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Quando as coisas vão mal

Quando sentimos medo

Por Harry McMullan, III
tradução em português por Ana Maria Nascimento Roberto


O medo é o terror avassalador que sentimos quando, indefesos, ouvimos os tambores dos inimigos avançando. A razão e o senso comum são espadas sem fio para cortar o nó que nos prende à espiral descendente do medo, de sofrimento e destruição. O medo enfraquece nossos valores morais e paralisa nossa vontade, deixando-nos encurralados e indefesos ante nossos adversários imaginários; ou pode volver em pânico descontrolado, que nos faz atacar selvagemente como animais acuados. O medo corrói a fé da relação dos filhos com Deus. O medo promove distúrbios em seu ciclo destrutivo, impedindo toda boa intenção e devorando em primeiro lugar aquele que o sente. O medo é o vácuo deixado pelo amor e pela confiança, quando estes se vão.

O poder do medo fundamenta-se na ignorância e confirma-se no isolamento. Porém, quando encaramos o medo na convicção do amor do Pai, ele some como um pesadelo ante o sol da manhã. Os medos que nos controlavam desaparecem como se nunca houvessem existido. Os demônios do passado tornam-se personagens de quadrinhos, esquecidos assim que se vira a página.

Quando nos sentimos presos na armadilha do horror, atacados por todos os lados, precisamos apenas nos refugiar em nosso bastião interior de segurança e paz, o reino espiritual interior, a esfera da ordem e do amor, para ali encontrar consolo e forças maiores que aquelas de qualquer adversário. A fé é a chave dos portões seguros do reino e ela provém da nossa boa vontade em confiar nos cuidados e proteção do Pai. Dentro de suas muralhas maciças, vivemos no poder e na presença do Pai, sabendo de nosso indubitável lugar em sua afeição. Lá dentro, o Pai serena nossa mente e nos diz que nosso medo é desnecessário, que seus braços amorosos nos envolvem e nos mantém a salvo.

O medo alimenta-se de si mesmo e devasta a alma humana. Porém, a libertação do terror resulta apenas do caminhar na fé e a fé é uma dádiva de Deus. Para dominar o medo necessitamos somente sintonizar nossa mente em Deus e por meio desta relação, dos canais do reservatório infinito de amor do Pai, a força que vem do alto verte para curar nossa sensação de pânico.

Não se submete o medo com um "ataque frontal" pois a força emocional já demonstrou que não serve para vencê-lo ou, caso contrário, o medo não teria surgido. Antes, o medo é vencido por percebermos um amor todo-poderoso diante do qual o medo não pode permanecer. O poder da tormenta, a virulência do mal ou das pessoas insensíveis, a indiferença numa conjuntura, tudo diminui ante a avalanche de ajuda que vem do alto.

O medo é o pânico desnecessário, da criança sozinha na noite, quando seus pais estão no cômodo ao lado. Torna-nos vulneráveis quando nos sentimos frágeis e arrogantes quando nos sentimos fortes. Ambos nascem quando nossa ligação com Deus está debilitada pela imaturidade, pela indiferença ou pela maldade deliberada. Sob qualquer destas circunstâncias a vida é penosa pois está desalinhada do curso dos planos do Pai, o qual nos provê a saúde do corpo, da mente, dos sentimentos, da alma, da personalidade e do espírito. O Pai deseja que seus filhos estejam livres do medo e dispõe os meios pelos quais isso é possível.

"Eu guardarei em completa paz aquele cujo pensamento persevera em mim". "Em quietude e confiança será vossa fortaleza". "Tranqüilizai-vos e conhecei que eu sou Deus". "Dele correrão rios de água viva para alimento de muitas almas". "Vinde a mim vós que estais sobrecarregados e eu darei descanso a vossas almas temerosas".

 

 

Mesmo em Urantia [estes anjos] exortam os mestres humanos da verdade e da retitude a aderirem à pregação da "bondade de Deus, que convida ao arrependimento", a proclamarem "o amor de Deus, que lança fora todo temor". Mesmo assim estas verdades têm sido declaradas em vosso mundo :

Os Deuses são meus protetores; não me perderei;

Lado a lado eles me conduzem pelas belas e gloriosas veredas de vida eterna.

