Escrito 174

 

Terça-Feira de Manhã no Templo

[Comissão de Medianeiros]



Introdução

 



Por volta das sete nesta terça-feira de manhã Jesus se reuniu, na casa de Simão, com os apóstolos, o corpo de mulheres e umas duas dúzias de outros discípulos destacados. Neste encontro ele se despediu de Lázaro, dando-lhe as instruções que o levou a fugir rapidamente à Filadélfia, na Peréia, onde mais tarde tornou-se associado ao movimento missionário que tinha sua sede naquela cidade. Jesus também se despediu do ancião Simão, e deu seus conselhos de despedida ao corpo de mulheres, pois nunca mais se dirigiu à elas de maneira oficial.

p1897:2 174:0.2 Nesta manhã, ele cumprimentou a cada um dos doze com saudações pessoais. A André disse: “Não fica desanimado pelos acontecimentos iminentes. Mantém um firme controle sobre teus irmãos e cuida para que eles não te vejam abatido.” A Pedro disse: “Não ponha tua confiança em teu braço de carne nem nas armas de aço. Assenta-te sobre os fundamentos espirituais das rochas eternas.” A Tiago disse: “Não vacila ante as aparências externas. Permanece firme em tua fé, e logo conhecerás a realidade daquilo no que crês.” A João disse: “Sê doce; ama inclusive a teus inimigos; sê tolerante. E recorda que te confiei muitas coisas.” A Natanael disse: “Não julga pelas aparências; permanece firme em tua fé quando tudo pareça desvanecer-se; sê fiel a teu encargo como embaixador do reino.” A Felipe disse: “Não ficai paralisado pelos acontecimentos iminentes. Permanece inabalável, mesmo quando não possas ver o caminho. Sê fiel a teu juramento de consagração.” A Mateus disse: “Não esquece a misericórdia que te recebeu no reino. Não deixa que ninguém te roube tua recompensa eterna. Uma vez que resististe às tendências da natureza humana, fica disposto a ser firme.” A Tomé disse: “Não obstante quão difícil possa ser, agora tens que caminhar pela fé e não pela visão. Não duvida de que eu seja capaz de terminar a obra que comecei, e de que finalmente verei a todos os meus fiéis embaixadores no reino vindouro.” Aos gêmeos Alfeu disse: “Não deixeis que as coisas que não podeis compreender vos esmaguem. Sede fiéis aos afetos de vossos corações, e não ponde vossa confiança nos grandes homens, nem na atitude mutante das pessoas. Permanecei ao lado de vossos irmãos.” E a Simão o Zelote disse: “Simão, talvez te sintas esmagado pela decepção, mas teu espírito se elevará por cima de tudo o que possa te acontecer. O que não conseguiste aprender de mim, meu espírito te ensinará. Procura as verdadeiras realidades do espírito, e deixa de ser atraído pelas sombras irreais e materiais.” E a Judas Iscariotes disse: “Judas, amei-te e roguei para que ames teus irmãos. Não cansa de fazer o bem; e desejo te prevenir a que te tomes cuidado dos sendeiros escorregadios da adulação e dos dardos envenenados do ridículo.”

p1897:3 174:0.3 E depois que ele concluiu estes cumprimentos, partiu para Jerusalém com André, Pedro, Tiago e João, enquanto os demais apóstolos se ocupavam do estabelecimento do acampamento de Getsemâni, onde iriam àquela noite, e onde instalaram seu quartel general durante o resto da vida na carne do Mestre. Aproximadamente a meio caminho de descida do Oliveto, Jesus se deteve e conversou mais de uma hora com os quatro apóstolos.

 

O Perdão Divino

 



p1898:1 174:1.1 Durante vários dias, Pedro e Tiago haviam estado engajados na discussão de suas diferenças de opinião acerca do ensinamento do Mestre sobre o perdão dos pecados. Ambos concordaram em colocar o assunto diante de Jesus, e Pedro aproveitou esta ocasião como uma oportunidade adequada para obter o conselho do Mestre. Desta forma, Simão Pedro interrompeu a conversa sobre as diferenças entre o louvor e a adoração, e perguntou: “Mestre, Tiago e eu não estamos de acordo sobre teus ensinamentos que têm a ver com o perdão dos pecados. Tiago afirma que tu ensinas que o Pai nos perdoa inclusive antes de que o peçamos, e eu sustento que o arrependimento e a confissão devem preceder o perdão. Qual de nós está certo? O que tu dizes?”

