes a ir vós não podeis vir. Mas todos os que tentem sinceramente me encontrar, alcançarão algum dia a vida que conduz à presença de meu Pai.»

p1792:2 162:2.8 Alguns zombadores disseram entre si: «Aonde irá este homem para que não possamos encontrá-lo? Irá viver entre os gregos? Destruirá a si mesmo? O que ele quer dizer quando afirma que em breve nos deixará, e que não podemos ir aonde ele vai?»

p1792:3 162:2.9 Eber e seus ajudantes se negaram a deter Jesus; voltaram sem ele a seu ponto de encontro. Por isso, quando os sacerdotes principais e os fariseus repreenderam a Eber e a seus ajudantes por não terem trazido Jesus consigo, Eber apenas respondeu: «Temíamos prendê-lo no meio da multidão, porque muitos acreditam nele. Ademais, nunca ouvimos uma pessoa falar como esse homem. Há algo fora do comum neste instrutor. Todos fariam bem em passar a escutá-lo.» E quando os chefes principais escutaram estas palavras, ficaram perplexos e disseram sarcasticamente a Eber: «Tu também estás seduzido? Estás a ponto de crer nesse impostor? Ouviste que algum de nossos sábios ou de nossos dirigentes haja crido nele? Algum escriba ou fariseu fora enganado por seus hábeis ensinamentos? Como pode ser que foste influenciado pelo comportamento dessa multidão ignorante que não conhece nem a lei nem os profetas? Não sabes que esses iletrados são malditos?» E então, Eber respondeu: «Mesmo assim, meus senhores, mas esse homem dirige palavras de misericórdia e de esperança à multidão. Anima os abatidos, e suas palavras foram confortantes inclusive para nossas almas. O que pode haver de errado nesses ensinamentos, ainda que talvez não seja o Messias das Escrituras? E ainda assim, nossa lei não exige a equidade? Condenamos um homem antes de escutá-lo?» E o chefe do sanedrim ficou injuriado com Eber e, virando-se para ele, disse: «Ficaste louco? Por acaso és também da Galiléia? Procura nas Escrituras, e descobrirás que não surge nenhum profeta da Galiléia, e muito menos o Messias.»

p1792:4 162:2.10 O sanedrim se dispersou na confusão, e Jesus retirou-se para Betânia para passar a noite.

 

A Mulher Pêga em Adultério

 

p1792:5 162:3.1 Foi durante esta visita a Jerusalém que Jesus interveio no caso de uma certa mulher de má reputação que fora trazida à sua presença por seus inimigos e pelos acusadores dela. O relato destorcido que vós possuís deste episódio insinua que esta mulher fora levada diante de Jesus pelos escribas e fariseus, e que Jesus os tratou de tal maneira que pressupõe que estes chefes religiosos dos judeus puderam ter se culpado a si mesmos por imoralidade. Jesus bem sabia que, ainda que estes escribas e fariseus fossem espiritualmente cegos e repletos de preconceitos intelectuais por sua lealdade à tradição, eles eram contados entres os homens mais completamente morais daquela época e geração.

p1793:1 162:3.2 Isto foi o que realmente aconteceu: Bem cedo na terceira manhã da festa, quando Jesus se aproximava do templo, ele foi achado por um grupo de agentes contratados pelo sanedrim que estavam arrastando com eles uma mulher. Quando eles chegaram perto, o porta-voz disse: «Mestre, esta mulher foi pega em adultério - em flagrante. Ora, a lei de Moisés ordena que nós devemos apedrejar uma mulher assim. O que tu achas que deve ser feito com ela?»

p1793:2 162:3.3 O plano dos inimigos de Jesus era, se ele apoiasse a lei de Moisés, que exigia que a pecadora auto-confessa fosse apedrejada, envolveriam-no em dificuldades com os dirigentes romanos, que haviam negado aos judeus o direito de infligir a pena de morte sem a aprovação de um tribunal romano. Se ele proibisse apedrejar à mulher, eles o acusariam perante o sanedrim de colocar-se acima de Moisés e da lei judaica. Se permanecesse em silêncio, acusariam-no de covardia. Mas o Mestre administrou a situação de tal maneira que toda a trama se despedaçou pelo próprio peso de sua sordidez.