Nesta Divina Presença não sentirei falta de alimento nem sede de água.

Ainda que desça pelo vale da incerteza ou ascenda aos mundos da dúvida,

Ainda que caminhe na solidão ou com meus semelhantes,

Ainda que triunfe nos coros de luz ou titubeie nos locais solitários das esferas,

Vosso bom espírito me assistirá e vosso anjo glorioso me consolará.

Ainda que desça nas profundezas da escuridão e da própria morte,

Não duvidarei de ti nem o temerei,

Pois sei que na plenitude do tempo e na glória de vosso nome

Levantar-me-ás para sentar contigo nas ameias do alto. (48:6.8)

 

Mesmo em Urantia, estes serafins ensinam a verdade sempiterna : se tua própria mente não te serve bem, podes permutá-la pela de Jesus de Nazaré, que é quem sempre te serve bem. (48:6.15)

Nesta ocasião, o rapaz desejava muitíssimo falar com Jesus; e ajoelhou-se aos seus pés implorando a Jesus que o ajudasse, que lhe mostrasse o caminho para escapar de seu mundo de mágoas e derrotas pessoais. Disse Jesus : "Meu amigo, levanta-te! Ponha-te de pé como um homem! Podes estar rodeado de pequenos inimigos e atrasar-se por muitos obstáculos, mas as grandes coisas e as coisas verdadeiras deste mundo e do universo estão do teu lado. O sol nasce a cada manhã para te saudar da mesma forma como o faz ao mais poderoso e próspero homem na terra. Vê : tens um corpo robusto e músculos fortes; teu aparelho físico é melhor que o do homem comum. Naturalmente, quase não te aproveita nada enquanto sentas aqui nas montanhas e te preocupas com teus infortúnios, reais e imaginados. Mas poderias fazer grandes coisas com teu corpo se te apressasses a ir onde as grandes coisas esperam para serem feitas. Estás tentando fugir de teu lado infeliz, mas isto não se pode fazer. Tu e teus problemas da vida são reais; não podes escapar deles enquanto viveres. Porém, olha de novo : tua mente está clara e capaz. Teu corpo robusto tem uma mente inteligente para dirigi-lo. Fixa tua mente no trabalho para resolver teus problemas; ensina teu intelecto a trabalhar por ti; não mais permitas ser dominado pelo medo tal como um animal irracional. Tua mente deve ser tua corajosa aliada na solução de teus problemas na vida em vez de seres dela, com tens sido, o abjeto escravo medroso e o servo cativo da depressão e da derrota. Porém, o mais valioso de tudo, teu potencial de verdadeira realização é o espírito que vive em ti, que te encorajará e inspirará tua mente a controlar a si própria e a ativar o corpo caso o libertes das cadeias do medo e, por conseguinte, possibilite tua natureza espiritual a iniciar tua libertação dos males da inércia pelo poder-presença da fé viva. E então, sem detença, esta fé vencerá o medo dos homens pela estimulante presença daquele novo e todo-dominante amor por teus semelhantes que logo preencherá tua alma até o transbordamento, devido a consciência que nasceu em teu coração, de que és filho de Deus.

"Neste dia, meu filho, terás renascido, restabelecido como um homem de fé, de coragem e de serviço dedicado ao homem, para a glória de Deus. E assim, quando te readaptares à vida dentro de ti, da mesma forma estarás readaptado ao universo; nasceste de novo — nasceste do espírito — e doravante toda tua vida será de realização vitoriosa. Os aborrecimentos te revigorarão; o desapontamento te estimulará; as dificuldades te serão um desafio e os obstáculos te encorajarão. Levanta-te, rapaz! Despeça-se da vida retraída no medo e da pusilanimidade esquiva. Apressa-te a voltar ao dever e viva tua vida na carne como um filho de Deus, um mortal dedicado ao enobrecedor serviço ao homem na terra e destinado ao majestoso e eterno serviço a Deus, na eternidade. (130:6.3-4)

