A Ordenação dos Setenta em Magadã
Introdução
Poucos dias depois do retorno de Jesus e os doze de Jerusalém a
Magadã, Abner e um grupo de uns cinqüenta discípulos chegaram de Belém. Nesse
momento também estavam reunidos no acampamento de Magadã o corpo dos
evangelistas, o corpo de mulheres e aproximadamente outros cento e cinqüenta
discípulos sinceros e provados de todas as partes da Palestina. Depois de
consagrar uns poucos dias à visitas e à reorganização do acampamento, Jesus e os
doze iniciaram um curso de formação intensiva para este grupo especial de
crentes, e deste agrupamento de discípulos bem preparados e experimentados, o
Mestre escolheu posteriormente os setenta educadores e os enviou a proclamar o
evangelho do reino. Esta instrução regular começou na sexta-feira 4 de novembro,
e continuou até o sábado 19 de novembro.
p1800:2 163:0.2 Jesus dava uma
palestra a cada manhã a este grupo. Pedro ensinava os métodos de predicação
pública; Natanael os instruía na arte de ensinar; Tomé explicava como responder
às perguntas; enquanto Mateus dirigia a organização de suas finanças coletivas.
Os outros apóstolos participaram também nesta formação segundo sua experiência
especial e seus talentos naturais.
A Ordenação dos Setenta
p1800:3 163:1.1 No sábado 19 de novembro à tarde, os setenta
foram ordenados por Jesus no acampamento de Magadã, e Abner foi posto na chefia
destes predicadores e instrutores do evangelho. Este corpo de setenta consistia
de Abner e dez antigos apóstolos de João, cinqüenta e um dos primeiros
evangelistas e outros oito discípulos que haviam se distinguido no serviço do
reino.
p1800:4 163:1.2 Por volta das duas da tarde deste sábado, entre
pancadas de chuva, um grupo de crentes, acrescentado pela chegada de Davi e da
maioria de seu corpo de mensageiros, em número acima de quatrocentas pessoas,
congregaram-se na margem do lago da Galiléia para dar testemunho da ordenação
dos setenta.
p1800:5 163:1.3 Antes de Jesus impor suas mãos sobre as
cabeças dos setenta para destacá-los como mensageiros do evangelho, dirigindo-se
a eles, disse: «Em verdade, a colheita é abundante mas os trabalhadores são
poucos; por isso vos exorto a todos que oreis para que o Senhor da colheita
queira enviar ainda outros trabalhadores à sua colheita. Eu estou prestes a vos
selecionar como mensageiros do reino; estou prestes a vos enviar para os judeus
e os gentios como cordeiros entre lobos. Quando empreendais vosso caminho de
dois em dois, vos recomendo que não leveis nem bolsa nem roupa adicional, porque
ireis nesta primeira missão por apenas uma curta temporada. Não saudeis a
ninguém pelo caminho, ocupai-vos unicamente de vosso trabalho. Sempre que vades
a ficar em um lar, primeiro dizei: Que a paz esteja nesta casa. Se aqueles que
vivem ali amam a paz, ficareis ali; se não, então partireis. E tendo escolhido
um lar, permaneçais nele durante toda vossa estadia nessa cidade, comendo e
bebendo o que for servido a vós. E fareis isto porque o operário é merecedor de
seu sustento. Não mudeis de casa em casa porque um melhor alojamento possa vos
ser oferecido. Recordai, que ao sair a proclamar a paz na Terra e a boa vontade
entre os homens, tereis que lutar contra inimigos amargos e auto-enganados; sede
pois tão prudentes como as serpentes e ao mesmo tempo, sede também tão
inofensivos como as pombas.
p1801:1 163:1.4 «E onde quer vades,
predicai, dizendo: `O reino dos céus está próximo', e ministrai a todos os que
possam estar enfermos da mente ou do corpo. Recebestes gratuitamente as boas
coisas do reino; dai gratuitamente. Se o povo de uma cidade vos recebe, eles
encontrarão uma entrada abundante no reino do Pai; mas se o povo de uma cidade
se nega a receber este evangelho, ainda assim proclamareis vossa mensagem quando
partirdes dessa comunidade incrédula, dizendo, inclusive quando partais, aos que
rechaçam vosso ensinamento: `Ainda que rechaçais a verdade, entretanto o reino
de Deus chegou perto de vós.' Quem vos escutar, escuta a mim. E quem me escuta,
escuta Àquele que me enviou. O que rechace vossa mensagem evangélica, rechaça a
mim. E o que me rechaça a mim, rechaça Àquele que me enviou.»