p1898:2 174:1.2 Depois de um breve silêncio, Jesus olhou de maneira significativa aos quatro e respondeu: “Meus irmãos, equivocai-vos em vossas opiniões porque não compreendeis a natureza das relações íntimas e amorosas entre a criatura e o Criador, entre o homem e Deus. Não conseguis captar a simpatia compreensiva que o pai sábio entretém por seu filho imaturo e às vezes equivocado. Em verdade é duvidável que pais inteligentes e afetuosos jamais sejam levados a perdoar um filho normal e comum. As relações compreensivas, associadas às atitudes de amor, impedem eficazmente todos estas desavenças que necessitam posteriormente de um reajustamento do arrependimento por parte do filho com o perdão do pai.

p1898:3 174:1.3 “Uma parte de todo pai vive no filho. O pai desfruta de prioridade e de superioridade de compreensão em todas as questões relacionadas com a relação entre pai e filho. O pai é capaz de perceber a imaturidade do filho à luz da maturidade paternal mais avançada, da experiência mais madura do companheiro mais velho. Entre o filho terrestre e o Pai celestial, o pai divino possui, de uma maneira infinita e divina, a compaixão e a capacidade para compreender com amor. O perdão divino é inevitável; é inerente e inalienável à compreensão infinita de Deus, a seu conhecimento perfeito de tudo o relacionado com o juízo errôneo e a escolha equivocada do filho. A justiça divina é tão eternamente eqüitativa que engloba infalivelmente uma misericórdia compreensiva.

p1898:4 174:1.4 “Quando um homem sábio compreende os impulsos internos de seus semelhantes, ele os ama. E quando amais vosso irmão, já o perdoastes. Esta capacidade para compreender a natureza do homem e para perdoar seus aparentes delitos, é Divina. Se sois uns pais sábios, esta é a forma em que amareis e compreendereis a vossos filhos, inclusive os perdoareis quando os mal-entendidos passageiros vos hajam separado aparentemente. O filho, sendo imaturo e não compreendendo completamente a profundidade da relação entre pai e filho, deve experimentar freqüentemente um sentimento de separação culposa com um total beneplácito do pai, mas o verdadeiro pai nunca tem consciência de qualquer separação desse tipo. O pecado é uma experiência da consciência da criatura; não é parte da consciência de Deus.

p1898:5 174:1.5 “Vossa incapacidade ou vossa má vontade para perdoar vossos semelhantes é a medida de vossa imaturidade, de vosso fracasso em alcançar o nível adulto de compaixão, de compreensão e de amor. Vós mantendes rancores e nutris a vingança em direta proporção a vossa ignorância da natureza interior e dos verdadeiros anelos de vossos filhos e de vossos semelhantes. O amor é a manifestação exterior do impulso de vida interior e divino. Está baseado na compreensão, alimentado pelo serviço desinteressado e aperfeiçoado na sabedoria.”

 

As Perguntas dos Dirigentes Judeus

 



p1899:1 174:2.1 Na segunda-feira pela noite havia se celebrado um conselho entre o sinédrio e uns cinqüenta dirigentes adicionais selecionados entre os escribas, fariseus e saduceus. Foi o consenso desta assembléia de que seria perigoso prender Jesus em público por causa de sua influência sobre os sentimentos do povo comum. Também foi a opinião da maioria que um esforço decidido devia ser feito para desacreditá-lo aos olhos da multidão, antes deles ser preso e levado a julgamento. Consequentemente, foram designados diversos grupos de homens eruditos para que estivessem disponíveis na manhã seguinte no templo, para tentar enredá-lo com perguntas difíceis, e tentar embaraçá-lo de outras maneiras diante do povo. Finalmente, os fariseus, saduceus e inclusive os herodianos estavam todos unidos neste esforço por desacreditar Jesus aos olhos das multidões pascais.