 

"Ganid, tenho absoluta confiança na proteção de meu Pai celestial. Estou consagrado a fazer a vontade de meu Pai, que está no céu. Não creio que possa acontecer-me algum dano real; não creio que a obra de minha vida possa realmente estar em perigo sob o mando opressor de meus inimigos e certamente não temos violência alguma a temer por parte de nossos amigos. Estou absolutamente convencido de que o universo inteiro é cordial para comigo — insisto em crer nesta verdade toda-poderosa com a mais sincera confiança, em que pese as aparências em contrário." (133:1.4)

Ao jovem desertor, Jesus disse : "Lembra-te, há duas coisas das quais não podeis escapar : de Deus e de ti mesmo. Onde quer que vás, levas contigo a ti mesmo e ao espírito do Pai celeste que vive em teu coração. Meu filho, para de tentar iludir a ti mesmo; firma-te na prática corajosa de enfrentar os fatos da vida; aferra-te na segurança da filiação com Deus e na certeza da vida eterna, como te instruí. Deste dia em diante, proponha-te a ser um verdadeiro homem, um homem determinado a enfrentar a vida, corajosa e inteligentemente." (133:4.11)

 

Ele buscava deixar claro que o mundo não deve ser considerado como um inimigo; que as circunstâncias da vida constituem uma dispensação divina, trabalhando junto com os filhos de Deus. (140:8.3)

"Não temais aqueles que, embora possam matar o corpo, após isso já não têm nenhum poder sobre vós. Eu vos aconselho a não temer nada, no céu ou na terra, mas sim a regozijar-vos no conhecimento daquele que tem o poder de vos libertar de toda injustiça e de vos apresentar sem culpa ante os tribunais de um universo.

"Não se vende cinco pardais por dois centavos? Contudo, quando estes pássaros voam em busca de alimento, nenhum deles existe sem o conhecimento do Pai, a fonte de toda vida. Para os guardiões seráficos, até os cabelos de vossa cabeça estão contados. E se tudo isso é verdade, por que viver com medo das bagatelas que surgem em vossa vida diária? Digo-vos: Não temais; valeis muito mais que muitos pardais." (165:3.3-4)

"Tendes dedicado vossas vidas ao ministério do reino; portanto, não vos preocupeis nem vos aflijais pelas coisas da vida temporal, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis. O bem-estar da alma é mais que comida e bebida; o progresso no espírito está muito acima da necessidade de vestuário. Quando estiverdes tentados a duvidar da certeza do vosso pão, contemplai os corvos; não semeiam nem colhem, não têm armazéns nem celeiros e contudo o Pai provê comida a todos que a buscam. E valeis muito mais que muitos pássaros! Além disso, toda vossa ansiedade ou vossas dúvidas corrosivas nada podem fazer para suprir vossas necessidades materiais. Qual de vós, pela ansiedade, pode acrescentar um palmo à vossa estatura ou um dia à vossa vida? Visto que tais assuntos não estão em vossas mãos, porque vos afligis por estes problemas?

"Contemplai os lírios, como crescem; não labutam nem fiam; contudo eu vos digo, mesmo Salomão em toda sua glória não se vestia como um deles. Se Deus veste assim a relva do campo, que hoje vive e amanhã é cortada e lançada ao fogo, quanto mais vos vestirá, embaixadores do reino celeste. Ó vós, de pouca fé! Quando vos dedicais sinceramente à proclamação do evangelho do reino, não deverias albergar dúvidas em vossa mente acerca do sustento de si mesmo ou da família que deixastes. Se verdadeiramente dedicardes vossa vida ao evangelho, deveis viver pelo evangelho. Se sois apenas discípulos crentes, deveis ganhar vosso próprio pão e contribuir para o sustento de todos os que ensinam, pregam e curam. Se estiverdes aflitos por vosso pão e água, em que sois diferentes das nações do mundo que tão diligentemente buscam tais necessidades? Dedicai-vos ao vosso trabalho, acreditando que tanto eu como o Pai sabemos que necessitais de todas estas coisas. Permiti que, de uma vez por todas, vos assevere que se dedicardes vossa vida à obra do reino, todas as vossas necessidades serão supridas. Buscai as coisas maiores e as pequenas serão achadas. É certo que a sombra segue o corpo.