p1801:2
163:1.5 Quando Jesus assim falou aos setenta, ele iniciou por Abner e, conforme
eles ajoelhavam-se em círculo ao seu redor, impôs suas mãos sobre a cabeça de
cada homem.
p1801:3 163:1.6 Bem cedo na manhã seguinte, Abner enviou os
setenta mensageiros a todas as cidades da Galiléia, Samaria e Judéia. E estas
trinta e cinco duplas saíram a predicar e a ensinar por cerca de seis semanas, e
todos eles retornaram ao novo acampamento perto de Pela, na Peréia, na
sexta-feira 30 de dezembro.
O Jovem Rico e Outros Casos
p1801:4 163:2.1 Mais de cinqüenta discípulos que buscavam a
ordenação e a nomeação para se associar como membros dos setenta foram
rejeitados pelo comitê designado por Jesus para selecionar estes candidatos.
Este comitê era composto por André, Abner e o chefe representante do corpo
evangélico. Em todos os casos em que este comitê de três não entravam em acordo
unanimemente, eles levavam o candidato perante Jesus, e apesar de que o Mestre
não rejeitasse a nenhuma pessoa particular que desejasse a ordenação como
mensageiro do evangelho, houve mais de uma dúzia que, após terem conversado com
Jesus, já não desejaram tornar-se mensageiros do evangelho.
p1801:5
163:2.2 Um discípulo ardente veio até Jesus, dizendo: «Mestre, quisera eu ser um
de teus novos apóstolos, mas meu pai é muito idoso e prestes a morrer; eu
poderia ser autorizado a voltar a minha casa para enterrá-lo?» Jesus disse a
este homem: «Meu filho, as raposas têm refúgios e os pássaros do céu têm ninhos,
mas o Filho do Homem não tem onde repousar sua cabeça. Tu és um discípulo fiel,
e podes continuar assim enquanto regressas a teu lar para cuidar de teus entes
queridos, mas não sucede assim com os mensageiros de meu evangelho. Eles
abandonaram tudo para me seguir e proclamar o reino. Se queres ser um instrutor
ordenado, deves deixar que outros enterrem os mortos enquanto tu sais a anunciar
a boa nova.» E este homem foi embora em grande decepção.
p1801:6 163:2.3
Outro discípulo veio até o Mestre e disse: «Quisera tornar-me um mensageiro
ordenado, mas eu gostaria de ir até minha casa por um breve período de tempo
para confortar minha família.» E Jesus respondeu: «Se queres ser ordenado, deves
estar disposto a abandonar tudo. Os mensageiros do evangelho não podem ter seu
afeto dividido. Nenhum homem, ao ter posto sua mão no arado, caso volte atrás, é
digno de tornar-se um mensageiro do reino.»
p1801:7 163:2.4 Então André
trouxe até Jesus um certo jovem rico que era um fervoroso crente, e desejava
receber a ordenação. Este jovem, chamado Matadormo, era um membro do sanedrim de
Jerusalém; havia escutado Jesus ensinar e posteriormente fora instruído no
evangelho do reino por Pedro e outros apóstolos. Jesus conversou com Matadormo
sobre os requisitos da ordenação e pediu que ele adiasse sua decisão até que
houvesse refletido mais completamente sobre o assunto. Bem cedo da manhã
seguinte, quando Jesus estava saindo para um passeio, este jovem o interpelou e
disse: «Mestre, eu queria saber de ti das garantias da vida eterna. Já que tenho
observado todos os mandamentos desde minha juventude, gostaria de saber o quê
mais devo fazer para conseguir a vida eterna.» Em resposta a esta pergunta,
Jesus disse: «Se guardas todos os mandamentos -não cometerás adultério, não
matarás, não roubarás, não darás falso testemunho, não enganarás, honrarás a
teus pais- fazes bem, mas a salvação é a recompensa da fé, e não simplesmente
das obras. Crês neste evangelho do reino?» E Matadormo respondeu: «Sim, Mestre,
acredito em tudo o que tu e teus apóstolos me ensinaram.» E Jesus disse: «Então,
és em verdade meu discípulo e um filho do reino.»
p1802:1 163:2.5 O
jovem disse então: «Mas Mestre, não me conformo em ser teu discípulo; queria ser
um de teus novos mensageiros.» Quando Jesus escutou isso, fitou-o com grande
amor e disse: «Eu aceitarei que sejas um de meus mensageiros se estiveres
disposto a pagar o preço, se suprires a única coisa que te falta.» Matadormo
respondeu: «Mestre, farei qualquer coisa para que possa ser capaz de seguir-te.»
