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Quando as coisas vão mal

Quando nos sentimos sós ou isolados

Por Harry McMullan, III
tradução em português por Ana Maria Nascimento Roberto


Há momentos em que o mundo nos parece cruel e abandonado e que a vida não tem sentido; momentos em que amigos os amigos em quem confiamos não se importam com nossas enormes dificuldades; em que nos sentimos abandonados, sozinhos para solucionar nossos problemas, necessitando de instrumentos que não possuímos. Sem a escora da esperança, as paredes fracas e vulneráveis de nosso sustentáculo começam a oscilar.

A solidão pode ser um poço sem fundo e sem ponto de apoio, que gela o sangue e afeta a razão. Pode nos enfraquecer, chegar a nos enfastiar e a paralisar qualquer iniciativa que nos beneficie. Somente a percepção espiritual, os olhos da fé, abre a cortina para nos mostrar que não estamos sozinhos, que toda nossa inquietação é por nada. A vidraça pela qual enxergávamos toldava multidões de anjos, propósitos elevados e vida eterna. Nosso isolamento resultava do medo de que nossos companheiros nos rejeitassem quando de fato eles precisavam tanto de nós quanto nós deles.

Os vaivéns da vida freqüentemente nos fazem nos sentirmos sós. A solidão pode surgir das circunstâncias de trabalho ou de viagens, embora o mais freqüente é que seja proveniente da ruptura de relacionamentos de grande estima. A alma consagrada não é imune a tal dor mas nosso Pai celestial proporciona uma serenidade interior que concede paz e alegria no meio de todas essas circunstâncias caprichosas da vida.

Outrora, as famílias tendiam a permanecer juntas, às vezes vivendo por gerações na mesma casa. Os vizinhos eram os filhos e filhas dos amigos de infância de seus pais. Havendo a coesão e a estabilidade social, todos sabiam qual era o seu lugar. A partir da liberdade e da mobilidade da vida moderna, tais situações não são mais comuns e muitos se sentem física e emocionalmente deslocados, desejando retornar às relações estáveis e seguras das quais seus pais ou avós falavam.

Mas os dias que se foram não voltam mais; temos que encontrar a estabilidade através de relacionamentos mais elevados : o companheirismo com Deus e com a comunidade do reino espiritual. Na fraternidade, ligados ao Pai espiritual, os crentes podem encontrar apoio para compartilham ideais e devoções, no que a verdadeira cura para a solidão é encontrada.

Os que apenas conhecem os prazeres deste mundo estão condenados a sentir a amargura da solidão. Atender às vazias atividades sociais ou sentar em bares esperando encontrar alguma pessoa nova não pode ser mais que uma distração temporária. Porém, na ausência de companhias espirituais, uma procissão de pessoas ou coisas novas têm de continuar a passar para substituir a fascinação fugaz que pela exposição perdeu seu brilho. Pode ser que temamos renunciar ao que conhecemos por medo do vazio que irá tomar o seu lugar. Mas perdendo o que conhecemos, encontramos o que até então estava perdido. Manter relacionamentos baseados na aspiração espiritual — e não em coisas materiais — por si só satisfaz o faminto coração humano.

Uma vez que conhecemos o poder e o amor de Deus nos repletamos pois a infinita e magnânima provisão do Pai, ao pedirmos, torna-se nossa. O sentimento de isolamento torna-se um sonho ruim, uma ilusão, pois a Fonte de todo consolo esteve lá o tempo todo, pronta para reabastecer nossas almas exaustas com esperança abundante e para nos dar a fé em nossa capacidade de cumprir sua vontade perfeita.

 

O amor do Pai nos acompanha agora e ao longo do interminável círculo da eternidade dos tempos. Quando se reflete sobre a natureza amorosa de Deus, existe uma única resposta lógica e natural do ser pessoal a isso : amar cada vez mais ao Fazedor; depositar em Deus um afeto semelhante ao que sente um menino por seu pai terreno pois, como um pai, um pai verdadeiro, um autêntico pai, ama aos seus filhos, assim nos ama o Pai Universal e continuamente procura o bem-estar dos filhos e filhas de sua criação. (2:5.9)

É impossível para o homem mortal conhecer a infinitude do Pai celestial. A mente finita não pode conceber tal verdade ou fato absoluto. Mas este mesmo ser humano finito pode realmente sentir — literalmente experimentar — o efeito pleno e sem diminuição do AMOR desse Pai infinito. (3:4.6)