p1899:2 174:2.2 Na terça-feira de manhã, quando Jesus chegou ao pátio do templo e começou a ensinar, ele mal havia pronunciado algumas palavras quando um grupo dos estudantes mais jovens das academias, que haviam sido adestrados para esta finalidade, aproximaram-se e através de seu porta-voz se dirigiram a Jesus: “Mestre, sabemos que és um instrutor honesto, e sabemos que tu proclamas os caminhos da verdade e que só serves a Deus, porque não temes a nenhum homem e não fazes acepção de pessoas. Nós apenas somos uns estudantes, e queríamos conhecer a verdade sobre uma questão que nos preocupa; nossa dificuldade é esta: É lícito que paguemos tributo a César? Devemos pagá-lo ou não?” Jesus, percebendo a hipocrisia e astúcia deles, disse-lhes: “Por que vindes a me tentar desta maneira? Mostrai-me o dinheiro do tributo, e vos responderei.” E quando os estudantes lhe entregaram um denário, ele o examinou e disse, “De quem é a imagem e a inscrição que leva esta moeda?” E quando lhe responderam, “De César”, Jesus disse, “Dai a César as coisas que são de César, e dai a Deus as coisas que são de Deus.”

p1899:3 174:2.3 Depois dele ter respondido assim, estes jovens escribas e seus cúmplices herodianos se retiraram de sua presença, e o povo, inclusive os saduceus, desfrutaram do embaraço deles. Até os jovens que haviam tentado enredá-lo se maravilharam enormemente ante a inesperada sagacidade da resposta do Mestre.

p1899:4 174:2.4 No dia anterior os dirigentes haviam tentado enganá-lo diante da multidão sobre questões de autoridade eclesiástica, e tendo fracassado, agora tentavam envolvê-lo em uma discussão prejudicial sobre a autoridade civil. Tanto Pilatos como Herodes se encontravam em Jerusalém naquele momento, e os inimigos de Jesus conjeturavam que, se ele se atrevesse a aconselhar contra o pagamento do tributo a César, eles poderiam ir imediatamente perante as autoridades romanas e acusá-lo de sedição. Por outra parte, se ele aconselhasse expressamente o pagamento do tributo, calculavam arrazoadamente que essa declaração feriria profundamente o orgulho nacional de seus ouvintes judeus, perdendo assim a boa vontade e o afeto da multidão.

p1899:5 174:2.5 Os inimigos de Jesus foram derrotados em tudo isto uma vez que havia uma ordem bem conhecida do sinédrio, emitida para orientar aos judeus dispersos entre as nações gentias, de que o “direito de cunhar moeda comportava o direito de cobrar impostos.” Desta maneira, Jesus evitou a armadilha. Se respondesse “não” à pergunta deles, teria sido igual a incitar à rebelião; se respondesse “sim”, teria abalado os sentimentos nacionalistas profundamente arraigados daquela época. O Mestre não evadiu a pergunta; ele simplesmente empregou a sabedoria de oferecer uma dupla resposta. Jesus nunca era evasivo, mas sempre era sábio em seu trato com os que tentavam perturbá-lo e destrui-lo.

 

Os Saduceus e a Ressureição

 



p1900:1 174:3.1 Antes que Jesus conseguisse começar seu ensinamento, um outro grupo se adiantou para perguntá-lo, nesta ocasião um grupo de saduceus eruditos e astutos. Seu porta-voz, aproximando-se dele, disse: “Mestre, Moisés disse que se um homem casado morresse sem deixar filhos, seu irmão deveria se casar com a mulher e semear uma descendência pra seu irmão falecido. Ora, ocorreu um caso em que um certo homem que tinha seis irmãos morreu sem filhos; seu irmão imediato se casou com sua mulher, mas também morreu logo sem deixar filhos. Da mesma forma o segundo irmão tomou a mulher, mas também morreu sem deixar descendência. E assim sucessivamente até que todos os seis irmãos se casaram com ela, e os seis morreram sem deixar filhos. E então, depois de todos eles, a mulher mesma morreu. Pois bem, o que nós gostaríamos de te perguntar é isto: Na ressurreição, de quem será a esposa, visto que os sete irmãos se casaram com ela?”