Jesus, beijando a fronte do jovem ajoelhado, disse: «Se queres ser meu
mensageiro, vai e venda tudo o que possuís e, quando tiveres doado os produtos
aos pobres ou a teus irmãos, vem e segue-me, e terás um tesouro no reino dos
céus.»
p1802:2 163:2.6 Quando Matadormo ouviu isso, seu semblante
abateu-se. Levantou-se e foi embora pesaroso, pois tinha grandes possessões.
Este jovem fariseu rico fora criado crendo que a riqueza era o sinal do favor de
Deus. Jesus sabia que Matadormo não estava livre do amor próprio e de suas
riquezas. O Mestre queria libertá-lo do amor à riqueza, não necessariamente da
riqueza. Ainda que os discípulos de Jesus não abriam mão de todos os seus bens
materiais, os apóstolos e os setenta abriam mão. Matadormo desejava ser um dos
setenta novos mensageiros, e essa foi a razão porque Jesus lhe pediu que abrisse
mão de todas as suas possessões temporais.
p1802:3 163:2.7 Quase todo
ser humano tem alguma coisa na qual está aferrado como a um mal favorito, e que
a entrada no reino dos céus exige como parte do preço de admissão. Se Matadormo
tivesse aberto mão de sua riqueza, ela provavelmente seria recolocada em suas
mãos para a administração como tesoureiro dos setenta. Porque mais tarde, depois
do estabelecimento da igreja em Jerusalém, ele obedeceu o mandato do Mestre,
ainda que fosse tarde demais para desfrutar da associação com os setenta, e
fez-se o tesoureiro da igreja de Jerusalém, da qual Tiago, o irmão carnal do
Senhor, era o chefe.
p1802:4 163:2.8 Sempre foi assim e sempre será: Os
homens devem chegar às suas próprias decisões. Há uma certa faixa de liberdade
de escolha que os mortais podem exercer. As forças do mundo espiritual não
desejam coagir o homem; elas permitem-no seguir o caminho que ele mesmo
escolher.
p1802:5 163:2.9 Jesus previa que Matadormo, com suas riquezas,
possivelmente não poderia ser ordenado companheiro de homens que haviam
abandonado tudo pelo evangelho; ao mesmo tempo, ele via que, sem suas riquezas,
ele se tornaria o principal dirigente de todos eles. Todavia, igualmente aos
próprios irmãos de Jesus, ele nunca chegou a ser grande no reino porque ele
mesmo se privara dessa associação íntima e pessoal com o Mestre, que poderia ter
sido sua experiência se estivesse disposto a fazer, naquele momento, muitas
coisas que Jesus lhe pedia, e que, vários anos depois, ele realmente fez.
p1803:1 163:2.10 As riquezas não têm diretamente nada a ver com a
entrada no reino dos céus, mas o amor pela riqueza tem. As lealdades espirituais
do reino são incompatíveis com a servidão à cobiça materialista. O homem não
pode compartilhar sua lealdade suprema a um ideal espiritual com uma devoção
material.
p1803:2 163:2.11 Jesus nunca ensinou que fosse errado possuir
riquezas. Ele só exigia dos doze e dos setenta que dedicassem todas as suas
possessões materiais à causa comum. Inclusive então, providenciou a liquidação
rentável de suas propriedades, tal como no caso do apóstolo Mateus. Jesus
aconselhou muitas vezes a seus discípulos abastados como ele ensinara o homem
rico de Roma. O Mestre considerava o sábio investimento dos lucros sobrantes
como uma forma legítima de seguro contra a inevitável adversidade futura. Quando
a tesouraria apostólica estava transbordando, Judas colocava fundos em depósito
para serem usados posteriormente quando eles pudessem sofrer uma grande
diminuição dos rendimentos. Judas fazia isto depois de consultar com André.
Jesus nunca teve nada a ver pessoalmente com as finanças apostólicas, exceto
sobre os desembolsos das esmolas. Mas havia um abuso econômico que ele condenou
muitas vezes, e que foi a exploração injusta dos homens débeis, ignorantes e
menos afortunados por parte de seus semelhantes fortes, perspicazes e mais
inteligentes. Jesus declarou que este tratamento desumano de homens, mulheres e
crianças era incompatível com os ideais da fraternidade do reino dos céus.