p1793:3 162:3.4 Esta mulher, bonita em outros tempos, era a esposa de um cidadão inferior de Nazaré, um homem que foi um criador de caso para Jesus durante toda sua juventude. O homem, tendo casado com esta mulher, forçou-a mais que vergonhosamente a ganhar a vida deles ao vender seu corpo. Ele havia vindo à festa de Jerusalém para que sua mulher pudesse prostituir assim seus encantos físicos e obter um lucro financeiro. Ele travara um pacto com os mercenários dos dirigentes judeus para trair assim a sua própria esposa em seu vício comercializado. E por isso eles chegaram com a mulher e seu comparsa na transgressão, a fim de que Jesus caísse numa cilada ao efetuar alguma declaração que pudesse ser utilizada contra ele no caso de sua prisão.

p1793:4 162:3.5 Jesus, examinando à multidão, viu o marido dela de pé atrás dos outros. Sabia que tipo de homem era e percebeu que era um cúmplice nesta trama desprezível. Primeiramente, Jesus caminhou em volta da multidão para se aproximar donde estava este marido degenerado, e escreveu umas poucas palavras na areia que lhe fizeram sair precipitadamente. Logo voltou diante da mulher e escreveu de novo no chão em proveito dos pretensos acusadores dela; e quando leram suas palavras, eles, também, foram embora, um por um. E quando o Mestre escreveu pela terceira vez na areia, o parceiro de pecado da mulher tomou seu caminho, de maneira que quando o Mestre se levantou depois de escrever, observou que a mulher estava só diante dele. Jesus disse: «Mulher, aonde estão teus acusadores? Ninguém ficou para apedrejar-te?» E a mulher, levantando seus olhos, respondeu: «Ninguém, Senhor.» E então Jesus disse: «Conheço teu caso; eu tampouco te condeno. Vai-te em paz.» E esta mulher, chamada Hildana, abandonou seu perverso marido e se uniu aos discípulos do reino.

 

A Festa dos Tabernáculos

 

p1793:5 162:4.1 A presença de pessoas provenientes de todo o mundo conhecido, desde a Espanha até a Índia, tornava a festa dos tabernáculos uma ocasião ideal para que Jesus proclamasse publicamente, pela primeira vez em Jerusalém, a totalidade de seu evangelho. Nesta festa, o povo vivia muito ao ar livre, em cabanas de folhas. Era a festa da colheita, e acontecia, tal como ocorria, no frescor dos meses de outono, ela era mais comumente assistida pelos judeus do mundo do que era a Páscoa, no final do inverno, ou a de Pentecostes no início do verão. Os apóstolos finalmente viam seu Mestre fazer uma arrojada proclamação de sua missão na Terra diante o mundo inteiro, tal como fora.

p1794:1 162:4.2 Esta era a festa das festas, pois qualquer sacrifício não efetuado nas outras festividades podia ser feito neste momento. Esta era a ocasião do recebimento das oferendas do templo; era uma combinação dos prazeres das férias e dos ritos solenes do culto religioso. Esse era um momento de regozijo racial, misturado com os sacrifícios, os cantos levíticos e os toques solenes das trombetas prateadas dos sacerdotes. À noite, o impressionante espetáculo do templo e suas multidões de peregrinos estava intensamente iluminado pelos grandes candelabros que ardiam radiantemente no pátio das mulheres, bem como pelo resplendor de dezenas de tochas colocadas nos pátios do templo. Toda a cidade estava decorada alegremente, exceto o castelo romano de Antonia, que desprezava num amargo contraste esta cena festiva e de culto. E como os judeus odiavam esta recordação sempre presente do jugo romano!

p1794:2 162:4.3 Durante a festa setenta bois eram sacrificados, o símbolo das setenta nações do mundo pagão. A cerimônia do derramamento da água simbolizava a efusão do espírito divino. Esta cerimônia da água acontecia depois da procissão dos sacerdotes e levitas ao pôr-do-sol. Os fiéis desciam pelos degraus de acesso ao pátio de Israel ao pátio das mulheres, enquanto sucessivos toques de trombetas de prata eram soprados. E então, os fiéis avançavam na direção do bonito portão, que se abria para o pátio dos gentios. Ali eles viravam-se para ficarem de frente para oeste, repetir seus cânticos e continuar sua caminhada para a água simbólica.