O Pai deseja que todas as suas criaturas estejam em comunhão pessoal com ele. Ele tem um lugar no Paraíso para receber todos aqueles cuja condição de sobrevivência e cuja natureza espiritual lhes possibilite tal realização. Portanto, determinai de uma vez por todas o seguinte em vossa filosofia : para cada um de vós e para cada um de nós, Deus é acessível, o Pai é alcançável, o caminho está aberto; as forças do amor divino e os meios e modos da administração divina estão entrelaçados num esforço conjunto para facilitar o avanço à qualquer inteligência digna, de qualquer universo, até a presença no Paraíso do Pai Universal. (5:1.8)

O amor do Pai distingue absolutamente cada ser pessoal como filho único do Pai Universal, um filho que não tem igual no infinito, uma criatura de vontade, insubstituível por toda a eternidade. O amor do Pai glorifica cada filho de Deus, iluminando cada membro da família celestial, perfilando nitidamente a natureza singular de cada ser pessoal frente aos níveis impessoais que se encontram fora da via fraterna do Pai de todos. O amor de Deus retrata vivamente o valor transcendente de cada criatura de vontade, revela inequivocamente o alto valor que o Pai Universal tem posto para todos e cada um de seus filhos ... (12:7.9)

Não deixeis que a magnitude da infinitude, a imensidade da eternidade e a grandeza e glória do caráter incomparável de Deus vos intimide, vos faça vacilar ou que vos desalente pois o Pai não está muito distante de nenhum de vós; mora em vós, e nele todos nós literalmente nos movemos, realmente vivemos e verdadeiramente temos nosso ser. (12:7.12)

E quando essa vida guiada pelo espírito é livre e inteligentemente aceita, desenvolve-se gradualmente na mente humana uma consciência inequívoca do divino contato e a certeza da comunhão espiritual; cedo ou tarde "o Espírito testemunha com teu espírito (o Modelador) que és filho de Deus". (34:6.12)

A religião é efetivamente uma cura para o isolamento idealístico ou para a solidão espiritual; ela emancipa o crente como um filho de Deus, um cidadão de um universo novo e cheio de sentido. A religião assegura ao homem que, seguindo o rastro da retitude discernível em sua alma, está assim identificando-se com o plano do Infinito e com o propósito do Eterno. Uma alma assim liberada imediatamente começa a sentir-se em casa neste novo universo, em seu universo.

Quando experimentares tal transformação de fé, não mais serás uma parte servil do cosmos matemático mas, antes, um filho do Pai Universal, livre e de vontade determinada. Tal filho não mais lutará contra a aniquilação do término da existência temporal; não mais combaterá sem esperanças contra a natureza; não mais hesitará pelo temor paralisante por ter, porventura, depositado sua confiança numa fantasmagórica esperança ou por ter firmado sua fé num erro extraordinário.

Pelo contrário, agora os filhos de Deus se reúnem para lutar pelo triunfo da realidade sobre as sombras parciais da existência. Por fim, todas as criaturas tornam-se conscientes de que Deus e todas as hostes divinas do quase ilimitado universo estão ao seu lado no sublime afã de alcançar a vida eterna e a condição divina. Estes filhos da fé, feitos livres, certamente participam nas lutas temporais ao lado das forças supremas e dos divinos seres pessoais da eternidade; mesmo as estrelas, em seu curso, batalham por eles; por fim, contemplam o universo de dentro, da perspectiva de Deus, e toda a incerteza do isolamento material se transforma em certeza do eterno progresso espiritual. Inclusive o tempo mesmo se transforma meramente na sombra da eternidade projetada pelas realidades do Paraíso sobre a panóplia móvel do espaço. (101:10.7-9)

De Deus, a mais inevitável de todas as presenças, o mais real de todos os fatos, a mais viva de todas as verdades, o mais amoroso de todos os amigos e o mais divino de todos os valores, temos o direito de estar mais certos que de qualquer outra vivência no universo. (102:7.10)

Foste dotado com um guia perfeito; portanto, se sinceramente prosseguires em vossa caminhada temporal atingindo a meta final da fé, a recompensa dos tempos será tua; pela eternidade estarás unido com teu Modelador interior. Começarás, então, tua vida real, a vida de ascensão da qual teu presente estado mortal é meramente um vestíbulo. (112:0.1)

Mas nunca nenhum mortal que conhece a Deus pode estar só em sua viagem através do cosmos pois sabe que o Pai caminha a seu lado a cada passo do caminho enquanto o mesmo caminho que está atravessando é a presença do Supremo. (117:6.27)