A Discussão Sobre a Riqueza
p1803:3 163:3.1 Enquanto Jesus terminava de falar com
Matadormo, Pedro e vários apóstolos se reuniram ao seu redor, e quando o jovem
rico estava partindo, Jesus virou-se de frente para os apóstolos e disse: «Vedes
agora quão difícil que é para os que têm riquezas entrar totalmente no reino de
Deus! A adoração espiritual não pode ser dividida com as devoções materiais;
nenhum homem pode servir a dois senhores. Vós tendes um ditado na qual `é mais
fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que os pagãos herdem a vida
eterna.' E eu declaro que é tão fácil para esse camelo passar pelo buraco da
agulha, quanto estes ricos convencidos entrarem no reino dos céus.»
p1803:4 163:3.2 Quando Pedro e os apóstolos escutaram estas palavras,
ficaram extremamente surpreendidos, de tal maneira que Pedro disse: «Então,
Senhor, quem pode ser salvo? Todos os que têm riquezas serão mantidos fora do
reino?» E Jesus respondeu: «Não, Pedro, mas todos os que põem sua confiança nas
riquezas, dificilmente entrarão na vida espiritual que conduz ao progresso
eterno. Mas ainda assim, muitas coisas que são impossíveis para o homem, não
estão longe do alcance do Pai que está nos céus; ao contrário, deveríamos
reconhecer que com Deus todas as coisas são possíveis.»
p1803:5 163:3.3
Enquanto eles iam cada um por si, Jesus ficou triste que Matadormo não
permanecesse com eles, porque o amava profundamente. E quando eles desceram até
o lago, sentaram-se à beira da água, e Pedro, falando em nome dos doze (que
estavam todos presentes naquele momento), disse: «Estamos confundidos por tuas
palavras ao jovem rico. Devemos exigir que os que queiram te seguir renunciem a
todas os seus bens materiais?» E Jesus disse: «Não, Pedro, somente aos que
queiram tornar-se apóstolos, e desejem viver comigo como vós o fazeis, e como
uma só família. Mas o Pai exige que o afeto de seus filhos seja puro e indiviso.
Qualquer coisa ou pessoa que se interponha entre vós e o amor às verdades do
reino, deve ser abandonada. Se a riqueza que alguém possui não invade os
recintos da alma, não tem nenhuma conseqüência sobre a vida espiritual dos que
desejam entrar no reino.»
p1804:1 163:3.4 E então Pedro disse: «Mas,
Mestre, nós abandonamos tudo para te seguir, o que possuiremos então?» E Jesus
falou a todos os doze: «Em verdade, em verdade vos digo, não há ninguém que haja
deixado sua riqueza, seu lar, sua esposa, seus irmãos, seus pais ou seus filhos,
por amor a mim e por amor ao reino dos céus, que não receba muitas vezes mais
neste mundo, quiçá com algumas perseguições, e a vida eterna no mundo vindouro.
Mas muitos que são os primeiros serão os últimos, enquanto os últimos serão
amiúde os primeiros. O Pai trata a suas criaturas segundo suas necessidades e de
acordo com suas justas leis de consideração misericordiosa e amante pelo
bem-estar de um universo.
p1804:2 163:3.5 «O reino dos céus é como um
chefe de família que era um grande empregador de homens, e que saiu de manhã
cedo a contratar operários para que trabalhassem em sua vinha. Depois de ter
combinado com os trabalhadores que lhes pagaria um denário por dia, ele os
enviou à sua vinha. Então ele saiu por volta das nove horas, e ao ver outros
desocupados na praça do mercado, disse-lhes: `Ide também a trabalhar em minha
vinha, e vos pagarei o que seja justo.' E foram imediatamente a trabalhar. Ele
saiu novamente às doze horas e às três fez o mesmo. E indo à praça do mercado
pelas cinco da tarde, encontrou outros operários ociosos, e perguntou-lhes: `Por
que estais aqui o dia inteiro sem fazer nada?' E os homens responderam: `Porque
ninguém nos contratou.' O chefe de família disse então: `Ide vós também a
trabalhar em minha vinha, e vos pagarei o que for justo.'