p1900:2 174:3.2 Jesus sabia, e o povo também, que estes saduceus não eram sinceros ao fazer esta pergunta, porque não era provável que um caso assim realmente ocorresse; e ademais, este costume de que os irmãos de um morto tentassem gerar filhos para ele, era praticamente letra morta entre os judeus desta época. Entretanto, Jesus condescendeu responder à sua pergunta maliciosa. Disse: “Todos vós errais ao fazer este tipo de perguntas, porque não conheceis as Escrituras nem o poder vivo de Deus. Sabeis que os filhos deste mundo podem se casar e serem dados em matrimônio, mas vós pareceis não compreender que aqueles que são considerados dignos de alcançar os mundos vindouros, mediante a ressurreição dos justos, não se casam nem são dados em matrimônio. Os que experimentam a ressurreição dentre os mortos se parecem mais aos anjos do céu, e nunca morrem. Esses ressuscitados são eternamente os filhos de Deus; são os filhos da luz ressuscitados para o progresso da vida eterna. E inclusive vosso pai Moisés compreendeu isto porque, em conexão com suas experiências junto à sarça ardente, escutou o Pai dizer, `Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó.' E assim, junto com Moisés, declaro que meu Pai não é o Deus dos mortos, mas dos vivos. Nele todos vós viveis, reproduzis e possuís vossa existência mortal.”

p1900:3 174:3.3 Quando Jesus terminou de responder estas perguntas, os saduceus se retiraram, e alguns fariseus se esqueceram tanto de si mesmos que exclamaram, “Verdade, verdadeira, Mestre, tu respondeste bem a esses saduceus incrédulos.” Os saduceus não se atreveram a lhe fazer mais perguntas, e o povo comum se maravilhou ante a sabedoria de seu ensinamento.

p1900:4 174:3.4 Em seu encontro com os saduceus, Jesus só recorreu a Moisés porque esta seita político-religiosa reconhecia apenas a validez dos chamados cinco livros de Moisés; não admitiam que os ensinamentos dos profetas fossem bases aceitáveis para os dogmas doutrinais. O Mestre em sua resposta, ainda que afirmou positivamente o fato da sobrevivência das criaturas mortais mediante a técnica da ressurreição, não aprovou em sentido algum as crenças farisaicas na ressurreição literal do corpo humano. O ponto que Jesus desejava realçar era: que o Pai havia dito, `Eu sou o Deus de Abraão, de Isaac e de Jacó', e não eu era o Deus deles.

p1900:5 174:3.5 Os saduceus haviam querido sujeitar Jesus à influência debilitante do ridículo, sabendo muito bem que toda perseguição em público criaria certamente uma maior simpatia para ele na mente da multidão.

 

O Grande Mandamento

 

p1901:1 174:4.1 Um outro grupo de saduceus havia sido instruído para que fizesse perguntas embaraçosas a Jesus acerca de anjos, mas quando observaram a sorte de seus companheiros que haviam tentado enredá-lo com perguntas relacionadas à ressurreição, decidiram muito judiciosamente permanecerem em silêncio; retiraram-se sem fazer uma única pergunta. Era o plano premeditado dos fariseus, escribas, os saduceus e os herodianos aliados, ocupar o dia inteiro com estas perguntas embaraçosas, esperando assim desacreditar Jesus diante do povo, e ao mesmo tempo impedir-lhe eficazmente que tivesse algum tempo para proclamar seus ensinamentos perturbadores.

p1901:2 174:4.2 Então um dos grupos de fariseus se apresentou para fazer perguntas importunas, e o porta-voz, acenando pra Jesus, disse: “Mestre, sou um doutor da lei, e gostaria de te perguntar qual é, em tua opinião, o maior mandamento?” Jesus respondeu: “Existe apenas um mandamento, que é o maior de todos, e esse mandamento é: `Ouve, oh Israel, ao Senhor nosso Deus, o Senhor é um; e amarás ao Senhor teu Deus com todo teu coração e com toda tua alma, com toda tua mente e com todas as tuas forças.' Este é o primeiro grande mandamento. E o segundo mandamento se parece com este primeiro; em efeito, provém diretamente dele, e é: `Amarás a teu próximo como a ti mesmo.' Não há outro mandamento maior do que estes; nestes dois mandamentos se apoiam toda a lei e os profetas.”

p1901:3 174:4.3 Quando o doutor da lei percebeu que Jesus não somente havia respondido de acordo com o conceito mais elevado da religião judaica, mas também havia respondido sabiamente aos olhos da multidão reunida, achou que era melhor ter o valor de louvar abertamente a resposta do Mestre. Consequentemente, disse: “De fato, Mestre, disseste bem que Deus é um e que não há ninguém além dele; e que o primeiro grande mandamento é amá-lo com todo o coração, com todo o entendimento e com todas as nossas forças, e também amar ao próximo como a si mesmo; nós concordamos que este grande mandamento deve ser muito mais respeitado do que todos os holocaustos e sacrifícios.” Quando o doutor da lei respondeu desta maneira tão prudente, Jesus o fitou e disse, “Meu amigo, vejo que não estás longe do reino de Deus.”