p1794:3 162:4.4 No último dia da festa oficiavam cerca de quatrocentos e cinqüenta sacerdotes com um número correspondente de levitas. Ao amanhecer os peregrinos provenientes de todas as partes da cidade se congregavam , cada um trazendo na mão direita um feixe de murta, de salgueiro e galhos de palmeiras, e na mão esquerda carregavam um galho da macieira do paraíso -a cidra ou a «fruta proibida». Estes peregrinos dividiam-se em três grupos para esta cerimônia matutina. Um grupo permanecia no templo para assistir os sacrifícios da manhã; outro grupo descia de Jerusalém até perto de Maza para cortar os ramos de salgueiro para o enfeite do altar dos sacrifícios, enquanto um terceiro grupo formava uma procissão para desfilar desde o templo atrás do sacerdote da água, que, ao som das trombetas de prata, levava a jarra de ouro que era para conter a água simbólica, através do Ofel e a Siloé, onde era localizado o portão da fonte. Após a jarra de ouro ter sido enchida no tanque de Siloé, a procissão regressava ao templo, entrando pela caminho do portão da água e indo diretamente ao pátio dos sacerdotes, onde o sacerdote que levava a jarra de água se unia ao sacerdote que levava o vinho para a oferenda da bebida. Estes dois sacerdotes encaminhavam-se depois aos funis de prata que conduziam à base do altar, e vertiam neles o conteúdo das jarras. A execução deste rito de verter o vinho e a água era o sinal que os peregrinos reunidos esperavam para começar a cantar os salmos 113 ao 118 inclusive, alternando com os levitas. E à medida que repetiam estes versos, abanavam seus ramos para o altar. Então se realizavam os sacrifícios do dia, associados com a repetição do salmo do dia, o salmo para o último dia da festa era octogésimo segundo, começando com o quinto versículo.

 

O Sermão Sobre a Luz do Mundo

 

p1794:4 162:5.1 Ao anoitecer do penúltimo dia da festa, quando a cena estava intensamente iluminada pelas luzes dos candelabros e das tochas, Jesus se levantou no meio da multidão reunida e disse:

p1795:1 162:5.2 «Eu sou a luz do mundo. Aquele que me segue não caminhará nas trevas, mas terá a luz da vida. Ousando colocar-me sob juízo e pretendendo posar como meus juízes, vós declarais que, se dou testemunho de mim mesmo, meu testemunho não pode ser verdadeiro. Mas a criatura nunca pode pôr o Criador em julgamento. Mesmo que eu dê testemunho de mim mesmo, meu testemunho é eternamente verdadeiro, porque sei de onde vim, quem sou e aonde vou. Vós, que quereis matar o Filho do Homem, não sabeis de onde vim, quem sou, nem aonde vou. Apenas julgais pelas aparências da carne; não percebeis as realidades do espírito. Eu não julgo a ninguém, nem sequer a meu maior inimigo. Mas se decidisse julgar, meu julgamento seria exato e correto, porque eu não julgaria sozinho, mas em associação com meu Pai que me enviou ao mundo, e que é a origem de todo julgamento verdadeiro. Vós admitis inclusive que o testemunho de duas pessoas confiáveis pode ser aceito -pois bem, eu dou testemunho dessas verdades; e assim meu Pai que está nos céus também faz. E ontem, quando vos disse isto, vós me perguntastes em vossa ignorância: `Onde está teu Pai?' Em verdade, não me conheceis nem a mim nem a meu Pai, porque se me conhecêsseis, conheceríeis também ao Pai.

p1795:2 162:5.3 «Já vos disse que estou partindo, e que me buscareis e não me encontrareis, porque onde estou indo vós não podeis vir. Vós, que quiséreis rejeitar esta luz, sois de baixo; eu sou de cima. Vós, que preferis permanecer nas trevas, sois deste mundo; eu não sou deste mundo, e vivo na luz eterna do Pai das luzes. Todos vós tivéreis abundantes oportunidades para saber quem eu sou, mas tereis ainda outras evidências confirmando a identidade do Filho do Homem. Eu sou a luz da vida, e todo aquele que rejeita deliberadamente e conscientemente esta luz salvadora, morrerá em seus pecados. Tenho muitas coisas que vos dizer, mas vós sois incapazes de receber minhas palavras. Entretanto, aquele que me enviou é verdadeiro e fiel; meu Pai ama inclusive a seus filhos desviados. E tudo o que meu Pai tem dito, eu também proclamo ao mundo.

p1795:3 162:5.4 «Quando o Filho do Homem seja elevado, então todos vós sabereis que eu sou ele, e que não fiz nada por mim mesmo, mas apenas o que o Pai me ensinou. Eu falo estas palavras a vós e a vossos filhos. E aquele que me enviou está inclusive agora comigo; ele não me deixou só, porque sempre faço o que é agradável a seus olhos.»

p1795:4 162:5.5 Enquanto Jesus ensinava assim aos peregrinos nos pátios do templo, muitos creram. E ninguém se atreveu a prendê-lo.