"Sois apenas um pequeno grupo, mas se tiverdes fé, se não pisardes em falso por medo, eu vos declaro que com imensa satisfação meu Pai vos dá este reino. Colocastes vossos tesouros onde a bolsa não envelhece, onde nenhum ladrão pode saquear e onde nenhuma traça pode destruir. E, como disse ao povo, onde estiver vosso tesouro, ali também estará vosso coração." (165:5:2.4)

 

"Que mais devo dizer? A queda das nações, a decadência dos impérios, a destruição dos judeus incrédulos, o fim de uma era e mesmo o fim do mundo, o que tem estas coisas a ver com aquele que crê neste evangelho e que resguardou sua vida na certeza do reino eterno? Vós que sois conhecedores de Deus e crentes no evangelho já receberam a certeza da vida eterna. Desde que vossa vida tenha sido vivida no espírito e pelo Pai, nada pode preocupar-vos seriamente. Os construtores do reino, os cidadãos autorizados dos mundos celestes não devem se transtornar por revoltas efêmeras nem se perturbar por cataclismos terrestres. Que importância tem para vós que credes neste evangelho do reino que as nações se subvertam, que terminem as eras ou que todas as coisa visíveis se destruam já que sabeis que vossa vida é uma dádiva do Filho, e que ela está eternamente protegida no Pai? Tendo vivido a vida transitória pela fé e tendo produzido os frutos do espírito na retitude manifesta no serviço amoroso aos vossos semelhantes, podeis esperar confiantemente o próximo passo na caminhada eterna com a mesma fé na sobrevivência que vos levou através da vossa primeira aventura terrena, na filiação com Deus." (176:3.2)

 

"Não se turbe o vosso coração. Credes em Deus; continuai crendo também em mim. Ainda que eu deva deixá-los, não estarei longe de vós. Já vos disse que no universo de meu Pai há vários locais de estada. Se isto não fosse verdade, não vos teria repetidamente dito sobre eles. Vou retornar a estes mundos de luz, estâncias no céu do Pai ao qual algum dia ascendereis. Destes locais vim para este mundo, e é chegada a hora de retornar ao trabalho de meu Pai nas esferas do alto.

"Assim, se eu vou antes de vós ao reino celestial do Pai, do mesmo modo com certeza vos buscarei para que possais estar comigo nos lugares que, antes que esse mundo fosse feito, foram preparados para os filhos mortais de Deus. Mesmo que deva deixá-los, estarei presente convosco em espírito e finalmente estareis comigo em pessoa, quando houverdes ascendido a mim em meu universo como igualmente estou para ascender ao meu Pai em seu universo maior." (180:3.4-5)

"O Pai me enviou a este mundo, mas apenas alguns poucos de vós escolheram me receber plenamente. Derramarei meu espírito por toda carne mas nem todos os homens escolherão receber este novo mestre como um guia e conselheiro da alma. Porém, todos os que o receberem serão iluminados, purificados e consolados. E este Espírito de Verdade virá a ser neles uma nascente de água viva brotando em vida eterna.

"E agora, estando para deixá-los, direi palavras de consolo. Deixo-vos a paz; eu vos dou a minha paz. Eu a dou não como o mundo a dá — limitada — mas dou a cada um de vós tudo o que recebereis. Não se turbe o vosso coração nem sinta medo. Eu venci o mundo e em mim todos vós triunfareis através da fé." (181:1.4-5)

Por isto, a paz de Jesus é a paz e a certeza de um filho que crê plenamente que sua caminhada no tempo e na eternidade está segura e inteiramente sob os cuidados e a vigilância do Pai espiritual onisciente, todo-amoroso e onipotente. E isto é, de fato, a paz que ultrapassa o entendimento na mente mortal mas que pode ser desfrutada em plenitude pelo coração humano e crente. (181:1.10)