p1901:4 174:4.4 Jesus disse a verdade quando se referiu a este doutor da lei como estando “não longe do reino”, porque naquela mesma noite ele foi ao acampamento do Mestre, perto de Getsemâni, confessou sua fé no evangelho do reino e foi batizado por Josias, um dos discípulos de Abner.

p1901:5 174:4.5 Outros dois ou três grupos de escribas e fariseus estavam presentes e haviam tentado fazer perguntas, mas ficaram desarmados pela resposta de Jesus ao doutor da lei, ou estavam acovardados pela derrota de todos os que haviam se esforçado em enredá-lo. Depois disto, ninguém se atreveu a lhe fazer outras perguntas em público.

p1901:6 174:4.6 Uma vez que nenhuma pergunta mais estava ocorrendo, e como era quase meio-dia, Jesus não retomou seu ensinamento, mas apenas se contentou em fazer uma pergunta aos fariseus e seus associados. Jesus disse: “Visto que não fazeis mais perguntas, eu gostaria de vos fazer uma. O que pensais do Libertador? Isto é, de quem ele é filho?” E depois de uma breve pausa, um dos escribas respondeu, “O Messias é o filho de Davi.” E posto que Jesus sabia que havia tido muita discussão, inclusive entre seus próprios discípulos, sobre se ele era ou não o filho de Davi, fez esta outra pergunta: “Se o Libertador é em verdade o filho de Davi, como é que, no salmo que atribuís a Davi, ele mesmo diz, falando segundo o espírito, `O Senhor disse a meu senhor, senta-te à minha direita até que eu faça de teus inimigos, o escabelo de teus pés?' Se Davi chama-o de Senhor, então, como pode ser seu filho?” Como os dirigentes, escribas e os principais sacerdotes não deram resposta a esta pergunta, eles também se abstiveram de lhe fazer mais perguntas na tentativa de enredá-lo. Nunca responderam esta pergunta que Jesus lhes havia colocado, mas após a morte do Mestre, tentaram escapar do apuros ao mudar a interpretação deste salmo de forma que o fizesse se referir a Abraão em lugar do Messias. Outros tentaram evitar este dilema negando que Davi fosse o autor deste suposto salmo messiânico.

p1902:1 174:4.7 Um pouco antes, os fariseus haviam desfrutado com a maneira em que os saduceus haviam sido calados pelo Mestre; agora os saduceus estavam contentes com o fracasso dos fariseus; mas esta rivalidade só era momentânea; rapidamente se esqueceram de suas diferenças tradicionais, em um esforço conjunto por deter os ensinamentos e as obras de Jesus. Mas durante todas estas experiências, o povo comum lhe escutou com alegremente.

 

Os Gregos Indagadores

 



p1902:2 174:5.1 Por volta do meio-dia, enquanto Felipe estava comprando suprimentos para o novo acampamento que estava sendo estabelecido naquele dia perto do Getsemâni, foi abordado por uma delegação de estrangeiros, um grupo de crentes gregos de Alexandria, Atenas e Roma, cujo porta-voz disse ao apóstolo: “Tu nos foste indicado por aqueles que te conhecem; por isso vimos a ti, Senhor, com a petição de ver Jesus, teu Mestre.” Felipe foi tomado pela surpresa ao encontrar dessa forma, estes gentios gregos proeminentes e indagadores na praça do mercado, e, posto que Jesus havia ordenado tão explicitamente aos doze a que não efetuassem nenhum ensinamento público durante a semana da Páscoa, ele ficou um pouco confuso sobre a maneira correta de lidar com esta situação. Também ficou desconcertado porque estes homens eram gentios estrangeiros. Se fossem judeus, ou gentios conhecidos dos arredores, ele não teria hesitado tão acentuadamente. O que fez foi isto: Pediu àqueles gregos que permanecessem ali onde estavam. Enquanto se afastava depressa, os gregos supuseram que ele havia ido a procura de Jesus, mas em realidade ele correu até a casa de José, onde sabia que André e os outros apóstolos estavam almoçando, e fazendo que André saísse, explicou-lhe o motivo de sua vinda, e então, acompanhado por André, retornou até os gregos que esperavam.