p1804:3
163:3.6 «Quando a noite chegou, o proprietário da vinha disse a seu
administrador: `Chame os operários e pague-os os seus salários, começando com os
últimos contratados e terminando com os primeiros.' Quando os que foram
contratados às cinco chegaram, cada um deles recebeu um denário, e assim foi com
cada um dos outros trabalhadores. Quando os homens que foram contratados no
início do dia viram quanto os últimos a chegar foram pagos, esperaram receber
mais do que a quantia combinada. Todavia, da mesma forma que os demais, cada
homem só recebeu um denário. E quando todos receberam seu pagamento,
queixaram-se ao chefe da casa, dizendo: `Aqueles homens que foram contratados
por último trabalharam apenas uma hora, e entretanto, tu os pagaste o mesmo que
a nós, que agüentamos a carga do dia sob o sol abrasador.'
p1804:4
163:3.7 «Então o chefe da casa respondeu: `Meus amigos, não faço nada de errado
convosco. Cada um de vós não aceitastes trabalhar por um denário ao dia? Tomai
agora o que é vosso e segui vosso caminho, porque é meu desejo dar aos últimos
que chegaram tanto quanto dei a vós. Não me é lícito fazer o que deseje com
minha propriedade? Ou vos inveja minha generosidade, porque desejo ser bondoso e
mostrar misericórdia?'»
A Despedida dos Setenta
p1804:5 163:4.1 O dia que os setenta saíram em sua primeira
missão foi um momento emocionante no acampamento de Magadã. Naquela manhã cedo,
em sua última conversa com os setenta, Jesus enfatizou sobre o seguinte:
p1804:6 163:4.21. O evangelho do reino deve ser proclamado ao mundo
inteiro, aos gentios bem como aos judeus.
p1804:7 163:4.32. Quando
cuideis dos enfermos, privei-vos de ensinar a esperança pelos milagres.
p1805:1 163:4.43.Proclamai uma fraternidade espiritual dos filhos de
Deus, e não um reino exterior de poder mundano e de glória material.
p1805:2 163:4.54.Evitai perder tempo mediante o excesso de visitas
sociais e outras trivialidades, que poderiam diminuir vossa consagração
entusiasta à predicação do evangelho.
p1805:3 163:4.65.Se a primeira
casa a ser escolhida como quartel general mostrar ser um lar digno, permanecei
ali durante toda vossa estada nessa cidade.
p1805:4 163:4.76. Esclarecei
a todos os crentes fiéis que já chegou a hora de romper abertamente com os
chefes religiosos dos judeus de Jerusalém.
p1805:5 163:4.87. Ensinai que
todo o dever do homem está resumido neste único mandamento: Ama ao Senhor teu
Deus com toda tua mente e com toda tua alma, e a teu próximo como a ti mesmo.
(Eles ensinariam isto como todo dever do homem, em lugar das 613 regras de vida
expostas pelos fariseus.)
p1805:6 163:4.9 Depois de que Jesus falou
assim aos setenta na presença de todos os apóstolos e discípulos, Simão Pedro
levou-os à parte e lhes predicou o sermão de ordenação deles, que foi uma
ampliação das instruções dadas pelo Mestre no momento que impôs as mãos sobre
eles e selecioná-los como mensageiros do reino. Pedro exortou aos setenta a que
cultivassem em suas experiências, as seguintes virtudes:
p1805:7
163:4.101. A devoção consagrada. Orar sempre para que mais operários sejam
enviados à colheita do evangelho. Ele explicou que, quando alguém ora dessa
forma, dirá com mais probabilidade: «Aqui estou; envia-me.» Admoestou-os a que
não negligenciassem suas adorações diárias.
p1805:8 163:4.112. A
verdadeira coragem. Advertiu-lhes que encontrariam hostilidades e que estivessem
seguros de que enfrentariam perseguições. Pedro disse-lhes que a missão deles
não era uma tarefa para covardes, e aconselhou aos que estivessem com medo que
se retirassem antes deles partirem. Mas ninguém desistiu.
p1805:9
163:4.123. A fé e a confiança. Nesta curta missão, eles deviam sair inteiramente
sem recursos; deviam confiar no Pai pela alimentação e alojamento e todas as
demais coisas necessárias.
p1805:10 163:4.134. O ardor e a iniciativa.