 

O Discurso Sobre a Água da Vida

 

p1795:5 162:6.1 No último dia, o grande dia da festa, à medida que a procissão do tanque de Siloé passava pelos pátios do templo, e imediatamente depois da água e o vinho serem derramados pelos sacerdotes no altar, Jesus, estando entre os peregrinos, disse: «Se alguém tem sede, que venha a mim e beba. Trago a este mundo a água da vida procedente do Pai lá de cima. O que crê em mim será tomado pelo espírito que esta água representa, porque inclusive as Escrituras têm dito: `Dele manarão rios de água viva'. Quando o Filho do Homem haja terminado sua obra na Terra, o Espírito vivo da Verdade será derramado sobre toda a carne. Os que recebam este espírito não conhecerão nunca a sede espiritual.»

p1795:6 162:6.2 Jesus não interrompeu o serviço para pronunciar estas palavras. Dirigiu-se aos fiéis imediatamente após o canto do Aleluia, a leitura correspondente dos salmos acompanhada pelo agitar dos ramos diante do altar. Nesse instante havia uma pausa enquanto os sacrifícios estavam sendo preparados, e foi nesse momento que os peregrinos escutaram a voz fascinante do Mestre proclamar que ele era o doador da água viva para todas as almas sedentas de espírito.

p1796:1 162:6.3 Na conclusão deste ofício matutino, Jesus continuou ensinando à multidão, dizendo: «Não lestes nas Escrituras: `Olhai, assim como as águas são despejadas sobre a terra seca e cobrem o solo árido, assim eu vos darei o espírito de santidade para que seja derramado sobre vossos filhos e abençoe inclusive aos filhos de vossos filhos?' Por que tendes sede do ministério do espírito, enquanto tentais regar vossas almas com as tradições dos homens, que emanam das jarras quebradas dos ofícios cerimoniais? Isso que vós vedes circulando neste templo é a maneira na qual vossos pais tentaram simbolizar a efusão do espírito divino sobre os filhos da fé, e tendes feito bem em perpetuar estes símbolos até o dia de hoje. Mas agora, a revelação do Pai dos espíritos chegara a esta geração através da efusão de seu Filho, e tudo isto será certamente acompanhado pela efusão do espírito do Pai e do Filho sobre os filhos dos homens. Para todo o que tem fé, esta efusão do espírito se tornará o verdadeiro instrutor do caminho que conduz à vida eterna, às verdadeiras águas da vida no reino do céu da Terra e no Paraíso do Pai do outro lado.»

p1796:2 162:6.4 E Jesus continuou respondendo às perguntas da multidão e dos fariseus. Alguns pensavam que ele era um profeta; uns acreditavam que era o Messias; outros diziam que ele não podia ser o Cristo, já que vinha da Galiléia, e que o Messias devia restaurar o trono de Davi. Entretanto, não se atreveram a prendê-lo.

 

O Discurso Sobre a Liberdade Espiritual

 

p1796:3 162:7.1 Na tarde do último dia da festa, e depois de os apóstolos terem fracassado em seus esforços por persuadi-lo a que fugisse de Jerusalém, Jesus entrou de novo no templo para ensinar. Ao encontrar um grande grupo de crentes reunidos no Pórtico de Salomão, falou-lhes, dizendo:

p1796:4 162:7.2 «Se minhas palavras permanecem em vós e ficai dispostos a fazer a vontade de meu Pai, então sois realmente meus discípulos. Conhecereis a verdade, e a verdade vos fará livres. Eu sei como me respondereis: Somos os filhos de Abraão, e não somos escravos de ninguém; como seremos pois libertados? Mesmo assim, eu não falo de uma sujeição exterior ao domínio de um outro; refiro-me às liberdades da alma. Em verdade, em verdade vos digo, que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado. E vós sabeis que não é provável que o escravo resida para sempre na casa do amo. Também sabeis que o filho permanece na casa de seu pai. Portanto, se o Filho vos liberta, vos torna filhos, sereis verdadeiramente livres.