p1902:3 174:5.2 Já que Felipe quase havia terminado de comprar as provisões, ele e André regressaram com os gregos à casa de José, onde Jesus os recebeu; e sentaram-se perto dele, enquanto falava a seus apóstolos e a um grupo de discípulos principais reunidos neste almoço. Jesus disse:

p1902:4 174:5.3 “Meu Pai me enviou a este mundo para revelar sua bondade amorosa aos filhos dos homens, mas estes, a quem primeiro me aproximei, negaram-se a me receber. Verdade, de fato, que muitos de vós crestes em meu evangelho por si mesmos, mas os filhos de Abraão e seus dirigentes estão prestes a me rechaçar, e assim fazendo, rechaçarão Àquele que me enviou. Tenho proclamado livremente o evangelho da salvação a este povo; tenho lhes falado da filiação com alegria, de liberdade e de uma vida mais abundante no espírito. Meu Pai tem realizado muitas obras maravilhosas entre estes filhos dos homens tiranizados pelo medo. Mas o profeta Isaías se referiu com razão a este povo, quando escreveu: `Senhor, quem tem acreditado em nossos ensinamentos? E a quem o Senhor tem sido revelado?' Em verdade, os dirigentes de meu povo têm vendado seus olhos deliberadamente para que não vejam, e têm endurecido seus corações para que não crêem e sejam salvos. Todos estes anos tenho tentado curá-los de sua incredulidade, para que possam ser recebedores da salvação eterna do Pai. Sei que nem todos me desapontaram; alguns de vós crestes realmente em minha mensagem. Nesta sala estão neste momento, uma vintena de homens que eram anteriormente membros do sinédrio, ou que eram importantes nos conselhos da nação, embora alguns deles ainda relutam em confessar abertamente a verdade, temendo que sejam expulsos da sinagoga. Alguns de vós são tentados a amar mais a glória dos homens do que a glória de Deus. Mas sou obrigado a mostrar paciência, já que temo inclusive pela segurança e lealdade de alguns dos que têm estado tanto tempo junto a mim, e que têm vivido tão intimamente ao meu lado.

p1903:1 174:5.4 “Observo que nesta sala de banquetes estão reunidos judeus e gentios em um número quase igual, e queria vos dirigir a palavra como o primeiro e último grupo deste tipo que talvez eu instrua nos assuntos do reino, antes de ir para meu Pai.”

p1903:2 174:5.5 Estes gregos haviam assistido fielmente aos ensinamentos de Jesus no templo. Na segunda-feira à noite, eles haviam celebrado uma conferência na casa de Nicodemus, na qual se prolongou até o amanhecer, e trinta deles haviam escolhido entrar no reino.

p1903:3 174:5.6 Enquanto Jesus permanecia diante deles naquele momento, ele percebeu o final de uma dispensação e o princípio de outra. Voltando sua atenção para os gregos, o Mestre disse:

p1903:4 174:5.7 “Aquele que crê neste evangelho, não crê em mim apenas, mas Naquele que me enviou. Quando me vedes, não vedes somente o Filho do Homem, mas também Àquele que me enviou. Eu sou a luz do mundo, e todo o que creia em meu ensinamento já não permanecerá mais tempo nas trevas. Se vós, os gentios, quereis escutar-me, recebereis as palavras da vida e entrareis imediatamente na gozosa liberdade da verdade da filiação com Deus. Se meus compatriotas, os judeus, optam por me rechaçar e recusar meus ensinamentos, não os julgarei, porque não vim para julgar o mundo, mas para oferecer a salvação. Entretanto, aqueles que me rechaçam e recusam receber meu ensinamento, serão levados a julgamento em seu devido tempo por meu Pai e por aqueles a quem ele designou para que julguem os que rejeitam o dom da misericórdia e as verdades da salvação. Recordai, todos vós, que eu não falo por mim mesmo, senão que vos tenho proclamado fielmente aquilo que o Pai ordenou que eu devia revelar aos filhos dos homens. E estas palavras que o Pai me ordenou dizer ao mundo, são palavras de verdade divina, de misericórdia sem fim, e de vida eterna.