Deviam estar dominados por um ardor e um entusiasmo inteligente; deviam
ocupar-se estritamente dos assuntos de seu Mestre. A saudação oriental era uma
cerimônia bastante longa e elaborada; por isso eles foram instruídos a que «não
saudassem a ninguém pelo caminho», na qual era um método comum de exortar alguém
a tratar de seus assuntos sem perda de tempo. Não tinha nada a ver com a questão
da saudação amigável.
p1805:11 163:4.145. A gentileza e a cortesia. O
Mestre havia lhes ordenado que evitassem perder tempo desnecessariamente em
cerimônias sociais, mas recomendou-lhes a cortesia para com todos aqueles com
quem entrassem em contato. Eles deviam mostrar toda gentileza àqueles que os
recebessem em seus lares. Foram estritamente advertidos a não deixarem um lar
modesto para serem recebidos em um mais confortável ou mais influente.
p1805:12 163:4.156. A assistência aos enfermos. Os setenta foram
encarregados por Pedro a que procurassem os enfermos da mente e do corpo, e que
fizessem tudo a seu alcance para aliviar ou curar suas enfermidades.
p1805:13 163:4.16 E quando foram assim encarregados e instruídos,
partiram de dois em dois em sua missão na Galiléia, Samaria e Judéia.
p1806:1 163:4.17 Ainda que os judeus tinham uma estima particular pelo
número setenta, considerando às vezes que as nações pagãs como sendo em número
de setenta, e embora estes setenta mensageiros deviam levar o evangelho a todos
os povos, entretanto, até onde podemos discernir, foi apenas uma coincidência
que este grupo acaso computasse exatamente setenta. Era certo que Jesus teria
aceito mais de uma dúzia a mais, mas eles não estavam dispostos a pagar o preço
de separarem-se de suas riquezas e de suas famílias.
A Mudança do Acampamento para Pela
p1806:2 163:5.1 Jesus e os doze se prepararam agora para
estabelecer seu último quartel general na Peréia, perto de Pela, onde o Mestre
fora batizado no Jordão. Os últimos dez dias de novembro foram passados gastos
com reuniões em Magadã, e na terça-feira 6 de dezembro, todo o grupo de quase
trezentas pessoas partiu ao amanhecer com todos os seus apetrechos para
alojarem-se aquela noite perto de Pela, junto ao rio. Este era o mesmo lugar,
perto do manancial, que João Batista havia ocupado com seu acampamento vários
anos antes.
p1806:3 163:5.2 Depois de levantarem acampamento de Magadã,
Davi Zebedeu regressou a Betsáida e começou imediatamente a reduzir o serviço de
mensageiros. O reino estava entrando numa nova fase. Os peregrinos chegavam
diariamente de todas as partes da Palestina e inclusive das regiões remotas do
império romano. Ocasionalmente vinham crentes da Mesopotâmia e dos territórios à
leste do Tigre. Consequentemente, no domingo 18 de dezembro, Davi, com a ajuda
de seu corpo de mensageiros, pôs o equipamento do acampamento sobre os animais
de carga, que estava então armazenado na casa de seu pai, na qual ele havia
administrado anteriormente o acampamento de Betsáida, perto do lago. Dando adeus
a Betsáida por enquanto, pôs a descer pela margem do lago, e a o longo do
Jordão, até uma altura ao redor de um quilômetro ao norte do acampamento
apostólico; e em menos de uma semana ele estava preparado para oferecer sua
hospitalidade a cerca de mil e quinhentos peregrinos visitantes. O acampamento
apostólico podia acomodar umas quinhentas pessoas. Esta era a estação das chuvas
na Palestina, e estas acomodações eram solicitadas para cuidar do sempre
crescente número de inquiridores, em grande parte sérios, que vinham até a
Peréia para ver Jesus e escutar seu ensinamento.
p1806:4 163:5.3 Davi
fez tudo isto por sua própria iniciativa, ainda que tivesse consultado com
Felipe e Mateus em Magadã. Ele empregou a maior parte de seu antigo corpo de
mensageiros como seus assistentes para dirigir este acampamento; agora utilizava
menos de vinte homens no serviço regular de mensageiros. Perto do final de
dezembro e antes de que os setenta voltassem, cerca de oitocentos visitantes
estavam congregados ao redor do Mestre, e encontraram alojamento no acampamento
de Davi.