p1796:5 162:7.3 «Sei que sois a semente de Abraão, entretanto vossos dirigentes tentam me matar porque minha palavra não foi autorizada a ter sua influência transformadora em seus corações. As almas deles estão seladas pelos preconceitos e cegadas pelo orgulho da vingança. Eu vos declaro a verdade que o Pai eterno me mostra, enquanto esses educadores iludidos procuram fazer as coisas que aprenderam apenas de seus pais temporais. E quando respondais que Abraão é vosso pai, então vos digo que, se fosseis os filhos de Abraão, executaríeis as obras de Abraão. Alguns de vós credes em meu ensinamento, mas outros tentam me destruir porque vos tenho dito a verdade que recebi de Deus. Mas Abraão não tratou assim a verdade de Deus. Percebo que alguns dentre vós estais decididos a realizar as obras do maligno. Se Deus fosse vosso Pai, me conheceríeis e amaríeis a verdade que vos revelo. Não quereis ver que venho do Pai, que sou enviado por Deus, que não estou fazendo esta obra por mim mesmo? Por que não compreendeis minhas palavras? É porque escolhêreis ser os filhos do mal? Se sois os filhos das trevas, dificilmente caminhareis na luz da verdade que vos revelo. Os filhos do maligno só seguem os caminhos de seu pai, que era um farsante e não defendia a verdade, porque não chegou a existir nenhuma verdade nele. Mas agora vem o Filho do Homem, proclamando e vivendo a verdade, e muitos de vós se recusam a crer.

p1797:1 162:7.4 «Qual de vós me acusa de pecado? Se, pois, proclamo e vivo a verdade mostrada pelo Pai, por que não credes? Aquele que é de Deus escuta com prazer as palavras de Deus; por causa disso, muitos de vós não escutais minhas palavras, porque não sois de Deus. Vossos instrutores se atreveram inclusive a dizer que eu realizo minhas obras pelo poder do príncipe dos demônios. Um que está aqui perto acaba de dizer que possuo um demônio, que sou um filho do diabo. Mas todos aqueles de vós que vos comportais honestamente com vossa própria alma, sabeis muito bem que não sou um diabo. Sabeis que honro ao Pai, ainda que vós quiséreis desonrar-me. Não busco minha própria glória, mas unicamente a glória de meu Pai do Paraíso. E eu não vos julgo, porque há alguém que julga por mim.

p1797:2 162:7.5 «Em verdade, em verdade eu digo a vós que credes no evangelho, que se um homem conserva viva em seu coração esta palavra de verdade, ele nunca conhecerá a morte. E justo neste momento, um escriba a meu lado diz que esta declaração é a prova de que possuo um demônio, já que Abraão está morto e os profetas também. E pergunta: `És tu muito maior que Abraão e os profetas para que te atreva a estar aqui e dizer que qualquer um que conserva tua palavra não provará da morte? Quem pretendes ser para atrever-te a dizer tais blasfêmias?' E a todos esses eu digo que, se me glorifico a mim mesmo, minha glória é nenhuma. Mas é o Pai o que me glorificará, inclusive o mesmo Pai que chamais de Deus. Mas vós não conseguíreis conhecer este Deus, vosso Deus e meu Pai, e eu vim para vos unir, para vos mostrar como chegar a ser de verdade os filhos de Deus. Ainda que não conheceis o Pai, eu o conheço realmente. Inclusive Abraão regozijou-se ao ver meu dia, e viu pela fé e ficou satisfeito.»

p1797:3 162:7.6 Quando os judeus incrédulos e os agentes do sanedrim que haviam se reunido neste momento escutaram estas palavras, provocaram um alvoroço, gritando: «Não tens cinqüenta anos de idade, e entretanto falas em ter visto Abraão; tu és um filho do diabo!» Jesus ficou impossibilitado de continuar seu discurso. Apenas disse ao partir: «Em verdade, em verdade vos digo, antes de que Abraão fosso, eu sou.» Muitos incrédulos correram em busca de pedras para jogar nele, e os agentes do sanedrim tentaram colocá-lo na prisão, mas o Mestre rapidamente abriu caminho pelos corredores do templo, e escapou para um lugar secreto de reunião, perto de Betânia, onde Marta, Maria e Lázaro o esperavam.