Homens e mulheres marginalizados e em desespero concorriam para ouvir Jesus e ele jamais mandou embora nenhum deles. (139:7.7)

 

"Quanto ao reino e à vossa certeza de que sereis aceitos pelo Pai celestial, permitam-me perguntar-vos que pai entre vós, digno de ser chamado pai e com coração terno, abandonaria seu filho na ansiedade ou no suspense sobre sua condição dentro da família ou sobre a garantia de lugar no afeto do coração de seu pai? Acaso vós, pais terrestres, vos comprazem torturando vossos filhos com incertezas sobre ocupar um lugar de amor em vosso coração humano? Tampouco vosso Pai no céu abandona seus filhos de fé do espírito na incerteza de não saber qual é sua posição no reino. Se recebeis a Deus como vosso Pai, então de fato e em verdade sereis filhos de Deus. E se sois filhos, vos encontrareis seguros de vossa posição em tudo quanto se refere à filiação eterna e divina." (142:5.2)

"Não se vende dois pardais por um centavo? E contudo vos declaro que nenhum deles está esquecido aos olhos de Deus. Acaso não sabeis que até os cabelos de vossa cabeça estão contados? Portanto, não temais; vós tendes mais valor que muitos pardais." (150:4.3)

"Não duvideis de nenhuma destas verdades mesmo que estejais dispersos pelo mundo devido às perseguições e abatidos por tantos pesares. Quando vos sentirdes sós no mundo saberei de vossa solidão assim como, quando cada um se debandar para o seu lugar deixando o Filho do Homem nas mãos de seus inimigos, sabereis de mim." (181:1.6)

A experiência de separar-se de seus apóstolos foi um grande peso para o coração humano de Jesus; a dor pelo amor a eles o abateu e lhe tornou mais difícil enfrentar a morte que ele sabia muito bem que o aguardava. Ele dava-se conta de quão débeis e ignorantes eram seus apóstolos, e receava deixá-los. Sabia bem que havia chegado a hora de sua partida, mas seu coração humano ansiava encontrar uma saída legítima para escapar desta situação de sofrimento e consternação. E, ao buscar escapar e fracassar, se dispôs a beber a taça. A mente divina de Miguel sabia ter feito todo o possível pelos doze apóstolos; mas o coração humano de Jesus desejava ter podido fazer mais por eles antes de deixá-los sós no mundo. O coração de Jesus estava esmagado; na verdade, ele amava seus irmãos. Estava isolado de sua família na carne; um de seus parceiros eleitos estava traindo-o . O povo de seu pai José o havia rejeitado e, desse modo, cerrado seu destino como um povo com uma missão especial na terra. Sua alma estava torturada por frustrar-se seu amor e rejeitar-se sua misericórdia. Era um daqueles terríveis momentos humanos em que tudo parece desmoronar com esmagadora crueldade e uma tremenda agonia.

 

A parte humana de Jesus não era insensível a esta situação de solidão pessoal, de vergonha pública e de aparente fracasso de sua causa. Todos estes sentimentos sobrevinham com indescritível peso sobre ele. Neste grande pesar, sua mente regressou aos dias de sua infância em Nazaré e ao seu trabalho precoce na Galiléia. Em meio a essa grande aflição, brotou de sua memória muitas daquelas cenas prazenteiras de seu ministério terreno. E foi com estas velhas recordações de Nazaré, Cafarnaun, do Monte Hermon e do nascer e por do sol da Galiléia que ele se serenou, fortalecendo e preparando seu coração humano para encontrar-se com quem tão logo o trairia.

Antes que Judas e os soldados chegassem, o Mestre havia recobrado plenamente sua postura habitual; o espírito havia triunfado sobre a carne; a fé havia-se reafirmado sobre a tendência humana de temer ou abrigar dúvida. Havia-se dado a suprema prova da plena realização da natureza humana e fora transposta de forma digna de aprovação. Uma vez mais estava o Filho do Homem preparado para enfrentar seus inimigos com equanimidade e na plena certeza de sua invencibilidade como homem mortal dedicado a, sem reservas, fazer a vontade do Pai. (182:3.9-11)


      1. Quando nos sentimos sós ou isolados
      2. Quando nos sentimos em dúvida ou confusos
      3. Quando nos sentimos culpados
      4. Em caso de enfermidades ou privações
      5. Quando nos sentimos desanimados ou derrotados
      6. Quando nos sentimos impacientes ou paralisados
      7. Quando sentimos medo