A Volta dos Setenta
p1806:5 163:6.1 Na sexta-feira, 30 de dezembro, enquanto Jesus
estava fora nas colinas vizinhas com Pedro, Tiago e João, os setenta mensageiros
foram chegando aos pares, ao quartel general de Pela, acompanhados por numerosos
crentes. Todos os setenta estavam reunidos no local do doutrinamento às cinco da
tarde, quando Jesus regressou ao acampamento. O jantar foi retardado por mais de
uma hora, enquanto estes entusiastas do evangelho do reino contavam suas
experiências. Os mensageiros de Davi levaram muitas destas notícias aos
apóstolos durante as semanas anteriores, mas foi realmente inspirador escutar
estes instrutores do evangelho, ordenados recentemente, contar pessoalmente como
sua mensagem foi recebida pelos ávidos judeus e gentios. Finalmente Jesus podia
ver homens saindo a difundir a boa nova sem a sua presença pessoal. O Mestre
sabia agora que podia deixar este mundo sem atrapalhar seriamente o progresso do
reino.
p1807:1 163:6.2 Quando os setenta contaram como «até os demônios
foram subjugados» a eles, referiam-se às curas maravilhosas que haviam realizado
nos casos de vítimas de transtornos nervosos. Entretanto, houve uns pouco casos
de verdadeira possessão de espíritos libertados por esses ministros, e
referindo-se a estes, Jesus disse: «Não é de se estranhar que esses espíritos
menores desobedientes pudessem estar submetidos a vós, já que vi Satanás cair do
céu como um raio. Mas não vos regozijeis tanto por isso, porque eu vos declaro
que, tão logo eu regresse ao meu Pai, nós enviaremos nossos espíritos ao
interior da mente mesma dos homens, para que esses poucos espíritos perdidos já
não possam penetrar na mente dos mortais desafortunados. Alegro-me de que vós
tendes poder sobre os homens, mas não fiqueis engrandecidos por causa desta
experiência, mas de preferência regozijai-vos porque vossos nomes estão
inscritos nos arquivos do céu, e porque estais por avançar assim numa carreira
sem fim de conquista espiritual.»
p1807:2 163:6.3 E foi nesse instante,
pouco antes de repartir a ceia, que Jesus experimentou um desses raros momentos
de êxtase emocional que seus seguidores presenciavam às vezes. Disse:
«Agradeço-te, meu Pai, Senhor do céu e da terra, que, enquanto este maravilhoso
evangelho foi ocultado aos sábios e hipócritas, o espírito tem revelado estas
glórias espirituais a estes filhos do reino. Sim, meu Pai, deve ter sido
agradável a teus olhos fazer isto, e eu me regozijo ao saber que a boa nova se
difundirá por todo o mundo até depois de que eu haja retornado a ti e ao
trabalho que me encomendaste. Estou extremadamente emocionado quando percebo que
estás prestes a pôr em minhas mãos toda a autoridade, que só tu sabes realmente
quem sou, e que só eu te conheço realmente, e aqueles a quem tenho te revelado.
E quando eu haja finalizado esta revelação a meus irmãos na carne, continuarei a
revelação às tuas criaturas do céu.»
p1807:3 163:6.4 Depois de Jesus ter
falado assim ao Pai, ele virou-se para dizer a seus apóstolos e ministros:
«Abençoados sejam os olhos que vêem e os ouvidos que ouvem estas coisas.
Deixai-me vos dizer que muitos profetas e muitos grandes homens das épocas
passadas desejaram contemplar o que vedes agora, mas não lhes foi concedido. E
muitas gerações de filhos da luz que ainda virão, quando ouçam estas coisas,
invejar-vos-ão que ouvíreis e víreis isso.»
p1807:4 163:6.5 Então,
dirigindo-se a todos os discípulos, disse: «Vós ouvistes como muitas cidades e
povoados receberam a boa nova do reino, e como meus ministros e instrutores
foram recebidos tanto pelos judeus como pelos gentios. E abençoadas são em
verdade essas comunidades que decidiram crer no evangelho do reino. Mas, ai dos
habitantes rejeitadores da luz de Corazin, Betsáida-Julia e Cafarnaum, as
cidades que não receberam bem a estes mensageiros. Declaro que, se as obras
poderosas realizadas nesses lugares tivessem sido feitas em Tiro e em Sidon, o
povo dessas cidades chamadas de pagãs teriam se arrependido há muito tempo
vestidos de penitentes e cinzas. Dever-se-á em verdade ser mais tolerante com
Tiro e Sidon no dia do juízo.»