 

A Conversa Com Marta e Maria

 

p1797:4 162:8.1 Fora combinado que Jesus se alojaria com Lázaro e suas irmãs na casa de um amigo, enquanto os apóstolos ficariam dispersos aqui e ali em pequenos grupos; estas precauções foram tomadas porque as autoridades judaicas estavam novamente ficando encorajadas com seus planos de prendê-lo.

p1797:5 162:8.2 Durante anos, foi costume dos três jovens largar tudo e escutar o ensinamento de Jesus cada vez que ele tinha a oportunidade de visitá-los. Com a perda de seus pais, Marta havia assumido a responsabilidade das atividades da casa, e por isso nesta ocasião, enquanto Lázaro e Maria sentavam-se aos pés de Jesus bebendo de seus ensinamentos vivificantes, Marta se dispôs a servir a ceia. Deve ser explicado que Marta ficava desnecessariamente distraída com numerosas tarefas supérfluas, e que ficava incomodada com muitas inquietações insignificantes; essa era sua maneira de ser.

p1798:1 162:8.3 Enquanto Marta ocupava-se com todos estes supostos deveres, ela ficava perturbada porque Maria não fazia nada para ajudar. Por isso ela se aproximou de Jesus e disse: «Mestre, não te importas que minha irmã me deixe fazer todo o serviço sozinha? Não quererias pedi-la que venha a me ajudar?» Jesus respondeu: «Marta, Marta, por que estás sempre ansiosa por tantas coisas e preocupada por tantas bagatelas? Só há uma coisa que vale realmente a pena, e visto que Maria escolhera esta parte boa e necessária, eu não vou tirar dela. Mas, quando vocês duas aprenderão a viver como as tenho ensinado: servir tanto em cooperação e refrescar vossas almas em uníssono? Não conseguis aprender que há um tempo para cada coisa -que as questões secundárias da vida devem dar passagem às coisas mais importantes do reino celestial?»

 

Em Belém com Abner

 

p1798:2 162:9.1 Durante toda a semana que seguiu à festa dos tabernáculos, dezenas de crentes se reuniram em Betânia e receberam instruções dos doze apóstolos. O sanedrim não fez nenhum esforço por importunar estas reuniões, já que Jesus não estava presente; durante todo este período, ele esteve trabalhando em Belém com Abner e seus companheiros. No dia seguinte ao término da festa, Jesus havia partido para Betânia e não ensinou novamente no templo durante esta visita a Jerusalém.

p1798:3 162:9.2 Nesta época, Abner estava estabelecendo seu quartel general em Belém, e a partir desse centro muitos operários foram enviados às cidades da Judéia e do sul da Samaria, e inclusive a Alexandria. Com poucos dias de sua chegada, Jesus e Abner completaram os acordos para a consolidação da obra dos dois grupos de apóstolos.

p1798:4 162:9.3 Durante toda sua visita à festa dos tabernáculos, Jesus dividira seu tempo quase que igualmente entre Betânia e Belém. Em Betânia, passou muito tempo com seus apóstolos; em Belém, deu muitas instruções a Abner e aos outros antigos apóstolos de João. E este contato íntimo foi o que os levou finalmente a crerem nele. Estes antigos apóstolos de João Batista foram muito influenciados pela coragem que ele demonstrara em seu ensinamento público em Jerusalém, bem como pela amável compreensão que eles experimentaram em seu ensinamento particular em Belém. Estas influências conquistaram completa e finalmente a cada um dos companheiros de Abner a aceitarem de todo coração o reino e tudo o que uma medida dessa implicava.

p1798:5 162:9.4 Antes de deixar Belém pela última vez, o Mestre tomou medidas para que todos eles se associassem a ele no esforço unido que precederia o final de sua carreira terrestre na carne. Foi combinado que Abner e seus companheiros se reuniriam num futuro próximo com Jesus e os doze no Parque de Magadã.

p1798:6 162:9.5 De acordo com esta disposição, a princípios de novembro Abner e seus onze companheiros lançariam suas sortes com Jesus e os doze, e trabalharam com eles como uma só organização até a crucificação.

p1798:7 162:9.6 Na segunda parte de outubro, Jesus e os doze retiraram-se das cercanias imediatas de Jerusalém. No domingo, 30 de outubro, Jesus e seus associados deixaram a cidade de Efraim, onde ele havia descansado em isolamento durante uns poucos dias, e, indo diretamente pela estrada a oeste do Jordão, chegaram ao Parque de Magadã no final da tarde da quarta-feira 2 de novembro.

p1799:1 162:9.7 Os apóstolos ficaram grandemente aliviados por ter o Mestre de volta em um solo amigável; nunca mais insistiram com ele para que fosse até Jerusalém proclamar o evangelho do reino.

 




Tradução Voluntária Por : Heitor Carestiato Neto