p1903:5 174:5.8 “Mas eu declaro, tanto aos judeus como aos gentios, que está a ponto de chegar a hora em que o Filho do Homem será glorificado. Sabeis muito bem que, um grão de trigo permanece solitário, a menos que caia na terra e morra; mas se ele morre em boa terra, brota de novo pra viver e produz muitos frutos. Aquele que ama de forma egoísta sua vida, corre o perigo de perdê-la; mas aquele que está disposto a dar sua vida por mim e pelo evangelho, gozará de uma existência mais abundante na Terra, e da vida eterna no céu. Se vós quereis me seguir sinceramente, inclusive depois de que haja partido para meu Pai, então vos tornareis meus discípulos e os sinceros servidores de vossos semelhantes mortais.

p1903:6 174:5.9 “Sei que minha hora está se aproximando, e estou preocupado. Percebo que meu povo está decidido a desprezar o reino, mas fico contente de receber estes gentios buscadores da verdade, que hoje vêm aqui para perguntar pelo caminho da luz. Entretanto, meu coração sofre por meu povo, e minha alma está angustiada pelo que me espera logo adiante. O que posso dizer quando olho à frente e diviso o que está prestes a me ocorrer? Devo dizer, Pai, salva-me desta hora terrível? Por causa desta finalidade mesma que vim ao mundo e inclusive para esta hora. Antes, direi, e rezarei para que vós vos juntais a mim: Pai, glorifica teu nome; que tua vontade seja feita.”

p1904:1 174:5.10 Quando Jesus assim falou, o Modelador Personalizado que residira nele antes de seu batismo, apareceu diante dele, e enquanto fazia uma pausa de maneira perceptível, este espírito agora poderoso que representava o Pai, falou a Jesus de Nazaré, dizendo: “Tenho glorificado meu nome muitas vezes em tuas efusões, e o glorificarei uma vez mais.”

p1904:2 174:5.11 Ainda que os judeus e os gentios ali reunidos não escutaram nenhuma voz, eles não puderam deixar de perceber que o Mestre havia se detido em seu discurso enquanto lhe chegava uma mensagem de alguma fonte supra-humana. Todos eles disseram, cada um a alguém que estava do lado, “Um anjo falou com ele.”

p1904:3 174:5.12 Então Jesus continuou dizendo: “Tudo isso não aconteceu para meu bem, mas pelo vosso. Sei com certeza que o Pai me receberá e aceitará minha missão em vosso favor, mas é necessário que estejais estimulados e preparados para a prova de fogo que está logo adiante. Deixai-me vos assegurar que a vitória coroará finalmente nossos esforços conjuntos por iluminar o mundo e libertar à humanidade. A antiga ordem está se julgando a si mesma; eu derrubei o Príncipe deste mundo; e todos os homens se tornarão livres graças à luz do espírito que eu derramarei sobre toda carne, após ter ascendido a meu Pai que está nos céus.

p1904:4 174:5.13 “E agora vos afirmo que, se eu for elevado na Terra e em vossas vidas, atrairei a todos os homens para mim mesmo e para a comunidade de meu Pai. Vós crestes que o Libertador residiria para sempre na Terra, mas declaro que o Filho do Homem será rechaçado pelos homens, e que regressará ao Pai. Só estarei convosco um curto período de tempo; a luz viva só estará pouco tempo entre esta geração tenebrosa. Caminhai enquanto tendes esta luz, para que as trevas e a confusão vindouras não vos sobrevenha. Aquele que caminha nas trevas, não sabe aonde vai; mas se escolherdes caminhar na luz, todos vos tornareis em verdade os filhos libertos de Deus. E agora, vinde comigo todos vós enquanto regressamos ao templo, onde vou dizer palavras de despedia aos chefes dos sacerdotes, aos escribas, aos fariseus, aos saduceus, aos herodianos e aos dirigentes ignorantes de Israel.”

p1904:5 174:5.14 Tendo falado assim, Jesus foi à frente pelas ruas estreitas de Jerusalém de volta ao templo. Eles acabavam de ouvir o Mestre dizer que este ia ser seu discurso de despedida no templo, e lhe seguiram em silêncio, e em profunda meditação.

 




Tradução Voluntária Por : Heitor Carestiato Neto