p1807:5 163:6.6 O dia seguinte sendo
sábado, Jesus foi aparte com os setenta e lhes disse: «Em verdade, alegrei-me
convosco quando voltastes trazendo as boas notícias da acolhida do evangelho do
reino por tanta gente espalhada por toda Galiléia, Samaria e Judéia. Mas, por
que ficastes tão surpreendentemente exaltados? Não esperáveis que a entrega de
vossa mensagem se manifestaria com poder? Saístes com tão pouca fé neste
evangelho que voltáreis surpreendidos por sua eficácia? E agora, ainda que eu
não queria apagar vosso espírito de alegria, desejo advertir-vos severamente
contra as sutilezas do orgulho, do orgulho espiritual. Se pudésseis compreender
a queda de Lúcifer, o iníquo, evitaríeis solenemente todas as formas de orgulho
espiritual.
p1808:1 163:6.7 «Vós empreendêreis esta grande tarefa de
ensinar ao homem mortal que ele é um filho de Deus. Eu vos mostrei o caminho;
saí a realizar vosso dever e não vos canseis de fazer o bem. A vós e a todos os
que sigam vossos passos ao longo dos séculos, deixai-me dizer: Eu sempre estou
perto, e minha convocatória é, e será sempre, Vem a mim todos vós que laboreis e
sois pesadamente onerados, e eu vos darei o descanso. Tomai meu jugo sobre vós e
aprendei de mim, pois sou sincero e leal, e vós encontrareis o descanso
espiritual para vossas almas.»
p1808:2 163:6.8 E quando eles puseram à
prova as promessas do Mestre, descobriram que suas palavras eram verdadeiras. E
desde aquele dia milhares de incontáveis pessoas também têm provado e comprovado
a certeza destas mesmas promessas.
Os Preparativos Para a Última Missão
p1808:3 163:7.1 Os dias seguintes foram de um ritmo ativo no
acampamento de Pela; os preparativos para a missão na Peréia estavam sendo
concluídos. Jesus e seus associados estavam prestes a empreender sua última
missão, a excursão de três meses por toda a Peréia, que só terminou na entrada
do Mestre em Jerusalém para seu trabalho final na Terra. Durante todo este
período, o quartel general de Jesus e dos doze apóstolos foi mantido aqui, no
acampamento de Pela.
p1808:4 163:7.2 Já não era necessário para Jesus
sair para ensinar ao povo. Agora acudiam a ele em quantidades em número
crescente a cada semana e procedentes de todas partes, não somente da Palestina
mas de todo o mundo romano e do oriente próximo. Ainda que o Mestre participara
com os setenta na excursão pela Peréia, ele passou uma grande parte de seu tempo
no acampamento de Pela, ensinando à multidão e instruindo os doze. Durante todo
este período de três meses, ao menos dez apóstolos permaneceram com Jesus.
p1808:5 163:7.3 O corpo de mulheres também se preparou para sair com os
setenta, de duas em duas, para trabalhar nas cidades mais importantes da Peréia.
Este grupo original de doze mulheres havia treinado recentemente um corpo mais
numeroso de cinqüenta mulheres na tarefa de visitação de casas e na arte de
cuidar dos enfermos e dos afligidos. Perpétua, a esposa de Simão Pedro,
tornou-se membro desta nova divisão do corpo de mulheres e lhe foi confiada a
direção deste trabalho feminino mais amplo sujeito a Abner. Depois de
Pentecostes, ela permaneceu com seu ilustre marido, acompanho-o em todas as suas
excursões missionárias; e no dia que Pedro foi crucificado em Roma, ela serviu
de alimento às bestas ferozes na arena. Este novo corpo de mulheres também tinha
entre seus membros as esposas de Felipe e Mateus, e a mãe de Tiago e João.
p1808:6 163:7.4 O trabalho do reino se preparava agora para entrar em
sua fase final sob a direção pessoal de Jesus. E esta presente fase, foi uma
fase de profundidade espiritual em contraste com a das multidões desejosas por
milagres e buscadoras de prodígios que seguiram o Mestre durante os primeiros
dias de sua popularidade na Galiléia. Entretanto, ainda havia um certo número de
seus seguidores que tinham tendências materialistas, e que fracassaram em captar
a verdade de que o reino dos céus é a fraternidade espiritual dos homens,
baseada no fato eterno da paternidade universal de Deus.
Tradução Voluntária Por : Heitor Carestiato Neto